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sexta-feira, 6 de julho de 2018

Gatos Católicos Enforcados


A ignorância humana, da qual nos ocupamos agora aqui, é a da "Grande Renascença" na Europa do século XVI, da tal "Reforma", quando os protestantes usaram gatos, bichanos enfeitados com vestimentas de bispos católicos e os enforcavam.


Quando em 1517 Martin Luther pregou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, um movimento de reforma surgiu, o protestantismo. Os gatos, de alguma forma, "representantes" do catolicismo, e sempre vítimas do abuso do homem, tornaram-se um símbolo chave para os protestos de ingleses reformistas. Muitas vezes os gatos representavam sacerdotes e clérigos, como em um episódio terrível que envolveu a crueldade ocorrida em Cheape, Inglaterra, como nos conta uma crônica do tempo:

"Em 08 de abril, sendo então domingo, um gato vestido com um traje de clérigo católico, com suas patas dianteiras amarradas, foi enforcado em Cheape, perto da cruz na freguesia de São Mateus" (Stow Chronicle p. 623 notas de rodapé, Jardine, 1847, p.46 ).

Os protestantes também queimaram efígies do papa recheadas com gatos vivos que, coitados, gritavam de dor e espanto, que agradavam demais as multidões loucas.

Então, nós éramos representantes da Igreja Católica? A mesma religião que nos dizimou na época daquele papa Gregório IX em 1227?

Faz favor! Até no Carnaval, todos os anos, a gente se esconde pra não virar couro de tamborim ... Humanos?


sábado, 19 de março de 2016

Anna Göldi

Na foto, Cornelia Kempers interpreta Anna Göldi num filme de Gertrud Pinkus (1991)

Anna Göldi ou Anna Göldin (Sennwald, Suíça, 24/10/1734 — Glarona, Suíça, 13/06/1782) foi considerada a "última bruxa da Europa a ser executada".

Anna levava uma vida miserável. Nascida em uma família muito pobre, trabalhou como criada desde muito jovem. Ficou grávida solteira e foi desprezada quando descobriram que o bebê estava morto. Três anos depois, engravidou novamente e teve um menino cujo destino é desconhecido.

Anna mudou de emprego várias vezes até trabalhar como empregada na casa do médico, presidente de conselho, juiz e ministro de Johann Jakob Tschudi, pertencente a uma das mais ricas e influentes famílias do Cantão de Glarus. Depois de seis anos, foi então demitida e acusada de ser responsável pela doença de uma das crianças da família.

De acordo com as alegações, Anna teria enfeitiçado o leite das filhas de Tschudi com agulhas. Além disso, membros da família Tschudi testemunharam que uma das filhas teria repetidamente cuspido agulhas. Recaiu sobre Anna a culpa por enfeitiçar uma das meninas e ela foi formalmente acusada.

Sob tortura, Anna viria a admitir sua culpa por conjurar forças diabólicas. O conselho de Glarus condenou-a em 13 de junho de 1782 à morte pela espada. O veredito foi cumprido sem demoras e causou polêmica tanto na Suíça quanto na Alemanha.

Partindo de análises de fontes até então desconhecidas, o jornalista Walter Hauser chega à conclusão de que Anna Göldi provavelmente mantinha um caso com seu amo Johann Jakob Tschudi e teria sido inclusive estuprada pelo mesmo. Já que adúlteros confessos não tinham a permissão de assumir cargos políticos, Tschudi teria provavelmente resolvido se livrar de Anna Göldi e iniciado o processo de bruxaria, que viria a terminar com a execução de Anna.

No jornal Zürcher Zeitung, o atual NZZ foi publicada uma carta em forma de classificado emitido pelo Cantão de Glarus em 9 de fevereiro de 1782 na qual a suposta bruxa era procurada:

"O honorável Estado de Glarus, compromete-se por meio desta a pagar cem coroas reais de recompensa àquele que descobrir e trouxer à justiça Anna Göldi, abaixo descrita; através da presente as autoridades de mais alto posto e seus funcionários subalternos também são conclamados a ajudar de toda forma possível na apreensão deste pessoa; é de lembrar que ela cometeu o ato monstruoso de administrar incrivelmente uma porção de agulhas e outros objetos a uma inocente criança de oito anos de idade.

Anna Göldin, da comuna de Sennwald, pertencente ao bailiado da Alta Sax e Forstek, na região de Zurique, aproximadamente 40 anos de idade, de estatura grande e robusta, rosto redondo e rosado, cabelos e sobrancelhas negras, tem os olhos meio adoentados, que encontram-se geralmente avermelhados, sua aparência é abatida e fala dialeto sennwaldês, usa uma saia colorida à moda, uma camisa listrada azul com uma jaqueta azul de cordas, tschope damastênico cinza, meias brancas, uma capa negra, abaixo um chapelete branco e usa uma echarpe de seda preta. Data, 25 de janeiro de 1782. "Chancelaria de Glarus".


Fontes: "Última bruxa da Europa" é reabilitada; Wikipédia.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Sabá das Bruxas - Parte 6

Illustration by Martin van Maële of a Witches' Sabbath (1911 edition of Jules Michelet's La Sorcière)

As Formas Diabólicas de Satanás

Nestes encontros, algumas poucas vezes, Satanás esteve ausente; nestes casos, um pequeno demônio tomava seu lugar. De Lancre enumera as várias formas que o diabo assume nestas ocasiões, tão variadas quanto seus movimentos são "inconstantes, cheios de incertezas, ilusão, decepção e impostura".

Algumas das bruxas que ele examinou, entre as quais uma garota de 13 anos chamada Marie d'Aguerre, disse que naquelas assembleias havia uma grande garrafa ou cântaro no meio do Sabá; dali o diabo saía assumindo a forma de bode que, subitamente, tornava-se enorme e assustador. No fim do Sabá ele retornava à garrafa.

Outros o descrevem como um grande tronco, como o de uma árvore, sem braços ou pés, sentado em uma cadeira com as feições de traços humanos grosseiros. É recorrente a referência à face de bode, com dois chifres na testa e dois chifres na nuca. Nos relatos mais frequentes, são três os chifres do Capeta sendo que o do meio [da testa] serve para fornecer luz e fogo ao Sabá. Ocasionalmente, o Demo usa um chapéu ou tipo de capa sobre os chifres.

"Na frente, ostenta seu membro e atrás, possui uma cauda que lhe sai de uma segunda face traseira, rosto este que é oferecido ao beijo cerimonial que seus adoradores lhe dão em sinal de submissão. Este Diabo é aqui representado como imagem de Priapus. Marie d'Aspilecute, 19 anos, residente em Handaye, declarou que na primeira vez em que foi apresentada ao Demônio, beijou-o naquela face, traseira, três vezes.

Outros disseram que o Diabo é como um homem de grande porte, "envolvido em vapores que o encobrem, de modo que não o vejam claramente"... Sua face é vermelha como o ferro aquecido na fornalha. Corneille Brolic, uma adolescente de 12 anos, disse que quando o viu pela primeira vez ele tinha forma humana, porém, com quatro chifres em sua cabeça e sem braços.

Estava sentado em um púlpito cercado de algumas mulheres, suas favoritas... Jannete d'Abadie, de Siboro, 16 anos, disse que Satanás tinha duas caras, uma na frente outra na parte de trás da cabeça, [tal como a representação do deus Janus]. O Diabo também foi descrito com um grande cachorro negro.

Em tempos mais remotos, Satanás apareceu, frequentemente, em forma de serpente - outro ponto de contato com os cultos priápicos. Na Idade Média, no entanto, a forma de bode foi a mais comum.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

O Sabá das Bruxas - Parte 5

The Witches' Sabbath, Claude Gillot (1673-1722), gravura (detalhe). Paris, Bibliothèque Nationale De France

Pierre de Lancre — Bruxaria em Labourd

Outro francês, Pierre de Lancre, conselheiro do rei, juiz do parlamento de Bordeaux, ingressou, em 1609, em uma comissão encarregada de apurar acusações de bruxaria em Labourd, distrito das províncias bascas, região célebre por suas bruxas e aparentemente, pelo baixo nível de moralidade de seus habitantes. Labourd é um lugar isolado e seus moradores conservaram suas antigas superstições com grande tenacidade.

De Lancre investigou a natureza dos demônios e a razão pela qual os residentes de Labourd eram tão ligados à feitiçaria. As mulheres locais, eram de temperamento naturalmente lascivo, coisa que se podia ver na maneira de vestir e arranjar os cabelos, singularmente indecentes, expostas sem a menor modéstia. O principal produto agrícola era a maçã, curiosa associação com o aspecto pecaminoso de Eva. De Lancre ficou quatro meses estudando a situação de Labourd e, depois de tudo que tinha visto e ouvido, resolveu dedicar-se ao estudo da bruxaria e, no devido tempo produziu seu grande trabalho sobre o tema: Tableau de l'Incosntance des Mauvais anges et Démons.

De Lancre escreve honestamente e acredita no que diz. Seu livro tem valor pelo grande número de informações que contém incluindo confissões de bruxas transcritas nas próprias palavras das depoentes. Um segundo livro foi dedicado totalmente aos detalhes do Sabá.

A pesquisa de revelou algumas contradições e mudanças. Nos tempos antigos, as noites de segunda-feira eram as noites de Assembleia. Na época do estudo, estas noites eram as de quarta e sexta-feira. Algumas bruxas disseram que seguiam para o lugar do encontro ao meio dia. A maioria, entretanto, afirmou que meia-noite era o horário certo.

O lugar do Sabá era, de preferência, uma encruzilhada, mas não obrigatoriamente. Era suficiente um lugar isolado, um sítio mais selvagem, no meio de uma charneca, especialmente longe de habitações humanas ou de lugares assombrados.

Ali, na região de Labourd, esse lugar era chamado Aquelarre, significando Lane de Bouc ou Mata do Bode, uma referência à forma caprina assumida por Satanás nestes Sabás.

Na mesma região, outros lugares, ainda, teriam sido cenários de Sabás: "Mais de cinquenta testemunhas nos asseguraram que tinham estado em uma 'Mata do Bode' para o Sabá na montanha de La Rhune, algas vezes, em uma abertura da montanha [uma caverna? ], outras vezes, na capela do Espírito Santo, que fica no cume; algumas vezes o Sabá foi realizado na igreja de Dordach, nos limites de Labourd. Em outras ocasiões, ainda, a Assembleia se reunia em casas, residências particulares.

Porém, o mais usual é que o Diabo escolha para os Sabás as entranhas da mata, as casas velhas, abandonadas, ruínas de antigos castelos, especialmente se ficam no alto das montanhas. Um velho cemitério pode servir, se é isolado, e o mesmo se aplica às capelas, ermidas, o topo de um rochedo debruçado sobre o mar, como aquele onde fica a capela de Saint Jean de Luz, Puy de Dome em Perigord e locais semelhantes.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Sabá das Bruxas - Parte 4

Satã, bruxas e adeptos pisoteam a cruz em um Sabá -  Edição de 1608 do Malleus Maleficarum

Jean Bodin

Jean Bodin [1530-1596] escreveu On Witchcraft [La Démonomanie des Sorciers] — livro de 1580. Ele [que era jurista] recomendou tortura, até mesmo em casos de inválidos e crianças, para tentar confirmar a culpa de feitiçaria. Ele afirmou que nem mesmo uma bruxa poderia ser condenada erroneamente se os procedimentos corretos fossem seguidos, e a suspeita era tida como motivo suficiente para atormentar o acusado uma vez que rumores relativos à bruxaria quase sempre eram verdades.

Cerca de 75 anos depois da publicação do Malleus, o francês Bodin ou Bodinus, em latim, publicou volumoso trabalho, um tratado que veio a ser importante texto de referência sobre bruxaria. Ali o Sabá é descrito em detalhes; possivelmente a mais minuciosa descrição da cerimônia. Segundo Bodin, as assembleias eram realizadas em lugares solitários, em vales escondidos entre as montanhas, nas florestas.

Preparando-se para ir ao Sabá, a bruxa ou bruxo deitava-se em sua cama completamente despido (a) e untava o corpo com o famoso "unguento das feiticeiras" [cuja receita Eliphas Levi, ocultista francês do século 19, fornece em seu Dogma e Ritual da Alta Magia].

A substância produzia o "encantamento" e a pessoa era transportada pelo ar chegando ao lugar do encontro em curto espaço de tempo. Também Bodin se preocupa com a questão de o transporte ser um fato real ou apenas metafórico e conclui que, de fato, transportavam-se, fisicamente, de forma mágica.

O Sabá, como de costume, é descrito como uma grande assembleia de bruxos e demônios de ambos os sexos. Era meritório para os participantes veteranos trazer consigo novos convertidos. Em sua chegada, os novatos eram apresentados ao demônio que presidia o encontro e a quem era devida adoração através do sórdido ato de beijar sua parte íntima traseira. Os adeptos prestavam contas de suas atividades desde o último encontro e recebiam suas reprovações ou congratulações de acordo com seus méritos.

O diabo, geralmente representado como um bode, distribuía, então, amuletos, poções, unguentos e outros artigos que deveriam ser empregados nos feitos do mal. Os adoradores também faziam oferendas: ovelhas, pequenos pássaros, mechas de cabelo e outros objetos.

Todos deviam proferir imprecações contra os cristãos e os símbolos do cristianismo, blasfemas contra os santos e as coisas santas. Finalmente, o diabo iniciava a orgia sexual tendo relações com alguma nova bruxa - ou bruxo em quem deixava sua marca em alguma parte do corpo, em geral, na área genital.

Os "acertos de contas" eram o que se pode chamar de "negócio do encontro" e, depois dos negócios era a hora do banquete. Ocasionalmente, vistosas iguarias poderiam degustadas, mas, em geral, segundo Bodin, ao contrário de outros autores, o repasto era frugal. O "prato principal", ao que parece era, de fato, a luxúria e as mesas serviam, eventualmente, mais para a dança e a fornicação.

Sobre as danças, a carole da Idade Média era o modelo, uma dança comum entre camponeses, executada em círculo, com homens e mulheres aproximando-se e afastando-se alternadamente, o que permitia o reconhecimento mútuo dos participantes.

Outras danças foram introduzidas, mais ousadas, mais obscenas.

As músicas também eram vulgares beirando ao ridículo, o grotesco, executadas por instrumentos toscos e macabros, como flautas feitas de ossos, liras feitas de crânio de cavalo. O grupo entrava em estado de excitação tornando-se mais licencioso até que, finalmente, os participantes abandonavam-se ao desfrute de relações sexuais indiscriminadas nas quais o demônio tomava parte.

A assembleia terminava a tempo de as bruxas retornarem às suas casas antes do amanhecer.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

O Sabá das Bruxas - Parte 3

De Pythonicis Mulieribus - Ulrich Molitor (1489)

Manuais Contra ou Sobre a Bruxaria

A violência daquele tipo de perseguição produziu grande comoção popular em torno da bruxaria. No fim do século XV as pessoas tinham medo das bruxas e/ou medo de serem associadas às bruxas, especialmente na Itália, França e Alemanha.

O combate à feitiçaria, entregue às zelosas mãos dos Inquisidores, foi gradualmente se tornando um trabalho especializado e livros extensos foram escritos sobre o assunto: as práticas da bruxaria e as instruções para combatê-las.

Um dos primeiros destes livros foi o Formicarium, escrito por um frade suíço, John Nider, inquisidor em seu país. O livro não fala do Sabá da Bruxas, aparentemente, pouco comum ou inexistente na Suíça. No começo de 1489, Ulrich Molitor publicou o tratado De Pythonicis Mulieribus e, no mesmo ano, apareceu o mais célebre destes livros, o Malleus Maleficarum ou O Martelo das Feiticeiras, trabalho de três inquisidores alemães coordenados por Jacob Sprenger.

O Malleus Malleficarum é bastante completo e interessante coletânea de dados sobre a bruxaria. Os autores discutem várias questões, como o misterioso transporte das feiticeiras de um lugar para outro. Discute-se se o tal voo das bruxas é real ou apenas uma lenda. O Malleus também contém referências diretas ao Sabá permitindo concluir que, de fato, as reuniões eram grandes orgias priápicas que não eram típicas das crenças genuinamente germânicas.

A febre de publicações sobre bruxaria alcançou os séculos XVI e XVII e até o rei James I [Inglaterra] aventurou-se a escrever sobre o tema.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Animais no Banco de Réus

Figura: Porca e seus leitões sendo julgados pelo assassinato de uma criança (Chambers Book of Days).

Em 1386, um julgamento na cidade francesa de Falaise condenou o réu à pena máxima, enforcamento em praça pública, por cometer infanticídio – assassinato de criança. No dia da execução, o povo se aglomerou para ver o espetáculo. Pela importância da solenidade, o carrasco recebeu um par de luvas brancas.

No centro do show estava a ré: uma porca. Sim, isso mesmo. A porca havia sido julgada e condenada à forca. Na Europa feudal, o julgamento de animais era comum, já que se acreditava que, se eles eram responsáveis por crimes, deveriam responder por eles.

O júri era igual ao aplicado aos humanos – e até a advogados os animais tinham direito. A interpretação da criminalidade animal provavelmente vinha das crenças judaico-cristãs. Em uma passagem bíblica, a morte por apedrejamento é citada: “E se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.” (Êxodo, capítulo 21, versículo 28).

Segundo a professora de literatura inglesa da Universidade da Califórnia e autora do recém-lançado "For the Love of Animals: The Rise of the Animal Protection Movement" ("Pelo amor dos animais: o surgimento do movimento de proteção animal", em tradução literal), Kathryn Shevelow, em entrevista ao G1 por e-mail, a tradição de julgamentos era especialmente comum na França. "Os crimes eram geralmente homicídio ou crimes sexuais, como de humanos que fazem sexo com animais. Nessa época, os homens consideravam os animais moralmente responsáveis por seus atos."

No livro “The criminal prosecution and capital punishment of animals”, inédito em português, o americano Edward Payson Evans examina detalhes de 191 casos do tipo. Segundo ele, os julgamentos ocorreram principalmente entre os séculos XV e XVII, sendo que o primeiro registro encontrado pelo autor data de 824, quando toupeiras foram excomungadas no Vale de Aosta, noroeste da Itália. O último caso, segundo o livro, foi em 1906, quando um cachorro foi julgado em Délémont, na Suíça. 

Em alguns casos, os animais obtinham clemência. O júri podia ser tanto eclesiástico como secular, e o crime mais comum era homicídio - mas também foram registrados roubos. Além dos porcos, entre os bichos citados há abelhas, touros, cavalos, ratos, lobos, gatos e cobras.

Entre os animais acusados, os porcos estavam entre os que mais frequentavam o banco dos réus. Segundo escreveu Piers Beirne, professor de criminologia da Universidade de Southern Maine (EUA), em um artigo sobre o assunto, o motivo de os porcos serem comunmente acusados é que eles viviam livremente com os homens, e seu peso e tamanho faziam com que causassem problemas. 

O filme “Entre a Luz e as Trevas”, de 1993, mostra um advogado que viajou ao interior da França e acabou defendendo um porco em um julgamento.


Texto de Giovana Sanchez - G1, 09/09/08 - São Paulo

sábado, 20 de fevereiro de 2016

As Bruxas Bascas

"Aquelarre" - palavra criada pelos inquisidores para nomear presumíveis reuniões clandestinas (Goya, 1798)

Os julgamentos de bruxas bascas ocorreram no século XVII, representando a tentativa mais ambiciosa já vista em extirpar a feitiçaria, empreendida pela Inquisição espanhola.

Esse processo em Logroño, perto de Navarra, no norte da Espanha, que começou em janeiro de 1609, contra o fundo de perseguições semelhantes realizados em Labourd por Pierre de Lancre, foi quase certamente o maior evento de seu tipo na história. Até o final do século, cerca de 7.000 casos tinham sido examinados pela Inquisição.

Embora Logroño não seja uma cidade basca, foi o cenário para um tribunal de inquisição responsável pelo Reino de Navarra, Álava, Guipúscoa, Biscaia, La Rioja e partes do norte de Burgos e Sória. Entre os acusados não estavam apena mulheres (embora tenha sido o gênero predominante), mas também crianças e homens, incluindo padres acusados de criarem amuletos com nomes de santos.

A primeira fase terminou em 1610, com uma declaração de auto-de-fé contra trinta e um dos acusados, doze ou onze dos quais foram queimados até a morte (cinco deles simbolicamente, como haviam morrido antes do auto-de-fé).

Posteriormente, o processo foi suspenso até que os inquisidores tiveram a chance de reunir mais provas, sobre o que eles acreditavam ser um culto das bruxas generalizado na região basca. Alonso de Salazar Frías, um inquisidor júnior e um advogado por formação, foi responsável de examinar o assunto. Armado com um Édito de Graça, prometendo perdão a todos aqueles que, voluntariamente, relatassem e denunciassem seus cúmplices, ele viajou por todo o campo durante o ano de 1611, principalmente nas imediações do Zugarramurdi, junto à fronteira franco-espanhola.

Alonso também passou por uma caverna onde, alegadamente, existia uma corrente de água (Olabidea ou Infernuko erreka, "stream do Inferno"), que foi dito ser o lugar de encontro das bruxas.

Como era habitual em casos deste tipo, várias denúncias foram feitas. Frías finalmente voltou a Logroño com "confissões" de, ao menos, 2.000 pessoas, 1.384 das quais eram crianças entre as idades de sete e quatorze anos, implicando em mais de 5.000 indivíduos nomeados bruxos. A maioria das denúncias (cerca de 1.802) foram confissões à tortura. As provas reunidas cobriam 11.000 páginas no total.


Wikipédia 

Referências: Inquisición at the Auñamendi Encyclopedia. Nómina at the Diccionario de la Real Academia Española. Erik Midelfort, H. C. (1983). "Vol. 88, No. 3, Jun., 1983". The American Historical Review [S.l.: s.n.] 88 (3): 692–693. JSTOR 1864648

O Sabá das Bruxas - Parte 2

Bruxas no Sabá - Gravura do "Compendium Maleficarum", Francesco Maria Guazzo, 1608

O Sabá — Democrático...

O encontro reunia uma multiplicidade de gente, de ambos os sexos, classes sociais diferentes, burgueses e nobres e também eclesiásticos, bispos, cardeais! No Sabá havia mesas com toda sorte de iguarias; carnes, vinhos.

O diabo presidia o festim em sua usual forma de bode, com cauda simiesca e fisionomia humana. Os convivas faziam homenagens; ofereciam suas almas ou partes do corpo e como sinal de adoração, beijavam o traseiro de Satanás.

O local era iluminado por tochas. O Abade Sem Juízo, mencionado acima, era o mestre de cerimônias desses encontros e era sua obrigação verificar devidamente o comportamento dos novatos. Depois, ele pisava e cuspia na cruz, menosprezava Jesus e a Santíssima Trindade e praticava outros atos profanos.

Então, tomavam seus lugares à mesa e depois de comer e beber, levantavam-se e começavam seus promíscuos intercursos sexuais nos quais o demônio tomava parte assumindo, alternadamente, a forma de ambos os sexos de acordo com sua parceria. Seguiam-se todo tipo de atos pecaminosos.

O Demônio "catequizava" seus seguidores: não deviam ir à igreja e muito menos ouvir a missa; não deviam se deixar tocar pela água-benta nem render qualquer homenagem ou demonstração de respeito pelos valores cristãos e pelos cristãos em si mesmos. Quando o "sermão" terminava a assembleia era dissolvida e todos retornavam para suas casas.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

O Sabá das Bruxas - Parte 1

Les Sabbats - Claude Gillot, pintor francês (Langres 1673–1722 Paris)

Muitas formas de cultos fálicos ou priápicos foram praticados na Idade Média conservando, ainda que através de mudanças sociais e em outras circunstâncias, as antigas orgias priápicas no contexto de intensa superstição que caracterizava a bruxaria da época.

Através dos tempos, os "Iniciados" acreditaram que poderiam possuir e exercer poderes sobrenaturais pela invocação apropriada de divindades que o Cristianismo transformou em demônios; ser um devoto de Príapo era o mesmo que ser devoto de Satanás.

As bruxas dos Sabás foram as últimas praticantes da Priapéia e da Liberália na Europa Ocidental e, de fato, reproduziam em suas reuniões as licenciosas orgias tão comuns na Roma Antiga. O Sabá das Bruxas não parece ter sido originado da mitologia teutônica [bárbara, nórdica, anglo-saxã]. Antes, parecem provenientes do sul europeu, herança mediterrânea absorvida pelos países fortemente influenciados pela cultura romana. No século XV a cultura da feitiçaria tinha uma forte presença na Itália e na França.

O Caso Robinet de Vaulx

Em meados daquele século [XV], em França, um indivíduo chamado Robinet de Vaulx, que levara uma vida de eremita em Burgundy, foi preso, levado a julgamento em Langres e queimado.

Antes de morrer, entretanto, este homem, natural de Artois, informou [certamente sob tortura, método comum nos processos de bruxaria da época] ser de seu conhecimento a existência de um grande número de bruxas na província e ele não somente confessou ter comparecido às assembleias noturnas das feiticeiras, mas, também, forneceu nomes de vários habitantes de Arras que encontrara naqueles eventos.

Corria o ano de 1459, o quartel general dos jacobinos, monges pregadores, era sediado em Langres. Entre os jacobinos havia um Pierre de Broussart, inquisidor da Santa Sé na cidade de Arras que presidiu os depoimentos de Robinet. Com os nomes fornecidos o inquisidor começou sua perseguição.

Foram acusados de bruxaria, entre outros: uma prostituta chamada Demiselle, e um homem, Jehan Levite, mais conhecido por seu apelido, Abade Sem Juízo. A confissão de um induzia ao processo que resultava na confissão dos outros e novos nomes surgiam. O resultado foi um surto de prisões e processos, muitos encerrados com sentença de morte na fogueira.

Foi apurado que o lugar dos encontros era, geralmente, uma fonte na floresta de Mofflaines, uma légua de distância de Arras. Os participantes podiam ir a pé mas o procedimento mais comum era um recurso mágico: usando um unguento fornecido pelo próprio diabo que, passado no corpo ou nas mãos, permitia, montar num bastão ou cajado, de madeira, e nele voar até o lugar da assembleia [é a vassoura dos bruxos].


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

Inspiração Divina

Giordano Bruno condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana.

Há um pensamento quase geral que fé e ciência sempre viveram em pé de guerra. Afinal, a história desse conflito é marcada por casos como o do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo pela Inquisição em 1600, e o do astrônomo Galileu Galilei, recolhido a prisão domiciliar até sua morte, em 1642. Alguns estudiosos do tema, no entanto, afirmam que isso não passa de mito. Na verdade, eles dizem, razão e religião sempre estiveram "amarradas" - muitas vezes com uma se alimentando da outra.

"A relação entre os dois lados é extremamente complexa, varia conforme a época e o lugar", diz o americano Ronald L. Numbers, professor da Universidade de Wisconsin. Numbers é o organizador do livro Galileo Goes to Jail - And Other Myths about Sciencie and Religion ("Galileu Vai Para a Cadeia - E Outros Mitos sobre Ciência e Religião"). Ele não nega que, ao longo da história, a Igreja censurou, reprimiu, condenou. Mas aponta momentos de extrema aproximação - até de colaboração - entre os dois lados. A crença em Deus inspirou cientistas, enquanto instituições religiosas apoiaram pesquisas e universidades.

Segundo o pesquisador americano, movimentos religiosos surgidos com a Reforma Protestante, no século 16, foram mais abertos a ideias científicas do que a Igreja Católica, cujo Tribunal do Santo Ofício - leia-se Inquisição - condenava qualquer questionamento de sua doutrina. Mas até a Igreja assumiu posturas contraditórias: por um lado, censurou teorias como a do heliocentrismo (o Sol no centro do sistema solar), defendida por Nicolau Copérnico e Galileu; por outro, financiou os primeiros estudos de astronomia. Galileu nunca deixou de ser católico e Copérnico era cônego.

"Nenhum cientista perdeu a vida por causa de suas visões científicas", afirma Numbers. "Alguns, como Giordano Bruno, foram queimados pela Inquisição, mas por causa de suas ideias teológicas." De acordo com o pesquisador, Bruno defendia abertamente o heliocentrismo, mas só foi parar na fogueira porque, entre outras heresias, duvidava da concepção da Virgem Maria e da identificação de Cristo com Deus. Ao afirmar que o Universo era infinito e continha vários mundos, também afrontou o dogma cristão de que os humanos são criações únicas, feitas à imagem do Criador.

Durante 600 anos (da Baixa Idade Média ao Iluminismo), a Igreja Católica financiou mais o estudo da astronomia do que qualquer outra instituição. Quem afirma é o historiador da ciência John Heilbron, da Universidade da Califórnia. No livro The Sun in the Church ("O Sol na Igreja"), ele afirma que muitas catedrais até serviram de observatórios. Foi numa delas - a Basílica de San Petronio, em Bolonha, na Itália - que, em 1665, o astrônomo Gian Cassini confirmou que a órbita dos planetas é elíptica - tal como o alemão Johannes Kepler havia descrito décadas antes.

"A Igreja também apoiou universidades. Em 1500, havia 600 delas na Europa, e 30% do currículo cobria geometria, ótica e assuntos relacionados ao mundo natural", diz o historiador da Michael H. Shank, da Universidade de Wisconsin. "Se a Igreja medieval queria reprimir a ciência, ela cometeu um erro colossal ao tolerar e apoiar universidades." O apoio, no entanto, era seletivo, e também atendia aos interesses da Santa Sé. Ao fomentar o conhecimento, ela podia simultaneamente controlar o que era ensinado aos estudantes, enquanto censurava certos livros pelo suposto atentado à fé e à moral que eles representavam.

Muitos cientistas se inspiraram em crenças religiosas para conduzir suas pesquisas. Um deles foi o inglês Isaac Newton, que estabeleceu as bases da ciência moderna. Anglicano, o formulador da Lei da Gravitação Universal dizia que aprender sobre Deus é o primeiro passo para quem se dedica à "filosofia natural" - como a ciência era chamada no século 17. Kepler também encontrava motivação em sua fé protestante - e acabou descrevendo as leis da mecânica celeste.

"Assim como Kepler e Newton, diversos cientistas do século 17 diziam que haviam sido levados a investigar a natureza porque, assim, descobririam mais sobre Deus", diz o pesquisador Ronald Numbers. O argumento era simples: estudando-se o universo natural, aprendia-se tanto sobre Deus quanto lendo a Bíblia - já que Ele era o autor de ambas.


Texto de Eduardo Szklarz

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Papa que perseguia Gatos


Gregório IX era um homem conhecido pela bondade. Mas logo ao ser eleito papa, em 1227, mostrou seu outro lado. Ele foi diretamente responsável por uma cruel caçada de hereges na Alemanha e pela criação de uma "central de treinamento" de inquisidores em Roma. E também odiava animais, em especial os gatos.

Embora jamais tenha assumido isso com todas as letras, o papa redigiu um documento oficial, em algum momento da década de 1230, dizendo que os felinos, em particular os gatos pretos, eram encarnações do diabo e tinham a ver com rituais de bruxaria.

Imediatamente após a divulgação do documento, os europeus mergulharam em um frenesi de violência contra os pobres bichos. As declarações do papa, aliadas ao fato de que algumas regiões periféricas da Alemanha e da Inglaterra ainda cultuavam gatos como divindades pagãs, estimularam um dos maiores massacres de animais da história.

Ao longo de décadas, gatos de todas as partes do continente, independente de cor ou procedência, foram brutalmente mortos em fogueiras, espancamentos e enforcamentos públicos. Gregório jamais se pronunciou contra esses atos de violência - possivelmente porque estava satisfeito com eles. E até hoje, quase 800 anos depois, o preconceito contra gatos pretos ainda existe.

A grande vingança felina

A Peste Negra, uma epidemia de peste bubônica causada pela bactéria Yersinia pestis, assolou a Europa ao longo do século 14. Ela começou na Sicília em 1347 e se alastrou principalmente para Itália, França, Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha nos quatro anos seguintes. Estima-se que a Peste tenha matado mais de 100 milhões de pessoas. Uma tragédia quase inimaginável.

A bactéria Y. pestis é comum em roedores, e se espalhou devido à grande quantidade de ratos nas cidades europeias. E os ratos proliferaram porque seus predadores naturais, os gatos, existiam em menor número - já que o papa Gregório 9o, no século anterior, havia induzido a população a acabar com eles.

Aqui se faz, aqui se paga.


Texto de Bruno Mosconi

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Peter Binsfeld

Atividades diversas das bruxas em Trier - Frontispício de 1592 da obra de Peter Binsfeld,
Tractatus de confessionibus maleficorum et sagarum
Peter Binsfeld (também chamado de Peter Binsfield, lat. Petrus Binsfeldius), foi um demonologista, teólogo e padre jesuíta medieval. Filho de um agricultor e artesão, nasceu na aldeia de Binsfeld na região alemã de Eifel. Viveu em Trier, na Alemanha, e ali morreu, vitimado pela peste bubônica em 1598.

Binsfeld cresceu no meio católico rural da região de Eifel. Considerado por um abade local como um rapaz muito talentoso, ele foi enviado para estudar em Roma. Depois de seus estudos, Binsfeld retornou à sua região e se tornou uma figura importante nas atividades católicas antiprotestantes no final do século XVI. Ele foi eleito bispo de Trier e se tornou um escritor teológico conhecido, alcançando fama como um dos mais importantes caçadores de bruxas de seu tempo.

Escreveu o influente tratado "De confessionibus maleficorum et sagarum" (Das confissões de feiticeiros e bruxas), traduzido em várias línguas (Trier, 1589), em que discutia as confissões de supostas bruxas e argumentava que a tortura não afetava a veracidade destas confissões.

Ele achava que meninas menores de doze anos e meninos menores de quatorze anos não poderiam ser considerados culpados de praticar bruxaria, que devido à precocidade de algumas crianças a lei não deveria ser completamente rigorosa. Este ponto de vista pode ser considerado como moderado, considerando que outros inquisidores tinham condenado à fogueira crianças entre dois e cinco anos de idade.

Ao contrário de outros autores da mesma época, Binsfeld duvidava que as pessoas poderiam assumir a forma de animais e da validade das marcas diabólicas.

Em 1589, comparou cada um dos sete pecados capitais com um demônio: Luxúria: Asmodeus; Gula: Belzebu; Ganância: Mammon; Preguiça: Belphegor; Ira: Satanás/Azazel; Inveja: Leviathan; Orgulho: Lúcifer.

Ele também teorizou que outros demônios poderiam invocar o pecado. Por exemplo, Lilith e sua prole, o incubus e sucubus, invocam a luxúria. O sucubus dorme com os homens, a fim de impregnar a si mesmo, para que possa suportar mais demônios. O incubus dormiria com mulheres para levá-las a pecar.


Fonte: Wikipédia.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

As Bruxas de Lancashire

"Bruxas voando": woodcut de  Mathers’ Wonders of the Invisible World (1689)

Não muito tempo depois de dez moradores de Lancashire serem considerados culpados de feitiçaria e enforcados em agosto de 1612, esse julgamento e os procedimentos oficiais foram publicadas pelo secretário do tribunal Thomas Potts em seu ensaio "A Wonderfull Discoverie of Witches" (Descoberta Maravilhosa de Bruxas) no condado de Lancaster.

Há mais de quatrocentos anos, em 1612, o noroeste da Inglaterra foi o cenário do maior julgamento em tempo de paz do país: o julgamento das bruxas de Lancashire. Vinte pessoas, a maioria da área de Pendle de Lancashire, foram presas no castelo como bruxas. Dez foram enforcadas, uma morreu na prisão, uma delas foi condenada a ficar no pelourinho e oito foram absolvidas. O aniversário em 2012, viu uma pequena inundação de eventos comemorativos, incluindo obras de ficção de Blake Morrison, Carol Ann Duffy e Jeanette Winterson. Como é que este julgamento de bruxas aconteceu e porquê de sua fama duradoura?

Sabemos muito sobre as bruxas de Lancashire porque o julgamento foi registrado em detalhes pelo secretário do tribunal, Thomas Potts, que publicou seu relato logo em seguida como a "descoberta maravilhosa de bruxas" no condado de Lancaster. Foi publicada recentemente uma edição em inglês moderno deste livro, juntamente com um ensaio reunindo o que sabemos dos acontecimentos de 1612. Tem sido de uma leitura fascinante, revelando Potts cuidadosamente editando as provas e também como o processo contra as 'bruxas' foi construído e manipulado para se tornar um julgamento espetacular.

Tudo começou em meados de março, quando um mascate de Halifax chamado John Law teve um encontro assustador com uma moça pobre, Alizon Device, em um campo perto de Colne. Ele recusou um pedido dessa moça e houve uma breve discussão durante a qual o mascate foi tomado por uma metamorfose, deixando-o com "a cabeça desenhada de forma errada", seus olhos, rosto, deformados e seu linguajar incompreensível. "Nós podemos agora reconhecer isso como um acidente vascular cerebral, talvez provocado pelo encontro estressante". Alizon foi interrogada pelas autoridades locais, onde surpreendeu a todos ao confessar o encantamento de John Law e, em seguida, pedir perdão.

Quando Alizon não foi capaz de curar o mascate, o magistrado local, Roger Nowell foi chamado. Caracterizado por Thomas Potts como "justiça de Deus", ele estava alerta para os casos de feitiçaria, que foram consideradas pelas autoridades puritanas de Lancashire como parte do entulho cultural do "papado" - catolicismo romano - muito atrasado e para ser varrido da Reforma Protestante do conselho.

Chorando com muitas lágrimas, Alizon explicou que ela tinha sido desviada por sua avó, a "velha Demdike", bem conhecida no bairro por seu conhecimento de antigas orações católicas, encantos, curas, magia e maldições. Nowell rapidamente entrevistou a avó de Alizon e mãe, assim como a suposta rival de Demdike, "velha Chattox" e sua filha Anne. As tentativas destas pessoas, em meio ao pânico, de transferir a culpa para os outros, eventualmente, só acabou as incriminando, sendo enviadas para a prisão de Lancaster no início de abril para aguardar julgamento no verão.

Nesse local, aguardavam também julgamento, dois pobres, de famílias locais marginais na floresta de Pendle com uma longa reputação de poderes mágicos, que tinham usado ocasionalmente, a pedido de seus vizinhos mais ricos. Tinha havido disputas, mas nenhum deles fazia parte da vida comum da aldeia. Não até 1612 se nada disso tivesse chegado ao conhecimento das autoridades.

A rede foi ainda mais alargada no final de abril, quando o irmão mais novo de Alizon, James, e a irmã mais nova, Jennet, de apenas nove anos, surgiram com uma história sobre uma "grande reunião de bruxas" na casa de sua avó, conhecida como Malkin Tower. Esta reunião foi, presumivelmente, para discutir a situação dos detidos e a ameaça de novas detenções, mas de acordo com a evidência extraída das crianças por parte dos magistrados, a conspiração foi tramada para explodir castelo Lancaster com pólvora, matar o carcereiro e resgatar as bruxas presas. Foi, em suma, uma conspiração contra a autoridade real para rivalizar com a Conspiração da Pólvora de 1605 - algo que se espera em um país conhecido por sua particular e forte presença católica romana subterrânea.

Os presentes na reunião eram em sua maioria membros da família e vizinhos, mas também incluía Alice Nutter, descrita por Potts como "uma mulher rica que teve uma grande propriedade e crianças de boa esperança, na opinião comum do mundo, de bom humor, livre de inveja ou malícia". Sua parte no caso permanece um mistério, mas ela parece ter tido ligações familiares com católicos, e pode ter sido ela mesmo uma católica, proporcionando um motivo adicional para ser processada. Foi, juntamente com uma série de outros citados pelas crianças e algumas supostas bruxas de outras partes do condado, encarcerada nas masmorras do castelo de Lancaster.

Todos os dezenove foram julgados no espaço de dois dias, em meio a cenas dramáticas no tribunal. Dez deles foram enforcados no dia seguinte em Lancaster Moor, no alto da cidade e com vista para a baía de Morecambe. Foi provavelmente a primeira vez que qualquer um deles tenha visto o mar.

Alice Nutter e vários outros réus desafiaram a convenção, recusando-se a oferecer qualquer confissão na forca. Para muitos dos presentes no enforcamento esta teria parecido como prova de inocência, e que pode ter sido tais rumores sobre o julgamento que levou os juízes de primeira instância a pedir ao secretário do tribunal, Thomas Potts, para dar o passo incomum de registrar esse evento.

Na verdade, Potts já tinha organizado o julgamento e pode muito bem ter sugerido a publicação, em primeiro lugar, na qual bajulava o rei James I, cujo livro "Demonologia" ele citou várias vezes, proclamando de como as autoridades tinham seguido o conselho do Rei em descobrir casos de feitiçaria nesse julgamento.

O julgamento Lancashire foi então citado a partir de 1620 em diante como precedente legal para a utilização de crianças como evidência em casos de feitiçaria. Indiretamente, esse julgamento pode ter influenciado na caça geral das bruxas, os julgamentos notórios de década de 1640 e até mesmo os julgamentos das bruxas de Salem de 1690 na Nova Inglaterra.


Fonte: pendle witches - Planet Open Knowledge

Perseguição às Feiticeiras

Caça às bruxas: A professora Ursel sendo torturada - Maastricht, Holanda, 1570.

Por que mulheres inofensivas – sem chapéu pontudo e com vassoura só para limpar a casa – foram exterminadas na Idade Média? Fanatismo, alucinações e até comida estragada podem explicar a perseguição às feiticeiras.

Entre os séculos 15 e 17, a Europa estava infestada de bruxas. Disfarçadas e infiltradas entre os bons cristãos, elas adoravam o Diabo em segredo, promoviam rituais malignos e lançavam feitiços e maldições com a ajuda do chefe dos demônios. Na calada da noite, roubavam bebês recém-nascidos e os esquartejavam antes de receber o batismo. Depois, ferviam os corpos mutilados num caldeirão para fabricar venenos e poções mágicas. Quando ofendidas, lançavam maldições terríveis: podiam invocar tempestades e chuvas de granizo, matar pessoas com um simples olhar e transformar suas vítimas em sapos, ratos ou cobras. Nas noites de sexta-feira, as adoradoras de Satanás montavam em vassouras ou cadeiras enfeitiçadas e voavam para o sabá – na superstição medieval, uma espécie de missa satânica realizada em florestas ou montanhas desertas. Nessa noitada diabólica, as bruxas se entregavam a uma maratona de pecados e blasfêmias. Empanturravam-se em banquetes canibalescos, cujo cardápio incluía corações de crianças e carne de homens enforcados. Engatavam orgias onde todas as perversões sexuais imagináveis eram permitidas e encorajadas. Às vezes, o coisa-ruim em pessoa entrava na farra, dançando e amando suas servas na forma de bode preto, gato gigante ou homem-monstro, com 7 chifres na cabeça e um enorme pênis ereto, todo coberto de espinhos.

Os delirantes relatos vêm de livros como Martelo das Feiticeiras (1487) e o Quadro da Inconstância dos Anjos Malvados e Demônios (1612), manuais usados para caçar, prender e exterminar as “agentes de Satã”. Durante séculos, esses livros foram levados a sério – e a crença nas bruxas não era vista como superstição, mas artigo de fé. “Acreditar em bruxas é uma parte essencial da doutrina cristã. Duvidar de sua existência é uma grave heresia contra a Santa Igreja”, afirmavam o monge alemão Heinrich Kraemer e o padre suíço James Sprenger, autores de Martelo das Feiticeiras.

Na época de Kraemer e Sprenger, a crença na bruxaria era tão forte que desencadeou uma das perseguições mais brutais que o Ocidente já viu. A caça às bruxas, que atingiu o ápice entre os séculos 15 e 17, foi um capítulo sinistro na transição do mundo medieval para o período moderno. Durante cerca de 400 anos, os governos laicos e as autoridades religiosas da Europa prenderam, torturaram e assassinaram uma multidão de pessoas pelo crime de feitiçaria. Como os registros oficiais da época são muitos confusos, o número exato de vítimas é até hoje um mistério. Alguns historiadores sugerem um total de 200 mil mortos, enquanto outros falam até em 9 milhões. Quase todos eram mulheres, em geral camponesas miseráveis, que viviam sozinhas em pequenos casebres às margens das aldeias. Para sobreviver, elas atuavam como curandeiras, fazendo feitiços, simpatias e remédios naturais. Esse verniz de simplicidade e sofrimento torna ainda mais intrigante o mistério que nenhuma das teorias consegue explicar direito: afinal, por que raios as pessoas começaram a ver naquelas tiazinhas inofensivas bruxas voando em vassouras e dançando peladonas com o Diabo? Para entender isso, precisamos voltar ao início da civilização ocidental e responder a uma outra pergunta:

O que é uma bruxa?

Segundo o Martelo das Feiticeiras e outros manuais da época, bruxa (ou bruxo) era alguém que praticava magia para fins malignos, com a ajuda do demônio. O conceito de bruxaria surgiu na Idade Média, mas outras formas de magia eram praticadas desde a Antiguidade – e nem sempre eram vistas como algo mau. No mundo greco-romano, a palavra mageia designava uma espécie de religião não oficial baseada no culto de deuses ligados à noite e à escuridão. Segundo a crença da época, divindades como Plutão, deus dos mortos, e Hécate, deusa das encruzilhadas e da lua nova, podiam tanto causar doenças quanto curá-las. “As leis romanas condenavam a magia com fins maléficos, pois a enfermidade e a morte freqüentemente eram atribuídas a causas mágicas. Mas a magia com fins benéficos na Grécia e em Roma era considerada lícita e mesmo necessária”, diz o historiador Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, da USP, em seu livro Bruxaria e História.

A tolerância virou pó no início da Idade Média. Com a Europa convertida ao cristianismo, os ritos mágicos caíram no enorme balaio de crenças proibidas. Só esqueceram de combinar com o povão, que durante todo o período medieval continuou invocando espíritos, amaldiçoando inimigos e enfeitiçando amantes à revelia dos padres. Com uma diferença: se nos tempos antigos havia magos e magas na mesma proporção, na Europa cristã a bruxaria era monopólio feminino. Não é difícil entender por quê: enxotadas do comando da Igreja (desde o século 2, o sacerdócio cristão era exclusividade dos homens), as mulheres fizeram das práticas mágicas proibidas sua solitária esfera de poder. Entre as figuras mais respeitadas nas aldeias e nos campos – onde viviam 95% da população européia no século 15 – estavam as curandeiras, chamadas de “mulheres sábias” na Inglaterra, França, Alemanha e outros países. “Eram geralmente viúvas ou solteironas, com enorme conhecimento de ervas medicinais. Embora fossem pessoas miseráveis, tinham grande prestígio. Num mundo quase sem médicos, elas serviam como faz-tudo: parteiras, adivinhas, terapeutas”, diz o historiador Henrique Carneiro, da USP.

Passados de mãe para filha ou de tia para sobrinha, os segredos das curandeiras escapavam à compreensão da ciência. De fato, alguns de seus remedinhos eram pra lá de estranhos. Ovos fervidos em urina, por exemplo, eram usados contra picadas de insetos. Pomadas de sêmen de cavalo serviam para provocar a gravidez. Amuletos para atrair o amor, afastar mau-olhado e detectar venenos usavam como ingredientes ratos assados, pele de cobra e dentes humanos, recolhidos no cemitério mais próximo. Bênçãos e rezas também estavam no repertório. Em meio à bizarrice, nem tudo era chute ou superstição. A “magia” dessas mulheres abarcava conhecimentos que depois seriam cientificamente comprovados (veja alguns exemplos no quadro ao lado).

O que nem as curandeiras nem os cientistas podiam prever eram as desgraças que arrasariam a Europa no século 14. Em 1315, catástrofes climáticas destruíram colheitas em toda a Europa, exterminando 20% da população e originando surtos de canibalismo. Décadas depois veio a peste negra – a gigantesca epidemia que varreu um terço dos habitantes da Europa, cerca de 20 milhões de pessoas. Numa época coalhada de superstições, era preciso culpar alguém pelas calamidades. Sobrou para as curandeiras. “Durante as crises, os pobres do campo passaram a descontar sua frustração pelas colheitas ruins ou pela alta taxa de mortalidade infantil sobre aquelas que tinham menos capacidade de reagir – as solteironas e as viúvas, sem maridos ou filhos para protegê-las”, afirma a historiadora americana Anne Lewellyn Barstow, no livro Chacina de Feiticeiras. A fagulha virou incêndio com a radicalização religiosa da Inquisição, movimento cristão de perseguição aos hereges. A caça às bruxas, até então esporádica, foi oficializada em 1484, quando o papa Inocêncio 8o publicou uma bula transformando em hereges todos aqueles que “realizam encantamentos, sortilégios, conjurações de espíritos e outras abominações do gênero”. A sabedoria popular sem respaldo da Igreja passou a ser coisa do Diabo.

Tá todo mundo louco

Embalados pelo frenesi da Inquisição, muitos países incluíram a bruxaria na lista de crimes contra o Estado. A caça às bruxas intensificou-se e fez vítimas como a alemã Walpurga Hausmanin, uma viúva idosa que ganhava a vida como curandeira no vilarejo de Dillingen, no sul do país. Em 1587, seus antigos clientes e amigos a acusaram de matar bebês e dizimar os animais da aldeia (uma simples fofoca mandava pessoas ao calabouço). Walpurga foi presa e levada ao tribunal. Isolada do mundo exterior, não tinha direito a nenhum tipo de defesa. Os juízes examinavam o corpo das vítimas em busca de “marcas do Diabo” – verrugas, sinais de nascença ou simples cicatrizes. Acorrentada e espancada, Walpurga confessou: seus poderes eram dádivas de Satanás. Marcada com ferro em brasa, foi queimada viva em praça pública. Por mais de 200 anos, houve muitas Walpurgas. Pessoas de todas as idades juravam ter visto sabás e muitos admitiam ter participado das orgias. O fanatismo religioso fazia a maioria da população acreditar que o Diabo estava à solta.

Será possível entender racionalmente essa maluquice? Há algumas explicações, nenhuma delas plenamente satisfatória. A mais tradicional vem da psicologia, que classifica a perseguição às bruxas como um período de histeria coletiva, doença caracterizada pela falta de controle sobre atos e emoções. Parece algo muito esquisito? Sim, mas pode rolar até nas sociedades mais liberais. Alguns estudiosos defendem que foi justamente isso o que aconteceu nos EUA da década de 1950, época da paranóia anticomunista – não por acaso, também chamada de “caça às bruxas”. “O medo dos comunistas era tão grande que qualquer intelectual virava suspeito de espionar para a União Soviética”, diz o historiador inglês Nigel Cawthorne em seu livro Witch Hunt (“Caça às Bruxas”, sem tradução no Brasil).

Mas o pânico social não justifica totalmente as descrições detalhadas de vôos noturnos, lobisomens e bailes satânicos. A loucura em massa talvez possa ser explicada pela própria massa – não a humana, mas a do pão. Parece louco, mas é simples: entre os séculos 15 e 17, o principal alimento da dieta européia era o pão feito à base de centeio. Em climas chuvosos e úmidos, como em boa parte da Europa, era comum que os depósitos de centeio fossem atacados por um fungo conhecido como Claviceps purpurea. O Claviceps é um velho conhecido dos viajandões: ele contém um alcalóide chamado ergotamina, que em 1943 foi usado em laboratórios americanos para produzir o LSD. Se essa explicação for correta, dá para concluir que grande parte das pessoas envolvidas no massacre às bruxas poderia estar literalmente delirando, em estado de transe, falando sozinha ou descrevendo visões psicodélicas. Ver assombrações demoníacas e outras cenas seria compatível com esse quadro alucinado de alteração química.

Fogo na corte


A viagem do mal só deu sinais de esgotamento no final do século 16, quando pipocaram as primeiras denúncias de psiquiatras e até jesuítas da loucura coletiva. Mas a caça às bruxas fez vítimas até a metade do século 18. Com as curandeiras exterminadas, a atenção dos caçadores se voltou a qualquer mulher suspeita. A gota d’água veio em 1682, quando a marquesa de Montespan, amante do rei francês Luís 14, foi acusada de satanismo. Sentindo o calor da fogueira muito próximo ao trono, Luís 14 baixou um decreto proibindo a perseguição a bruxas na França. No século seguinte, o rei francês foi imitado por outros governantes. Mas a última execução por bruxaria só aconteceria em 1782 – apenas 7 anos antes da Revolução Francesa, que inaugurou oficialmente a modernidade no Ocidente. Mesmo com suas chamas extintas, a chacina das feiticeiras continua sendo um dos enigmas mais arrepiantes da história.


Texto de José Francisco Botelho 
Superinteressante

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Histeria da Caça às Bruxas


Desde meados do século XV e durante um período de cerca de 250 anos que, calcula-se, 150 000 a 200 000 pessoas na Europa terão sido condenadas à morte por bruxaria. Algumas foram queimadas vivas, outras, enforcadas, outras ainda, estranguladas e depois queimadas.

A reputação e a condição social conferiam pouca proteção. Em 1590, Frau Rebekka Lémp foi uma das 32 mulheres respeitáveis queimadas por bruxaria na cidade alemã de Nördlingen. Os homens condenados por bruxaria eram muito menos, mas em 1628 o burgomestre de Bamberg foi executado por acusações forjadas contra ele pelos seus rivais políticos.

A histeria da caça às bruxas teve origem num conceito de bruxaria que surgiu de uma mistura de feitiçaria campesina, magia, heresia e satanismo. Todas as sociedades acreditavam nos feiticeiros das zonas rurais, que curavam ou faziam mal por meios ocultos. A magia branca, uma combinação de psicologia e farmacologia, podia proteger pessoas, colheitas e gado; garantir a reprodução; descobrir e influenciar amantes; encontrar pessoas e bens perdidos e tesouros escondidos, e contrariar a magia negra. A magia negra, ou maleficium, podia provocar a doença e a morte e gerar tempestades ou pragas de insetos para destruir colheitas.

Os primeiros «cientistas», como Cornelius Agrippa, na Alemanha, e Roger Bacon e John Dee, na Inglaterra, eram considerados magos pelos clérigos conservadores por acreditarem que os demônios podiam ser coagidos a servir os seres humanos. Os cristãos que se opusessem à visão dominante da Igreja eram acusados de crimes como heresia, assassínio, sacrifício de crianças, canibalismo e desvios sexuais. Uma pequena minoria adorava o demônio cristão, cuja importância cresceu rapidamente no fim da Idade Média, até que finalmente o satanismo se transformou num elemento essencial do conceito de bruxa do século XVI.

Pactos com o Demônio: A partir do século XIII, clérigos como Tomás de Aquino e Alberto Magno negaram a existência de um mundo de magia separado do mundo da Natureza ou do sobrenatural, e a Igreja declarou que a utilização de magia sem a sua autoridade seria obra do Diabo. Assim, quem exercesse poderes mágicos fora da Igreja é porque tinha feito um pacto com o Diabo. Dezenas de milhares de mulheres idosas e de outras pessoas da Europa que praticavam feitiçaria campesina passaram cada vez mais a serem consideradas instrumentos do Demônio, que teria reuniões regulares com os seus seguidores, fornecendo-lhes assistentes demoníacos, conhecidos por familiares.

Os métodos utilizados na luta contra esta ameaça divergiam. Penitências leves dadas por tribunais eclesiásticos ou multas moderadas impostas por jurisdições seculares deram lugar a castigos mais duros no fim do século XV. Em certas partes da França, na Alemanha e Escócia; o suposto pacto com o Demônio era considerado pelos católicos como a rejeição do baptismo e pelos calvinistas a quebra do contrato com Deus. O castigo era morrer na fogueira. Noutras regiões, como na Inglaterra ou Dinamarca, a pena, que dependia do resultado do maleficium, era a forca.

A elite política, ansiosa por que a Igreja e o Estado escapassem à responsabilidade das desgraças nas comunidades, encontrou um bode expiatório no Demónio e seus seguidores. Certos indivíduos eram mais vulneráveis: os idosos e os doentes e as viúvas e as solteiras. O ódio contra as mulheres e a necessidade de as controlar foram também fatores importantes em muitas perseguições.

Controle do Estado: Em certas situações, a cobiça ou a ambição política levavam as pessoas a acusar outras de bruxaria. Os Estados fortes, porém, conseguiam controlar a caça às bruxas. A ocupação sueca da Alemanha na década de 1630 e a ocupação inglesa da Escócia na década de l650 puseram fim a tal atividade, que, no entanto, recomeçaria mal os exércitos estrangeiros se retiraram.

No início do século XVIII, a caça às bruxas tinha praticamente acabado (um dos últimos grandes surtos ocorreu na América, em Salem, Massachusetts, em 1692 e 1693). O impacto de explicações racionais e científicas deu origem a que as pessoas cultas já não acreditassem em bruxas, o que passou a refletir-se nas decisões dos juízes. A bruxaria deixou de ser um crime. A burocracia governamental, forte e eficaz, afastou a necessidade de bodes expiatórios como meio de controle, e o medo da população e das mulheres atenuou-se. As crenças no maleficium passaram a ocorrer apenas ao nível de camponeses ignorantes.

Os bruxos neopagãos, que têm vindo a aumentar desde a década de 50, nada tem a ver com o conceito medieval de bruxaria. Não creem no Demônio nem renunciam às religiões convencionais, antes consideram-se curandeiros que trabalham para o bem da comunidade.


Fontes: Bruxaria; Dictionnaire Infernal. Paris: E. Plon, 1863.

Bruxas Voadoras


Durante uma caça às bruxas no Pays de Labourd, França, em 1609, o investigador Pierre de Lancre obrigou uma jovem a fazer uma confissão extraordinária. Sob tortura, Marie Dindarte, de 17 anos, disse que na noite de 27 de setembro se tinha untado com um unguento e depois voado. O unguento não podia ser examinado porque o Diabo o tinha escondido.

Muitas pessoas da Idade Média pensavam que algumas mulheres cavalgavam «durante a noite com Diana, deusa dos pagãos ... montadas sobre certos animais ... e cobrindo distâncias imensas». Durante séculos, a Igreja deplorou esta crença e impôs penitência. Mais tarde, porém, mudou de opinião. No século XIII, o papa Alexandre IV determinou que a bruxaria implicava heresia, e, no século XVI, quem negasse a existência de bruxas que voavam de noite podia ser queimado como bruxo!

A deusa das bruxas tinha vários nomes, mas os textos eruditos se lhe referem vulgarmente pelo nome de Diana, ou Ártemis, deusa da Lua. O seu templo em Éfeso, na atual Turquia, era um centro religioso do mundo antigo. Os Sicilianos acreditavam que nas noites de quinta-feira as seguidoras de Diana deixavam os seus corpos deitados junto aos maridos e voavam na escuridão para dançarem e festejarem com as almas dos mortos. Traziam fertilidade e abundância às casas bem tratadas e consumiam as ofertas que os seus habitantes lhes deixavam.

Estas viagens em sonhos eram abominações demoníacas aos olhos da Igreja. Nos séculos XVI e XVII, muitas mulheres confessavam ter voado com o Demónio para assistir ao sabbat (assembleia de bruxas). Na Suíça, as bruxas montavam muitas vezes em lobos, mas também em grandes gatos pretos e cabras. Gradualmente, os meios de transporte viriam a incluir objetos como cadeiras, pás, paus e sobretudo vassouras untadas com unguentos mágicos feitos de beladona, acônito, cicuta e outras plantas venenosas. Dizia-se que o óleo dos unguentos provinha de gordura fervida de bebês por batizar ou de crianças roubadas de casa ou desenterradas das suas sepulturas. Os investigadores atuais afirmam que estes voos fantásticos deviam ser fruto de ilusões e imaginações excitadas induzidas por drogas.

Em l558, o alquimista Gianbatista Porta viu uma bruxa se untando com um unguento e entrar em transe. Ao acordar, afirmou ter estado a voar, embora Porta não a tivesse visto mexer-se. Outras testemunhas foram mais afortunadas. Em 1527, Avellaneda, outro inquisidor da região basca, levou homens armados até uma estalagem, a fim de torturar uma vítima à hora das bruxas – imediatamente antes da meia-noite de sexta-feira. A mulher foi levada para «um quarto interior; untou-se da forma habitual com um unguento venenoso, que também se usa para matar pessoas, e dirigiu-se a uma janela alta ... Depois, chamou o Diabo, pedindo-lhe ajuda, e ele apareceu, como era seu costume, pegando nela e levando-a quase até ao solo». Quando um dos soldados, aterrado, invocou o nome de Cristo, a bruxa e o Diabo desapareceram. A mulher foi apanhada passados alguns dias noutra cidade. O Diabo, segundo se presume, continua à solta.


Fontes: Bruxaria; Dictionnaire Infernal. Paris: E. Plon, 1863.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O Julgamento das Bruxas de Zugarramurdi


Na fronteira com a França, rodeada por um vasto pasto verde onde as vacas pastam calmamente, fica a aldeia de Zugarramurdi. Localizada na região de Navarra de Xareta esta pequena vila tem atualmente apenas 250 habitantes e, apesar de ser conhecida por seus magníficos pinheiros e castanheiras, bem como para a exploração de uma caverna impressionante esculpida pela água, Zugarramurdi deve a sua fama aos eventos tristes e escuros, em sua maioria concluídos pelos seus residentes, no século XVII.

Alguns desses eventos levaram o Tribunal da Inquisição a sentenciar punições para cinquenta pessoas por prática de bruxaria.

Em 1608 os senhores da Urtubi-Alzate e Sant Per pediram ajuda urgente ao rei Henrique IV da França devido a problemas com bruxas no país Labourd. Em seguida, uma mulher de Zugarramurdi disse que sonhou que alguns aldeões participaram de uma reunião na caverna local. Seu sonho fez com que o abade de Urdax fosse procurar auxílio junto ao Tribunal da Santa Inquisição em Logroño, de onde partiu o inquisidor Juan Alvarado Valle para realizar investigações na área.

O inquisidor, depois de ouvir vários comentários e reclamações, indiciou, inicialmente, mais de três centenas de pessoas. Os mais suspeitos, cerca de quarenta dos acusados, foram transferidos para a prisão de Logroño e mais tarde foram julgados no "Processo de Logroño" (um processo que alcançou fama internacional, cruzando as fronteiras espanholas e francesas). Em junho de 1610 o tribunal declarou 29 dos acusados culpados.

Bruxa vestindo um sambenito e chapéu
pontudo, ouvindo o veredicto do inquisidor
- Caprice No. 23 por Francisco de Goya.
No "Auto de Fé", realizada em Logroño, em 7 e 8 de novembro de 1610, dezoito pessoas foram perdoadas porque elas confessaram os seus pecados e um apelo à misericórdia do tribunal, seis outros resistiram e foram queimados vivos. Cinco estatuetas foram queimadas representando mais cinco pessoas, uma vez que já tinham morrido na prisão. Cerca de 30.000 pessoas participaram do Auto de Fé no domingo de 7 de novembro de 1610, muitos dos quais eram da França.

O cortejo começava com uma procissão composta de milhares de pessoas, incluindo: famílias dos acusados, comissários, notários da Inquisição e membros de várias ordens religiosas. Mais para trás na fila havia vinte penitentes carregando uma vela na mão, seis dos quais usavam uma corda em volta do pescoço, o que indicava que eles deviam ser açoitados. Após estes, o “perdoado” andava com um sambenito (uma peça de vestuário semelhante a um escapulário) e um grande chapéu pontudo.

Em seguida, cinco pessoas apareciam carregando as estátuas dos cinco presos que haviam morrido na prisão, acompanhados dos caixões correspondentes contendo seus restos mortais. Seguiam mais quatro mulheres e dois homens, também vestindo sambenito, mas de cor negra, que significava que eles seriam queimados vivos por sua heresia.

E completando a procissão vinham quatro secretários da Inquisição e três inquisidores da corte de Logroño montados em cavalos e um burro carregando o caixão que continha os veredictos.


Fonte: The Zugarramurdi Witch Trials: Welcome to the Spanish Salem

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Iniciação da Bruxa

Ensayos - Los Caprichos, 1799 - Goya
O antropólogo espanhol Carmelo Lisón Tolosana cita o caso das "Bruxas de Zugarramurdi" como um exemplo para explicar a iniciação à bruxaria, seguindo a relação do processo inquisitorial publicado em Logroño no início de 1611, poucos meses depois de se realizar o auto de fé em que seis bruxas e bruxos foram queimados vivos.

De acordo com esta relação, a iniciação à bruxaria começava cedo. As bruxas-mestras, à noite, retiravam de suas camas crianças com menos de cinco anos enquanto seus pais dormiam, e as levavam voando para o Sabbath. Se elas contassem aos pais ou a alguém desses passeios noturnos, seriam espancadas por essas "tias" malignas.

Uma das tarefas dessas crianças, entre outras, era cuidar dos sapos pelos quais as bruxas obtinham unguentos ou pomadas que as faziam voar. A princípio, não eram obrigadas a abjurar de sua fé, porque ainda pequenas eram simplesmente apresentadas ao demônio, mas quando completavam seis anos de idade as bruxas-mestras as convenciam a renunciar Cristo através de guloseimas e promessas de coisas fantásticas.

A cerimônia de apostasia começava duas horas antes do Sabbath, quando a bruxa-mestra despertava o novato (a) o untando com um líquido fedorento verde-escuro — obtido de sapos — mãos, plantas dos pés, seios, cada uma das partes laterais e da frente da cabeça, proeminências, orelhas e partes pudendas do corpo, transportando seu corpo pelo ar.

Depois desse ritual é conduzido à reunião, onde diabo já o aguarda sentado em seu trono com uma aparência entre homem e bode, olhos enormes e assustadores, mãos como garras de aves de rapina, coroa com chifres pequenos e um grande chifre que saí de sua frente iluminando a reunião de bruxos e bruxas — a quem a bruxa-mestra apresenta a seu discípulo com as palavras: "Senhor, este eu trago e apresento".

Em seguida, o menino ou a menina ajoelhada ainda repete a renúncia (abjuração) pronunciada pelo diabo. "Negar a Deus, a Virgem Maria, Todos os Santos, batismo e confirmação, de ambas as crismas, de seus padrinhos e pais, da fé e de todos os cristãos”.

Depois de aceitar como seu novo deus e mestre Satanás, — que lhe levará ao paraíso — a nova bruxa ou bruxo faz seu primeiro ato de adoração ritual, beijando-lhe a mão esquerda, depois sua boca, seios, sobre o coração e nas partes íntimas; então o diabo se volta para o seu lado esquerdo, levanta a sua cauda que é igual à dos asnos, descobrindo assim seu imundo traseiro e o oferece para o discípulo (a) beijar.

Ósculo infame de uma bruxa no diabo - Compendium maleficarum, 1608

Satisfeito por esse ósculo infame, o novo senhor faz uma marca com uma unha da mão esquerda em algum lugar do corpo da nova bruxa, um sinal durará para sempre e que irá causar dor pelo menos um mês. Também marca a menina dos olhos deixando impressa a figura de um sapo, um sinal de que lhe servirá para conhecer outros membros da seita. Em seguida, é enviado para se divertir e dançar com outros bruxos (as) jovens ao som de pandeiro e flauta.

Mas eles ainda não são totalmente bruxos ou bruxas. Com os novos poderes que ganharam são obrigados a executar o mal, liderados por suas bruxas-professoras. Só com o passar do tempo é que recebem a “dignidade” de poder fazer poções ou venenos mediantes à bênção com a mão esquerda que lhes faz o diabo na reunião em que participam.

Em seguida, ele lhes entrega os sapos vestidos que deu às suas professoras quando renegaram a Cristo e, a partir de então, já podem obter destes o líquido fedorento com que hão de se untar para poderem voar, produzir poções ou venenos para matar pessoas e animais, destruir culturas e frutas.

A partir de agora eles não vão mais precisar de padrinhos ou professores, irão sozinhos às reuniões noturnas e poderão ser admitidos aos maiores segredos e maldades. Já são magos ou bruxas, membros de pleno direito da seita, desfrutando de interação direta, pessoal e mútua com seu deus e senhor.


Fonte: eanswers - Bruja

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Morte às Bruxas - Parte Final

A execução de Brigida Bishop


Intermediárias do Demônio — Uma história incrível passada há 300 anos nos tribunais de Massachusetts Dezoito mulheres enforcadas e duzentas pessoas levadas ao cárcere O senado daquele estado norte-americano proclamou, não há muito, a inocência dos mortos e dos martirizados.

O julgamento de Brígida Bishop

Brígida Bishop era uma mulher extraordinariamente formosa. Casada desde muito jovem, enviuvou logo e contraiu novo matrimônio, mas, o segundo marido morreu também, poucos meses depois. A mesma sorte teve o terceiro, anos mais tarde. Para viver, Brígida administrava uma taberna, onde se passavam horas divertidas e se bebia bom vinho.

Aos quarenta anos, Brígida Bishop ainda era muito bonita e se vestia com grande elegância. Gênio folgazão, alma livre. Sentia-se libertada de exageradas exigências. As beatas consideravam uma licenciosidade imperdoável a elegância da formosa mulher, os seus interessantes vestidos. Acusavam-na de ofender o recato das senhoras honestas com seus toletes de cores alegres. Era grave a ofensa às damas de Salem, que se trajavam com decência, de roupas escuras, cinzentas, e quase sempre, de preto.

Ao chegar perante o tribunal e ao ouvir a acusação que lhe faziam a senhora Brígida Bishop ponderou:

— Não sei, ao menos, o que são bruxas...

— Então, não pode a senhora asseverar que não seja uma delas, replicou, triunfante, um dos juízes.

A prova condenatória foi robustecida por William Stacy.

— Essa senhora, — falou ele— deu-me uma moeda em pagamento de certo serviço. Não havia caminhado vinte passos, procurei nos bolsos a moeda e ela havia desaparecido, como por encanto...

É inconcebível acusação mais infantil. Mas, o fato, para o plenário, se apresentava como inconteste. A senhora Bishop tinha por certo, negócios com o Diabo...

Não ficou aí tudo. Foi chamado um tal Samuel Gary. Assegurou ele que há dez anos passados lhe havia aparecido uma bruxa. Dias depois, morria um filho seu, ainda pequenino, enfeitiçado. A bruxa, afirmou, não fora outra senão Brígida Bishop, a qual acabava de reconhecer.

Acusavam-na ainda de ser responsável pela loucura e o suicídio de um seu vizinho, de nome Cristiano Trask.

Outras vítimas — Fim da Era de Terror

Se não estivessem todos os detalhes desta narrativa singular guardados ainda nos arquivos judiciários de Massachusetts, nos Estados Unidos, não seria possível acreditar que tudo assim aconteceu, de tão irreal que parece.

Os demais julgados — falam os autos — não foram diferentes dos que, com minúcias, reproduzimos para ser possível uma ideia completa desses incríveis acontecimentos.

Um caso de maior barbaridade foi aquele de que fizeram vítima o velho Giles Corey, com 80 anos de idade. Para afastar o demônio do seu corpo, o octogenário foi submetido a horrível suplício, em meio do qual faleceu. Fizeram-no deitar-se e sobre ele foram sendo colocadas pesadas pedras, até que desaparecesse sobre elas.

Quando as tiraram de cima do pobre homem, não havia mais nada a fazer senão sepultá-lo. Outro indivíduo, chamado George Jacobs, foi executado porque revoltou-se, publicamente, contra os tribunais. Esse não era bruxo,

Um dos juízes, de nome Stoughton, levantava-se, com frequência, da mesa em que estava e golpeava-se furiosamente com um chicote, nas pernas e nos braços. É que ele temia os bruxados, as bruxas que ia condenar. O meio de espantar os espíritos malignos era seviciar-se.

Antes de iniciado o plenário, constituía-se um grupo de jurados extraordinário que era investido de delicada missão. Os jurados tinham quer ser técnicos no assunto. Cabia a esses jurados o exame corporal dos prisioneiros e a assinalação de marcas que se supunham estigmas de Satã, produzidas pelo seu tridente em fogo. Não poucas vezes aconteceu uma simples cicatriz ser considerada como prova irrefutável do contato com Lúcifer.

As tremendas atrocidades só terminaram quando as pequenas enfeitiçadas da negra Tituba, instigadoras da fúria de morte contra as bruxas, levaram suas denúncias demasiadamente longe. Tiveram a ousadia de acusar a senhora John Hale, esposa de um ministro de Beverly, dama por demais conhecida pela nobreza de seu caráter e bondade. Havia a senhora John Hale externado suas dúvidas sobre a sinceridade das enfeitiçadas. Foi o bastante. Ao mesmo tempo, acusaram ainda de ser bruxa Lady Philips, esposa do próprio procurador de Massachusetts!

Dias depois abriam-se as portas das prisões e eram postas em liberdade duzentas pessoas apontadas como fazedoras de bruxedos. Algumas dessas já haviam também declaradas convictas e estavam sentenciadas a morrer na forca.

Em 1711, o Estado aprovou um crédito de 578 libras esterlinas para indenizar os herdeiros das pessoas que haviam sido executadas e determinou que lhes fossem restituídos os direitos de cidadãos norte-americanos que lhes haviam sido suspenso.

Toda essa história tenebrosa, de 300 anos passados, foi relembrada, já dissemos no começo dessa reportagem, não há muito, quando o Senado de Massachusetts, a requerimento dos descendentes de Ana Pudeator, proclamou a inocência dos mortos e martirizados em Salem, pelos tribunais criados especialmente para julgar e sentenciar as bruxas.

Veja também: Morte às Bruxas - Parte 1 Morte às Bruxas - Parte 2 Morte às Bruxas - Parte 3


Fonte: Artigo adaptado e atualizado de “A Noite Ilustrada”, de 30/07/1946.