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domingo, 25 de março de 2018

O Juramento

Quadrinhos do Terror apresenta: "O Juramento". Revista Calafrio nº 05, abril/1982. Texto: Marco P. de Souza. Desenhos: ?. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo.

"Calafrio" foi uma revista de histórias em quadrinhos de terror que circulou de 1981 até o início dos anos 1990. Pertencia à editora D-Arte (fundada em 1981, em São Paulo) de Rodolfo Zalla. Era uma produção só com artistas nacionais.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Amor de Lobisomem

Quadrinhos do Terror apresenta: "Amor de Lobisomem". Revista Calafrio nº 07, junho/1982. Texto: Marco P. de Souza; Desenhos: Rubens Cordeiro. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo. "Calafrio" foi uma revista de histórias em quadrinhos de terror que circulou de 1981 até o início dos anos 1990. Pertencia à editora D-Arte (fundada em 1981, em São Paulo) de Rodolfo Zalla. Era uma produção só com artistas nacionais.





sábado, 9 de dezembro de 2017

O Lobo!

Quadrinhos do Terror apresenta: "O Lobo!". Revista Calafrio nº 10, setembro/1982. Texto e desenhos: sem créditos. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo .

"Calafrio" foi uma revista de histórias em quadrinhos de terror que circulou de 1981 até o início dos anos 1990. Pertencia à editora D-Arte (fundada em 1981, em São Paulo) de Rodolfo Zalla. Era uma produção só com artistas nacionais.


A Casa dos Horrores - Lua de Mel

Quadrinhos do Terror apresenta: A Casa dos Horrores". Revista Mestres do Terror nº 14, 1983. Criação, texto e desenhos: Mozart Couto. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo. "Mestres do Terror" foi uma revista em quadrinhos do gênero terror brasileira. Circulou comercialmente entre 1981 a 1993. Era publicada pela Editora D-Arte do editor Rodolfo Zalla. Foi cancelada em 1993 junto com Calafrio pela D-Arte. Sendo considerada até hoje uma das publicações mais duradouras do gênero terror no Brasil.





terça-feira, 21 de novembro de 2017

Lua Cor de Sangue

Quadrinhos do Terror apresenta: "Lua Cor de Sangue". Revista Mestres do Terror nº 22, 1983. Texto: Antônio Rodrigues; Desenhos: Rubens Cordeiro. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo.

"Mestres do Terror" foi uma revista em quadrinhos do gênero terror brasileira. Circulou comercialmente entre 1981 a 1993. Era publicada pela Editora D-Arte do editor Rodolfo Zalla. Foi cancelada em 1993 junto com Calafrio pela D-Arte. Sendo considerada até hoje uma das publicações mais duradouras do gênero terror no Brasil.





segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O Matador de Lobisomem

Quadrinhos do Terror apresenta: "O Matador de Lobisomem". Revista Mestres do Terror nº 28. Texto: José Augusto; Desenhos: Flávio Colin. Estúdio D - Arte Criações Ltda, São Paulo. "Mestres do Terror" foi uma revista em quadrinhos do gênero terror brasileira. Circulou comercialmente entre 1981 a 1993. Era publicada pela Editora D-Arte do editor Rodolfo Zalla. Foi cancelada em 1993 junto com Calafrio pela D-Arte. Sendo considerada até hoje uma das publicações mais duradouras do gênero terror no Brasil.

terça-feira, 1 de março de 2016

O Lobisomem de Bedburg

Xilogravura de Lukas Mayer da execução de Peter Stumpp em Bedburg, perto de Colônia (1589)

Peter Stumpp (supliciado e morto em 31 de outubro de 1589) foi um agricultor da Renânia, acusado de ser um assassino em série e canibal, também conhecido como o lobisomem de Bedburg. Seu nascimento cuja data é desconhecida, aconteceu na vila de Epprath, próxima a cidade de Colônia, na Alemanha. Filho de uma destacada família da comunidade rural, Peter ficou viúvo e foi acusado de ter transado com sua filha de 15 anos.

Entre 1564 e 1569, rumores da população fizeram de Stumpp o principal suspeito de uma série de assassinatos ocorridos na cidade de Bedburg. Boatos de que ele devorava animais dos fazendeiros locais e praticava canibalismo reforçaram o interesse da inquisição alemã em condená-lo.

Boatos de que Stumpp se transformava em lobisomem graças ao seu cinturão mágico se consolidaram entre o povo. No julgamento, as testemunhas diziam que o acessório foi um presente do diabo e que sem ele o criminoso voltava a forma humana.

Foi julgado por matar e torturar 14 crianças e duas mulheres grávidas e seus fetos. O esquartejamento de corpos encontrados nas florestas de Bedburg entrou na lista de atrocidades de Stumpp, que também foi acusado de se alimentar do sangue das vítimas. Depois de sua captura, o assassino relatou se envolver com magia negra desde os 12 anos. Durante a confissão, admitiu ter contato frequente com um súcubo (Demônio de aparência feminina que suga a energia vital de humanos com quem mantém relações sexuais.)

Os detalhes sobre os crimes foram extraídos durante sessões de tortura. Peter foi amarrado a uma roda onde pedaços de sua carne eram arrancados com pinças aquecidas e seus ossos eram quebrados. Para finalizar, foi decapitado e teve a cabeça jogada em uma fogueira.

A Banda norte-americana de metal macabre escreveu uma música em homenagem ao "lobisomem" intitulada de "The Werewolf of Bedburg". No livro O Exorcista de William Blatty (que não tem nada a ver com o filme de 1973), há uma passagem que faz referência aos crimes de Stumpp.



A fonte mais completa sobre o caso é um panfleto de 16 páginas publicado em Londres em 1590, a tradução de uma impressão alemã onde nenhuma cópia sobreviveu. O panfleto Inglês, das quais duas cópias existem (uma no Museu Britânico e outra na Biblioteca Lambeth), foram redescobertos por ocultistas Montague Summers, em 1920. Ele descreve a vida de Stumpp e alegados de seus crimes e seu julgamento, e inclui muitas declarações de vizinhos e testemunhas sobre seus crimes. Reimpressões do panfleto inteiro, incluindo uma xilogravura, nas páginas 253 a 259 de sua obra "O homem-lobo".

Informações adicionais são fornecidas pelos diários de Hermann von Weinsberg, um vereador de Colônia, e por número de um periódico ilustrado, que foram impressas no sul da Alemanha e provavelmente foram baseadas na versão alemã do panfleto em Londres. Os documentos originais parecem ter sido perdidos durante as guerras que varreram a Renânia nos séculos que se seguiram.


Fontes: Forget The Fear; Wikipédia.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O Retrato de Antonietta Gonsalvus


De autoria da pintora italiana Lavinia Fontana (1552-1614), esta tela é de 1577 e diz respeito a uma pessoa real quando tinha 12 anos. Antonietta Gonsalvus, eternizada como Tognina, tal como seu pai, Petrus Gonsalvus (figura abaixo), seu irmão e suas irmãs, sofria de uma doença rara, a hipertricose (hypertrichosis univerversalis congênita), também conhecida por síndrome do lobisomem.

O manuscrito que Antonietta segura com as duas mãos resume a sua história: “Don Pietro, homem selvagem descoberto nas Ilhas Canárias, foi conduzido a sua Alteza Sereníssima D. Henrique, rei da França, e de lá para sua Excelência o Duque de Parma. Dele descendo eu, Antonietta, e posso ser encontrada junto da corte da senhora Isabella Pallavicina, honorável Marquesa de Soragna”.

Muito se falou da doença rara de sua família. Desenhos dela estão em Praga porque o imperador de lá tinha um livro de curiosidades. Médicos e antropólogos a estudaram minuciosamente. A igreja, que considerava o rosto como a capela sagrada do corpo, não a entendia e aceitava. A sorte da família é que Francisco, já santo há mais de 100 anos, havia incluído o animal ao reino de Deus.

Outra curiosidade sobre esta obra (lembre-se, a tela tem 500 anos): foi pintada por uma mulher, filha do dono da oficina de pintura que atendia a casa nobre que fez a encomenda da tela. Acredite... Pintoras no século XVI eram tão raras quanto mulheres lobo. Ah... Tognina cresceu, casou e teve filhos... todos parecidos com ela.


Fontes: Rui Gonçalves Piranda; Monstros: Milagres da natureza ou pecado dos homens?.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Um lobisomem doutor

Contou-me há quase trinta anos, Josefina Minha-Fé, que conheci negra velha, mas ainda bonita — tão bonita que, segundo me confessou ela um dia em voz de segredo, certo ilustre poeta brasileiro, de passagem pelo Recife, tentara conquistá-la sem o menor rodeio lírico, dominado pela mais repentina das paixões, sendo já Josefina mulher cinqüentona e um tanto descadeirada, os quartos meio caídos e os peitos começando a enlanguescer e não mais a vênus hotentotemente culatrona e de busto sólido que  fora no verão da vida e no esplendor do sexo — ter conhecido ainda meninota, no Poço da Panela, um lobisomem. 

“Era um horror, menino!” dizia-me ela na sua voz meio rouca de mulher um tanto homem na fala e em certos modos, mas não nas formas e nos dengos.

“Tomava forma de cão danado, mas tinha alguma coisa de porco. Toda noite de sexta-feira estava nos ermos de Caldereiro, do Monteiro, do Poço da Panela, cumprindo seu fado nas encruzilhadas. Espojando-se na areia, na lama, no monturo. Correndo como um desesperado. Atacando com o furor dos danados a mulher, o menino e mesmo o homem que encontrasse sozinho e incauto, em lugar deserto. Chegando atrevidamente até perto da casa de José Mariano para espantar Ioiô e o irmão, meninotes brancos.”

Até que um dia atacou o lube a própria Josefina, que era então negrota gorda e redonda de seus 13 anos. E não se chamava ainda Minha-Fé.  Ao contrário: havia quem a chamasse “Meu Amor” e até “Meus Pecados” — Josefina Meus Pecados — arranhando com a malícia das palavras sua virgindade de moleca de mucambo. 

E quem assim a chamava não se pense que era homem à-toa, porém mais de um doutor.  José Mariano, este às vezes vinha à porta da casa senhoril, de chambre e chinelo, olhar rio e conversar com os vizinhos.  E quando Josefina passava, perguntava-lhe, brincalhão, se ia jogar no bicho.  Ou qualquer coisa assim.

Saíra Josefina para comprar na venda do português azeite de lamparina para os santos.  Não é que os santos estavam naquela noite sem azeite para sua luz?

Não se lembrou a negrota descuidada de que era noite de sexta-feira e noite escura. Chuvosa, até. José Mariano devia estar dentro de casa, lendo os jornais. Dona Olegarinha, costurando. Os meninos, estudando.

Tão despreocupada foi Josefina, caminhando da casa, que era um mucambo de beira de rio, para a venda, ao pé dos sobrados dos lordes, que nem pensou em lobisomem a se espojar em encruzilhadas, batendo as orelhas grandes como se fossem matracas em procissão de Senhor Morto.

Lobisomem era assombração. E assombração parecia a Josefina, já menina-moça, conversa de negra velha e feia, de que negra nova e bonita não devia fazer caso.

E Josefina sabia que era bonita além de negra em flor. Só pensava em ir a festa, fandango, pastoril, pagode. Em dançar de contramestra e vestida de encarnado no pastoril do Poço que era então um dos melhores do Recife. A mãe é que não deixava.

Nada de filha sua em pastoril de rua ou vestida de encarnado. A mãe de Josefina fora escrava dos Baltar, era católica, apostólica e romana e tinha horror a Exu. A Exu e a encarnado vivo.

Ouvira Josefina falar no lobisomem do Poço que vinha assustando até homens valentes.   Que correra atrás de um canoeiro até o rapaz jogar-se desesperado no rio gritando pela mãe e pelo padrinho. Desesperado e vencido pela catinga do Amarelo.
 
Mas quem sabe se o canoeiro não estava um tanto encachaçado e correra de um boi pensando que corria de lobisomem?

Seguia assim Josefina para a venda, quase sem medo de lobisomem nem de fantasma, quando, no meio do caminho, sentiu de repente que junto dela parava um não-sei-quê alvacento ou amarelento, levantando areia e espadanando terra; um não-sei-quê horrível; alguma coisa de que não pôde ver a forma; nem se tinha olhos de gente ou de bicho.  Só viu que era uma mancha amarelenta; que fedia; que começava a se agarrar como um grude nojento ao seu corpo. Mas um grude com dentes duros e pontudos de lobo.  Um lobo com a gula de comer viva e nua a meninota inteira depois de estraçalhar-lhe o vestido.

Foi o que fez o tal lube: estraçalhou o vestido da negrota, que, felizmente, era azul, enquanto ela gritava de desespero. Que a acudissem, pelo amor de Deus. Que a socorresse sua Madrinha, Nossa Senhora da Saúde, que era sua fé! 

“Minha Madrinha!” “Minha Madrinha! Minha Fé! Minha Fé!”

Foi o que salvou Josefina: foi ter gritado pela Senhora da Saúde, da qual o lobisomem, amarelo de todas as doenças e podre de todas as mazelas, tinha mais medo do que do próprio Nosso Senhor.

Aos gritos da negrota, acudiram os homens que estavam à porta da venda. Inclusive, o português que, não acreditando em bruxas, passou a acreditar em lobisomem.

A negra foi encontrada com o vestido azul-celeste em pedaços. Metade do corpo de fora. Os peitos de menina-moça arranhados. Afilhada de Nossa Senhora, só vestia azul. Azul-claro, azul-celeste, azul-marinho, azul-escuro, mas só e sempre azul. 

Nada de encarnado que, para sua mãe, era cor de vestido de mulher da vida. Pois havia então muito quem pensasse ser o vermelho cor do pecado; e como tal era evitado pelas mães nos vestidos das filhas virgens ou moças.  

Isto também ouvi de Josefina Minha-Fé — que desde a aventura com o lobisomem  passou a ser conhecida por Minha-Fé; e, anos depois, de barcaceiros, pescadores e jangadeiros de litoral de Pernambuco e de Alagoas, cujas crenças procurei estudar. 

Explica essa crença dos homens do mar (crença de origem talvez moura e talvez trazida ao Brasil por algarvios) — a de ser o azul cor agradável a Nossa Senhora e o encarnado, desagradável —, tanta barcaça pintada de azul ou de verde: homenagem à Virgem e resguardo dos homens não contra os lobisomens amarelentos, que estes são todos da terra e não vão às águas de mar, mas contra as sereias que povoam os mares e temem, segundo alguns, o azul, mas não o encarnado. Não o vermelho. Nem mesmo o amarelo.

Mas esta não é a história inteira. Falta ainda um trecho que para Josefina era o ponto mais importante da sua aventura. E é que, chamada sua mãe, dias depois, para encarregar-se de lavar a roupa de certo doutor de sobrado do Poço da Panela, um bacharelzinho pálido e de pince-nez que não gostava de José Mariano e dizia ter mais raiva de negro do que de macaco, descobriu que no meio da roupa suja do branco estava mais de um pedaço do vestidinho azul da filha. 

E reparando bem, viu a preta velha que o doutor branco, em vez de branco ou apenas pálido, era homem quase sem cor: de um amarelo de cadáver velho. Soube depois que vivia tomando remédio — ferro e mais ferro — para ganhar sangue e cor de gente viva. Remédio de botica e remédio do mato, feito por mandingueiro ou caboclo.

Que estava morando no Poço justamente por isto: para tratar-se com os banhos que tinham fama de milagrosos e atraíam romeiros de quase Pernambuco todo para a sombra de Nossa Senhora da Saúde do Poço da Panela.

Não sei se o doutor branco conseguiu curar-se de seu mal; se Nossa Senhora da Saúde foi boa ou clemente para o bacharel infeliz; se acabou com o seu fado de toda sexta-feira “virar lobisomem” e correr atrás de mulheres, de meninos e até de  homens. Especialmente atrás de mulheres virgens.

O que sei é que para Josefina Minha-Fé não havia dúvida. O lobisomem que lhe atacara o corpo virgem de afilhada de Nossa Senhora fora o tal doutor de cartola e croisé. Cartola, croisé, pince-nez e rubi no dedo magro. O lobisomem era ele: pecador terrível  que, para cumprir seu fado, tomava toda noite de sexta-feira aquela forma hedionda e saía a correr pelos matos, pelos caminhos desertos, pelos ermos, estraçalhando quem encontrasse sozinho. Principalmente mulher e menino. Mulher virgem. Menina-moça como Minha-Fé. 

E tanto como o Cabeleira (que talvez tenha sido também lobisomem e não simples bandido), o Cabeleira do

Fecha porta, Rosa
Cabeleira eh-vem  
Pegando mulheres  
Meninos também,  
      

o bacharel pálido do Poço tornou-se, por algum tempo, o terror da gente pobre, moradora nos mucambos daquelas margens do Capibaribe, de águas protegidas por Nossa Senhora da Saúde e por algum tempo alegradas pela presença de outro bacharel, este muito amigo do povo miúdo: José Mariano.
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Fonte: Assombrações do Recife Velho - Gilberto Freyre. — Rio de Janeiro:  Record, 1987.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O lobisomem botucatuense

Mito corrente dos mais populares em todo o território nacional, apresenta curiosas variantes em cada região. De São Paulo, a chamada “zona velha” figura entre as mais ricas em valores folclóricos. Ali, mais precisamente em Botucatu, fizemos estes apontamentos.

É o mais corrente em todo o município e, sem muitas variantes, nos municípios vizinhos de Bofete, Piramboia, Itatinga e Avaré. É igualmente conhecido nas cidades. Um dos primeiros ferroviários a residir em Botucatu, mais tarde aposentado e transferido para Sorocaba, referiu ali a Aloísio de Almeida seu encontro com um lobisomem urbano, à noite, na então rua do Comércio, próximo ao Bosque.

A única característica própria, neste caso, era de que ia o lobisomem muito vagarosamente, como se cansado. Possuía longas orelhas tatalantes, produzindo ruído semelhante ao de matracas e trazia aberta a boca.

Por três maneiras se pode tornar lobisomem: por sina, gosto e mordida. O destino marca inexoravelmente para o lobisomem o sétimo filho homem de um casal qualquer que por incúria ou descrença, não receba como padrinho ao irmão mais velho. Será lobisomem por gosto, e se o desejar, quem depois de vinte anos sentir atração irresistível pelo sangue, excrementos de galinha ou pelas andanças noturnas.

 O processo de encantamentos é comum. Encruzilhada. Sexta-feira. Meia-noite. Espojamento na areia. Nó nas mangas do paletó. A terceira forma é consequência das duas primeiras. Se um lobisomem de qualquer destas espécies morde a canela de um homem, este poderá ou não tornar-se por sua vez um lobisomem segundo o estado de pureza de sua alma. Se a vítima foi um cão e no mês de agosto, estará “louco”. Ficará “arejando” para o resto da vida se o fato ocorrer em qualquer outro mês.

E varia a hora de saída do lobisomem. Aquele que cumpre condenação do destino, já estará a vaguear pelas estradas desde as 10 horas. O voluntário, porém, requer a meia-noite. Câmara Cascudo, em sua Geografia dos mitos brasileiros, refere que já às 23 horas, o lobisomem está transformado. Mas a hora de se recolher é invariavelmente a mesma: duas da madrugada, imediatamente após o cantar dos galos.

Às vezes, o desencantamento ocorre naturalmente: depois de sete anos de fadário, se o infeliz não tiver cometido sacrilégio algum contra igreja ou atacado viúvas. Pode também ser provocado graças a um ligeiro ferimento a faca, atingindo-se, de preferência, as patas dianteiras.

O desencantamento poderá apresentar duas reações: se cumpria disposição do destino, agradece e cumula de bens o autor da façanha; se porém, tratava-se de um lobisomem voluntário, passará a odiar o intrometido contra quem tentará todas as vezes que lhe for possível, pois desde o momento do desencantamento, sua alma estará condenada à perdição. (Note-se aqui, a perfeita driscriminação das reações entre as duas formas de lobisomem. Geralmente, este prisma do mito não se encontra bem elucidado, confundindo-se seriamente os porques do proceder posterior do ex-licantropo).

São bem distintos o lobisomem rural e aquele urbano. Este é, de certa forma, ordeiro. Vive arredio, fugitivo do olhar humano. Vasculha os galinheiros à cata de excrementos recentes de aves de uma cor determinada, teme os cães e rodeia as cozinha sprocurando pela água de barrela que aprecia como sua melhor bebida.

Não é grande corredor e fica largo tempo à espreita das casas e coisas que lhe aptecem. (Talvez se deva ligar os detalhes da paciente espera e das visitas aos galinheiros ao fato de que antigamente, assim procediam os não raros raposões que abundavam pela zona, que a simplicidade da gente impressionável, facilmente identificou com o mito comum).

O lobisomem do campo é que parece condenado a tacar gente. (Qual a razão? Seria simples fato de que o campo, a mata, a treva e as longas extensões desabitadas sempre se prestaram melhor aos encantamentos? Ou o resíduo daquelas práticas sanguinárias que Klabund assinalou muito bem como praticadas pelos camponeses de toda a Europa, na Idade Média?). Possivelmente, também, influência do lobisomem italiano, o lupo mannaro, através de uma contribuição ao nosso folclore graças à larga massa de imigrantes fixados em nosso meio rural.

Bebe até saciar-se, porém sempre agoniado pela necessidade de sustar sua corrida. Quem se vê perseguido por ele encontra abrigo nos cemitérios ou pátios de capelas. Não teme símbolos individuais de proteção, nem exorcismos, mas uma cruz preparada com barba de bode e em seguida benta pela Quaresma mantém-no afastado de casa.

Os padres e, especialmente, a mãe do infeliz podem reconhecer seu drama, mesmo quando não no couro da fera. Moço que toda manhã de sábado (notem o dia da semana) amanhece sofrendo náuseas denuncia-se. Pior ainda se for magro, pálido, fastidioso, com só os olhos estranhamente luminosos.

Não ataca gente de seu sangue, mas, se casado, a esposa corre de contínuo risco. Somente pode salvar-se na fuga e nada a livrará da morte se alcançada e dominada por ele. (Influência, talvez e longínqua, do lobisomem gaúcho — um despeitado que paga o castigo de haver sido infiel com uma comadre da esposa).
Tamanho e forma? Aproxima-se mais de um perdigueiro médio. Cabeça sempre baixa, de ordinário trote regular, boca desmesuradamente aberta. E o característico infalível: enormes orelhas balouçantes, provocando o ruído que gera pavor e ao mesmo tempo serve como aviso.

Existem na mesma região paulista variações interessantes do e sobre o mito tão popular. Voltaremos para tratar delas.
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Fonte: NEVES, Guilherme Santos. “Folclore”. A Gazeta. Vitória, 07 de julho de 1963

Lobisomem


O mestre Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do folclore brasileiro, ao focalizar o verbete Lobisomem, nos diz da longevidade do mito universal, registrado, desde a mais remota antiguidade, por Plínio, o antigo, Heródoto, Plauto, Varrão, Santo Agostinho, Ovídio etc. etc. — mito que, — por universal — também se localizou na Península Ibérica, espantando a espanhóis e portugueses. De lá é que, certamente, nos veio, dentro das primeiras caravelas lusitanas.

De Portugal, cita o mestre um verso no Cancioneiro geral, de Garcia de Resende (1516), verso do poeta Álvaro de Brito Pestana: “Sois danado lobisomem…” Refer à crença lusa, segundo a qual o lobisomem é filho de comadre e compadre, ou de padrinho e afilhada. E pinta-lhe o retrato: “como homem: extremamente pálido, magro, macilento, de orelhas compridas e nariz levantado”; como animal, lobo, mas um lobo feio e mau, “um bicho grande, bezerro de alto porte, com imensas orelhas”.

O lobisomem continua a sua secular caminhada, o seu triste e sangrento fadário através do mundo. Está presente no folclore do Brasil e, da mesma forma, no folclore capixaba.

Por aqui, sabe e diz o povo que:

• o lobisome é bicho horrível, que carrega a gente;

• certas pessoas (homens, principalmente) viram lubisome às sextas-feiras de lua;

• quem entrar na igreja depois da meia-noite vira lubisome;

• o diabo, na noite de Sexta-feira Santa vira lubisome e vem para os quintais comer as galinhas, precisamente à meia-noite;

• nas sextas-feiras da Quaresma, não se deve deixar fora, expostas, as cascas de caranguejo (da torta); deve-se enterrá-las, para que não venha o lobisome lambê-las. Também corre, entre nós, esta crendice generalizada em todo o Brasil;

• Quem tem sete filhos seguidos (encarreirados), um deles ou o último será lubisome  (Crendice recolhida na Serra, em Santa Leopoldina e Vitória, mas, certo, corrente em quase todo o Espírito Santo).

Há, porém, um processo para evitar esse fado horrível: é o mais velho dos sete filhos ser o padrinho de batismo do último; com isso, desvia-se deste o destino terrível.

Já vi um lobisomem. Já o vi com estes olhos que a terra (breve) há de comer. Foi em Conceição da Barra. Guardei até o dia preciso: 1º de fevereiro de 1959. Feio, arrastando-se no chão, cabeça enorme e o corpo coberto de capim e estopa, o lobisomem que eu vi latia feito um cão danado, latidos surdos, ganidos como se ladrasse à lua. Na ocasião, alguns “marujos” assoviavam para ele, chamando-o ou atiçando-lhe a raiva, e também cantavam, ao som de pandeiros.

Evém, evém
Evém lubisome
Evém…


Aí o bicho beio mesmo, rastejando, “caçando” as pernas da gente, até que os mesmos “marujos” cantaram:

Evai, evai
Evai, lubisome
Evai…


E ele lá se foi, arrastando-se como viera, sob os risos, apupos e aplausos dos que presencíavamos a bela exibição do famoso Reis-de-boi de Santa (povoação pobrezinha, a quatro quilômetros de Conceição da Barra).
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Fonte: Jangada Brasil in: "Neves, Guilherme Santos. “Folclore”. A Gazeta. Vitória, 07 de julho de 1963".

domingo, 21 de outubro de 2012

Licantropia

Werwolf, Lucas Cranach der Ältere, 1512.
No folclore, licantropia é a capacidade ou maldição caída sobre um homem que se transforma em um lobo. Em psiquiatria, é um distúrbio onde o indivíduo pensa ser ou ter sido transformado em qualquer animal. O termo provém do grego lykánthropos: lýkos ("lobo") + ánthrōpos ("homem").

O lobisomem é um ser lendário, com origem em tradições europeias, segundo as quais um homem pode se transformar em lobo, ou em algo semelhante a um lobo, às 21 horas de sextas-feiras de lua cheia, só voltando à forma humana novamente quando o galo canta.

Tais lendas são muito antigas e encontram sua raiz na mitologia grega que relata histórias como as de Licaão ou de Damarco de Parrásia, as quais provavelmente foram influenciadas por casos reais de licantropia clínica e/ou porfiria.

Estas lendas encontram raízes na cultura da Europa Oriental principalmente, na cultura dos povos eslavos. Segundo essa cultura o primeiro grande licantropo ou o eulicantropos era um Grand Duke de Podgorica, atual capital de Montenegro. Esse Grand Duke era Victor Kruschev II, segundo as lendas ele foi convocado a lutar do lado do Império Sérvio contra a opressão Austro-Húngara, em troca ele receberia autonomia sobre sua região.

Como ele e seu exército eram grandes guerreiros que se aproveitavam do relevo montanhoso para lutarem nas partes altas para as partes baixas e principalmente a noite para se aproveitarem das circunstâncias nasceram as primeiras lendas de licantropos habitarem montanhas e atacarem vilarejos à noite.

Também ao redor de Victor nasceu uma lenda de que nas noites de lua cheia ele retirava sua armadura para lutar se transformando em um grande lobo com poderes sobrenaturais. As lendas licantrópicas foram vastamente difundidas pelo Império Austro-Húngaro, pois este via que essas lendas criavam esperanças de libertação para as tribos eslavas as quais o Império dominava, porém sem sucesso, pois muitas famílias de eslavos no mundo todo inclusive no Brasil carregam em seus sobrenomes, nomes que fazem alusão a grandes eulicantropos que marcaram a história. Os ultimos casos de licantropia foram em 1817 e 1832.

No distúrbio psiquiátrico da licantropia, acredita-se que exista um transtorno do senso de identidade própria segundo a definição de Scharfetter. É encontrado principalmente em transtornos afetivos e esquizofrenia, mas pode ser encontrado em outras psicopatias. Psicodinamicamente, pode ser interpretado como uma tentativa de exprimir emoções suprimidas, especialmente de ordem agressiva ou sexual, através da figura do animal, que pode ser muito variado (lobo, cachorro, morcego, cavalo, sapo, abelha etc.). A psicoterapia e/ou o uso de medicação neuroléptica podem ser efetivos ou não.

Além do distúrbio psiquiátrico, a porfiria, especialmente a porfiria cutânea tarda é uma doença hereditária que pode levar a desfigurações e distúrbios mentais em casos raros e excepcionais que podem lembrar os lobisomens.

Fontes: Lendas Horripilantes; Wikipédia.

sábado, 9 de julho de 2011

Lobisomen e chupa-cabra no Brasil do século 17

Viajantes que foram à Amazônia relatam histórias sobre tribo de índios acéfalos, que tinham olho e boca no peito - Ilustr. Biblioteca Nacional / Divulgação

Muito antes de aterrorizar mocinhas no cinema, a anaconda - ou sucuri gigante da Amazônia - já tirava o sono de vários europeus. Índios canibais sem cabeça e até o chupa-cabra também. 

Esses e outros mitos e monstros saíram do Novo Mundo direto para as bibliotecas das metrópoles, em publicações que misturavam ciência, fantasia e ficção.

Para explicar os mistérios dos territórios recém-descobertos - e valorizar ainda mais suas conquistas -, muitos exploradores criavam narrativas que deixariam Darwin de cabelos em pé.

"A realidade dos europeus era completamente diferente. Então, quando eles viam animais, plantas e até pessoas tão incomuns, taxavam-nas de monstros e criavam explicações mirabolantes", diz Ana Virginia Pinheiro, chefe do departamento de obras raras da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Entre 14 de fevereiro e 15 de abril, algumas dessas histórias poderão ser vistas na exposição "Monstros: Memórias da Ciência e da Fantasia", na sede da instituição. Os autores eram variados: iam desde cientistas participando de expedições até piratas com pouca instrução, tendo ainda alguns escritores que nunca tinham saído da Europa, apenas ouviram uma lenda e a "recontaram".

Lobisomem

Alguns dos mitos de origem europeia também marcam presença no acervo, como a história do lobisomem. Um livreto de 1662, escrito pelo teólogo Gaspar Schott, traz descrições minuciosas sobre a anatomia e, por mais incrível que pareça, atribui um nome científico à criatura: Homo sylvestris. Algo como "homem da floresta".

Esses relatos, afirma Pinheiro, provavelmente se basearam em um encontro com pessoas que tinham hipertricose --uma doença sem cura que causa o crescimento excessivo de pelos grossos praticamente no corpo inteiro.

Outra anomalia, hoje conhecida como gêmeo parasita (fetus in fetu), também deu origem a um mito bizarro: o homem "grávido". Publicações do século 17 relatam alguns desses casos e davam instruções para a cura.

A doença provoca uma espécie de gêmeos siameses ao extremo. Enquanto um dos bebês se desenvolve, o outro cresce atrofiado dentro do corpo do irmão, ficando completamente dependente. Um verdadeiro parasita. Na maioria dos casos, o feto parasita fica na região abdominal, causando uma espécie de barriga que lembra a de uma mulher grávida.

Alguns dos relatos adotam uma linguagem quase jornalística para narrar a história dos monstros. Um livreto de 1727, do português José Mascarenhas, relata a captura de um "terrível monstro", que se alimentaria do sangue de pequenos animais.

A lenda, popular entre campesinos do México, ganhou força e se espalhou para os Estados Unidos, República Dominicana e até o Brasil. O bicho era o precursor do nosso chupa-cabra.

Fonte: Folha.com

quarta-feira, 2 de março de 2011

Licantropia Sertaneja


Ao ilustre amigo Dr. Robert Lehmann Nitsche.

Lycaon, filho de Pelasgo, rei da Arcádia, tentou matar Júpiter, seu hóspede duma noite. Foi transformado em lobo. Para conjurar tamanho castigo, os Árcades construíram um templo a Júpiter-Lyceo (do grego, Lycos, lobo). Na Grécia, vindo dessa origem mítica, registrou-se gravemente o fenômeno. Desaparecendo a forma de um suplício, surgiu a licantropia. Era uma moléstia.

Durante o mês de Fevereiro, os licantropos pululavam. Heródoto assela-os em sua história. Em Roma, Pan era Luperco (do latim, Lupus, lobo). Daí as Lupercaes, festas votivas em Fevereiro, justamente comemoração solene dos Mortos entre os gregos...

sábado, 8 de novembro de 2008

O Lobisomem


A primeira bodega que se abria, na feira do Jacaré, era a de seu Bento. Logo muito cedo, mal o dia começava a raiar, ele saía de casa, embrulhado num cobertor de lã, por causa do frio cortante, escancarava as duas portas da frente, ia à ancoreta de cachaça pousada em cima do balcão, tomava um tronco, para esquentar o corpo e ficava, por algum tempo, passeando dentro do quarto, à espera dos primeiros fregueses. Estes não demoravam a chegar.

Eram, de ordinário, os mesmos: seu Valdivino, marchante, dono do açougue vizinho, conversador inesgotável e cacete, depois da terceira golada; o capitão Mosqueiro, espírito alegre e vivo, grande contador de anedotas picantes, que, apesar de muito repetidas, arrancavam formidáveis gargalhadas; seu Doca, o mais moço de todos, prosador e poeta, que assombrava a terra com os seus violentos artigos políticos nos jornais da capital e já era uma celebridade consagrada pelo Almanaque de lembranças... Tivera estudos. Toda a gente o considerava um moço preparado. Fazia graça de um grosseiro materialismo e, de vez em quando, atracava-se em polêmica com o vigário da freguesia, um santo homem, que tomava a peito converter o herege... Só mais tarde chegavam o Baé, o Januário, o Zé Preto, o velho Macedo, o Caboquim, e outros negociantes das imediações, que formavam uma grande roda, aplicada, toda a manhã, até à hora do almoço, a beber copinhos de cachaça e a falar da vida alheia...

Quando seu Bento abria a porta, vinha de dentro do quarto um bafo morno, nauseante complexo, em que se misturava o cheiro de mil coisas heterogêneas: sardinhas secas, jacas, rapaduras, fumo de corda, álcool, drogas, plantas medicinais, queijos, alhos e cebolas brancas, bananas, atas, avoantes... Além de negociante de gêneros alimentícios, seu Bento era também muito entendido em assuntos de medicina caseira. Como na terra não havia médico nem boticário, ele desempenhava o papel de curioso: com o auxílio do seu bojudo Chernoviz, aconselhava remédios a quantos recorriam à sua experiência, e dizia-se que estava só para tratar das doenças do mundo... Jalapa para estes, batata para aqueles outros, eram os seus remédios prediletos. Se não fizessem bem, não podiam fazer mal. Custavam pouco, mas esse pouco lhe bastava para ir vivendo folgadamente, em meio à sua vasta clientela.

Seu Bento era um belo tipo de homem, muito branco, de nariz aquilino, com uma barba cerrada e longa, cujas pontas tinha o hábito de retorcer, com arrogância. Andava pelos setenta anos, mas estava forte, esperando viver, pelo menos, o dobro... Extremamente desasseado, sempre de corrimboque em punho, a fungar pitadas de tabaco, com um enorme lenço de ganga sobre um dos ombros, era uma figura pitoresca pelo seu modo de vestir. Quer de verão, quer de inverno, calçava tamancos e o seu traje compunha-se de uma calça de riscado e de uma camisa de madapolão com as fraldas soltas que lhe alcançavam os joelhos. Nada neste mundo o obrigaria a passar os panos ou a enfiar um paletó. Ia assim a toda parte, à igreja como ao mercado, e, mesmo quando se faziam eleições, era em fralda de camisa que dava o seu voto ao governo.

Certa manhã, ainda com escuro, estava a rodinha formada, uns sentados no balcão, outros em caixas vazias de gás. Era em junho. Fazia um frio de bater o queixo. A cachaça corria com mais abundância e a palestra aumentava de animação, à medida que os copinhos se repetiam. A neve, como lá se chama a cerração, era tão espessa que não deixava ver nada a vinte metros de distância. Por isso, ninguém reparou na chegada do Zé Vicente, um lavrador de Pavuna, senão quando ele, depois de ter amarrado o cavalo à gameleira da porta, entrou na bodega, muito maneiroso, dando os bons dias e apertando a mão de cada um.

Seu Bento quis saber logo que novidade era aquela, porque aparecia ele assim de madrugada. Haveria doença em casa?

— Foi a mulher que quebrou o resguardo — explicou o Zé Vicente. Teve criança há três dias e estava passando muito bem, quando, ontem de noite, aconteceu uma desgraça...

— Que foi? que foi? — perguntaram todos ao mesmo tempo.

— Acho que foi um lobisomem. Pela meia-noite, ouvimos um bicho rosnar e arranhar a porta do quintal com muita força. A cachorrinha, parida de novo, deu logo sinal do lado de dentro e o bicho largou um grunhido que nos encheu de pavor. Talvez seja um guaxinim, disse eu à mulher. Quis-me levantar, sair fora, para ver que marmota era aquela, mas a Maria não deixou. Depois, mais nada. A Baleia calou-se. Pegamos no sono e, hoje de manhã, ao despertar, verificamos que à porta dos fundos estava aberta e o bicho havia comido a ninhada de cachorrinhos que estava na cozinha. A Maria jura que foi um lobisomem. Eu também acho que sim. O certo é que a pobrezinha tomou um susto medonho, quebrou o resguardo e, agora, está para morrer.

Seu Bento consolou o pobre homem sobre cujo lar desabava uma tamanha calamidade:

— Isso não é nada, Zé Vicente. Dá-se um jeito. Tenha coragem e fé em Deus.

Consultou demoradamente o Chernoviz:

— O remédio é um purgante de Leroy ou então Água Inglesa. Leve o laruá (era assim que ele pronunciava) leve o laruá e venha me dizer, amanhã, se a mulher melhorou.

Ninguém se atrevia a interromper seu Bento, quando ele tratava de medicina. Quem o fizesse, imprudentemente, podia ter a certeza de que o velho curioso esmagá-lo-ia com um olhar colérico e com esta simples apóstrofe — Filho!... Filho, apenas. Não dizia de quem mas todos sabiam o verdadeiro sentido daquele palavrão...

Zé Vicente guardou o remédio, pagou-o, despediu-se dos circunstantes e partiu a galope. Tomou-se mais uma rodada e os comentários, então, esfuziaram.

— Santa simplicidade! — observou seu Doca. — Quanta gente estúpida existe ainda por este mundo! Crer em lobisomem e almas penadas, em pleno século XX, no Século da Eletricidade, só mesmo nesta infeliz terra! Mas, não pode ser de outro modo, porque o governo e a nossa Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, em vez de instruírem o povo, tratam de embrutecê-lo, cada vez mais, para que ele permaneça eternamente, a mesma besta, fácil de governar com um freio — quer esse freio seja o terror do inferno, quer o terror da lei!

Calou-se, desolado, com aquele desabafo, certo de que ninguém compreendia a beleza do seu pensamento. Bebeu mais um copinho. Zangou-se por se julgar um incompreendido, no meio daqueles matutos broncos e passivos. E, de zangado, engoliu, logo em seguida, outro copinho. Irra!

— Esta mocidade de hoje — disse o velho Macedo. — Esta mocidade de hoje não crê mais em nada. Por isso é que o mundo está perdido e acontece tanta desgraça feia... Se até os meninos como você, Doca, já são ateus, maçons, dizem que Deus não existe... Pois fique sabendo, moço, que Deus está lá em cima e que há muita coisa, muita coisa... Almas do outro mundo, lobisomem, tudo isso é verdade. Eu nunca vi alma, mas lobisomem já topei um...

Explodiu uma gargalhada na roda. Seu Macedo, um velhinho pequenino, melgaço, de olhos azuis, cabeça enorme, era conhecido como o maior mentiroso das redondezas. Não abria a boca que não fosse para contar histórias de onça, cada qual mais estapafúrdia, e ficava furioso, quando punham em dúvida a sua palavra. Como, de resto, as suas mentiras não faziam mal a ninguém, não passando de arrojadas fantasias, todos gostavam de ouvi-lo e muitos o estimulavam a contar casos maravilhosos.

— Pois conte, lá seu Macedo, conte lá a história do lobisomem. Vamos.

— Foi em Santa Quitéria, meninos. Vocês sabem que eu sou daquele sertão, de onde vim para aqui na seca dos três sete. Eu era rapaz moço, dos meus dezoito anos, e nesse tempo não tinha medo de nada. Corria atrás de boi no mato fechado, matava onça de faca, pegava cascavel pelo pescoço e quando ela abria a boca para morder, cuspia-lhe dentro mel de fumo. Depois soltava a cobra. Ela estrebuchava, estrebuchava, e morria. Eu era doido varrido... E se havia coisa que eu tivesse vontade de ver de perto era um lobisomem. Se fosse possível, até pagava para me encontrar, frente a frente, com um bicho desses. Queria tirar-lhe o encanto. Como vocês sabem, o lobisomem é perigoso, mas basta que a gente o fira, mesmo de leve, com uma faca, de ponta, para ele desencantar. Pois bem. Parece que foi mesmo um castigo. Uma noite, escura como breu, eu vagueava sozinho, pelas ruas da vila, levando como única arma uma faquinha de cortar fumo, um quicé à toa...

Fui andando, fui andando, perfeitamente calmo, sem encontrar nada no caminho, a não ser uma ou outra rês deitada na rua e que se levantava à minha passagem. Cheguei assim até perto do patamar da matriz, quando um bicho medonho, quase do tamanho de um jumento, com os olhos de fogo e dentes enormes, se botou a mim, como se me quisesse devorar. Tomei um susto pavoroso. Pulei para trás como um gato. Só tive tempo de gritar pelo nome de Nossa Senhora e arrancar o quicé. O bicho estava em cima de mim, danado. Mandei-lhe o ferro de rijo. As primeiras facadas perderam-se e o maldito, de um tapa, arrancou-me o peito da camisa. Fugi o corpo de banda e toquei-lhe a faca mesmo com vontade. Nisto ouvi um grito horroroso, que me fez arrepiar os cabelos.

— Não me mate, seu Targino! Não me mate que eu sou a Joana do padre Francisco.

Era a Joana mesmo, minha gente. Estava diante de mim nua em pêlo, suja de terra, com o sangue a escorrer de uma facada do lado esquerdo. Eu tinha desencantado a bicha...

— E depois?

— Depois a Joana confessou-me tudo. Era castigada, por ser amiga do vigário, há muitos anos. Todas as sextas-feiras, houvesse o que houvesse, tinha de cumprir aquela penitência: saía de casa, à meia-noite, e quando chegava a uma encruzilhada, tirava a roupa e espojava-se no chão como uma besta. Imediatamente, virava um bicho feroz e partia a galope para correr as cinco partes do mundo, até o dia clarear. Só de manhãzinha voltava a ser gente. Mas, agora, ficara livre de tudo, porque eu havia quebrado o encanto...

— Isso não foi sonho, seu Macedo? — perguntou um gracioso.

— Sonho? Eu também pensei que fosse sonho quando acordei no dia seguinte. Mas, logo me convenci de que tudo era a pura realidade. Fui à casa da Joana e encontrei-a muito doente, estirada numa rede. Dizia ela às mulheres que lá estavam que lhe tinha dado uma dor, de repente, numa costela, do lado esquerdo.

Mas, a mim, quando ficamos sós, pediu-me pelo amor de Deus, por alma de minha mãe, que não dissesse nada a ninguém. Jurei. E só agora, depois que ela e o padre já estão com os ossos brancos, é que eu me atrevo a contar a história.

Acabou, triunfante. Tomou o seu copinho de cachaça e saiu trôpego, apoiando-se à bengala.

— Cabra velho mentiroso! — disseram os outros em coro, mal o viram pelas costas.

— Mentiroso, sim, lá isso é — sentenciou seu Bento gravemente. — Mas, ninguém me tira da cabeça que, desta vez, o Macedo se esqueceu de mentir. — Se essa história não é verdadeira, já vi coisa parecida.


por Raimundo Magalhães
(Em O conto fantástico. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1959. Panorama do Conto Brasileiro, 8).

O Lobisomem de St. Bonnet


Um dos mais famosos lobisomens foi o francês Gilles Garnier, que viveu no século XVI, e cujas vítimas eram principalmente crianças.

Suas vítimas eram encontradas com as mesmas características: corpos mutilados ou dilacerados, e partes do corpo comidas!

Finalmente as autoridades resolveram tomar providências, e em 15 de setembro de 1573, foi o assinado um decreto. A caça ao lobo assassino foi instituída, mas ele não seria capturado logo...

O Homem-Lobo de St. Bonnet ai fez mais vítimas!

Somente dois meses depois se conseguiu chegar perto do lobisomem quando aldeões escutaram gritos de uma criança seguidos pelos uivos de um lobo! Eles viram um homem fugindo, e ele foi reconhecido como Garnier!

Quando outro menino desapareceu, organizou-se uma expedição à casa de Garnier! Gilles foi pego em flagrante, quando devorava mais uma vítima!

Garnier foi preso, juntamente com sua mulher, e confessou os crimes e disse que a esposa o ajudava a comer as vítimas.

Finalmente, Gilles foi queimado vivo! Mas não seria o primeiro nem o último lobisomem da França! Muito terror ainda viria nos séculos subseqüentes.

Fonte: Portal das Curiosidades - O Lobisomem de St. Bonnet

domingo, 26 de outubro de 2008

Carona Maldita


A única luz que podiam contar, era a inconstante luz da lua, que de tempos em tempos se escondia atrás das nuvens. Os dois jovens amigos andavam pela estrada de chão, estavam tentando atravessar o país pedindo carona, e estavam conseguindo.

A última carona foi até Diamantina, agora seguiam a pé por uma estrada deserta que os levaria até Belo Horizonte, mas os jovens não conseguiram mais nenhuma carona desde que chegaram ao interior de Minas.

_ Esses caipiras da roça são um bando de pão com frango! Gritou o mais jovem, filho de um industrial paulista.

_ Ôrra meu! Durante o dia, vários caminhões de leite, caminhonetes, carroças e até carros de boi passaram por nós, e ninguém parou! Agora a noite vai ser mais foda ainda! Constatou o amigo, também filho de um industrial paulista.

_ Povo do mato é muito "laranjão"! Só ficam "janelando"! Resmungou o mancebo.

E eles continuaram a andar pela estrada escura e fedida de esterco de vaca. Tudo parecia normal, mas algo estranho, muito estranho estava para acontecer.

_ Você notou como a lua está grande hoje? Perguntou o varão mais novo ao mais velho.

_ É lua cheia! Estamos no fim da quaresma! Semana Santa! Você viu as procissões em Diamantina?

_ Vi....esse povo da roça é muito "jagodes"! Reza o dia inteiro... sem falar nas superstições!

_Foda-se pra lá!

Mas de repente, uma luz que não era da lua veio de trás deles!

_ Está vindo um carro pela estrada! Empolgou-se o fidalgo.

_ Vamos pedir carona? Espero que pare! Estou morrendo de sono! Sugeriu o mais maduro.

_ É uma caminhonete velha! Tomara que tenha espaço atrás! Observou o rapaz mais jovem .

_Tomara que pare, senão estaremos fodidos! Cogitou o também rapaz, porém mais velho.

E os dois adolescentes estenderam seus dedos polegares e estamparam um sorriso em suas faces. Essa poderia ser a última chance! A caminhonete passava por eles agora.

_Ih meu! Parou! Vamos!!! Alegrou-se o jovem paulista.

Era uma rural azul 69 muito velha, na frente iam duas pessoas, um velho senhor e um garoto que parecia ser seu neto. O velho fez sinal para os dois pularem da parte traseira (que estava sem tampa) da velha Rural. Os jovens não pestanejaram, pularam na carroceria cheia de bosta de galinha. E o velho deu partida!

_ Pronde ocês tão indo uai? Perguntou o ancião pela janelinha traseira aos guris.

_ Pra BH ! Responderam em coro.

_ Êê! Eu num vô té lá não, mas deixo ocês em Paraopeba! De lá, cês vão pá Belzonte! Avisou o octogenário.

Durante toda viagem, o velho conversava sem parar com os infantes caronas, mas o garotinho permanecera mudo e imóvel o tempo todo, parecia que nem piscava! Uma atitude insólita para um menino que nem tinha os pêlos pubianos. A noite estava muito escura, pois a lua, sonolenta, se encontrava em um leito de nuvens. Ás vezes os viajantes passavam por um ou outro botequim de beira de estrada, perto de alguma fazenda.

_ Ô meu! Está com fome? Estou afim de dois pastel e um chopes! Perguntou o rapaz mais velho ao amigo.

_ Não, estou sem fome! Engoli um besouro à uns 5 minutos atrás! Respondeu contrariado o rapaz.

_ Você reparou como tem placas nos botequins e fazendas dizendo: "Temos Parapapum", "Parapapum Dia e Noite"...?

_ É! Deve ter gente que sai até a noite para comer ou beber ou trepar nesse tal de Parapapum....

A viagem estava tranqüila, com os viajantes conversando alegremente, com exceção do menino.

_Ô tio! Esse menino aí! É seu neto? Por quê ele fica quieto o tempo todo? Perguntou um dos caronas.

_ Não! Ele é o último rebento da minha muié! É o meu sétimo filho menino homem! Ele é quieto assim mesmo! Deve cê duenti!

_ Sétimo filho??? Ôrra!!! o senhor mete pra diabo! Disse o mais novo fidalgo.

_ Eu também sô o sétimo filho da minha mãe, muié do meu pai! O povo diz que nóisvirar lobisomem! Esse povo daqui é muito besta ! Isso é coisa do tinhoso, e eu minha muié somo muito religioso! Disse o ancião.

_Tem muitas lendas desse tipo aqui em Minas? Perguntou o donzel.

_Vije! E como tem sô! Inda mais agora, qui tamo no fim da quaresma, semana santa, hoje é quinta Feira da Paixão, lua cheia. Eu falo procês, se existe esse coisa ruim do lobisomem, é hoje que ele aparece! Falou o velho homem.

A lua cheia estava no zênite, e acabara de sair por detrás da lívidas nuvens da noite mineira. Nesse momento o garoto começou a se mexer, parecia que estava com soluço.

_ Que foi fio? Tá cum vontade de mijá? Perguntou o ancião.

O menino começava a balançar a cabeça e a babar! Estava tentando tirar as roupas enquanto gemia. O menino fechou os olhos e colocou as mãos na boca!

_ Para o carro!! Acho que o menino vai vomitar!! Gritou o natural do tietê.

_ Calma fio!! A primeira veiz é assim mesmo! Acalentou o velho.

_ Primeira vez o quê? Perguntaram em Coro.

_ Ara! Ocês prestaram atenção no que eu disse procês? Respondeu o velho, com uma voz estranha, muito estranha.

Os jovens paulistas teriam botado um ovo se fossem galináceos do sexo feminino, pois pela pequena janela que separava a cabina da rural e a carroceria, eles notaram para o seu espanto que o rosto do velho estava completamente mudado, um par de olhos vermelhos encaravam os jovens, enquanto algo que parecia um focinho de um cão se projetava para fora da cabina. Pelos longos e negros e uma orelha pontiaguda apenas confirmaram o desespero dos jovens.

Os jovens, por uma fração de segundo, encararam aquele rosto hediondo enquanto o menino se contorcia ao lado do pai. Centésimos que foram suficientes para um braço e suas garras estatelarem o vidro da janela e agarrar o pescoço do rapaz mais velho.

Uma onda de pânico cresceu entre os jovens, pois a Rural ainda em movimento os deixavam ainda mais confusos. Era questão de milésimos para o velho lupino esmagar os osso do pescoço do rapaz enquanto o outro, ainda paralisado de medo, estava a poucos centímetros do vidro.

Mas por capricho do destino, a caminhonete se encontrava sobre uma ponte, e bastou apenas um chute do garoto - que estava tremendo todo - no volante, para fazer com que a velha Rural fosse de encontro com um barranco, causando uma queda de 7 metros até o pequeno córrego que passava por baixo da ponte. Isso pegou todos de surpresa, o velho licantropo que começara a esmagar o pescoço do rapaz, só sentiu o que estava acontecendo quando foi arremessado pelo para brisa na primeira capotagem! Outras 4 capotagens deram por fim ao acidente, os rapazes que estavam na carroceria tiveram sorte, pois caíram sobre o lamaçal, amortecendo a queda, o mesmo não pode se dizer do bípede canino, pois ao ser arremessado para fora da velha rural, seu corpo foi esmagado pela sua própria caminhonete, quebrando todos os seus ossos.

Os jovens estavam atordoados e cambaleando, com poucos ferimentos. Alguns instantes depois, conseguiram ver o que aconteceu, o lobisomem esmagado sob a rural estava morto... mas e o garoto? Os jovens procuraram pelo garoto em volta do acidente, mas não encontraram nada. Estavam começando a ficar preocupados quando ouviram um gemido dentro da cabide da rural, se aproximavam com muito cuidado, o rapaz mais jovem pegara uma enxada que estava com eles na carroceria e o mais velho, uma pá. Todas estavam caídas próximo à eles. Quando abriram a cabina, viram uma cena horrível!

O garoto estava no meio da transformação, uma figura híbrida de lobo e humano estava se contorcendo em meio de uma sopa de sangue, pois no acidente, a criatura ficou muito ferida, e com sua perna esta dobrada ao contrário, deixava a cena mais horrenda!

_ Ô Meu! Você está bem? Perguntaram em coro.

_ Argh!!!!!!! Respondeu o garoto.

_ TUM! PLOFT! PUM! PLAFT! PLOING! TUMP! SPLASH! Responderam em coro.

A cena que se seguiu foi terrível, os dois jovens burgueses, tomados pela cólera ircúndia e ódio (ê redundância), começaram a destruir a criatura com golpes de enxadas e pás! O corpo do Lobiboy se tornara uma carne moída! Jatos de sangue espirravam a cada enxadada na barriga da monstro, os rapazes estavam completamente ensopados com o sangue da criatura. Essa carnificina durou alguns minutos. Quando não se podia mais separar o que era corpo, sangue, lama e terra, os dois rapazes pararam de malhar com os equipamentos agrícolas. Ficaram lá, respirando profundamente, com uma repugnante mistura de lama, suor e sangue sobre o corpo inteiro, olhando as duas criaturas mortas no brejo.

Os dois rapazes se olharam, subiram os barranco até a estrada e seguiram caminho para Belo Horizonte sob a luz da lua cheia.

Fonte: Carona maldita.