terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Adivinhe Quem Vem para Jantar


Eram mais de dez horas da noite. Giulia,sentada lendo as propostas de criação para seu cliente, não costumava receber pessoas a essa hora no escritório, mas o trabalho de criação nunca tinha hora para terminar.

O cliente vinha dos Estados Unidos e ela não o conhecia pessoalmente, apenas por telefone. Jeremy era seu nome.

Ela estava sozinha e cansada, quando finalmente alguém bate na porta.

Ela abre e vê um homem alto, cabelos longos e presos em um rabo de cavalo, com olhos que pareciam duas labaredas de fogo e olham para o rosto de Giulia e para todo o escritório.

— Desculpe a demora, Giulia.

Sua voz era suave e calma. Giulia tentou responder no mesmo tom, mas o sorriso daquele homem era encantador, os dentes perfeitos e brancos. Ele segurava nas mãos de Giulia tão carinhosamente - eram tão macias que não pareciam ser de um homem. Ele olhava para Giulia como se estivesse procurando algo em seu pescoço.

Usando de toda a delicadeza o visitante disse:

— Não vai me convidar para entrar?

— Claro!! - Ela disse, olhando para os papéis e torcendo para que ele também olhasse e desviasse a atenção dela.

Ele olhou para os papéis junto com ela, mas logo em seguida, ele voltou a olhar para seu rosto.

— Você é admirável!

— Obrigada, mas... Sobre o projeto...

O telefone toca e Giulia quase derruba o telefone no chão de tanta euforia.

— Alô! Alô?

— Giulia, sou eu, Jeremy.

Ela muda de cor e fica pálida. O homem olhava o projeto e perguntava se foi ela que fez...

— Sim, fui eu mesma. Eu e minha equipe.

No outro lado da linha Jeremy falava com ela...

— Quando poderemos nos encontrar novamente?

O homem que estava olhando a mesa de Giulia viu o telefone. O aparelho registra o número e o nome de quem ligou. Para a sua surpresa, o nome que estava em cima do número era Jeremy.

— Quarta-feira pra mim está ótimo. Está ok para você?

O sinal havia caído.

Ela teve apenas uma fração de segundos para ver que aquele homem havia desligado o telefone e estava quase aguarrando seu pescoço.

Desviando-se daquelas mãos que outrora eram macias, ela corre tentando escapar.

Então aquela montanha segura o braço de Giulia e ela não tem outra saída senão revidar.

Agarrando o pescoço dele, ela levanta-o a meio metro do chão. Ele agarra a mão dela tentando se libertar. Ela sorri.

— Quem enviou você?

— A igreja... Eles me pagaram para isso.

O falso Jeremy retira uma estaca do seu sobretudo e Giulia segura o braço do Caçador com a outra mão.

— Não foi rápido demais Jeremy.

Chegando perto da janela, o homem fica louco e implora por clemência.

— Por favor, moça! Estou apenas trabalhando... É o meu trabalho!

Giulia empurra o homem para fora do prédio e segurando, com apenas uma mão, ela diz:

— O meu também.

Giulia solta o homem e, enquanto ele grita, esperando pelo seu fim, ela olha para a lua... E sorri.


Autor: Adriano Siqueira


Fonte: Contos de Vampiros

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A Criatura do Hospital


Este relato foi me contado pelo meu irmão, em uma noite de um tempo atrás. Ele trabalha à noite em um enorme hospital antigo na cidade de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, fundado na década de 1920.

Lá, existem diversos setores, espalhados em alguns prédios. Inclusive, conta-se que havia, muito tempo atrás, isolamento para leprosos que, na maioria das vezes, morriam lá. Talvez por ser muito antigo, muitas histórias são narradas por funcionários e até por pacientes desse hospital.

Pois bem.

Em um de seus prédios, funciona no subsolo, exatamente abaixo das alas de tratamento intensivo, o necrotério. Ao lado do necrotério, há o chamado DML (Departamento de Material de Limpeza), que é uma pequena sala onde os funcionários da limpeza transitam a todo instante, bem como uma sala de enfermagem e outras que não vêm ao caso.

As salas do subsolo são dispostas como que ao redor de um salão de livre trânsito para todas as suas portas. O necrotério serve apenas para guardar eventuais corpos de recém-falecidos que lá ficam por pouco tempo, até serem encaminhados convenientemente e raramente fica muito tempo ocupado. O acesso a esse subsolo, vindo do andar de cima, é feito por uma rampa descendente em forma de “L”. Quando você faz a curva do corredor mal iluminado, dá de cara exatamente com a porta sempre aberta do necrotério, ao fundo do salão.

Descrito o local, vamos à ocorrência.

Uma funcionária da limpeza, após difícil e longa recuperação do choque sofrido, contou que estava limpando o corredor em forma de “L” de cima para baixo, em direção ao salão do subsolo.

Após completar a limpeza do subsolo, guardou o material de limpeza no DML e caminhou rumo à saída. Ao se aproximar da rampa, deparou-se com uma mancha vermelho-escura no chão.

Estranhou! Olhou para os lados intrigada e, indagando de onde poderia ter surgido aquela enigmática poça, olhou para o teto para averiguar possível vazamento.

Nada.

Não tinha explicação, ainda mais porque havia acabado de limpar tudo.

Como a obrigação dela era manter tudo em ordem, voltou à sala de materiais (DML), pegou o necessário e foi dar cabo daquela mancha usando um pano úmido, balde e rodo.

Esfregou, esfregou e a mancha não saiu. Tirou o pano do rodo, agachou e tentou retirá-la usando a força das mãos.

Conseguiu limpar aquele líquido escuro e viscoso, levantou-se e, logo atrás dela, percebeu outra mancha igual.

Fez a mesma coisa da outra, esfregando com vigor.

O silêncio do local era perturbador. O único som eram os movimentos de seu esforço contra a misteriosa mancha vermelha.

As manchas foram aparecendo seguidamente como uma trilha e afastando-a cada vez mais da rampa de saída e encaminhando a funcionária em direção ao necrotério.

Já próxima de sua entrada, de costas para ele, agachou-se para efetuar a limpeza e sentiu como se alguém passasse rente às suas costas, ainda que sem som algum.

Aquele "vento" típico de quando alguém passa muito perto de nosso corpo.

Um calafrio imediato varou a coluna dela de alto a baixo. Sentiu um cheiro de coisa podre, bolorenta.

Ainda agachada de costas para o necrotério, levantou a cabeça e olhou à sua frente, em direção à saída, para a rampa em forma de “L”.

"Não é possível imaginar o que eu faria faria no lugar dela naquele momento!
Certamente meus nervos ficariam paralisados e eu teria uma síncope".

Naquele momento ela viu, olhando para ela, uma mulher ou algo parecido. Horrível.

A "Criatura" possuía estatura média, corpo esquelético, típico de quem padece de moléstia grave há muito tempo. No rosto, rasgava um corte ou uma cicatriz aberta que desfigurava desde o canto da boca até o olho direito e passando acima dele. A cabeça inclinada para o ombro esquerdo ossudo revelava ainda mais a ferida no lado direito da face, emoldurada com cabelos pesados e desgrenhados. Cobrindo o corpo macerado, uma espécie de mortalha tenebrosa semi-transparente completava a imagem sombria.

O olho esquerdo do espectro, único preservado, de um tom verde-esbranquiçado, era como um dínamo a condensar toda aquela energia sufocante, arrebatando as forças da infeliz faxineira que observava aquilo de forma horrorizada.

O rasgo ao lado direito da boca revelava uma parte dos dentes enegrecidos e do imenso corte vertia aquele sangue vermelho-escuro, escorrendo pela face direita, pescoço e tingindo parte da mortalha até o chão, onde nova poça se formava sem tocar os pés daquele ser horripilante, que pairava a poucos centímetros do solo!

O terror que se seguiu ao primeiro impacto da surpresa de saber que não estava só foi violentíssimo.

Nos últimos instantes de lucidez, a faxineira sabia que não podia sair, já que o vulto guardava o acesso à rampa de saída.

Sua única opção foi correr para a sala do necrotério vazio e de lá gritar com todas as restantes forças do pulmão em busca de socorro, sendo que em seguida desmaiou por completo.

Os funcionários do hospital que correram para atender aqueles gritos desesperados que ecoaram pelos corredores, não encontraram ninguém e nada pelo caminho, a não ser a pobre moça, cujo corpo sem cor tremia vertiginosamente, em conjunto com palavras desconexas e inconscientes emitidas pela boca trêmula e roxa, que se calou logo em seguida.

Levaram-na para imediato socorro ao piso superior, restando apenas duas companheiras de serviço, que se apressaram a recolher o material sujo no meio do salão.

Dadas as circunstâncias, não notaram uma única poça logo à frente da rampa, tampouco indagaram sobre a natureza da sujeira vermelho-escura no pano utilizado pela desafortunada faxineira, e que era uma prova da veracidade do ocorrido.

Na noite que meu irmão me contou isso, inclusive outros incidentes desse tipo vividos por ele próprio naquele hospital, acordei de madrugada e fiquei imaginando aquela mulher horrorosa com sangue vazando da cara e não consegui mais dormir!

De onde teria vindo aquela terrível criatura, e qual seriam suas intenções?

Quem estaria disposto à descobrir?


Fonte: http://www.alemdaimaginacao.com/Relatos%203P/a_criatura_do_hospital.html

domingo, 11 de dezembro de 2016

O Coração Delator


É verdade! Tenho sido e sou nervoso, muito nervoso, terrivelmente nervoso! Mas, por que ireis dizer que sou louco? A enfermidade me aguçou os sentidos, não os destruiu, não os entorpeceu. Era penetrante, acima de tudo, o sentido da audição. Eu ouvia todas as coisas, no céu e na terra. Muitas coisas do inferno ouvia. Como, então, sou louco?

Prestai atenção! E observai quão lucidamente, quão calmamente vos posso contar toda a estória.

É impossível dizer como a ideia me penetrou primeiro no cérebro. Uma vez concebida, porém, ela me perseguiu dia e noite. Não havia motivo. Não havia cólera. Eu gostava do velho. Ele nunca me fizera mal. Nunca me insultara. Eu não desejava seu ouro. Penso que era o olhar dele! Sim, era isso! Um de seus olhos se parecia com o de um abutre ... um olho de cor azul-pálido, que sofria de catarata.

Meu sangue se enregelava sempre que ele caía sobre assim, e assim, pouco a pouco, bem lentamente, fui-me decidindo a tirar a vida do velho e assim libertar-me daquele olho para sempre.

Ora, aí é que está o problema. Imaginais que sou louco.

Os loucos nada sabem. Deveríeis, porém, ter-me visto. Deveria ter visto como procedi cautamente! Com que prudência ... com que previsão ... com que dissimulação lancei mãos à obra!

Eu nunca fora mais bondoso para com o velho do que durante a semana inteira antes de matá-lo. E todas as noites, por meia-noite, eu girava o trinco da porta de seu quarto e abria-a … oh, bem devagarinho. E depois, quando a abertura era suficiente para conter minha cabeça, eu introduzia uma lanterna com tampa toda velada, bem velada, de modo que nenhuma luz se projetasse para fora, e em seguida enfiava a cabeça. Oh, teríeis rido ao ver como a enfiava habilmente!

Movia-a lentamente ... muito ... muito lentamente, a fim de não perturbar o sono do velho. Levava uma hora para colocar a cabeça inteira além da abertura, até podê-lo ver deitado na cama. Ah! Um louco seria precavido assim? E depois quando minha cabeça estava bem dentro do quarto, eu abria a tampa da lanterna cautelosamente ... - oh, bem cautelosamente! Sim, cautelosamente (porque a dobradiça rangia) ... abria-a só até permitir que apenas um débil raio de luz caísse sobre o olho de abutre.  E isto eu fiz durante sete longas noites ... sempre precisamente a meia-noite ... e sempre encontrei o olho fechado. Assim, era impossível fazer a minha tarefa, porque não era o velho que me perturbava, mas seu olho diabólico.

E todas as manhãs, quando o dia raiava, eu penetrava atrevidamente no quarto e falava-lhe sem temor, chamando-o pelo nome com ternura e perguntando como havia passado a noite. Por aí vedes que ele precisaria ser um velho muito perspicaz para suspeitar que todas as noites, justamente as doze horas, eu o espreitava, enquanto dormia.

Na oitava noite, fui mais cauteloso do que de hábito ao abrir a porta. O ponteiro dos minutos de um relógio mover-se-ia mais rapidamente do que meus dedos. Jamais, antes daquela noite, sentira eu tanto a extensão de meus próprios poderes, de minha sagacidade. Mal conseguia conter meus sentimentos de triunfo. Pensar que ali estava eu, a abrir a porta, pouco a pouco, e que ele nem sequer sonhava com os meus atos ou pensamentos secretos. Ri entre os dentes, a essa ideia, e talvez ele me tivesse ouvido, porque se moveu de súbito na cama, como se assustado. Pensais talvez que recuei? Não!

O quarto dele estava escuro como piche, espesso de sombra, pois os postigos se achavam hermeticamente fechados, por medo aos ladrões. E eu sabia, assim, que ele não podia ver a abertura da porta; continuei a avançar, cada vez mais, cada vez mais. Já estava com a cabeça dentro do quarto e a ponto de abrir a lanterna, quando meu polegar deslizou sobre o fecho de lata e o velho saltou na cama, gritando: Quem está aí?

Fiquei completamente silencioso e nada disse. Durante uma hora inteira, não movi um músculo e, por todo esse tempo, não o ouvi deitar-se de novo. Ele ainda estava sentado na cama, à escuta; justamente como eu fizera, noite após noite, ouvindo a ronda da morte próxima.

Depois ouvi um leve gemido e notei que era o gemido do terror mortal. Não era um gemido de dor ou de pesar ... oh, não! Era o som grave e sufocado que se ergue do fundo da alma quando sobrecarregada de medo. Bem conhecia esse som. Muitas noites, ao soar meia-noite, quando o mundo inteiro dormia, ele irrompia de meu próprio peito, aguçando, com seu eco espantoso, os terrores que me aturdiam. Disse que bem o conhecia. Conheci também o que o velho sentia e tive pena dele, embora abafasse um riso no coração. Eu sabia que ele ficara acordado desde o primeiro leve rumor, quando se voltara na cama.

Daí por diante, seus temores foram crescendo. Tentara imaginá-los sem motivo, mas não fora possível. Dissera si mesmo: "É só o vento na chaminé…ou é só um rato andando pelo chão", ou "foi apenas um grilo que cantou; um instante só. Sim ele estivera tentando animar-se com estas suposições, mas tudo fora em vão. Tudo em vão, porque a Morte, ao aproximar-se dele, projetara sua sombra negra para a frente, envolvendo nela a vítima. E era a influência tétrica dessa sombra não percebida que o levava a sentir - embora não visse nem ouvisse -, a sentir a presença de minha cabeça dentro do quarto.

Depois de esperar longo tempo, com muita paciência, sem ouvi-lo deitar-se, resolvi abrir um pouco, muito, muito pouco, a tampa da lanterna. Abri-a - podeis imaginar quão furtivamente - até, que por fim, um raio de luz apenas, tênue como o fio de uma teia de aranha, passou pela fenda e caiu sobre o olho de abutre. Ele estava aberto ... todo, plenamente aberto ... e, ao contemplá-lo a minha fúria cresceu. Vi-o, com perfeita clareza, todo de um azul-desbotado, com uma horrível película a cobri-lo, o que me enregelava até a medula dos ossos. Mas não podia ver nada mais da face ou do corpo do velho, pois dirigira a luz, como por instinto, sobre o maldito lugar.

Ora, não vos disse que apenas é super acuidade dos sentidos aquilo que erradamente julgais loucura? Repito, pois, que chegou a meus ouvidos um som baixo, monótono, rápido como o de um relógio quando abafado em algodão. Igualmente eu bem sabia que som era.  Era o bater do coração do velho. Ele me aumentava a fúria como o bater de um tambor estimula a coragem do soldado.

Ainda aí, porém, refreei-me e fiquei quieto. Tentei manter tão fixamente quanto pude a réstia de luz sobre o olho do velho. Entretanto, o infernal tã-tã do coração aumentava. A cada instante ficava mais alto, mais rápido, mais alto, mais rápido! O terror do velho deve ter sido extremo! Cada vez mais alto, repito a cada momento!

Prestais-me bem atenção? Disse-vos que sou nervoso, sou. E então, àquela hora morta da noite, o bater tão estranho excitou em mim um terror incontrolável. Contudo, por alguns minutos mais, dominei-me e fiquei quieto. Mas o bater era cada vez mais alto. Julguei que o coração ia rebentar. E, depois, nova angustia me aferrou: o rumor poderia ser ouvido por um vizinho! A hora do velho tinha chegado! Com um alto berro, escancarei a lanterna e pulei para dentro do quarto.

Ele guinchou mais uma vez ... uma vez só. Num instante, arrastei-o para o soalho e virei a pesada cama sobre ele. Então sorri alegremente por ver a façanha realizada. Mas, durante muitos minutos, o coração continuou a bater, com som surdo. Isto, porém, não me vexava. Não seria ouvido através da parede. Afinal cessou. O velho estava morto. Removi a cama e examinei o cadáver. Sim, era uma pedra, morto como uma pedra. Coloquei minha mão sobre o coração e ali a mantive durante muitos minutos. Não havia pulsação. Estava petrificado. Seu olhos não mais me perturbariam.

Se ainda pensais que sou louco, não mais o pensareis, quando eu descrever as sábias precauções que tomei para ocultar o cadáver. A noite avançava e eu trabalhava apressadamente, porém em silêncio. Em primeiro lugar, esquartejei o corpo. Cortei-lhe a cabeça, os braços e as pernas. Arranquei depois três pranchas do soalho do quarto e coloquei tudo entre os vãos. Depois recoloquei as tábuas, com tamanha habilidade e perfeição que nenhum olhar humano - nem mesmo o dele -  poderia distinguir qualquer coisa suspeita. Nada havia a lavar ... nem mancha de espécie alguma ... nem marca de sangue. Fora demasiado prudente no evitá-las. Uma tina tinha recolhido tudo ... ah, ah, ah!

Terminadas todas essas tarefas, eram já quatro horas. Mas ainda estava escuro como se fosse meia-noite. Quando o sino soou a hora, bateram à porta da rua. Desci a abri-la, de coração ligeiro, pois que tinha eu agora a temer? Entraram três homens, que se apresentaram, com perfeita mansidão, como soldados de polícia.

Fora ouvido um grito por um vizinho, durante a noite. Despertara-se a suspeita de um crime. Tinha-se formulado uma denúncia à polícia e eles, soldados, tinham sido mandados para investigar.

Sorri, pois ... que tinha eu a temer? Dei as boas-vindas aos cavalheiros. O grito, disse eu, fora meu mesmo, em sonhos. O velho, relatei, estava ausente, no interior. Levei meus visitantes a percorrer toda a casa. Pedi-lhes que dessem busca completa. Conduzi-os, afinal, ao quarto dele.

Mostrei-lhes suas riquezas, em segurança, intactas. No entusiasmo de minha confiança, trouxe cadeiras para o quarto e mostrei desejos de que eles ficassem ali, para descansar de suas fadigas, enquanto eu mesmo, na desenfreada audácia de meu perfeito triunfo, colocava minha própria cadeira propriamente sobre o lugar onde repousava o cadáver da vítima.

Os soldados ficaram satisfeitos. Minhas maneiras os haviam vencido. Sentia-me singularmente à vontade. Sentaram-se e, enquanto eu respondia cordialmente, conversaram coisas familiares. Mas dentro em pouco, senti que ia empalidecendo e desejei que eles se retirassem. Minha cabeça doía e parecia-me ouvir zumbido nos ouvidos; eles, porém, continuavam sentados e continuavam a conversar. O zumbido tornou-se mais distinto; continuou e tornou-se ainda mais perceptível.

Eu falava com mais desenfreio, para dominar a sensação; ela, porém, continuava e aumentava sua perceptibilidade ... até que, afinal, descobri que o barulho não era dentro dos meus ouvidos.

É claro que então a minha palidez aumentou. Mas eu falava ainda mais fluentemente e num tom de voz muito elevada. Não obstante, o som se avolumava ... E que podia eu fazer era um som grave, monótono, rápido ... muito semelhante ao de um relógio envolto em algodão. Respirava com dificuldade... e no entanto, os soldados não o ouviram. Falei mais depressa ainda, com mais veemência. Mas o som aumentava constantemente. Levantei-me e fiz perguntas a respeito de ninharias, num tom bastante elevado e com violenta gesticulação, mas o som constantemente aumentava. Por que não se iam eles embora?

Andava pelo quarto acima e abaixo, com largas e pesadas passadas, como se excitado até a fúria pela vigilância dos homens; mas o som aumentava constantemente. Oh, Deus! Que poderia eu fazer? Espumei ... enraivecido ... praguejei! Fiz girar a cadeira sobre a qual estivera sentado e arrastei-a sobre as tábuas, mas o barulho se elevava acima de tudo e continuamente aumentava. Tornou-se mais alto ... mais alto ... mais alto! E os homens continuavam ainda a passear, satisfeitos e sorriam. Seria possível que eles não ouvissem? Deus Todo-Poderoso! Não, não! Eles suspeitavam! Eles sabiam! Estavam zombando do meu horror! Isto pensava eu e ainda penso. Outra coisa qualquer, porém, era melhor que aquela agonia!

Qualquer coisa era mais tolerável que aquela irrisão! Não podia suportar por mais tempo aqueles sorrisos hipócritas! Sentia que devia gritar ou morrer, e agora de novo ... escutai ... mais alto ... mais alto ... mais alto ... mais alto! ...

- Vilões! - trovejei. - Não finjam mais! Confesso o crime!  Arranquem as pranchas! Aqui, aqui! Ouçam o batido do seu horrendo coração!



Um conto de Edgar Allan Poe

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O Fantasma de Anne Walker


O fantasma de Anne Walker é uma das grandes lendas paranormais da Grã-Bretanha. O evento teria ocorrido ao longo de alguns dias ou semanas em 1681, quando, de acordo com James Graeme de County Durham, Inglaterra, uma mulher encharcada de sangue e coberto de feridas abertas, apareceu e retransmitiu-lhe a história de seu assassinato.

Ann, que foi dito ter estado grávida quando desapareceu, estava desaparecida há semanas. A aparição alegou que Ann Walker foi brutalmente assassinada com uma picareta por um homem chamado Mark Sharp.

Talvez atordoado por seu encontro paranormal, James Graeme nada fez para investigar essa informação.

E assim o fantasma de Ann Walker retornou. Desta vez, o fantasma disse que Sharp, seu assassino, tinha sido instruído a matá-la por um parente, o Sr. Walker, que supostamente tinha engravidado Ann. Novamente, Graeme não agiu.

E então o fantasma retornou pela terceira vez, desta vez com um aviso de que ela não iria parar de assombrá-lo até que ele foi ao magistrado local e relatou o assassinato.

Pouco se sabe sobre a estabilidade mental do Sr. Graeme, mas o que se sabe é que ele levou com precisão os investigadores ao corpo de Ann Walker, cujo cadáver continha múltiplas feridas de picareta. Também foi encontrado na cena do crime o sapato e a meia de Sharp, o que evidentemente foi suficiente para condenar tanto ele como Walker.

Protestando sua inocência até o final, Sharp e Walker foram executados pelo assassinato de Ann Walker. Depois de suas mortes, o fantasma de Ann Walker ficou em silêncio.


James Graeme realmente obteve informações sobre o assassinato do fantasma de Anne Walker?

Se não, como ele sabia onde estava seu corpo? É possível que o próprio Graeme tenha sido o assassino e tenha inventado a história de fantasmas, bem como alguma falsificação de provas, a fim de determinar o crime de dois homens inocentes?

É extremamente improvável que possamos saber a verdade deste caso, já que tempo suficiente passou que evidências e registros judiciais oficiais são praticamente inexistentes. No entanto, vale a pena notar que em um ponto durante o julgamento, tanto o juiz, registrado apenas como o juiz Davenport, e o capataz do júri, relataram ter visto a aparição de um garoto - talvez o filho não nascido de Walker.


Fonte principal: Reader's Digest, eds., Folclore, Mitos e Lendas da Grã-Bretanha

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Morte Bizarras IV


As mortes acontecendo de várias maneiras, menos por causas naturais. Parecem, alguns lances daquela série de filmes que, no Brasil, conhecemos pelo título de "Premonição". Vamos, então, para mais cinco casos:

O homem que caiu no tonel de chocolate (2009)

Vincent Smith era empregado de uma fábrica de chocolate em Camdem, New Jersey (EUA) e, em julho de 2009, estava descarregando chocolate quando escorregou e caiu dentro do tanque de mistura, repleto de chocolate derretido à temperatura de 50 graus. Smith foi atingido na cabeça por uma das pás gigantes que misturam o chocolate e ficou 10 minutos submerso em chocolate antes de ser resgatado.

Gamer Ultra Hardcore (2005)

O StarCraft é um jogo multiplayer online em que você comanda uma frota de guerreiros espaciais. O game é tão popular que jogadores profissionais (sim, jogadores profissionais) chegam a ganhar US$ 100 mil por ano. Em 2006, um coreano de 28 anos, identificado apenas pelo sobrenome Lee, passou mais de 50 horas quase ininterruptas na frente de um computador. O rapaz sofreu uma parada cardíaca minutos depois de parar de jogar. O vício era tanto que Lee chegou a abandonar o trabalho para ficar mais tempo jogando.

Diabo Fake

Onze pessoas pularam pela janela de um apartamento em Versailles, subúrbio de Paris, após acreditarem ter visto o diabo. O pânico tomou conta dos moradores do apartamento, no segundo andar de um prédio, quando um homem sonolento que andava nu pela casa foi confundido com o diabo. O incidente ocorreu de madrugada, e ao que parece, o homem levantou para alimentar o filho que chorava na cama. "Treze pessoas estavam no apartamento do segundo andar e por volta das três da manhã um dos ocupantes ouviu o filho chorar", explicou à AFP Odile Faivre, da promotoria de Versailles. “O homem em questão, de origem africana, se levantou para alimentar o filho e como estava totalmente nu, foi confundido com o diabo”.

“O grupo atacou o homem e o feriu com uma facada na mão, antes de expulsá-lo do apartamento, mas ele tentou voltar e foi aí, que tomados pelo pânico, pularam pela janela”, revelou Faivre. No incidente, um bebê azarado (por estar na presença desses malucos) de quatro meses morreu e outras sete pessoas sofreram traumatismos múltiplos.

A mulher que morreu atingida por uma placa de restaurante

Diane Durre, de Nebraska (EUA), morreu ao ser atingida por uma placa do restaurante Taco Bell. A placa ficava em um poste de 23 metros de altura e, por causa de uma ventania, arrebentou onde havia uma emenda soldada. Durre criava cães e tinha ido vender animais para um casal. Ela marcou de encontrar com os clientes às 13 horas e levou seu marido, Mark, com ela. Meia hora antes do horário marcado, ela já estava lá e foi justamente quando a placa arrebentou e caiu sobre o carro. Diane morreu na hora.

O advogado que quebrou o vidro inquebrável (1993)

Em 9 de julho de 1993, Garry Hoy, advogado de Toronto (no Canadá) caiu para sua morte diante de um bando de estudantes de direito. Para mostrar que os vidros do prédio eram inquebráveis, ele ficava dando pancadas com o ombro na janela. Era um truque que ele sempre repetia, ali, no 24º andar. O vidro não quebrou, mas desencaixou de sua moldura e despencou, junto com Hoy, em uma queda de 92 metros.


Fonte: Ah Duvido!

Mortes Bizarras III


Continuamos, então, a relatar casos macabros e de humor (negro), bizarros mesmo. "Dona Morte" brincando? Não. É que basta estar vivo para ir ... sei lá, para um lugar melhor (ou pior?). Leiam estes 5 casos verídicos:  

Pelotada de morte

Ray Chapman, jogador do Cleveland Indians, foi assassinado por uma bola de beisebol. Naquela época, os lançadores costumavam sujar a bolinha antes de lançá-la para que ficasse mais difícil de ver. Em 6 de agosto de 1920 num jogo contra o New York Yankees, Carl Mays, lançador dos Yankees, lançou uma pelota suja contra Chapman, que não a viu e recebeu o golpe fatal bem no meio da testa.

Lixo, muito lixo

Homer e Langley Collyer eram arquivistas compulsivos. Os dois irmãos tinham medo de desfazer-se de qualquer coisa, e colecionaram obsessivamente diários e outros lixos em sua casa. Inclusive prepararam armadilhas nos corredores e portas para proteger-se dos intrusos. Em 1947, um telefonema anônimo denunciou que tinha uma pessoa morta na casa dos irmãos, e após enfrentar grande dificuldades para entrar, a polícia encontrou o corpo de Homer Collyer. Duas semanas mais tarde, após a retirada de cerca de 100 toneladas de lixo, finalmente encontraram o corpo de Langley Collyer parcialmente decomposto, a alguns poucos metros além de onde tinham encontrado seu irmão. Aparentemente, Langley estado tentando levar comida para Homer engatinhando sobre os túneis entre pilhas de diários quando disparou uma de suas armadilhas. Dias depois, Homer morreu de fome.

Uma notícia nada agradável

Christine Chubbuck foi a primeira e única apresentadora de noticiário a suicidar-se durante um programa ao vivo. Em 15 de julho de 1974, aos oito minutos de programa, a deprimida repórter disse:

– “Para manter a política do canal 40 de trazer-lhes o último em matéria de sangue e violência, ao vivo e a cores, aqui têm outra primícia: uma tentativa de suicídio”. – E a seguir, Chubbuck sacou um revólver e disparou contra a própria cabeça.

Por afogamento numa festa de salva-vidas

Em 1985, para celebrar seu primeiro ano sem ter que lamentar nenhum afogado, os salva-vidas do departamento de recreação de Nova Orleans decidiram fazer uma festa. Quando a festa terminou, um convidado de 31 anos chamado Jerome Moody foi encontrado morto no fundo da piscina do clube.

Olha no que dá imitar os outros (1991)

Em 1991, uma mulher tailandesa de 57 anos chamada Yooket Paen estava caminhando por sua fazenda quando escorregou em um monte de bosta de vaca, se agarrou em um fio da cerca viva (que mantinha o gado confinado) e foi eletrocutada até a morte. Dias depois de seu funeral, sua irmã estava mostrando aos vizinhos como tinha sido o acidente quando ela também escorregou agarrou o mesmo cabo, e morreu igual a sua irmã.


Fonte: Ah Duvido!

Os 8 Homens Mais Difíceis de Matar


Se você acha que aquela história de levar vários tiros, ser atropelado por uma colheitadeira e continuar vivo só acontece com os vilões do cinema, saiba que isso não é verdade.

Na imagem, da esquerda para a direita, Morte, Mortana e tio Caronte, aguardando, impacientes, que uma das pessoas citadas neste artigo, exalem seu último suspiro. Por segurança, vão em três ...

Confira na nossa lista oito homens que desafiaram as leis da natureza e sobreviveram a múltiplas tentativas de assassinato, bombardeios, quedas de avião e várias outras quase-mortes.

8 – Gabriel García Moreno


Teve a mão decepada, levou 5 tiros e ainda teve tempo de gritar que "Deus não morre".

Moreno foi presidente do Equador em 1861 e foi reeleito três vezes – na terceira vez, ele considerou que aquilo seria sua sentença de morte, e até pediu a benção do Papa. Em 6 de agosto de 1875, ficou provado que Moreno estava correto: ao sair da igreja que ele frequentava, um grupo de homens o atacou: Faustino Rayo, líder do grupo, atacou Moreno com um facão, enquanto o resto do grupo abria fogo contra o presidente. Caído no chão com a cabeça sangrando, o braço esquerdo decepado e com o braço direito destruído pelos golpes, ele ainda conseguiu reconhecer os homens que o atacavam. Alguns relatos dizem que ele suspirou as últimas palavras, outros dizem que ele gritou, mas todos concordam que elas foram “Dios no muere” – “Deus não morre”.

7 – Alexander II da Rússia:


Depois de várias tentativas, morreu com plano que contava com bombas-reserva.

Alexander II foi Czar da Rússia de 1855 até seu assassinato, em 1881. Em 1866, ele sofreu a primeira tentativa de assassinato. Para comemorar a sua sobrevivência, que ele chamada de “o evento de 4 de abril de 1866”, foram construídas várias capelas e igrejas em várias cidades russas. Na manhã de 1879, o czar sofreu uma tentativa de assassinato em uma praça, quando um homem atirou várias vezes contra ele, sem acertá-lo. Em dezembro do mesmo ano, o grupo revolucionário Narodnaya Volya organizou uma explosão em uma linha ferroviária, mas não acertaram o trem em que o czar estava. Em 1880 um membro do mesmo grupo revolucionário causou uma explosão em que onze pessoas morreram e 30 ficaram feridas – mas o czar não se feriu, pois estava atrasado para o jantar onde a explosão ocorreu. Finalmente, em 13 de março de 1881, Alexander morreu: por muitos anos, ele visitava a Guarda Real nos domingos de manhã. Ele viajava em uma carruagem fechada, com vários seguranças. No caminho a Manezh, um membro do Narodnaya Volya jogou uma bomba sobre a carruagem do czar, que machucou o cocheiro e pessoas na calçada e matou um dos seguranças, mas não causou nada ao czar. Alexander saiu da carruagem, seguindo instruções de seus seguranças, que diziam para ele sair da área do ataque. Foi então que outro membro do grupo revolucionário jogou outra bomba, que caiu aos pés do czar, e finalmente o matou. Depois a polícia descobriria que havia um terceiro revolucionário no meio da multidão, munido de mais uma bomba, caso os outros dois fracassassem.

6 – Yasser Arafat:


Escapou ileso de inúmeros bombardeios e a um acidente aéreo.

Mohammed Abdel Raouf Arafat al-Qudwa Al-Husseini, mais conhecido como Yasser Arafat, foi um dos líderes mais destacados dos palestinos. Em 1985, ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato quando a força aérea israelense bombardeou a sede do seu governo, que deixou 73 pessoas mortas. Ele também sobreviveu a um acidente de carro e outro aéreo, quando seu avião caiu devido a uma tempestade de areia no deserto da Líbia e, 1992. Apesar de todas as tentativas, o líder palestino morreu aos 75 anos, em 2004, em um hospital em Paris. Ainda assim, como a causa da morte nunca foi divulgada, existem várias teorias conspiratórias sobre a morte de Arafat.

5 – Zog da Albânia:


Sofreu 55 tentativas de assassinato.

Zog I, Skanderbeg III foi rei da Albânia desde 1928 até 1939. Durante seu curto reinado, ele sobreviveu a 55 tentativas de assassinato. Uma delas ocorreu em 1931, quando ele visitava uma casa de ópera em Viena. Ele só sobreviveu a esse ataque ao atirar contra as pessoas que atiravam contra ele, com uma arma que sempre carregava.

4 – Hussein da Jordânia


Sobreviveu a 12 tentativas de assassinato e uma vez foi salvo por uma medalha em seu bolso.

Hussein bin Talal foi rei da Jornânia desde a abdicação ao trono de seu pai, em 1952, até a sua morte, em 1999. Durante o seu reinado, ele sofreu ao menos 12 tentativas de assassinato, a maioria durante as décadas de 50 e 60. A primeira tentativa ocorreu em 1951, quando um extremista palestino abriu fogo contra Hussein e seu avô, que morreu. Hussein perseguiu o atirador, que atirou novamente contra ele, que só sobreviveu por causa de uma medalha que tinha em seu uniforme. Em 1970, o rei sobreviveu novamente a outra tentativa de assassinato a tiros. Depois de várias tentativas de assassinato frustradas, Hussein morreu de câncer aos 63 anos, em 1999.

3 – Fidel Castro:


Sobreviveu a 638 tentativas de assassinato – até agora.

Fidel Castro é definitivamente um dos homens mais difíceis de matar no planeta, ou pelo menos um dos que sofreram mais tentativas de assassinato. Fabian Escalante, que trabalha como segurança pessoal do presidente de Cuba há muito tempo, estima que as tentativas e esquemas de assassinato planejadas pela CIA, agência de inteligência estadunidense, somam 638. Algumas das tentativas incluem um charuto explosivo, um maiô infectado com fungos e um clássico tiroteio do estilo mafioso. Uma das tentativas foi feita pela ex amante de Castro, Marita Lorenz, que ele conheceu em 1959. Ela concordou em ajudar a CIA e colocar uma comida envenenada no quarto de Castro. Quando ele percebeu a farsa, ele teria dado uma arma a ela e falado para ela atirar – o que ela não teve coragem de fazer. Castro uma vez disse que “se sobreviver a tentativas de assassinato fosse uma prova olímpica, eu ganharia a medalha de ouro”. Aos 83 anos e aposentado, é pouco provável que Castro sobreviva à tentativa n° 639, mas nunca se sabe …

2 – Grigory Rasputin 


Foi envenenado e espancado, levou 4 tiros e finalmente morreu afogado.

O místico Rasputin se inseriu na família real russa no início do século XX, e ganhou a confiança da czarina Alexandra Frdorovna ao supostamente salvar seu filho da hemofilia. As lendas sobre a sua morte são tão misteriosas quanto a sua vida. A primeira tentativa de assassinato sofrida por Rasputin foi em 29 de junho de 1914, quando ele foi atacado por Khionia Guseva, uma ex-prostituta. Ela deu uma facada no abdômen do místico, e suas entranhas saíram do corpo, no que parecia ser uma ferida mortal. Entretanto, depois de uma cirurgia, Rasputin se recuperou do ferimento. Já em 16 de dezembro de 1916, um grupo de nobres que acreditava que a influência de Rasputin sobre a czarina estava muito intensa tentou matá-lo novamente. Desta vez, serviram a ele bolo e vinho cheios de cianeto, suficiente para matar cinco homens. Como isso não foi suficiente para acabar com a vida de Rasputin, o príncipe Felix Yusupov, um dos conspiradores, atirou nas costas do inimigo, que caiu no chão. Quando o grupo de conspiradores voltou, Rasputin abriu os olhos e atacou Yusupov, tentando escapar. Yusupov e os outros então perseguiram o mágico,  atiraram nele mais duas vezes e espancaram-no. Para terem certeza que ele não tentaria escapar novamente, os homens amarraram Rasputin em um cobertor e o jogaram no rio Neva. Seu cadáver foi encontrado com o braço direito para fora da amarração, o que mostra que ele ainda estava vivo quando caiu na água, e ainda tentou se salvar. Uma autópsia mostrou que a causa da morte foi afogamento e que somente o veneno deveria ter sido suficiente para matá-lo.

1 – Adolf Hitler:


Sobreviveu a mais de 50 conspirações de assassinato.


Líder dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler foi responsável pelo assassinato de aproximadamente seis milhões de judeus, além de dois milhões de poloneses e quatro milhões de pessoas consideradas “indignas da vida”, como pessoas com deficiências físicas e mentais, homossexuais, romenos e muitos outros. Portanto, não é surpreendente que ele tenha sofrido tantas tentativas de assassinato: a primeira delas aconteceu em 1921, quando atiraram contra ele depois de um discurso. Na Varsóvia, em 5 de outubro de 1939, o exército polonês tentou explodir o carro de Hitler, mas a bomba não explodiu. Outra curiosa tentativa de assassinato foi a de soldados estadunidenses, que planejavam jogar material pornográfico para Hitler, tentando deixar o puritano louco. Este plano não foi levado até o fim, e nenhum dos outros funcionou para matar o ditador. Acredita-se que Hitler tenha cometido suicídio junto a sua esposa, Eva Braun, no dia 30 de abril de 1945.


Fonte: HypeSicence

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Mortes Bizarras II


Continuando a segunda parte dos casos de fins bizarros, reafirmamos que a Dona Morte tem um senso de humor negro. Confiram:

Morreu de “bueiro”

Essa morte bizarra e triste é um bom exemplo de má sorte trágica. Em 2008, um canadense morreu depois de tentar recuperar sua carteira roubada de uma boca de lobo. A carteira e alguns pertences foram roubados depois que o homem de 57 anos os deixara em um posto de gasolina. Ele chamou a polícia antes de encontrar a carteira jogada num bueiro próximo. O homem tentou sem sucesso alcançá-la pouco antes da polícia chegar, e esta o aconselhou a não tentar novamente. Mas o homem voltou depois, removeu a grade do bueiro e fez uma nova tentativa. Quando o policial que estava investigando o crime percebeu que o caminhão do homem tinha voltado, ele foi checar o bueiro e descobriu o homem preso pela cabeça vários metros abaixo da rua. A vítima ainda estava viva e assim ficou até que os bombeiros a tiraram de lá. Infelizmente, ele morreu no hospital logo.

Morreu de “desodorante”

Em 1998, um garoto de 16 anos morreu na Inglaterra de ataque cardíaco depois de ser exposto a muito gás de desodorante. Na época da morte, a BBC afirmou que, desde 1971, mais de 130 pessoas haviam morrido depois de inalarem propositalmente gás de desodorante aerosol. Parece que ele era obcecado por higiene pessoal e cheiro de frescor, por isso ele vaporizava seu corpo todo com desodorante ao menos duas vezes por dia. O garoto exagerava tanto, que às vezes sua família podia sentir o cheiro no andar de baixo da casa. Apesar disso, eles nunca pensaram que o garoto estivesse em perigo. A autópsia revelou que ele tinha 10 vezes a quantidade letal de butano e propano em sua corrente sanguínea. Acontece que o garoto usou o desodorante em um espaço relativamente confinado, embora as embalagens recomendassem o uso em áreas bem ventiladas.

Morreu de “barba”

Em novembro de 2008, um professor canadense chamado  Sarwan Singh entrou para o livro Guinness por ter a barba mais longa que qualquer homem vivo. Ela pendia por impressionantes 2,36 m a partir do queixo. No entanto, ele não teve muito problema com sua barba. O mesmo não pode ser dito de um austríaco do século 16. A barba de Hans Steininger tinha só 1,4 m, mas foi suficiente para levá-lo à morte. Hans costumava manter sua barba enrolada em uma bolsa de couro, mas esqueceu-se de fazê-lo em um dia de 1567. Um incêndio estourou em sua cidade naquele dia e ele ficou enrolado na barba enquanto tentava escapar. Há relatos conflitantes sobre se Steininger quebrou o pescoço ou se morreu no incêndio, mas as duas mortes são bizarras.

Morreu de “ovelha”

Ovelhas são criaturas bastante dóceis. Se você visitar uma fazenda de ovelhas, provavelmente vai encontrar criaturas lanosas em movimento errante ruminando grama. Infelizmente, em 1999, uma mulher na Inglaterra descobriu que as ovelhas podem ter um lado agressivo, assim como muita fome. Betty Stobbs era mulher de um fazendeiro e tinha 67 anos na época do trágico encontro. Ela estava levando um delicioso jantar de feno para  o rebanho de ovelhas da família usando um veículo de quatro rodas com um pequeno trailler acoplado. As ovelhas estavam em um campo com vista panorâmica da presa. Quando Stobbs chegou com o jantar, o rebanho agrediu-a e pulou para dentro do veículo, jogando-a da cabine. A triste ironia dessa tragédia é que ela não morreu da queda em si. Ela poderia até ter sobrevivido, mas as ovelhas tombaram o veículo, esmagando Stobbs.


Fonte: Ouroboros

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mortes Bizarras I



Podemos afirmar, após lermos esses casos bizarros, que a Dona Morte realmente tem senso de humor. Confiram:

O que a falta de uma geladeira faz

Francis Bacon foi uma das pessoas mais influentes do século XVI. Político, filósofo, escritor e cientista, inclusive houve rumores que havia escrito algumas das obras de Shakespeare. Porém todo esse brilhantismo não o salvou de uma morte um tanto quanto idiota. O sujeito morreu recheando uma galinha com neve. Em uma tarde de 1625, Bacon estava olhando uma tormenta de neve e pensou que a neve poderia conservar a carne da mesma forma que o sal. Decidido a provar, comprou uma galinha em uma vila próxima, a matou e foi para fora de casa para ver como a galinha coberta de neve se congelava. A galinha nunca se congelou, mas Francis Bacon sim. A façanha resultou em uma pneumonia que o levaria a morte.

Por abraçar o reflexo da lua

O poeta chinês Li Po é considerado um dos dois maiores da história literária chinesa. Era muito conhecido por ser um bebedor inveterado e sabe-se que escreveu muitos de seus grandes poemas enquanto estava bêbado. E “bebaço” estava à noite em que caiu de seu barco se afogou no rio Yangt-ze ao tentar abraçar o reflexo da lua na água.

Pela barba

O austríaco Hans Steininger ficou famoso por ter a barba mais longa do mundo (de quase um metro e meio) e por morrer por causa dela. Num dia de 1567 teve um incêndio em sua cidade e na fuga Hans esqueceu-se de enrolar sua barba, pisou sobre ela, perdeu o equilíbrio, tropeçou e quebrou o pescoço.

Segurando o xixi

O nobre e astrônomo dinamarquês Tycho Brahe era um personagem interessante. Tinha um alce treinado como animal de estimação e também perdeu a ponta de seu nariz num duelo com outro nobre dinamarquês e teve que usar um nariz falso feito de prata e ouro, mas essa é outra história. Diz-se que Tycho teve que segurar a vontade de ir ao banheiro durante um banquete particularmente extenso em 1601 (levantar-se no meio de um jantar era considerado como algo realmente ofensivo), a tal ponto que sua bexiga, levada ao limite, desenvolveu uma infecção pela qual morreu. Análises posteriores sugeriram que Tycho morreu em realidade por envenenamento com mercúrio, mas essa conclusão não é tão interessante como a história original.

Gordice

O rei Adolfo Federico da Suécia amava comer e morreu por isso. Conhecido como “O rei que comeu até morrer”, faleceu em 1771 com 61 anos por causa de um problema digestivo depois de comer, literalmente, “mais que a barriga”. O jantar do comilão era composto de lagosta, caviar, chucrute, sopa de repolho, cervo defumado, champanhe e catorze pudins de leite recheados com amendôas, seu doce preferido.


Fonte: Ouroboros

domingo, 7 de agosto de 2016

13 Superstições de Casamento


O pensamento de que certas coisas podem trazer boa ou má sorte vem desde o início dos tempos, está presente em todas as culturas e, quase sempre, segue as convicções religiosas. No casamento não é diferente, existe diversas superstições. Veja algumas:

1. Segunda sim, terça não, sexta sim. Esta superstição está relacionada com os astros associados a cada dia da semana: Segunda, o dia da Lua, atrairia abundância e felicidade. Já sexta, por ser o dia de Vénus, prometia casamentos cheios de beleza e amor. Pelo contrário a terça, por ser associada a Marte, previa um casamento de guerras.

A verdade é que a grande maioria dos casamentos se realiza ao sábado, mas se decidirem casar durante a semana é possível que encontrem preços bastante atrativos. Existe ainda uma outra superstição que diz que casar no dia da semana em que o noivo nasceu traz sorte ao casal. Será que anula o efeito da azarada terça?

2. Os noivos não se podem ver antes do casamento. Esta superstição remete-nos para os casamentos combinados em que se temia que o noivo mudasse de ideias quando visse a noiva. Por isso era preferível mantê-los sem se verem. Hoje em dia não faz muito sentido pensar desta forma, mas se se quiserem surpreender mutuamente, esta é uma excelente oportunidade!

3. Mesmo que os noivos já vivam juntos, devem passar a noite anterior ao casamento separados.

4. Chover no casamento é sinal de boa sorte.

5. Chuva de arroz ao sair da cerimônia significa um casamento com fertilidade.

6. Evite rosas amarelas. Na época vitoriana foi publicado um livro, "A Linguagem das Flores", em que era atribuído um significado a cada flor. Às rosas amarelas associou-se o ciúme e é por isso que se desaconselhava o seu uso nos casamentos. No entanto, esta é uma tradição que caiu em desuso e a verdade é que existem magníficos arranjos com rosas amarelas!

7. A noiva não deve usar pérolas, pois elas podem representar as lágrimas ao longo da vida de casado.

8. A noiva não deve remover o seu anel de comprometida até ao dia do casamento, para não dar azar ao casamento.

9. O véu representa para alguns a juventude, para outros a pureza que será descoberta pelo homem e para os mais supersticiosos protege dos maus espíritos, inveja ou ciúmes.

10. A noiva deve usar algo novo, algo velho, algo emprestado e algo azul. Algo novo por ser o símbolo do começo de uma nova etapa. Um acessório velho pela relação da noiva com o que foi sua vida antes deste dia, para o que vai ser após o matrimônio. Algo emprestado significa a união e confiança de uma amizade. Uma jóia ou roupa de cor azul, representando a fidelidade dos noivos.

11. Se cai uma aliança, o seu dono morre. Esta superstição diz que se cai uma das alianças a pessoa que a ia usar morre. Não faz qualquer sentido pensar nesta eventualidade. Mas, e especialmente se forem levadas por uma criança para o altar, é preferível prendê-las com uma fita para que não se percam e, assim, evitem ter de pedir a todos os convidados que as procurem.

12. A noiva e o noivo cortam juntos a primeira fatia de bolo para assegurarem uma vida de partilha.

13. A noiva deve entrar em casa ao colo do noivo. Dizia-se que a noiva estava especialmente vulnerável a espíritos malignos que entrariam pela sola dos pés. Para evitar tal infortúnio, o noivo levava a noiva ao colo para casa, protegendo-a. Pode não ter muito fundamento, mas é muito romântico. Mas atenção! Quem levar os pés no chão tem de entrar com o pé direito!


Fontes: Casamentos.pt; Daniela Leal - Noivas e Estética.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Bernie Wrightson: Os Primeiros Anos

Bernie Wrightson (Dundalk, Maryland, EUA, 27/10/1948) trabalha profissionalmente como artista de quadrinhos de horror e ilustrador de fantasia desde 1968. Seu primeiro trabalho profissional publicado foi para as linhas de terror da DC Comics intituladas House of Mystery e House of Secrets.

O trabalho de Bernie para a DC também incluiu seu clássico Swamp Thing, de 1972 a 1974. Ele passou também a ilustrar uma série clássica de histórias para Warren Publishing em seus títulos emblemáticos Creepy (Arrepiante) e Eerie (Estranho). Dark Horse republicou recentemente sua versão ilustrada do clássico de Frankenstein de Mary Shelley.

Abaixo um desenho de Bernie, publicado por um fã-clube (fanzine), na revista Creepy #9 (junho de 1966):


Antes de Bernie começar a trabalhar para a DC Comics, e em seus primeiros dias como um profissional de quadrinhos, ele muitas vezes fornecia desenhos aos fanzines, que eram revistas publicadas por fãs dos quadrinhos e que, na maioria das vezes, em pequena quantidade de exemplares. Estes fanzines deram a Bernie e outros artistas de sua geração, a oportunidade de aprimorar suas habilidades e manter seu trabalho na frente dos fãs. Abaixo está uma seleção dos primeiros trabalhos de Bernie de alguns desses fanzines.

Capa para o Metro Con program book de 1971:


Uma rendição precoce de Victor Frankenstein a seu monstro a partir do fanzine Colour Your Dreams, publicado pela Capitol City Comix em 1972. O desenho é provavelmente de 1968:



Outra versão do monstro de Frankenstein. De Spa Fon #5, publicado em setembro de 1969:


Um desenho sinistro do personagem "Peter Piper". Publicado na capa traseira do Infinity #3, vol. 2, de 1971:




Fonte: Fantasy Ink - Bernie Wrightson: The Early Years

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A Ilha dos Pinheiros


Por muitos anos, viveu perto da cidade de Gallipolis, em Ohio, um velho chamado Herman Deluse. Pouco se sabia de sua vida porque, além de não falar de si próprio, não permitia que os outros o fizessem. Havia entre a vizinhança a crença de que fora um pirata — crença que, ao que se sabe, baseava-se apenas em sua coleção de lanças de abordagem, espadas e velhas pistolas de pederneira. 

Vivia completamente só numa pequena casa de quatro aposentos, caindo aos pedaços e que nunca recebia reparos, a não ser quando as intempéries o exigiam. Ficava numa pequena elevação, no meio de um campo imenso e pedregoso onde cresciam espinheiros, com alguns canteiros cultivados, mas de forma bem primitiva. Aparentemente, era sua única propriedade, mas dificilmente poderia dar-lhe sustento, por mais simples e poucos que fossem seus desejos.

Ele parecia sempre ter dinheiro à mão, pagando à vista pelo que obtinha nas lojas das redondezas e raramente comprando mais de duas ou três vezes no mesmo lugar, a não ser após um intervalo considerável de tempo. Mas não recebia elogios por essa distribuição igualitária de sua freguesia. As pessoas estavam mais propensas a encarar aquilo como uma tentativa infrutífera de esconder que possuía muito dinheiro. Nenhuma alma honesta, ciente dos fatos da tradição local e possuindo um mínimo de bom senso, seria capaz de duvidar que ele tinha montanhas de ouro roubado enterrado em algum ponto de sua propriedade decadente.

No dia 9 de novembro de 1867, o velho morreu. Ou pelo menos seu corpo foi encontrado no dia 10, tendo os médicos atestado que a morte ocorrera cerca de 24 horas antes. Como ocorreu, não souberam dizer. Porque os exames post-mortem mostraram que todos os órgãos estavam perfeitamente saudáveis, sem qualquer indício de doença ou violência. Segundo eles, a morte teria ocorrido por volta do meio-dia, embora o corpo tivesse sido encontrado na cama. O veredicto do júri foi o de que "ele morreu pela vontade de Deus".

O corpo foi enterrado e a administração pública assumiu a propriedade. Uma investigação minuciosa não descobriu nada que já não se soubesse a respeito do morto e as pacientes escavações feitas em vários pontos da casa por vizinhos sonhadores e parcimoniosos resultaram infrutíferas. Os administradores trancaram a casa a fim de evitar que ficasse exposta ao tempo, enquanto a propriedade, imóvel e bens, era posta legalmente à venda para cobrir, ao menos em parte, as despesas da transação.

A noite de 20 de novembro foi de tempestade. Ventos furiosos varreram os campos, açoitando-os com pancadas de chuva de granizo. Árvores imensas foram arrancadas do chão, interrompendo estradas. Nunca se vira na região uma noite tão terrível quanto aquela, mas na manhã seguinte a tempestade perdera o fôlego e o dia nasceu claro e limpo.

Às oito da manhã, o reverendo Henry Galbraith, pastor luterano muito conhecido e estimado, chegou a pé à sua casa, que ficava a pouco mais de dois quilômetros da propriedade de Deluse. O Sr. Galbraith estivera fora, em Cincinnati, por um mês. Subira o rio num barco a vapor e, ao chegar em Gallipolis na noite anterior, arranjara um cavalo e uma carroça, tomando o caminho de casa. Mas a violência da tormenta retivera-o durante a noite e, já de manhã, com tantas árvores caídas, acabara por abandonar cavalo e carroça, continuando a jornada a pé.

"Mas onde você passou a noite?", perguntou a mulher, assim que ele acabou de contar sua aventura.

"Com o velho Deluse na Ilha dos Pinheiros(*)", respondeu rindo. "Mas passei um mau pedaço. Ele não se importou de me deixar ficar lá, mas sequer me dirigiu a palavra.”

Felizmente, no interesse da verdade, estava presente a essa conversa o Sr. Robert Mosely Maren, advogado e literato de Columbus, o mesmo que escreveu os deliciosos Documentos da arte do humor. Percebendo, embora aparentemente sem compartilhá-la, a surpresa causada pela resposta do Sr. Galbraith, o sarcástico Sr. Maren sustou com um gesto as exclamações de espanto que naturalmente se seguiriam e, com toda tranquilidade, perguntou:

"E como foi que o senhor conseguiu entrar lá?”

Esta é a versão do Sr. Maren para a resposta do Sr. Galbraith:

"Vi uma luz se movendo dentro da casa e, completamente cego pela tormenta, além de estar quase congelando, entrei pelo portão e amarrei o cavalo na cerca do velho estábulo, onde ele está até agora. Em seguida bati na porta. Como ninguém atendeu, resolvi entrar. A sala estava escura, mas eu tinha fósforos e acabei achando uma vela, que acendi. Tentei entrar no aposento ao lado, só que a porta estava trancada e, embora ouvisse os passos pesados do velho lá dentro, ele não respondeu a meu chamado. Como não havia lareira acesa, fiz um fogo e me deitei [sic] diante dele, fazendo do casaco travesseiro e preparando-me para dormir. Mas logo a porta que eu forçara abriu-se silenciosamente e o velho entrou, carregando uma vela. Dirigi-me a ele com toda a gentileza, pedindo perdão pela invasão, mas ele não pareceu notar-me. Dava a impressão de procurar algo, embora seus olhos estivessem fixos nas órbitas. Acho que ele é sonâmbulo. Deu uma meia-volta pela sala e saiu pela mesma porta por onde entrara. Ainda voltou duas vezes antes que eu adormecesse, agindo exatamente da mesma forma e desaparecendo como antes. Nos intervalos, eu o ouvia perambulando pela casa, seus passos perfeitamente audíveis nas pausas da tormenta. E, quando acordei na manhã seguinte, ele já havia saído.”

O Sr. Maren ainda tentou fazer mais perguntas, mas foi contido pelas exclamações da família.

A história da morte e do enterro de Deluse veio à tona, para grande espanto do bom pastor.

"A explicação para a aventura do senhor é muito simples", disse o Sr. Maren. "Não acredito que o Sr. Deluse possa caminhar durante o sono — não nesse em que está mergulhado agora. Mas o senhor, com toda certeza, tem um sono cheio de sonhos."

E, diante dessa versão para os fatos, o Sr. Galbraith foi obrigado a aceitá-la, embora relutante. Porém, tarde da noite do dia seguinte, lá estavam os dois cavalheiros, acompanhados pelo filho do pastor, na estrada diante da casa do velho Deluse. Havia luz lá dentro. Às vezes numa janela, às vezes noutra. E os três homens avançaram até junto à porta.

Assim que lá chegaram, veio do interior da casa uma profusão de sons estarrecedores — ruído de espadas, aço chocando-se contra aço, explosões violentas como se armas de fogo, gritos de mulheres, grunhidos e imprecações de homens em combate! Os três ficaram ali por um instante, amedrontados, sem saber o que fazer. E então o Sr. Galbraith tentou abrir a porta. Estava trancada. Mas o pastor era um homem de coragem e, acima de tudo, um homem de força hercúlea. Deu um ou dois passos para trás e atirou contra a porta o ombro direito, arrancando-a das dobradiças com um estrondo. No segundo seguinte os três estavam lá dentro.

Tudo era escuridão e silêncio! O único som era a batida de seus corações. O Sr. Maren trouxera consigo fósforos e uma vela. Com dificuldade, devido à agitação em que se encontrava, conseguiu acendê-la, e os três homens começaram a explorar a casa, passando de um a outro aposento. Tudo estava em perfeita ordem, como fora deixado pelo xerife. Nada fora remexido. Uma fina camada de poeira recobria tudo. Uma porta, nos fundos, encontrava-se entreaberta, como se por descuido, e a primeira coisa que passou pela cabeça deles foi que os autores da gritaria talvez tivessem escapado.

Escancararam a porta e iluminaram o chão com a vela. Com os últimos sopros da tormenta noturna caíra um pouco de neve. Mas não havia pegadas. A superfície branca estava intacta. Eles fecharam a porta e entraram no último dos quatro aposentos da casa — o que ficava mais distante da entrada, num canto da construção. Foi lá que a vela do Sr. Maren se apagou de repente, como se atingida por uma lufada de ar.

No instante seguinte, ouviram um baque pesado. E quando reacenderam a vela às pressas encontraram o jovem Galbraith, filho do pastor, caído no chão a pouca distância dos dois. Estava morto. Uma das mãos crispara-se em torno de um pesado saco de moedas, que exames posteriores provariam ser velhos dobrões espanhóis. Bem junto ao lugar onde jazia o corpo uma ripa de madeira tinha sido arrancada da parede e, pela abertura que ficara, via-se que fora de lá que o saco fora retirado.

Outra investigação foi realizada. Outro exame post-mortem feito sem que se conseguisse descobrir a causa da morte. Mais um veredicto de que ela se dera "pela vontade de Deus" deixou a todos a liberdade de tirar suas próprias conclusões. O Sr. Maren chegou à conclusão de que o jovem morrera de pura excitação.

(*) A "Ilha dos Pinheiros" é um conhecido local de encontro de piratas. (N. do A.)


Visões da Noite / Ambrose Bierce; organização e tradução Heloísa Seixas; ilustrações Mozart Couto. - Rio de Janeiro: Record, 1999.

No Limiar do Irreal


I

Ao longo de certo trecho entre Aubum e Newcastle, a estrada — primeiro de um lado do rio e depois do outro — ocupa todo o fundo de uma ravina, sendo parcialmente cortada na escarpa íngreme e parcialmente formada pelas pedras removidas do leito do rio pelos mineradores. As escarpas são cobertas de vegetação e o curso da ravina é sinuoso. Nas noites escuras, é preciso andar com cuidado para não se cair dentro d'água. A noite que tenho na memória era escura e o rio, uma torrente, engrossada por um recente temporal. Eu viera de Newscastle e estava a caminho, a menos de dois quilômetros de Auburn, cruzando o trecho mais escuro e mais estreito da ravina, olhando com toda a atenção a estrada à frente de meu cavalo.

De repente, vi um homem quase embaixo do focinho do animal. Puxei a rédea com tanta força que o cavalo por pouco não empinou.

"Perdão", disse. "Mas não o vi.”

"Você dificilmente poderia esperar ver-me", respondeu o homem, com civilidade, vindo para a lateral da carruagem. "E o barulho do rio impediu que eu o ouvisse.”

Reconheci a voz imediatamente, embora cinco anos se tivessem passado desde que a ouvira pela última vez. E não estava particularmente feliz em ouvila.

"Você é o Dr. Dorrimore, não é?”

"Sou. E você é meu bom amigo Sr. Manrich. Estou mais do que feliz em vê-lo... demais", acrescentou com um sorriso, "até porque estou indo na sua direção e, claro, espero receber uma oferta de carona.”

"Que eu faço, com muito prazer.”

O que não era exatamente verdade.

O Dr. Dorrimore agradeceu ao sentar-se a meu lado e eu segui em frente, com a mesma cautela de antes. Deve ser fantasia, mas hoje tenho a impressão de que, durante o resto da viagem, fomos envolvidos por uma neblina gelada. E que eu estava morrendo de frio. Que o caminho parecia mais longo do que antes, e que a cidade, quando lá chegamos, parecia triste, inóspita e desolada.

Devia ser cedo ainda, mas não me lembro de ter visto uma luz sequer nas casas, nem vivalma nas ruas. Num dado momento, Dorrimore explicara-me por que estava ali, e onde estivera durante todos os anos em que desaparecera desde nosso último encontro. Lembro-me que ele fez essa narrativa, mas não me recordo dos fatos narrados. Ele estivera em países estranhos e voltara — é tudo o que minha memória retém, mas isso eu já sabia antes. Quanto a mim, não me recordo de ter dito uma só palavra, embora com certeza o tenha feito. Mas de uma coisa tenho perfeita consciência: a presença daquele homem a meu lado era estranhamente inquietante, desagradável. A ponto de, ao chegarmos à entrada iluminada da Pensão Putnam, eu ter tido a nítida sensação de haver escapado de um perigo espiritual, de natureza peculiar e assustadora. Mas a sensação se transformou assim que fiquei sabendo que o Dr. Dorrimore também se hospedaria lá.

II 

Para explicar, pelo menos em parte, meus sentimentos em relação ao Dr. Dorrimore, vou falar das circunstâncias nas quais o conhecera, alguns anos antes. Certa noite, meia dúzia de homens, entre os quais eu, encontrava-se na biblioteca do Clube Boêmio de São Francisco. A conversa era acerca de prestidigitação e as façanhas dos prestidigitadores, um dos quais se apresentava naquela ocasião no teatro local.

"Esses sujeitos são farsantes no duplo sentido", disse um dos amigos. "São incapazes de fazer alguma coisa pela qual valha a pena passar por bobo. O mais humilde dos saltimbancos da Índia seria capaz de enganá-los a ponto de pensarem que estão loucos.”

"Mas como?", perguntou outro, acendendo um charuto.

"Como? Com qualquer uma de suas performances mais simples, mais comuns. Lançando para o ar objetos que nunca vão cair. Fazendo plantas brotarem, crescerem e se abrirem em flor, isso em qualquer superfície nua, escolhida pelo espectador. Colocando um homem dentro de uma cesta de vime, espetando-o por todos os lados com uma espada enquanto ele grita e sangra, para depois abrir a cesta e mostrar que está vazia. Ou então jogando para o alto a ponta de um fio de seda e subindo por ele até desaparecer.”

"Bobagem!", retruquei, temo que com certa indelicadeza. "Não vá me dizer que você acredita nessas coisas.”

"Claro que não. Já as presenciei vezes demais para acreditar nelas.”

"Mas eu acredito", disse um jornalista local muito conhecido por suas matérias pitorescas. "Já relatei esse tipo de coisa tantas vezes que nada, a não ser a observação, seria capaz de abalar minha convicção. Cavalheiros, vocês têm minha palavra.”

Mas ninguém riu — todos estavam com os olhos fixos em alguma coisa atrás dele. Virando-me na cadeira, vi um homem com roupa de gala, que acabara de entrar na sala. Era de pele muito escura, quase trigueiro, com um rosto fino, barba negra que lhe ia até junto da boca, uma vasta cabeleira preta, áspera e em desalinho, nariz adunco e olhos que brilhavam com uma expressão cruel, como os de uma cobra. Um dos integrantes do grupo levantou-se e apresentou-o como sendo o Dr. Dorrimore, de Calcutá.

A cada um que era apresentado ele cumprimentava com uma profunda reverência à maneira oriental, embora sem a gravidade comum no Oriente. Seu sorriso pareceu-me cínico e levemente insolente. Todo seu comportamento só pode ser descrito como desagradavelmente sedutor. Sua presença conduziu a conversa para outros assuntos. Ele falou pouco — não consigo lembrar-me de nada do que chegou a dizer. Notei que sua voz era particularmente rica e melodiosa, embora tenha produzido em mim um efeito semelhante ao provocado pelo olhar e pelo sorriso. Logo, eu me levantava para ir embora. Mas ele também ergueu-se, começando a vestir o sobretudo.

"Manrich", disse, "estou indo na mesma direção que você.”

Está droga nenhuma!, pensei. E como é que você sabe em que direção vou? Mas limitei-me a dizer:

"Ficarei encantado com sua companhia.”

Saímos do prédio juntos. Não havia táxis à vista, os bondes já tinham sido recolhidos e a lua cheia, na noite fresca, estava uma beleza. Subimos a ladeira da Califórnia Street, Peguei aquela direção pensando que ele naturalmente optaria por outra, para o lado dos hotéis.

"Você não acredita no que se fala a respeito dos prestidigitadores indianos", afirmou ele, de repente.

"E como é que o senhor sabe?", perguntei.

Sem me responder, ele pôs de leve a mão em meu braço e com a outra apontou para a calçada à nossa frente. Ali, quase a nossos pés, jazia o corpo de um homem morto, com o rosto voltado para cima, pálido à luz da lua! Uma espada, cujo cabo cintilava com pedrarias, estava enfiada em seu peito. Uma poça de sangue se formara nas pedras da calçada. Fiquei espantado e aterrorizado. Não apenas com o que via, mas pelas circunstâncias em que o fazia. Diversas vezes, enquanto subíamos a ladeira, meus olhos tinham observado, eu podia jurar, toda a extensão daquela calçada, de uma transversal à outra. Como podiam ter deixado de ver aquela cena horrível, agora tão nitidamente visível sob a luz da lua?

Enquanto recuperava-me do choque, observei que o corpo vestia traje de gala. O sobretudo, aberto, revelava a casaca, a gravata branca, a parte da frente da camisa trespassada pela espada. E então — terrível revelação! — vi que o rosto, exceto pela palidez, era o de meu companheiro! Em cada detalhe, das roupas à aparência física, era o próprio Dr. Dorrimore.

Como que hipnotizado pelo horror, virei-me para olhar o homem vivo a meu lado. Ele desaparecera. E assim, ante mais esse terror, saí dali, descendo a ladeira pelo mesmo caminho de onde viera. Tinha dado poucos passos quando senti um forte puxão no ombro, que me fez parar.

Quase gritei de pavor: o homem morto, com a espada ainda enfiada no peito, estava de pé a meu lado! Agarrando a espada com a mão livre, ele arrancou-a, enquanto o luar banhava as pedrarias do cabo e a própria lâmina de aço, imaculadamente limpa. A espada caiu na calçada diante de mim e... desapareceu. O homem, a pele novamente escura, afrouxou a mão que me apertava o ombro, voltando a olhar-me com o mesmo olhar cínico que eu vira em nosso primeiro encontro.

Os mortos não têm um olhar assim. Recobrando parcialmente o controle, virei-me para trás e vi a sombra branca da calçada, limpa de uma transversal à outra.

"O que significa isso, seu demônio?", perguntei, enfático, embora me sentisse fraco e tremesse da cabeça aos pés.

"Foi aquilo que alguns se divertem chamando de prestidigitação", respondeu ele, com um rápido porém incisivo sorriso.

Em seguida virou na Dupont Street e eu jamais voltei a vê-lo, até o dia de nosso encontro na ravina de Auburn.

III  

No dia seguinte ao meu segundo encontro com o Dr. Dorrimore, não voltei a vê-lo. O recepcionista da Pensão Putnam explicou-me que estava trancado no quarto, adoentado. Naquela tarde, na estação de trem, tive uma agradável surpresa com a chegada inesperada da Srta. Margaret Corray, juntamente com sua mãe, procedentes de Oakland.

Esta não é uma história de amor. Tampouco sou um contador de histórias, e o amor, do jeito que é, não pode ser descrito numa literatura dominada e circunscrita à tirania aviltante que obriga a escrever bonito em nome das adolescentes. Sob o jugo doentio das adolescentes — ou, por outra, sob o mando dos falsos censores que se investiram do direito de cuidar do bem-estar delas —

 o amor apaga sua sagrada pira, E, sem que o saiba, a Moralidade expira

morreu de fome ante a comida insossa e a água destilada fornecidas pelos puritanos. O que quero dizer é que a Srta. Corray e eu estávamos noivos. Ela e a mãe foram para o hotel onde eu me hospedava e, ao longo de duas semanas, vi-a diariamente. Desnecessário dizer que eu estava feliz. O único obstáculo à minha felicidade plena naqueles dias maravilhosos era a presença do Dr. Dorrimore, o qual eu me sentira na obrigação de apresentar às senhoras. A essa altura, ele já caíra no agrado delas. E o que eu podia dizer? Não sabia de nada que o desmerecesse. Seu comportamento era o de um cavalheiro bem-educado e gentil. E, para as mulheres, o comportamento é o que faz o homem. Em uma ou duas ocasiões, ao ver a Srta. Corray caminhando lado a lado com ele, fiquei furioso, e uma vez cheguei mesmo à indiscrição de protestar.

Indagado sobre minhas razões, não tive o que dizer e pensei ter visto na expressão dela uma sombra de desprezo diante das tolices de uma mente ciumenta. Com o tempo, fui ficando cada vez mais taciturno e irritadiço, até que, num gesto intempestivo, decidi voltar a São Francisco no dia seguinte. Mas nada comentei sobre isso.

IV 

Havia em Auburn um velho cemitério, abandonado. Era quase no coração da cidade, mas, mesmo assim, à noite era um lugar tão sombrio quanto poderia desejar um ser humano em seu momento mais lúgubre. As grades das sepulturas estavam caídas, arrebentadas e muitas já não existiam. De vários túmulos só restavam ruínas e de alguns haviam brotado imensos pinheiros, cujas raízes tinham cometido um pecado inominável. As lápides estavam caídas ou rachadas ao meio e o terreno coberto de espinheiros. O muro fora quase todo desfeito e vacas e porcos andavam por ali. O lugar era uma desonra para os vivos, uma ofensa para os mortos, uma blasfêmia contra Deus.

Na noite daquele dia em que eu tomara a estouvada decisão de ir embora, furioso, para longe daquilo que mais amava, fui dar naquele local, bem a propósito.

A luz de uma meia-lua filtrada através das folhagens formava desenhos e nódoas que deixavam entrever o invisível. E as sombras escuras pareciam conspirar para, no momento exato, revelar negrores ainda mais terríveis. Passando junto do que fora a calçada de um túmulo, vi emergir das sombras a figura do Dr. Dorrimore. Eu próprio, estando encoberto pela penumbra, fiquei imóvel, com as mãos crispadas e os dentes trincados, tentando controlar o impulso de atirar-me sobre ele e estrangulá-lo. Um momento depois, uma segunda figura juntou-se a ele, segurando-o pelo braço. Era Margaret Corray!

Não sei bem contar o que aconteceu. Só sei que pulei para a frente, com pensamentos de morte. Sei que fui encontrado na manhã cinzenta, ferido e sangrando, com marcas de dedos na garganta. Fui levado à Pensão Putnam, onde, por vários dias, delirei. Tudo isso só sei porque me foi contado. E de minha parte lembro apenas que, ao recobrar a consciência, já convalescente, mandei chamar imediatamente o recepcionista do hotel.

"A Sra. Corray e a filha dela ainda estão hospedadas aqui?", perguntei.

"Qual foi o nome que o senhor disse?”

"Corray.”

"Não tivemos ninguém com esse nome aqui, senhor.”

"Não zombe de mim, eu lhe peço", disse eu, altivo. "Você está vendo que já estou melhor. Diga-me a verdade.”

"Dou-lhe minha palavra, senhor", insistiu ele com evidente sinceridade. "Não tivemos nenhum hóspede aqui com esse sobrenome.”

Suas palavras me deixaram estupefato. Permaneci em silêncio por um instante. Em seguida, perguntei:

"E onde está o Dr. Dorrimore?”

"Ele foi embora na manhã seguinte à briga e, desde então, não ouvimos mais falar dele. Foi um trabalho e tanto que ele deu ao senhor.”

V

Tais são os fatos neste caso. Margaret Corray hoje é minha esposa. Ela jamais esteve em Auburn e durante as semanas em que toda a história que acabei de contar se formou em minha mente ela estava em casa, em Oakland, perguntando-se onde eu estaria e por que não lhe escrevia.

Outro dia, li no jornal Sun, de Baltimore, a seguinte nota:

"O professor Valentine Dorrimore, hipnotizador, teve enorme audiência ontem à noite. O palestrante, que viveu a maior parte de sua vida na Índia, fez uma fantástica exibição de seus poderes, hipnotizando, com um simples olhar, qualquer um que concordasse em submeter-se à experiência. Na verdade, hipnotizou a platéia inteira por duas vezes (só os repórteres foram poupados), fazendo com que todos tivessem as mais extraordinárias ilusões. A melhor coisa da palestra foi a exposição sobre os métodos dos prestidigitadores indianos em suas famosas performances, relatadas por muitos viajantes. O professor declara que esses taumaturgos chegaram a tal refinamento na arte que aprendeu com eles que são capazes de fazer milagres, apenas mergulhando os 'espectadores' num estado de hipnose e dizendo-lhes o que devem ver e ouvir. E chega a ser inquietante sua afirmação de que algumas pessoas, especialmente suscetíveis, podem ser mantidas no limiar do irreal durante semanas, meses e até mesmo anos, dominadas por qualquer ilusão ou alucinação que o prestidigitador queira eventualmente sugerir.”


Visões da Noite / Ambrose Bierce; organização e tradução Heloísa Seixas; ilustrações Mozart Couto. - Rio de Janeiro: Record, 1999.

O Ambiente Adequado


I

A noite

Numa noite de pleno verão, o filho de um fazendeiro que vivia a cerca de quinze quilômetros de Cincinnati seguia por uma trilha de cavalos em meio a uma floresta densa e escura. O rapaz se perdera quando procurava por algumas vacas desgarradas e por volta da meia-noite já estava a uma enorme distância de casa, numa região que lhe era desconhecida. Mas tratava-se de um rapaz corajoso e, sabendo vagamente qual era a direção de casa, seguira floresta adentro sem hesitar, guiando-se pelas estrelas. Ao dar com a trilha de cavalos, e notando que ela rumava exatamente na direção certa, decidiu segui-la.

A noite estava clara, mas dentro da floresta a escuridão envolvia tudo. Era mais pelo tato do que pela visão que ele seguia caminho. Na verdade, seria difícil sair da trilha. De ambos os lados a vegetação, de tão fechada, era quase impenetrável. Já caminhara floresta adentro por dois ou três quilômetros quando se surpreendeu ao ver uma fraca luminosidade brilhando através da folhagem na beira do caminho, à sua esquerda. Aquela visão deixou-o atônito e seu coração começou a bater com toda força.

"A velha casa Breede fica perto daqui", disse para si mesmo. "Devo estar na outra extremidade do caminho que vai dar lá, saindo de nossa casa. Mas... por que será que há uma luz ali?”

De qualquer forma, seguiu em frente. Pouco depois, emergia da floresta, indo dar num pequeno espaço aberto, recoberto de espinheiros. Havia resquícios de uma cerca, semidestruída. A poucos metros da trilha, no meio da clareira, lá estava a casa de onde emanava a luz, através de uma janela sem vidros. A janela um dia tivera uma vidraça, mas esta, assim como a esquadria, tinha sido há muito destruída pelos projéteis arremessados por meninos aventureiros, dispostos a provar, a um só tempo, sua coragem e sua hostilidade às forças sobrenaturais. Sim, porque a casa Breede tinha a reputação maldita de ser uma casa mal-assombrada. Talvez não o fosse, mas nem mesmo o mais cético poderia negar que estava abandonada — o que, em zonas rurais, significa praticamente a mesma coisa.

Olhando para a luz misteriosa que emanava através da janela quebrada, o garoto lembrou-se, com certa apreensão, que sua própria mão contribuíra para aquela destruição. Claro que sua penitência, por tardia e inútil, seria terrível. De certa forma ele esperava ser punido por todos os espíritos maléficos e inomináveis que desafiara, ao ajudar a arrebentar-lhes as janelas e a paz. Mas nem assim o rapaz obstinado, que tremia da cabeça aos pés, fugiu. O sangue em suas veias era forte e rico em ferro, como o dos homens da fronteira. Pertencia à segunda geração daqueles que haviam dominado os índios. E seguiu em frente, pronto para passar em frente à casa.

No momento em que passava, olhando através do vão da janela, deu com um cenário estranho e aterrador — a figura de um homem sentado no meio da sala, diante de uma mesa onde havia algumas folhas de papel. Os cotovelos estavam sobre a mesa e as mãos sustentavam a cabeça, sem chapéu. De ambos os lados, os dedos estavam enfiados nos cabelos. À luz da única vela que brilhava a seu lado, o rosto do homem era de uma palidez cadavérica. A chama iluminava só um lado do rosto e o outro estava envolto pela escuridão. Seus olhos estavam fixos no vão da janela, com um olhar que um observador mais frio e mais experiente descreveria como de medo, mas que para o rapaz pareceu um olhar vazio, sem alma. Ele achou que o homem estava morto.

A situação era horrível, mas carregava algum fascínio. E o rapaz parou para olhar melhor. Sentia-se fraco, tremia, parecia a ponto de desmaiar. Podia sentir o sangue fugir-lhe do rosto. E contudo, trincando os dentes, avançou em direção à casa. Não sabia ao certo o que iria fazer — era a mera coragem provocada pelo terror. Enfiou o rosto pálido pelo vão iluminado da janela. Naquele instante, um grito agudo e estranho cortou o silêncio da noite — era o piado de uma coruja. O homem pôs-se de pé num pulo, derrubando a mesa e apagando a vela. E o rapaz saiu em disparada.

II

O dia anterior 

"Bom dia, Colston. Parece que estou dando sorte. Você já cansou de dizer que meus elogios a seu trabalho literário eram por pura educação e agora me encontra aqui absorto — na verdade completamente envolvido —, com sua última história no Messenger. Só mesmo seu toque no meu ombro me fez recobrar a consciência.”

"A prova é mais forte do que imagina", respondeu o outro. "Você está tão ansioso por conhecer a história que é capaz de renunciar às próprias considerações e estragar todo o prazer que poderia obter com ela.”

"Não estou entendendo", disse o leitor, dobrando o jornal e guardando-o no bolso. "Vocês, escritores, são muito esquisitos. Vamos lá. Conte-me o que foi que eu fiz ou deixei de fazer, Em que sentido o prazer que tiro, ou posso tirar, de seu trabalho depende de mim?”

"Em vários sentidos. Você gostaria de tomar seu café da manhã aqui neste bonde? E suponha que houvesse um fonógrafo tão perfeito que fosse capaz de reproduzir uma ópera inteira — o canto, a orquestração, tudo —, você acha que a ouviria com prazer em pleno escritório, durante o trabalho? Você seria capaz de apreciar uma serenata de Schubert tocada ao violino por um italiano inoportuno, no ferryboat matinal? Você está sempre disposto a se divertir? Está sempre atento, pronto para apreciar tudo? Permita-me lembrar-lhe, meu caro, que a história que acabou de me dar a honra de começar a ler, apenas como um artifício para esquecer o desconforto deste bonde, é uma história de assombração!”

"E daí?”

"E daí? Será que o leitor não tem também deveres, correspondentes a seus privilégios? Você pagou cinco centavos por esse jornal. É seu. Tem o direito de lê-lo quando e onde quiser. A maior parte do que está escrito nele não será afetada, para melhor ou para pior, pelo momento, local ou clima da leitura. Algumas notícias devem mesmo ser lidas de imediato — enquanto ainda têm gás. Mas minha história não é desse tipo, Não faz parte da lista de 'últimas novidades' da Terra Assombrada. Você não tem obrigação de estar atualizado acerca de tudo o que acontece nas regiões do além. Essa história se manterá até que você possa conceder à sua mente um momento de relaxamento, apropriado para apreender seu significado — e, com todo respeito, devo dizer-lhe que isto não pode ser feito dentro de um bonde, mesmo que você seja o único passageiro. Porque, ainda assim, a solidão será uma solidão inadequada. Um escritor tem direitos que o leitor deve respeitar.”

"Dê um exemplo específico.”

"O direito a ter uma atenção exclusiva por parte do leitor, negá-lo, seria imoral. Fazê-lo dividir a atenção com o barulho de um bonde, com as imagens corridas dos transeuntes nas calçadas, com os prédios passando — com milhares de outras distrações que compõem nosso ambiente habitual — é ameaçá-lo com uma injustiça grosseira. Por Deus, é infame!”

O escritor se pusera de pé, segurando-se em um dos apoios pendurados no teto do bonde. O outro olhava-o espantado, perguntando-se como uma ofensa tão banal podia justificar linguagem tão dura. Notou que o rosto do escritor estava extraordinariamente pálido, enquanto seus olhos brilhavam como carvões em brasa.

"Sabe bem o que quero dizer", continuou ele, atropelando as palavras, "sabe o que quero dizer, Marsh. O que escrevo nesse matutino traz o subtítulo 'Uma história assombrada'. Está mais do que claro. Qualquer um dos meus honrados leitores entenderá que com isso estão subentendidas as condições sob as quais o texto deve ser lido.”

O homem chamado Marsh estremeceu levemente e depois perguntou com um sorriso:

"Que condições? Você sabe muito bem que sou apenas um homem de negócios, do qual não se espera que entenda de determinados assuntos. Como, quando e onde devo ler sua história de assombração?”

"Em total solidão — à noite — sob a luz de uma vela. Há certas emoções que um escritor pode provocar com facilidade - como divertimento ou compaixão. Posso levá-lo às lágrimas ou a uma gargalhada em praticamente qualquer circunstância. Mas para que minha história de assombração tenha efeito, você precisa sentir medo — ou pelo menos uma forte sensação de sobrenatural—, e aí está algo difícil. Tenho o direito de esperar que, já que me lê, você deva me dar uma chance. E se disponha a sentir a emoção que estou tentando inspirar.”

O bonde acabara de chegar ao terminal e parara. A viagem recém terminada era a primeira do dia e a conversa dos dois passageiros madrugadores não fora interrompida. As ruas ainda estavam vazias, silenciosas. Os telhados das casas apenas começavam a receber a luz do sol. Assim que saltaram e começaram a caminhar juntos, Marsh observou seu companheiro, do qual se dizia, como aliás da maioria dos homens com rara habilidade literária, ser chegado a vários vícios destrutivos. É essa a vingança das mentes simples contra aquelas mais brilhantes, por se ressentirem de sua superioridade. O Sr. Colston era conhecido como um homem de gênio. Há almas honestas que acreditam serem os gênios uma espécie de excesso. Sabia-se que Colston não era de beber, mas muitos comentavam que ele usava ópio. Alguma coisa em sua aparência naquela manhã — um certo olhar selvagem, a estranha palidez, a maneira de falar, rápida e rouca — parecia ao Sr. Marsh confirmar tais comentários. Mas ele não abandonaria um assunto que achava interessante, por mais que isso deixasse seu amigo agitado.

"Você quer dizer", falou, "que se eu me desse ao trabalho de seguir seus conselhos — criando as condições pedidas: solidão, noite, um toco de vela —, você e sua história assombrada seriam capazes de provocar em mim a sensação desconfortável do sobrenatural, como você chama? Você acha que seria capaz de acelerar meu pulso, de me fazer levantar de um pulo ao ouvir um ruído, de sentir um arrepio nervoso percorrer minha espinha, fazendo meu cabelo arrepiar-se?”

Colston virou-se de repente, encarando o outro, à medida que andavam.

"Você não ousaria. Não teria coragem", disse. Enfatizou a frase com um gesto de desdém. "Você é corajoso o suficiente para me ler num bonde, mas numa casa abandonada, sozinho, no meio da floresta, e à noite? Ah! Tenho aqui no bolso um manuscrito que seria capaz de matá-lo!”

Marsh zangou-se. Considerava-se corajoso e aquelas palavras mexeram com ele.

"Se você conhece um lugar assim", disse, "leve-me até lá hoje à noite e deixe-me com sua história e um toco de vela. Vá me procurar quando achar que já deu tempo de ler o texto, que vou lhe contar o enredo todo — e botar você para correr!”

E foi assim que o jovem fazendeiro, olhando através do vão da janela da casa Breede, viu um homem sentado sob a luz de uma vela.

III

O dia seguinte 

Na tarde seguinte, três homens e um rapaz se aproximaram da casa Breede pelo mesmo local de onde, na noite anterior, viera o jovem fazendeiro. Os homens estavam alegres. Falavam alto e riam. Faziam piadas e comentários irônicos sobre a história que o rapaz contara, na qual evidentemente não acreditavam. O garoto aceitava a provocação sério, sem responder. Tinha uma noção apropriada das coisas e sabia muito bem que quando alguém conta que viu um homem morto levantar-se de sua cadeira e apagar uma vela ninguém acredita nele.

Ao chegarem, e encontrando a porta destrancada, os investigadores entraram sem qualquer cerimônia. No corredor junto à entrada havia duas outras portas, uma à direita e uma à esquerda. Penetraram no aposento da esquerda — aquele que tinha a janela dando para a frente. E encontraram o cadáver de um homem. Estava caído meio de lado, com o braço esticado sob o corpo e o rosto contra o chão. Os olhos estavam arregalados. E o olhar que tinha não era um espetáculo agradável. Com a mandíbula caída, escorria de sua boca um fio de saliva, formando uma pequena poça.

Uma mesa derrubada, um toco de vela, uma cadeira e algumas folhas de papel manuscritas eram os únicos outros objetos do aposento. Os homens observaram o corpo, tocando-lhe o rosto. O rapaz olhava tudo com gravidade, quase com um olhar de posse. Nunca na vida se sentira tão orgulhoso. Um dos homens virou-se para ele.

"Você é dos bons" — comentário que foi recebido pelos outros dois com sinais de concordância. Era o Ceticismo pedindo desculpas à Verdade.

Em seguida, um dos homens apanhou do chão os papéis manuscritos e encaminhou-se até a janela, porque as sombras da noite já começavam a descer sobre a floresta. O som do bacurau já se fazia ouvir a distância e um besouro gigantesco voejou junto à janela com suas asas ruidosas, desaparecendo em seguida. E o homem leu.

IV

O manuscrito 

"Antes de cometer o ato sobre o qual, certo ou errado, estou decidido, e de apresentar-me diante de meu Criador para julgamento, eu, James R. Colston, na qualidade de jornalista, sinto-me no dever de dar um testemunho a meu público. Meu nome é, ao que sei, razoavelmente conhecido como escritor de contos trágicos, mas nem a imaginação mais sombria seria capaz de conceber algo mais terrível do que a história de minha própria vida. Não pelo que tenha acontecido: minha vida tem sido destituída de aventuras ou ação. Mas minha carreira mental tem sido ensombrecida por assassinatos e maldições. Não vou contá-los aqui — alguns deles já estão escritos e prontos para publicação em outro lugar. O objetivo destas linhas é explicar a quem interessar possa que minha morte é voluntária — resultado de minha própria vontade. Deverei morrer à meia-noite do dia 15 de julho — uma data significativa para mim, já que foi nesse dia, e nessa hora, que meu amigo, no tempo e na eternidade, Charles Breede, fez a mim seu juramento, cometendo o mesmo ato ao qual, por sua fidelidade a nosso pacto, sinto-me agora obrigado. Ele se matou em 85 sua casa na floresta de Copeton. Houve o veredicto de sempre atestando 'insanidade temporária'. Tivesse eu testemunhado naquele inquérito — tivesse eu contado tudo o que sabia, e eles me teriam classificado de louco.”

Seguia-se uma passagem evidentemente longa que o homem com o manuscrito leu para si. O restante, leu em voz alta:

"Ainda tenho uma semana de vida para tomar todas as providências e preparar-me para a grande transformação. É o bastante, pois tenho poucos negócios e já faz quatro anos que a morte se tornou para mim uma obrigação imperativa. Deixarei este manuscrito ao lado de meu corpo. Quem o encontrar, por favor, leve-o ao juiz.”

James R. Colston.

"P. S.—Willard Marsh: neste dia fatal de julho, passo a suas mãos o manuscrito, para ser aberto e lido nas condições acordadas, bem como no local por mim designado. Desisto de deixar este manuscrito junto a meu corpo para explicar as circunstâncias de minha morte, já que isso não tem importância. Ele servirá para explicar as circunstâncias da sua. Vou ter com você durante a noite para me assegurar de que leu o texto. Você me conhece bem e sabe que o farei. Mas, meu caro amigo, eu o farei depois da meia-noite. Que Deus tenha piedade de nossas almas!”

J. R. C.

Enquanto o homem lia o manuscrito, a vela havia sido apanhada do chão e acesa. Quando a leitura terminou, ele calmamente levou o papel em direção à chama e, apesar dos protestos dos outros, manteve-o ali até que se transformasse em cinzas. O homem que fez isso, e que mais tarde receberia sem reagir uma severa reprimenda do juiz, era genro do finado Charles Breede. Durante o inquérito, não foi possível esclarecer o que havia escrito naquele papel.

V

Do Times 

"Ontem, a Delegacia de Insanidade recolheu ao asilo o Sr. James R. Colston, um conhecido escritor local que colaborava com o Messenger. Deve ser lembrado que na noite do dia 15 passado, o Sr. Colston foi entregue à polícia por um de seus companheiros de quarto na Pensão Baine, segundo o qual ele agia de forma muito suspeita, desnudando o pescoço e molhando uma lâmina — depois de testar se estava afiada —, passando-a na pele do braço etc. Ao ser entregue à polícia, o infeliz opôs forte resistência e desde então tem estado tão violento que foi preciso encerrá-lo numa camisa-de-força. Nossos outros estimados escritores da atualidade continuam, na maioria, à solta.”


Visões da Noite / Ambrose Bierce; organização e tradução Heloísa Seixas; ilustrações Mozart Couto. - Rio de Janeiro: Record, 1999.