sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Peter Cushing


Peter Cushing (Surrey, 26 de maio de 1913 — Canterbury, 11 de agosto de 1994), filho de George Edward Cushing e Nelli Marie, morou parte da infância num subúrbio de Londres, retornando, porém, a Surrey, onde o pai trabalhava como agrimensor.

Desde cedo afeito à representação, a que foi levado por uma tia, que era atriz, dedicou-se ainda ao desenho. Trabalhou como ajudante de agrimensura, usando os dotes para o desenho, ao tempo em que atuava no teatro local. Mudando-se para Londres, ali cursa a Escola Municipal de Música e Drama.

Atuou no teatro londrino até mudar-se para Hollywood, em 1939, onde atuou em O homem da máscara de ferro, neste mesmo ano. Atuou em diversos filmes, e sua carreira foi mais destacada com os papéis de Sherlock Holmes e como Van Helsing, nas películas da Hammer Film Productions.

Em 1985, o diretor Tom Holland inspirou-se nele e em Vincent Price para criar o caçador de vampiros Peter Vincent, do filme A Hora do Espanto (Fright Night). Em 1989 recebeu o título de oficial do Império Britânico.

Dez anos sem o cavalheiro do Horror

(por Marcello Simão Branco)

Há pouco mais de uma década, em 11 de agosto de 1994, falecia o ator inglês Peter Cushing, um dos ícones do cinema de horror. Uma das características mais curiosas de sua carreira foi ter atuado em vários filmes do gênero sem quase nunca ter sido o vilão principal. Este papel coube na maioria das vezes ao seu amigo e parceiro Christopher Lee. Ao "cavalheiro do horror" ficou a tarefa de combater monstros, lobisomens, alienígenas e principalmente vampiros. Tudo à sua maneira, é claro, pois ele não era o tipo galã que provocava suspiros na platéia: apesar de lutar contra o mal, era um intelectual emocionalmente reprimido, excêntrico, circunspecto e, acima de tudo, britânico.

Nascido em 26 de maio de 1913 na cidadezinha de Kenley, Inglaterra, Cushing estudou teatro nas melhores escolas, atuou como assistente de direção durante alguns anos até sua estréia em 1935 na peça The Middle Watch.

Já à época era um fã dos filmes de horror americanos da Universal Pictures, e então atravessou o Atlântico e foi tentar a sorte em Hollywood. Sua experiência não foi das mais bem sucedidas, atuando em papéis coadjuvantes em algumas comédias da dupla O Gordo e o Magro.

Sua estréia no cinema aconteceu em 1941 no filme The Man in the Iron Mask. No mesmo ano, estreou em Hollywood na produção de Vigil in the Night. Mas rolava a Segunda Guerra Mundial e ele acabou recrutado para atuar numa série de curta-metragens pró-aliados como parte do esforço de guerra.

Pelo fim dos anos 40 Cushing voltou aos palcos londrinos, mas foi no filme de Sir Lawrence Olivier que ele se destacou como um dos personagens de Hamlet, de Shakespeare. A seguir atuou em algumas produções inglesas sempre com papéis cada vez mais complexos. Até que em 1954 foi aclamado por sua atuação como o atormentado Winston Smith, na adaptação da TV inglesa do romance 1984 de George Orwell.

Glória na Hammer

Por essa época estava nascendo na Inglaterra uma nova escola de cinema de horror, a Hammer Films. Apesar de produções modestas, remodelou o gênero bastante desgastado com as produções da Universal dos anos 30 e 40. Entre suas principais virtudes e inovações, havia a ênfase na fotografia excessivamente colorida, quase berrante, a música tocada ao som de órgãos e outros instrumentos pouco usuais, recontando velhos clássicos de uma maneira mais violenta, sensual e com um clima gótico muito eficiente.

Mas foi, sobretudo, com atores carismáticos que a Hammer fez história. Houve um grupo deles, mesmo os coadjuvantes, mas os dois astros foram o vilão Christopher Lee e o cavalheiro Peter Cushing. Parceiros de atuação e antagonistas nas histórias, um completava o outro, com charme, talento e alguma dose de ironia, de não levar totalmente a sério os papéis que desempenhavam. A eles merece igual destaque o diretor Terence Fisher, o grande artesão e estilista da maneira Hammer de contar uma história de horror.

E foram vários os sucessos da produtora, a começar com A Maldição de Frankenstein (1957), O Vampiro da Noite (1958), O Cão dos Baskervilles (1959), A Múmia (1959), A Górgona (1964), Ela (1965) - este último estrelado pela suprema bondgirl Ursula Andrews, como uma estranha e poderosa mulher de uma ilha esquecida, baseado num romance do criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs - e outros verdadeiros clássicos do cinema de horror.

Assim, coube a Cushing interpretar o Barão Victor Frankenstein, o caçador de vampiros Van Helsing, um arqueólogo idealista às voltas com a maldição da múmia e até Sherlock Holmes. Sempre mantendo intactas suas peculiaridades exóticas, aristocráticas, soturnas. Características parecidas com sua própria pessoa.

Peter Cushing é muito lembrado também como o cientista louco de dois filmes para o cinema da série de ficção científica inglesa da BBC, A Guerra dos Daleks, uma série de TV que não foi até hoje exibida no Brasil. Trata-se de uma legenda da TV inglesa sendo exibida por mais de dez anos ininterruptos. O longa-metragem é de 1965 e nessa época Cushing ainda interpretava vários papéis para a Hammer.

Além de sua longa interpretação como Dr. Who, é bom ressaltar que atuou também em dezenas de telefilmes, com especial destaque para a produção The Caves of Steel (1964) - raríssima -, uma adaptação do bom romance Caça aos Robôs, de Issac Asimov. Cushing interpretou o protagonista, o investigador Elijah Baley.

No início dos anos 70, ele mudou de produtora. Com a decadência da Hammer, foi para a rival (e não tão brilhante) Amicus e emprestou seu talento a bons filmes, como A Casa que Pingava Sangue (1970) - quatro histórias curtas, baseadas em contos de Robert Bloch - , O Expresso do Horror (1972) e A Essência da Maldade (1973). Estes dois últimos falando, coincidentemente, de monstros há muito esquecidos das estepes siberianas e de ilhas indonésias. Todos, ao lado do parceiro e vilão Lee, que também mudou de produtora.

Da mesma maneira que a fórmula de filmes de horror foi usada à exaustão pela Universal Pictures, o mesmo fez a Hammer. Resultado: filmes cada vez piores, bilheterias menores, cancelamento de novas produções, desemprego para a maioria dos atores. E Cushing atuou em 'pérolas', algumas curiosas até pelo título, como por exemplo, Drácula no Mundo da Mini-Saia, de 1972.

Desta forma, a exemplo dos astros Bela Lugosi e Boris Karloff, que pagaram um alto preço nos anos 50 e 60 por trabalharem em várias produções de horror de má qualidade, caminho parecido seguiram os ídolos ingleses Peter Cushing e Christopher Lee, atuando em vários filmes ruins no início dos anos 70, para em seguida verem minguar os convites para atuarem em produções de melhor qualidade.

Afora a queda dos bons personagens para interpretar, Cushing sofreu um duro golpe em 1971, quando morreu sua mulher Helen Cushing. O ator era muito apegado a ela, a amava de uma maneira intensa, e o declínio de sua carreira também pode ter sido motivado pela perda da esposa.

Mesmo assim, corria o ano de 1977 e um jovem cineasta hollywoodiano, deu o último papel digno a Cushing. O diretor era George Lucas, que foi filmar na Inglaterra (pois os cachês eram mais baratos) e fazer história com a space-opera Guerra nas Estrelas. Cushing interpretou o personagem maligno de Grand Moff Tarkin, comandante de Darth Vader nas forças do Império.

No conjunto de sua filmografia, Peter Cushing brilhou no clássico de Lucas e é saudado como o Dr. Who pelos fanáticos fãs desta série inglesa. Mas dez anos após sua morte o que melhor representa sua carreira são os personagens que fez para a Hammer. Sherlock Holmes, o Barão Victor Frankenstein e, sobretudo, o Professor Van Helsing, são as principais facetas daquele que está justamente imortalizado como o gentleman of horror.

Os Principais Filmes de Peter Cushing

O ator teve uma carreira bastante longa de 47 anos, onde atuou em 133 produções, entre cinema e TV. Segue uma listagem básica, com os principais filmes.

1939: The Man in the Iron Mask
1940: Vigil in the Night
1948: Hamlet (Hamlet)
1954: 1984 (1984)
1956: Alexandre, o Grande (Alexander the Great)
1957: A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein)
1957: O Monstro do Himalaia (The Abominable Snowman)
1958: O Vampiro da Noite (Horror of Dracula)
1958: A Vingança de Frankenstein (Revenge of Frankenstein)
1959: O Cão dos Baskervilles (The Hound of the Baskervilles)
1959: A Múmia (The Mummy)
1959: A Carne e o Diabo (The Flesh and the Fiends)
1960: As Noivas de Drácula (The Brides of Dracula)
1962: The Man who Finally Died
1964: O Monstro de Frankenstein (The Evil of Frankenstein)
1964: The Caves of Steel
1964: A Górgona (The Gorgon)
1965: As Profecias do Dr. Terror (Dr. Terror's House of Horrors)
1965: Ela (She)
1965: The Skull
1965: A Guerra dos Daleks (Dr. Who and the Daleks)
1966: Ilha do Terror, A (Island of Terror)
1967: E Frankenstein Criou a Mulher (Frankenstein Created Woman)
1967: As Torturas do Dr. Diábolo (Torture Garden)
1969: Frankenstein Tem de Ser Destruído (Frankenstein Must Be Destroyed)
1969: Grite, Grite Outra Vez (Scream and Scream Again)
1970: Carmilla, a Vampira de Karnstein (The Vampire Lovers)
1970: A Casa que Pingava Sangue (The House that Dripped Blood)
1971: O Soro Maldito (I, Monster)
1971: As Filhas de Drácula (Twins of Evil)
1972: Contos do Além (Tales From the Crypt)
1972: Um Grito Dentro da Noite (Fear in the Night)
1972: Terror na Penumbra (Nothing But the Night)
1972: A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes (Dr. Phibes Raises Again)
1972: Asilo Sinistro (Asylum)
1972: Drácula no Mundo da Mini-Saia (Dracula A.D.)
1973: A Lenda do Lobisomem (Legend Of The Werewolf)
1973: Os Gritos que Aterrorizam (And Now the Screaming Starts!)
1973: A Essência da Maldade (The Creeping Flesh)
1973: O Expresso do Horror (Horror Express)
1973: Vozes do Além (From Beyond the Grave)
1974: Os Ritos Satânicos de Dracula
1974: A Casa do Terror (Madhouse)
1974: A Lenda dos Sete Vampiros (The Legend of the Golden Vampires)
1974: A Fera Deve Morrer (The Beast Must Die)
1975: O Carniçal (The Ghoul)
1976: No Coração da Terra (At the Earth's Core)
1977: Shock Waves
1977: Maldição dos Gatos, A (The Uncanny)
1977: Guerra nas Estrelas (Star Wars)
1980: O Mistério da Ilha dos Monstros (The Mystery of Monster Island)
1983: A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows)
1986: Adventures in Time

Fontes: Wikipédia - A Enciclopédia Livre; Peter Cushing

Boris Karloff


Ao interpretar em 1931 a lendária criatura de Frankenstein, Boris Karloff (Dulwich, Londres, 23 de novembro de 1887 - Sussex, 2 de fevereiro de 1969) consagrou-se como um imortal mito do cinema de horror, juntamente com Lon Chaney e Bela Lugosi.

Esses ícones do horror marcaram seus nomes na história por suas marcantes interpretações nas décadas de 1920, 30 e 40, e somados a Vincent Price, Peter Cushing, John Carradine e Christopher Lee (único ainda vivo), estes a partir dos anos 50, construíram as bases do gênero as quais permanecerão para sempre.

Apesar de um pouco menos de um terço de seus 156 filmes (entre mudos e sonoros) serem de horror, Boris Karloff é considerado um personagem eterno do gênero.

Nasceu em 23 de novembro de 1887, no subúrbio londrino de Camberwell. Vindo de uma família de classe média, seu nome de batismo foi William Henry Pratt. Sua família era composta ainda por mais sete irmãos e uma irmã e seus pais morreram ainda na sua infância.

Em maio de 1909 ele foi para o Canadá tentar a carreira de ator. Nessa época criou seu nome artístico e tão conhecido pelo público. Segundo ele, o nome Karloff veio dos ancestrais russos pelo lado de sua mãe e Boris foi escolhido ao acaso.

Trabalhou em teatro e rádio até que finalmente em 1919 fez seu primeiro filme, então com 32 anos de idade, "His Majesty, the American" (United Artists), um filme mudo dirigido por Joseph Henabery, onde Karloff aparece apenas como um figurante numa história de aventura.

A partir daí ele apareceu em outros 48 filmes mudos e 15 sonoros, até consagrar-se em 1931 atuando como o monstro do cientista louco Frankenstein, uma criatura formada a partir de restos de cadáveres humanos, no clássico dirigido por James Whale, "Frankenstein". Esse filme, que inicialmente seria dirigido por Robert Florey e estrelado por Bela Lugosi (que acabava de atuar em "Drácula"), foi mudado na última hora e chamaram Karloff para o papel do monstro e Florey e Lugosi acabaram fazendo "The Murders in the Rue Morgue", baseado em Edgar Allan Poe .

Contando com a ajuda importante do maquiador da Universal, Jack Pierce, a criatura de Frankenstein tornou-se assustadora e fascinou o público. O filme foi um grande sucesso de bilheteria e arrecadou cerca de 12 milhões de dólares, superando em muito a modesta produção de 250 mil dólares.

Nos anos seguintes Karloff foi muito requisitado, principalmente pela Universal, e estrelou diversos outros clássicos como "The Old Dark House" (1932), onde interpretou um mordomo mudo e assassino de um casarão gótico, "A Múmia" (1933), personificando uma múmia egípciade 3700 anos que revive na Inglaterra, e no mesmo ano atuou em "The Ghoul", primeiro trabalho com produção inglesa, interpretando um professor que morre e retorna à vida como um zumbi. Foi só em 1935 que Karloff voltou ao papel do monstro em "A Noiva de Frankenstein", outro sucesso superando até o original de 1931, fechando a trilogia em 1939 com "O Filho de Frankenstein", e nunca mais atuando como a famosa criatura que o imortalizou.

Entre o fim da década de 30 e início dos anos 40, realizou vários filmes pela Columbia interpretando cientistas loucos em meio as suas macabras experiências, como podemos ver em películas como "The Invisible Ray" (O Raio Invisível, 1936), onde Karloff descobre um raio poderoso que o transformou num assassino, "The Man They Could Not Hang" (1939), sobre um coração mecânico, "The Man With Nine Lives" (1940), com o tema da cura do câncer por congelamento, "Before I Hang" (1940), tratando do rejuvenescimento, "The Devil Commands" (1940), sobre pesquisas das ondas cerebrais de pessoas mortas, e em "The Boogie Man Will Get You" (1942), onde o ator cria uma máquina de transformar super-homens.

Em "A Casa de Frankenstein" (1944), ele interpretou um cientista louco (de novo!) que foge da prisão e ressuscita Drácula (John Carradine), Lobisomem (Lon Chaney Jr.) e a criatura de Frankenstein (Glenn Strange), mostrando um argumento no mínimo curioso.

Ainda na década de 40, Karloff fez uma série de filmes pela RKO em parceria com o produtor Val Lewton. O resultado foi uma série de pequenas obras-primas do horror como "O Túmulo Vazio" (The Bodysnatcher, 1945) com Bela Lugosi e sendo o último trabalho deles juntos, "Isle of the Dead" (1945) e "Bedlam" (1946).

Os anos 50 foram fracos para o ator com nenhum filme marcante. Ele fez alguns trabalhos de humor negro com a dupla de comediantes Abbott e Costello, e em 1958 interpretou o cientista em "O Castelo de Frankenstein" (Frankenstein 1970) com Mike Lane dessa vez no papel da criatura.

Agora é a vez de Roger Corman e sua produtora "American International", que a exemplo de Val Lewton nos anos 40, fez parceria com Karloff na década de 60 e rodaram juntos vários filmes ao lado de grandes atores como Basil Rathbone, Vincent Price, Peter Lorre e Jack Nicholson. Dessa parceria saíram grandes jóias do humor negro como as produções de 1963 "O Corvo" (The Raven), "Farsa Trágica (The Comedy of Terrors) ou ainda "Sombras do Terror" (The Terror), onde neste interpretou um velho barão recluso em sua mansão macabra.

Em 1964 apresentou "Black Sabbath", dirigido pelo cineasta italiano especialista em horror Mario Bava e dividido em 3 episódios onde Karloff também interpretou um deles como um vampiro, e em 1965 fez "Morte Para Um Monstro" (Die, Monster, Die!) baseado em história de H. P. Lovecraft. Já em 1968 estrelou "Na Mira da Morte" (Targets), fazendo um ator de filmes de horror (seu alter-ego), dirigido por Peter Bogdanovich e um de seus últimos filmes.

A partir daí, já bastante idoso, o estado de saúde de Karloff declina fortemente, com graves problemas respiratórios que o levaram à morte em 2 de fevereiro de 1969, na Inglaterra, aos 81 anos de idade. Mesmo após a sua morte, vários filmes foram lançados em 1970-71 e que ele havia rodado em 1967-68. "A Maldição do Artar Escarlate" (The Crimson Cult, 1970) com Christopher Lee e história baseada em H. P. Lovecraft, e "Cauldron of Blood" (1971) foram filmados com Karloff preso a uma cadeira de rodas, devido ao precário estado de saúde.

E em 1971 foram lançados quatro filmes com produção mexicana, onde Karloff filmou sua participação nos Estados Unidos com as cenas sendo montadas posteriormente no México. Dessa série de filmes, que tornaram-se grande raridade e cultuados, destaca-se "Serenata Macabra" (House of Evil) onde interpretou um velho milionário que convoca seus parentes para a divulgação de seu testamento. O último trabalho da carreira de Karloff foi na série de TV "The Name of the Game" com o episódio "The White Birch" em 29 de novembro de 1968.

No total foram 156 filmes de vários gêneros ao longo de 50 anos de carreira, além de aproximadamente 90 aparições em 75 programas de televisão diferentes, entre shows e séries. Toda essa vasta filmografia e suas interpretações marcantes que fizeram a história do cinema fantástico ao longo desse século, manterão sempre viva sua imagem de eterno imortal do horror.

Principais filmes de Boris Karloff

* Frankenstein (Frankenstein, 1931)
* The Old Dark House (1932)
* A Múmia (The Mummy, 1932)
* The Ghoul (1933)
* O Gato Preto (The Black Cat , 1934)
* A Noiva de Frankenstein (The Bride of Frankenstein, 1935)
* The Black Room (1935)
* O Corvo, 1935)
* O Raio Invisível (The Invisible Ray, 1936)
* The Walking Dead (1936)
* The Man Who Lived Again (1936)
* O Filho de Frankenstein Son of Frankenstein, 1939)
* The Man They Could Not Hang (1939)
* Before I Hang (1940)
* The Man With Nine Lives (1940)
* The Devil Commands (1940)
* The Boogie Man Will Get You (1942)
* A Casa de Frankenstein (1944)
* O Túmulo Vazio (The Bodysnatcher, 1945)
* Isle of the Dead (1945)
* Bedlam (1946)
* Monster of the Island (1953)
* O Castelo de Frankenstein (Frankenstein 1970, 1958)
* O Corvo (The Raven, 1963)
* Sombras do Terror (The Terror, 1963)
* Farsa Trágica (The Comedy of Terrors, 1963)
* Black Sabbath (1964)
* Morte Para Um Monstro (Die, Monster, Die!, 1965)
* Na Mira da Morte (Targets, 1968)
* A Maldição do Altar Escarlate (The Crimson Cult, 1970)
* The Snake People (1971)
* Invasão Sinistra (The Incredible Invasion, 1971)
* A Câmara do Terror (The Fear Chamber, 1971)
* Serenata Macabra (House of Evil, 1971)

Fonte: Bóris Karloff

Mary Shelley

Mary Wollstonecraft Shelley (Londres, 30 de agosto de 1797 - idem, 1 de fevereiro de 1851), mais conhecida por Mary Shelley foi uma escritora britânica, filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft.

Sua mãe morreu ao dar a luz a ela. Ela foi então criada pelo pai e pela sua madrasta, que a odiava. Sua irmã era depressiva e cometeu suicídio; na família havia também dois irmãos.

Ela conheceu o poeta Percy Bysshe Shelley em 1813. Ele tinha apenas 20 anos, mas já era casado - e infeliz no casamento. Ela e ele casaram-se depois do suicídio da primeira esposa. Seu pai deserdou-a por isso.

O casal teve quatro filhos, mas apenas um viveu bastante. Em 1822 seu marido morreu, e então a vida de mary terminou.

Embora ela tenha vivido por mais trinta anos, nunca mais teve a mesma chama, como quando na companhia de seu brilhante marido e seus amigos, como o poeta Lorde Byron.

A obra mais famosa é Frankenstein escrita entre 1816 e 1817. O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental.

Fonte: Wikipédia - A Enciclopédia Livre.

Mary Shelley - Ensaio

Aos 25 anos, você já é um grande poeta. Os críticos o adoram e, a cada novo poema seu, eles o comparam a Keats e Lord Byron. A imortalidade o espera, e você até já mandou fazer uma roupa nova para o retrato que aquele famoso artista insiste em pintar. Um dia, a sua mulher descobre que há mais coisas na vida do que passar o dia posando de musa, e resolve escrever um livro.

Você está muito ocupado lendo os próprios poemas para se interessar pelo que ela escreveu. Cento e cinqüenta anos depois, ambos já morreram, e agora só os poetas amadores e os leitores profissionais sabem que você foi uma glória da literatura. Em compensação, o mundo inteiro já leu e vai continuar lendo Frankenstein, o livro da sua mulher. Ah, Shelley, se tivesse sido tão bom adivinho quanto poeta, terias aproveitado quando Mary foi lá dentro lavar os pratos, para dares uma espiada no manuscrito.

Quando Mary Shelley escreveu Frankenstein, em 1818, tinha 21 anos. Com pouco menos teria sido barrada pelo porteiro. Nada de estranho nisso. Considerando-se os seus antecedentes e a entourage em que vivia, o espantoso é que ela não o tenha escrito mais cedo. Vejam agora se a vida de Mary Shelley não daria o perfeito romance gótico. Seu pai, William Godwin, influenciou toda a geração de 1790, com algumas idéias que pediu emprestado a Rousseau e que nunca se lembrou de devolver.

Sua mãe, Mary Wollstonecraft (ou seja, a avó de Frankenstein), foi uma das primeiras feministas da História, autora de uma famosa Declaração dos direitos da mulher, e só não queimou espartilhos em praça pública porque tinha vergonha de sair exibindo suas peças íntimas pela rua. Ela morreu quando Mary nasceu, em 1797, e o velho Godwin, depois de percorrer em vão terras distantes em busca de uma noiva, acabou se casando com uma vizinha, a Sra. Clairmont, a qual o viu na janela e o laçou com a seguinte cantada: “Será possível que eu esteja a contemplar o imortal Godwin?” O que era apenas uma força de expressão porque, embora célebre, Godwin já estava naquele tempo mais para moribundo do que para imortal. Seja como for, ela ainda lhe deu outra filha, Jane, que viria a ser a amante de Lord Byron.

Em 1811, logo após ser expulsa de Oxford, Shelley se casara com Harriet Westbrook, uma dondoca londrina. Ele com 19, ela com 16. O casamento foi um fracasso desde o começo, porque Harriet achava Shakespeare muito mais poeta do que Shelley, e escolhia os momentos mais impróprios para lhe dizer isto. Esta brincadeira durou três anos — até Shelley ser introduzido na casa de Godwin. As testemunhas afirmam que foi amor à primeira vista: Shelley olhou para Mary, que olhou para Shelley, que foi examinado dos pés à cabeça por Godwin, o qual não gostou nada da história. Mas Shelley puxou um revólver, e Godwin, que sempre pregara o primado da razão sobre todas as coisas, preferiu não discutir. Shelley e Mary zarparam em ilícita lua-de-mel para Paris, com a Sra. Godwin nos calcanhares. Despistaram-na na Suíça, onde Mary botou Frankenstein para dormir, e pularam grandes carnavais em Veneza, na companhia de Lord Byron, entre outros nudistas e vegetarianos. Já então Byron estava de amores com Jane Clairmont, a outra filha de Godwin — e este, mais do que nunca, sabia agora por que Platão não admitia poetas na sua República.

Dois anos depois, Harriet, a primeira mulher de Shelley, foi encontrada morta, boiando num rio. Shelley apresentou vários álibis diferentes, todos perfeitos, e pôde finalmente se casar com Mary, para grande satisfação de Godwin, que nunca aplicou na prática as suas teorias sobre o amor livre. E só não se pode dizer que foram felizes para sempre porque Shelley, que já havia driblado várias gripes (dessas mortais em poetas), acabou morrendo em 1822, aos 30 anos, naufragando nas costas da Itália a bordo de um veleiro chamado Don Juan. O corpo de Shelley foi jogado à praia, em Viareggio, ali ficando enterrado pelo vento e areia durante mais de um mês. Pouco antes, Aleggra, a filha de Byron e Jane, também morrera de tifo. E daí a dois anos seria a vez do próprio Byron. Mary ficou sozinha, com seus fantasmas, para contar a história. O que teve tempo de sobra para fazer, pois só morreu em 1851, aos 54 anos, e mesmo assim de tédio — um recorde, na época.

Mas não se pense que toda a vida de Mary Shelley tenha sido um romance gótico, com seqüestros, amantes no armário, acessos de tosse e baratos de ópio. Foi também muita cultura, muita filosofia. Frankenstein, apesar de todos os sustos, era um livro sério quando foi escrito, e só começou a perder a seriedade quando os leitores também começaram a perder a inocência. (Parece que agora começaram a recuperá-la.) Frankenstein é um coquetel das idéias de Rousseau, através de Godwin, da mitologia grega e de preocupações religiosas — tudo isto com uma cereja gótica por cima. Está cheio de implicações metafísicas sobre Deus e o homem, e, principalmente, daquelas conotações sociais vigentes em 1818 — como, por exemplo, se era mesmo o pecado original o responsável pelas mazelas humanas, ou se o homem nascia bom e era a sociedade que o corrompia. A segunda hipótese, na qual Mary apostava timidamente, já estava ganhando por vários corpos de frente, mas ninguém se atrevia a botar a mão no fogo.

O fogo que Prometeu roubou de Zeus para levar aos homens também é um dos motivos subjacentes em Frankenstein. Zeus, o profeta do óbvio, achava que os homens ainda não eram bastante sábios para possuir o fogo, porque do fogo se fundem os metais, e dos metais tanto pode surgir a civilização, como podem ser fabricadas as armas que significam a guerra e a destruição. No fundo, apenas uma maneira diferente de contestar a fábula do pecado original, e de insinuar que não há nada como uma boa sociedade injusta para estragar um produto perfeito na origem, ou seja, o homem. Esta é simplesmente a história de Frankenstein e, não por coincidência, o título completo do livro de Mary Shelley é Frankenstein, ou o moderno Prometeu. Eu só queria saber se ela estava pensando em tudo isto ao escrever a sua historinha de terror, ou se foram os críticos que, habituados a extrair sangue de pedra, descobriram essas implicações. Nenhuma dúvida. Se os críticos tivessem tanta imaginação, estariam escrevendo os romances que criticam.

Experimente desligar a sua TV a cores por alguns minutos para reproduzir a espécie, e você verá como é fácil criar um ser à sua imagem e semelhança (ou da sua mulher). Agora, tente fazer isto numa mesa de laboratório, usando restos de cadáveres, e o que sairá? Robert Redford? Não. Boris Karloff. (Se você viu o filme, não vale.)

Ao contrário de Drácula — aquele seu colega de repartição que vivia se gabando dos antepassados hunos, vikings, saxões e magiares —, o ser criado pelo cientista Victor Frankenstein num laboratório em Ingolstadt não tinha história. Sua dinastia começava com ele. Tudo teve início quando Frankenstein se decidiu a aplicar alguns conhecimentos teóricos de fisiologia e filosofia natural, a fim de descobrir se o princípio que animava a estrutura do corpo humano sobrevivia, depois que o indivíduo baixava os sete palmos. Revoltava-o a corrupção da matéria inanimada e o fato de que “o verme era o herdeiro das maravilhas de um olho ou de um cérebro”. Incentivado por uma série de pesquisas prévias, Frankenstein pôs-se enfim ao trabalho de criar um ente, a partir de materiais roubados em túmulos, casas funerárias e laboratórios de dissecação.

O trabalho não era fácil: ele teria não só que dar animação à matéria, como preparar toda uma estrutura para recebê-la, com seus complexos de fibras, músculos e veias. Para que o leitor não dormisse nos primeiros capítulos, Mary Shelley omitiu a maior parte dos processos científicos que Frankenstein teria usado para levar adiante o projeto. A própria necessidade de violar sepulturas e dissecar cadáveres é apenas sugerida pela narrativa: os mais mórbidos podem suspeitar da origem do material pelas constantes exclamações de asco do cientista ao lidar com ele.

Como a extrema minúcia da mais insignificante das partes do organismo lhe trazia grandes dificuldades, Frankenstein resolveu o problema criando um indivíduo de estatura gigantesca, cerca de dois metros e meio. O tempo gasto na criação é medido na narrativa pelas estações se alternando, enquanto Frankenstein trabalha em seu laboratório, isolado do resto da casa. Dois anos, a obra-prima fica pronta, e Frankenstein, encontrando os óculos que perdera no inverno passado, pode finalmente contemplar o resultado do seu trabalho. E, naturalmente, fica horrorizado com a aparência física da sua criação: olhos aquosos e amarelados, pele enrugada, beiços retos e negros, estatura descomunal, membros desproporcionados. (Pitanguy já deu jeito em coisa pior.) O insano entusiasmo com que Frankenstein se entregara ao trabalho é agora superado por um súbito acesso de náusea e lucidez. Seguem-se várias considerações filosóficas sobre o Direito da Criação, não faltando sequer uma carapuça para a criação divina. Enquanto isto, Frankenstein foge apavorado e o monstro se evade.

Em seu espontâneo exílio, Frankenstein pode finalmente se entregar às delícias de uma tensão nervosa e passa vários meses em recuperação. Nunca mais ouve falar no monstro. Anos depois, regressa a Genebra, onde vive sua família, e fica sabendo da morte de seu irmão caçula, William, estrangulado por mãos poderosas. Sua irmã de criação, Justine, é acusada do crime e executada. Frankenstein sabe que o monstro é o responsável e começa a se torturar por ter criado um ser que já lhe provocou duas mortes na família. Sai então à procura do monstro e o localiza, escondido bem no finalzinho de um capítulo.

A partir daí, grande parte do relato é ocupado pelo ogre, que descreve ao cientista todo o seu itinerário, desde a fuga do laboratório. Conta como se refugiou nos arredores do casebre de uma família francesa refugiada e, pela constante observação, aprendera-lhe os costumes, além daquilo que para ele era o mais importante: a linguagem. Imitando os sons humanos e conferindo-lhes significado, exatamente como um personagem de Vila Sésamo, ele era agora capaz de se comunicar sem mais grilos.

Narra então a clássica cena: ao mirar-se no regato, constatou que sua aparência era monstruosamente diferente dos demais seres que observara. Depois, aprenderia noções elementares sobre a propriedade, os direitos e o reconhecimento social. Progressivamente foi ganhando consciência de que era um pária, sem passado e sem futuro, sem posses e com uma aparência física que o tornaria rejeitado por quantos de quem se aproximasse. Um dia, aguardou que o velho cego ficasse a sós no casebre e apresentou-se a ele como um viajante em busca de acolhida. Mas, no exato momento em que o velho ia oferecer-lhe o cafezinho, os demais membros da família chegaram, agrediram-no e o expulsaram como se ele fosse um monstro.

Completamente só e já sem esperanças de ser integrado ao convívio humano, a criatura passa a detestar seu criador e procura localizá-lo, o que consegue através dos documentos no bolso das calças de pescar siri que roubara no laboratório. Finalmente em Genebra, descobrira uma criança no bosque e, ao saber que se tratava do irmão caçula de Frankenstein, estrangulara-a.

Mary Shelley chega agora à melhor parte da história: o monstro exige que Frankenstein lhe construa uma fêmea, tão abominável na aparência quanto ele, a fim de não ficar sozinho. Promete retirar-se com ela para locais que o homem não possa alcançar, mas Frankenstein recusa-se a duplicar o mal que já havia cometido. Sob as ameaças de destruição de toda a sua família, no entanto, Frankenstein é obrigado a concordar. O monstro o adverte de que o seguirá o tempo todo, para acompanhar o trabalho e certificar-se de que não ficará um único parafuso solto na sua companheira.

De volta ao laboratório em Ingolstadt, Frankenstein ainda hesita em repetir o processo, pensando que também a fêmea poderia voltar-se contra o seu companheiro, repelindo um pacto anterior à sua criação e preferindo a beleza superior (não muito) do homem. Ou poderiam igualmente unir-se e começar a produzir ogres em série, como os da família Kennedy. Mas, sentindo o halo da presença da criatura, Frankenstein volta ao trabalho. Certa noite, com este já bastante adiantado, o cientista percebe o olhar do monstro espreitando pela vidraça, e, impulsivamente, destrói o material inanimado que viria a ser a fêmea. Não ficou uma costela inteira. Revoltado, o monstro lhe jura eterno ódio e a toda a humanidade.

O resto da narrativa é uma sucessão de mortes, com o monstro eliminando um por um todos os membros da família de Frankenstein, inclusive a sua noiva, em plena noite de núpcias. O clímax só acontece quando Frankenstein parte em perseguição à criatura, entre as geleiras do mar do Norte, onde viria a morrer. O monstro lhe aparece pela última vez, mas já o encontra sem vida. Anuncia então que irá atingir a extremidade mais setentrional do globo para deitar-se numa pira funerária, cujas chamas destruirão de vez a carne de segunda com a qual foi criado. Mas atenção: nada faz garantir que ele tenha morrido, nem o leitor assiste ao seu fim. Mary Shelley esqueceu a porta aberta e deve ter sido por ela que saíram os monstros que andaram assombrando os críticos de cinema nos anos 50. Enfim, ainda sobrou muito material, não apenas para vários filmes em 3-D, como para diversas tragédias gregas e comédias de televisão.

Por falar em gregos, outro personagem da lenda de Prometeu capaz de ser localizado em Frankenstein é Pandora, aquela que Zeus teria enviado aos homens, depois que eles se apoderaram irreversivelmente do fogo. A idéia de Zeus era a de que Pandora, com a sua caixinha de maldades e armadilhas, seria “o preço do fogo”. Mais ou menos como o monstro, ao exigir que Frankenstein lhe construísse uma fêmea, como o preço pela sua própria existência. No fundo, o que Zeus queria era fornecer aos homens os motivos para se exterminarem, agora que tinham os meios para isso, e, depois de limpa a área, criar uma humanidade novinha em folha.

Frankenstein, que já havia lido Ésquilo e Hesíodo, não foi na conversa do monstro. Enfim, a se acreditar na história da pira funerária, o fogo de Prometeu até que acabou servindo para alguma coisa.

Claro que Frankenstein sempre foi um livro muito divertido. Por isso, até pouco tempo, ninguém tinha se interessado em levá-lo a sério. Mas, assim como há livros que são salvos pelos leitores, o de Mary Shelley foi salvo pelo cinema. Foram aquelas versões horrendas com Boris Karloff, Lon Chaney Jr. e outros que, por comparação, transformaram o livro numa obra de “arte”, e fizeram com que o público fosse procurar nele os sustos que os filmes transformaram em gargalhadas. (Vide, na versão de 1932, com Karloff, a seqüência à beira do lago, em que a garotinha oferece flores ao monstro e este fica sem saber se a afoga ou se lhe serve de baby-sitter.)

Aliás, o cinema tem sido responsável por vários desvios à interpretação correta do monstro. Para começar, não é verdade que ele tivesse um parafuso no pescoço. O parafuso só apareceu quando os maquiladores da Universal precisaram de alguma coisa para fixar a máscara sobre os ombros de Boris Karloff — cuja carantonha foi registrada sob copyright, certamente para impedir que José Mojica Marins viesse a lançar mão dela. Além disso, os filmes nunca deram a devida atenção aos bons sentimentos do monstro. Sempre o apresentaram como uma múmia ou vampiro vulgar, e nem levaram em conta a sua condição de underdog social, sem direito a greve ou sindicato.

Mary Shelley não foi a primeira a ter a idéia do boneco animado. O folclore judeu, algumas passagens da Bíblia e as lendas medievais estão cheios dessas histórias. Talvez ela tenha sido a primeira a usar o golem para fazer crítica social. A partir daí, as histórias de golens ficaram tão freqüentes na literatura gótica quanto as de fadas na literatura infantil. Os golens hoje andam tão fora de moda quanto as fadas, porque os romancistas descobriram bonecos de carne e osso mais adaptáveis à realidade — embora ainda não tenham achado substitutos para as bruxas.

Fonte: O Frankenstein de Mary Shelley - 25/7/2005 - Digestivo Cultural - Ensaios - Ruy Castro

Frankenstein

Frankenstein ou o Moderno Prometeu (Frankenstein or the Modern Prometheus, no original em inglês), mais conhecido simplesmente por Frankenstein, é um romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico, de autoria de Mary Shelley, escritora britânica nascida em Londres.

O romance relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório. Mary Shelley escreveu a história quando tinha apenas 19 anos, entre 1816 e 1817, e a obra foi primeiramente publicada em 1818, sem crédito para a autora na primeira edição. Atualmente costuma-se considerar a versão revisada da terceira edição do livro, publicada em 1831, como a definitiva.

O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental.

O romance é narrado através de cartas escritas pelo capitão R. Walton para sua irmã enquanto ele está ao comando de uma expedição náutica que busca achar uma passagem para o Polo Norte. O navio sob o comando do capitão Walton fica preso quando o mar se congela, e a tripulação avista a criatura de Victor Frankenstein viajando em um trenó puxado por cães. A seguir o mar se agita, liberando o navio, e em uma balsa de gelo avistam o moribundo doutor Victor Frankenstein. Ao ser recolhido, Frankenstein passa a narrar sua história ao capitão Walton, que a reproduz nas cartas a irmã. A história do capitão Walton é chamada de narrativa moldura (as vezes também narrativa quadro), onde uma história contém outra.

Victor Frankenstein começa contando de sua infância em Genebra como filho de um aristocrata suíço e adolescência como estudante autodidata dedicado e talentoso. Neste ponto ele apresenta Elizabeth, criada como irmã adotiva, e Henry Clerval, seu amigo para a vida toda. Frankenstein interessa-se pelas ciências naturais e acaba estudando livros de mestres alquimistas, especialmente Cornélio Agripa, Paracelso e Albertus Magnus até os 17 anos de idade, quando seus pais enviam-no para estudar na Universidade de Ingolstadt, na Alemanha. Porém, antes da partida sua mãe contrai escarlatina ao cuidar de Elizabeth, e vem a falecer.

Ao chegar em Ingolstadt o jovem Victor procura seus futuros mestres, que condenam fortemente o tempo de estudo dedicado aos mestres alquimistas, e apresentam-lhe as modernas ciências naturais. Empenhado em descobrir os mistérios da criação, Victor estuda febrilmente e acaba encontrando o segredo da geração da vida, o qual se recusa a detalhar ao seu interlocutor, o capitão Walton.

Frankenstein então dedica-se a criar um ser humano gigantesco, sacrificando o contato com a família e a própria saúde, e após dois anos obtém sucesso. Porém, Victor enoja-se com sua criação, e abandona-a, fugindo. É encontrado por seu amigo Clerval, que viera a Ingolstadt estudar. Exausto, sucumbe à febre, sendo cuidado por seu amigo pelos meses seguintes, até seu reestabelecimento.

Victor Frankenstein recebe uma carta de seu pai relatando o assassinato de William, o seu irmão mais novo, e pedindo a sua volta. Ao chegar em Genebra, é informado que Justine, uma criada muito querida da casa dos Frankenstein, é acusada do crime, sendo encontrada com ela a jóia que o menino levava antes de desaparecer, e que não estava junto ao cadáver. Mesmo assim Victor está convencido de que Justine é inocente, e o verdadeiro culpado é a sua criatura. Porém as evidências contra ela são fortes e Justine é condenada a morte e executada pelo crime. Frankenstein passa a se sentir culpado por ter criado o monstro, e o segredo e a culpa passarão a lhe torturar.

Lutando contra o desespero, o doutor Frankenstein resolve escalar o Mont Blanc. Durante a subida, é encontrado por sua criatura, que é surpreendentemente articulada e eloqüente. O monstro conta sua história, narrando como fugiu do laboratório de Frankenstein para uma floresta próxima, onde aprendeu a comer frutas e vegetais, e a usar o fogo. Porém, ao encontrar seres humanos era sempre escorraçado e agredido, então eventualmente esconde-se no depósito de lenha anexo a uma cabana.

Lá, observa através de frestas na parede a vida de uma família pobre de ex-nobres, afeiçoando-se a eles e ajudando-os em segredo. A família consistia de um pai cego e um casal de irmãos. Aprende a língua e a escrita espionando as aulas que davam à noiva árabe do irmão, e encontra livros onde aprende sobre a vida e a virtude.

Após longo tempo toma coragem para se apresentar a família, e consegue conversar com o pai cego, mas quando os filhos chegam e o vêem junto ao pai também escorraçam o monstro, e fogem para sempre da cabana. A criatura torna-se amargurada e resolve procurar seu criador, cujo diário descobrira no bolso do casaco que levou do laboratório na noite da fuga. Durante a travessia é sempre agredido pelos humanos.

Ao chegar em Genebra encontra o irmão mais novo de Victor, William, e assassina-o, incriminando depois Justine. Ao terminar sua história, o monstro exige a promessa de que Frankenstein construa uma fêmea para ele, prometendo por sua vez deixar a humanidade em paz e ir viver com a sua noiva nas selvas sul-americanas. Frankenstein concorda, e ao voltar para Genebra torna-se noivo de Elizabeth, partindo com Clerval para a Inglaterra, a fim de cumprir a sua promessa.

Na Grã-Bretanha, Frankenstein vai para uma ilha, onde começa a construir a fêmea. Entretanto, ele muda de idéia, temendo criar uma raça de monstros, e destrói a criatura incompleta. O monstro acompanha o ato, e jura se vingar. Em seguida assassina Clerval. Frankenstein chega a ser acusado do crime, mas é inocentado por possuir um forte álibi. Seu pai vem lhe buscar e ambos retornam à Suíça.

Mesmo devastado pela culpa e pela tristeza, Victor casa-se com Elizabeth e no mesmo dia sai para viajar em lua de mel. Na noite de núpcias, fica vigiando a casa, temendo um ataque da criatura contra ele, mas o monstro ataca Elizabeth e a estrangula. Victor volta a Genebra, e com a notícia da morte de Elizabeth, seu pai adoece e morre em seguida. Jurando vingança, o criador passa a perseguir a criatura, que o leva através de uma longa caçada em direção ao norte, prosseguindo pelos mares congelados, onde eventualmente são avistados pelo capitão Walton e sua tripulação.

O navio dos exploradores fica preso no gelo, e Victor, já bastante doente, acaba morrendo. O capitão Walton então surpreende a criatura na cabine, no leito de morte de Frankenstein, pranteando seu criador. Ela diz para Walton que não havia mais o que temer pois seus crimes terminaram com a morte de Frankestein e prometeu ir ao extremo Norte e lá ela cometeria o suícidio trazendo paz aos humanos.

Origens

Em 1815 o Monte Tambora na ilha de Sumbawa, na atual Indonésia, entrou em erupção. Como consequência, um milhão e meio de toneladas de poeira foram lançadas na atmosfera, bloqueando a luz solar, deixando o ano de 1816 sem verão no hemisfério norte.

Neste ano, Mary Shelley, então com 19 anos e ainda com o nome de solteira Mary Wollstonecraft Godwin, e seu futuro marido, Percy Bysshe Shelley, foram passar o verão a beira do Lago Léman, onde também se encontrava o amigo e escritor Lord Byron. Forçados a ficar confinados por vários dias em ambiente fechado pelo clima hostil anormal para a época e local, os três e mais outro hóspede, o também escritor John Polidori, passavam o tempo lendo uns para os outros historias de horror, principalmente histórias de fantasmas alemãs traduzidas para o francês.

Eventualmente Lord Byron propôs que os quatro escrevessem, cada um, uma história de fantasmas. Byron escreveu um conto que usaria em parte mais tarde na conclusão de seu poema Mazzepa. Inspirado por outro fragmento de história de Byron desta época, Polidori mais tarde escreveria o romance “O Vampiro”, que seria a primeira história ocidental contendo o vampiro como conhecemos hoje, e que décadas depois inspiraria Bram Stoker no seu Drácula. Porém, passados vários dias, Mary Shelley ainda não conseguira criar uma história. Eventualmente ela veio a ter uma visão sobre um estudante dando vida a uma criatura. Essa visão tornou-se a base da história de Frankenstein, a qual Mary Shelley veio a desenvolver em um romance, encorajada pelo seu futuro marido.

Desta forma, é curioso notar que o Frankenstein e o Vampiro vieram a ter sua gênese literária na mesma ocasião.

Shelley relatou sua versão da gênese da história no prefácio à terceira edição de seu romance.

O nome da criatura

Embora a cultura popular tenha associado o nome Frankenstein à criatura, esta não é nomeada por Mary Shelley como “criatura”, “monstro”, “demônio”, “desgraçado” por seu criador. Após o lançamento do filme Frankenstein em 1933 o público passou a chamar assim a criatura. Isso foi adotado mais tarde em outros filmes. Alguns argumentam que o monstro é, de certa forma, um “filho” de Victor, e portanto pode ser chamado pelo mesmo sobrenome.

Frankenstein é o antigo nome de uma antiga cidade na Silésia, local de origem da família Frankenstein. Mary Shelley teria conhecido um membro desta família, o que possivelmente influenciou sua criação.

Edições

Mary Shelley completou o romance em 1817 e Frankenstein ou o moderno Prometeu foi publicado em 1 de janeiro de 1818 por uma pequena editora de Londres, a Lackington, Hughes, Harding, Mavor & Jones, após ter sido rejeitada por duas outras editoras. A publicação não continha o nome da autora, somente um prefácio escrito por Percy Bysshe Shelley, seu noivo, e uma dedicatória a William Godwin, seu pai. A primeira edição foi feita em três volumes e teve impressas somente 500 cópias.

Apesar das críticas desfavoráveis, a edição teve um sucesso de público quase imediato. Ficou bastante conhecida, principalmente através de adaptações para o teatro e a obra foi traduzida para o francês. A segunda edição de Frankenstein foi publicada em 11 de agosto de 1823 em dois volumes, desta vez com o crédito como autora para Mary Shelley.

Em 31 de outubro a editora Henry Colburn & Richard Bentley lançou a primeira edição popular em um volume. Esta edição foi significativamente revisada por Mary Shelley, e continha um novo e longo prefácio escrito por ela, relatando a gênese da história. Esta edição é a mais conhecida e mais usada como base para traduções.

Temas

Frankenstein aborda diversos temas ao longo do texto, sendo o mais gritante a relação de criatura e criador, com óbvias implicações religiosas. Uma influência notável na obra é o poema Paraíso Perdido de John Milton, que aborda a criação do homem e sua subseqüente queda. A influência torna-se explícita tanto através da epígrafe que cita três versos do poema, quanto aparecendo diretamente em Frankenstein: é um dos livros que a criatura lê.

A queda, ou a ruína, está bastante presente no livro de Shelley, que traça a destruição física e moral de Victor Frankenstein, e é aludida não só nas citações de Paraíso Perdido, como no próprio título da obra: O Moderno Prometeu. Prometeu é um personagem da mitologia grega, um titã que, ao roubar o segredo do fogo, o qual era reservado aos deuses, para doá-lo a humanidade, é severamente punido por Zeus. O paralelo com a trajetória de Victor Frankenstein é direto, e o livro deixa claro que o segredo da criação da vida a partir de matéria inanimada é de natureza divina.

O poder exercido pela humanidade sobre a Natureza através da ciência e da tecnologia é outro tema principal da obra, e encaixa-se no espírito da época, o estágio inicial da Revolução Industrial.

Outros temas são abordados com menos ênfase. A amizade verdadeira é tratada, com o Capitão Walton desejando tornar-se amigo de Victor, e Victor elaborando sobre ela ao se referir a sua amizade com Clerval.

Preconceito, ingratidão e injustiça também estão presentes. A criatura é sempre julgada por sua aparência, e agredida antes de ter uma chance de se defender. Em um episódio, o monstro salva uma garotinha inconsciente e, ao tentar devolvê-la para seu pai, é baleado e acusado de tê-la agredido. A inveja também aparece, ao subverter os bons sentimentos iniciais do monstro.

A expressão do sublime através da grandiosidade da Natureza é um tema caro ao Romantismo, e aparece em Frankenstein nas descrições das grandes planícies de gelo e das paisagens da Europa.

Por fim, a inevitabilidade do destino, tema muito desenvolvido na literatura clássica, é constatemente aludida ao longo do romance, que é uma obra que se presta a múltiplas interpretações e leituras.

Adaptações

O romance foi primeiramente adaptado para o teatro, e posteriormente para um grande número de mídias, incluindo rádio, televisão e cinema, além de quadrinhos.

A primeira adaptação para o cinema foi feita pelos Edison Studios em 1910. Foi produzida por Thomas Edison e trazia Charles Ogle no papel da criatura. Uma das mais famosas transposições do romance para as telas é a realizada em 1931 pela Universal Pictures, dirigida por James Whale, com Boris Karloff como o Monstro. Esta adaptação deu a aparência mais conhecida do monstro, com uma cabeça chata, parafusos no pescoço e movimentos pesados e desajeitados (apesar do livro descrever a criatura como extremamente ágil). Este filme tornou-se um clássico do cinema.

Um grande número de continuações seguiram-se, mas desta vez divergindo bastante da história narrada no romance. Em 1943 o personagem foi vivido por Bela Lugosi em Frankenstein Encontra o Lobisomem. Já em 1969 foi a vez de Peter Cushing estrelar a versão do diretor Terence Fisher que levou o título de Frankenstein tem que ser Destruído. Na década de 80 o personagem voltaria em dois filmes: Frankenstein do diretor James Ormerod e Gothic de Ken Russell.

Em 1994 foi lançada uma adaptação cinematográfica dirigida por Kenneth Branagh de nome Mary Shelley's Frankenstein, com o próprio Branagh no papel de Victor Frankenstein, Robert De Niro como a criatura e Helena Bonham Carter como Elizabeth. Apesar do título sugerir uma adaptação fiel, o filme toma uma série de liberdades com a história original.

As representações do Monstro e sua história têm variado bastante, de uma simples máquina de matar sem capacidade de reflexão a uma criatura trágica e plenamente articulada, o que seria mais próximo do retratado no livro.

O romance Frankenstein ainda serviu como inspiração para o filme Edward Mãos de Tesoura (1990), de Tim Burton.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Carrie, A Estranha


Uma jovem dotada de poderes extra-sensoriais é rejeitada por todos. Até que, em sua festa de formatura, ela é ridicularizada pelos colegas, o que desencadeia uma série de violentos acontecimentos orquestrados pela garota. Dirigido por Brian De Palma (Os intocáveis) e com Sissy Spacek, Amy Irving e John Travolta no elenco. Recebeu duas indicações ao Oscar.

Sinopse
Carry White (Sissy Spacek) é uma jovem que não faz amigos em virtude de morar em quase total isolamento com Margareth (Piper Laurie), sua mãe e uma pregadora religiosa que se torna cada vez mais ensandecida. Carrie foi menosprezada pelas colegas, pois ao tomar banho achava que estava morrendo, quando na verdade estava tendo sua primeira menstruação.

Uma professora fica espantada pela sua falta de informação e Sue Snell (Amy Irving), uma das alunas que zombaram dela, fica arrependida e pede a Tommy Ross (William Katt), seu namorado e um aluno muito popular, para que convide Carrie para um baile no colégio. Mas Chris Hargenson (Nancy Allen), uma aluna que foi proibida de ir à festa, prepara uma terrível armadilha que deixa Carrie ridicularizada em público.

Mas ninguém imagina os poderes paranormais que a jovem possui e muito menos de sua capacidade vingança quando está repleta de ódio.

Ficha técnica
Título Original: Carrie
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 98 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1976
Estúdio: Redbank Films
Distribuição: United Artists / MGM
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Lawrence D. Cohen, baseado em livro de Stephen King
Produção: Brian De Palma e Paul Monash
Música: Pino Donaggio
Direção de Fotografia: Mario Tosi
Direção de Arte: Jack Fisk e Bill Kenney
Figurino: Rosanna Norton
Edição: Paul Hirsch

Elenco
Sissy Spacek (Carry White)
Piper Laurie (Margaret White)
Amy Irving (Sue Snell)
William Katt (Tommy Ross)
John Travolta (Billy Nolan)
Nancy Allen (Chris Hargenson)
Betty Buckley (Srta. Collins)
P.J. Soles (Norma)
Priscilla Pointer (Sra. Snell)
Sydney Lassick (Sr. Fromm)
Stefan Gierasch (Sr. Morton)
Michael Talbott (Freddy)

Premiações
- Recebeu 2 indicações ao Oscar: Melhor Atriz (Sissy Spacek) e Melhor Atriz Coadjuvante (Piper Laurie).

- Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Piper Laurie).

Curiosidades
- A atriz Sissy Spacek não estava cotada para o papel de Carrie White, até que o diretor de arte de Carrie, A Estranha e também seu marido Jack Fisk solicitou uma audição para Spacek, a fim de que ela pudesse participar do filme. O diretor Brian De Palma gostou tanto da audição de Spacek que resolveu dar a ela o papel principal do filme.

- Este é o 1º de 4 filmes em que o diretor Brian De Palma e a atriz Nancy Allen trabalharam juntos. Os demais foram Terapia de Doidos (1980), Vestida para Matar (1980) e Um Tiro na Noite (1981).

- Betty Buckley, que em Carrie, A Estranha atua como uma professora de ginástica, interpretou também a mãe de Carrie na versão musical do filme, para o teatro americano.

- O nome da escola de Carrie é Bates High, uma referência proposital do diretor Brian De Palma a Norman Bates, principal personagem de Psicose.

- O roteiro de Carrie, A Estranha dizia que a casa dos White seria destruída por uma avalanche de rochas. Como os produtores e o diretor Brian De Palma não conseguiram rodar a cena como desejavam, resolveram mudar esta cena, fazendo com que a casa fosse destruída por um incêndio.

- As personagens Sue Snell e sua mãe foram interpretadas por mãe e filha também na vida real. No caso, Sue era Amy Irving e a Sra. Snell era Priscilla Pointer.

- 23 anos após seu lançamento estreou nos cinemas americanos A Maldição de Carrie, continuação de Carrie, A Estranha.

Fonte: Filmes - Carrie, A Estranha

O Retrato Ovalado

"O castelo no qual meu criado estava decidido a entrar à viva força, não consentindo que eu, ferido como estava, tivesse que passar a noite debaixo da chuvarada, era um grande edifício senhorial e melancólico, que durante muitos e muitos séculos, fora grito de guerra nos Montes Apeninos. Segundo nos disseram, tinha sido abandonado temporariamente por seus donos.

Acomodamo-nos numa das salas menores, que era também a mais modestamente mobiliada. Estava situada num torreão um tanto afastado do corpo principal do castelo; seus móveis, seus adornos, ricos e luxuosos, pareciam maltratados pela ação do tempo e apenas conservavam poucos vestígios do antigo esplendor.

Sobre as paredes caíam tapeçarias e troféus heráldicos, bem como grande quantidade de quadros modernos encerrados em molduras de ouro e madeiras finíssimas. Devido talvez ao delírio que me produzia a alta febre, senti crescer dentro de mim um grande amor por aqueles quadros que como prodigioso e estranho museu, tinha diante dos olhos.

Mandei o criado fechar as pesadas portas e as altas janelas, pois era noite cerrada, e acender o candelabro de sete braços que encontrara sobre a mesa. Descerrei, em seguida, os cortinados de cetim e veludo que rodeavam o dossel de minha cama.

Queria assim, se por acaso não chegasse a conciliar o sono, distrair-me ao menos na contemplação dos quadros na leitura de um livro de pergaminho que havia encontrado sobre a almofada, o qual pare@ 8@ crição e a história de todas as obras de arte que se achavam encerradas naquele castelo.

Passei quase toda a noite lendo. Naquele livro estava realmente a história dos quadros que me rodeavam. E as horas transcorreram rapidamente e, sem que eu percebesse, chegou a meia-noite. A luz do candelabro me feria os olhos e, sem que meu criado o notasse, coloquei-o de tal modo que somente projetasse seus tênues raios sobre a superfície escrita do livro. Mas aquela troca de luz produziu um efeito inesperado. Os resplendores das numerosas velas projetaram-se então sobre um quadro da alcova que uma das colunas do leito até então tinha envolto numa sombra profunda. Era o retrato de uma jovem quase mulher. Dirigi ao quadro uma olhadela rápida e fechei os olhos.

Não o compreendi bem a principio. Mas, enquanto minhas pupilas permaneciam fechadas, analisei rapidamente a razão que mas fazia cerrar assim. Era um movimento involuntário para ganhar tempo, para assegurar-me de que minha vista não me tinha enganado, para acalmar e preparar meu espírito para uma contemplação mais serena. Ao cabo de alguns momentos olhei de novo para o quadro, desta vez fixa e penetrantemente.

Já não podia duvidar, ainda que o quisesse, de que então via muito claramente. O primeiro esplendor da chama do candelabro sobre a tela tinha dissipado a confusão de meus sentidos e chamara à realidade. O retrato era de uma jovem. Um busto; a cabeça e os ombros pintados nesse estilo que chamam, em linguagem técnica, estilo de "vinheta"; um tanto da "maneira" de Sully em suas cabeças prediletas. O seio, os braços e os cachos de cabelos radiantes fundiam-se imperceptivelmente na sombra que servia de fundo ao junto. A moldura era oval, dourada e trabalhada ao gosto moderno. Como obra de arte não se podia encontrar nada mais adorável do que a própria pintura. Mas pode ser que não fosse nem a execução da obra nem a beleza daquele semblante juvenil que me impressionou tão súbita e fortemente. Devia acreditar ainda menos que a minha imaginação, saindo de um sonho, tivesse tomado aquela mulher por uma pessoa viva.

Vi, em primeiro lugar, que os pormenores do desenho, o estilo e o aspecto da moldura não me deixariam nenhuma ilusão, ainda que momentânea, dissipando imediatamente semelhante encantamento. Fazendo estas reflexões, permaneci estendido uma hora inteira, com os olhos cravados no retrato.

Tinha adivinhado que o "encantamento" da pintura era uma expressão vital, absolutamente adequada à própria vida, que primeiro me tinha feito estremecer e que finalmente me subjugara, aterrorizado. Com um terror profundo e insopitável, coloquei de novo o candelabro na sua primitiva posição.

Tendo ocultado assim a minha vista a causa dessa profunda agitação, procurei ansiosamente o livro que continha a análise do quadro e sua história. Fui em busca do número que designava o retrato oval e li o seguinte relato:

"Era uma jovem de rara beleza e cheia de jovialidade. Maldita foi a hora em que viu e amou o artista, casando-se com ele! Ele, apaixonado, estudioso, amava, mais do que sua esposa, a sua Arte; ela, uma jovem de rara beleza e não menos amável do que cheia de jovialidade - nada mais do que luz e sorrisos - ágil como a lebre solta no campo - amando e acariciando todas as coisas - não odiando mais do que a Arte, que era sua rival - não temendo mais do que a palheta e os pincéis. Foi uma coisa terrível para ela ouvir o pintor falar do desejo de pintar sua esposa. Mas esta era obediente, e sentou-se com doçura durante longas semanas no sombrio e alto "atelier" da torre, onde a luz penetrava por uma clarabóia de cristal. Mas ele, o pintor, punha seu destino e sua glória no retrato, que avançava em cores de hora para hora e de dia para dia...

E ele era um homem apaixonado e estranho, que se perdia em sonhos, tanto que "não queria" ver que a Luz que filtrava tão lugubremente naquela torre afastada, extenuava a saúde e a alma de sua mulher, que enfraquecia visivelmente aos olhos de todo o mundo, exceto aos dele.

Contudo, ela sorria sempre, sem se queixar, porque via que o pintor sentia um prazer doido e ardente na sua tarefa e trabalhava noite e dia para pintar aquela que amava tanto, mas que se tomava de dia para dia mais lânguida e mais débil. E, na verdade, os que contemplavam o retrato falavam em voz baixa da extrema semelhança do original como de uma prodigiosa maravilha e como de uma prova não menor do talento do pintor do que de seu profundo amor por aquela a quem pintava ato milagrosamente bem.

Todavia, mais tarde, quando a tarefa se aproximava de seu fim, já ninguém podia visitar a torre: o pintor tinha enlouquecido com o ardor de seu trabalho e não tirava os olhos da tela senão para ver a fisionomia da mulher. E "não queria" ver que as cores que gravava na tela ele as ia tirando das faces daquela que estava sentada à sua frente. E quando, decorridas muitas semanas, já faltava muito pouco trabalho - nada mais do que uma pincelada sobre os lábios e uma sombra sobre os olhos - o espírito da mulher palpitou como a chama próxima a extinguir-se palpita numa lâmpada; e então o pintor deu a pincelada sobre os lábios e a sombra sobre os olhos e, durante um momento, quedou em êxtase ante o trabalho que tinha realizado; um minuto depois, quando o olhava extasiado, um estremecimento de terror percorreu seu corpo e começou a gritar com voz aguda e destemperada.

- É a vida, é a própria vida que eu aprisionei na tela!

E, quando se voltou para contemplar sua esposa, viu que ela estava morta."


por Edgar Allan Poe

Leonor

"Sou oriundo duma raça caracterizada pelo vigor da fantasia e pelo ardor da paixão.

Os homens chamaram-me louco; mas ainda não está resolvido o problema ? se a loucura é ou não a suprema inteligência ? se muito do que é glorioso ? se tudo o que é profundo ? não tem a sua origem numa doença do pensamento ? em modalidades do espírito exaltadas a custa das faculdades gerais. Aqueles que sonham de dia sabem muitas coisas que escapam àqueles que somente de noite sonham.

Nas suas vagas visões obtêm relances de eternidade e, quando despertam, estremecem ao verem que estiveram mesmo à beira do grande segredo. Penetram sem leme nem bússola, no vasto oceano da "luz inefável"; e de novo, como os aventureiros do geógrafo núbio, agressi sunt mare tenebrarum, quid in eo esset exploraturi.

Diremos, então, que estou doido. Concordo, pelo menos, em que há dois estados distintos da minha existência mental ? o de uma razão lúcida que não pode ser contestada, e pertence à memória de acontecimentos que constituem a primeira época da minha vida ? e um estado de sombra e dúvida, que abrange o presente e a recordação do que constitui a segunda grande era do meu ser. Por conseqüência, acreditai tudo o que eu disser do primeiro período de minha existência; e dai ao que eu vier a contar dos derradeiros tempos o crédito que se vos afigurar justo; ou ponde-o completamente em dúvida; ou, se não puderes duvidar, fazei como Édipo e procurai decifrar o seu enigma.

Aquela que na minha mocidade amei, e de quem agora, serena e lucidamente, estou traçando estas recordações, era a filha única da única irmã de minha mãe havia muito falecida.

Minha prima chamava-se Leonor. Havíamos sempre vivido juntos, sob um sol tropical, no vale de Many-Coloured Crass. Jamais viandante algum aventurou seus passos por aquele vale; pois se estendia por entre uma cadeia de montes gigantescos, que sobre ele debruçavam as suas escarpas, vedando o acesso dos raios solares aos seus mais aprazíveis recônditos. Nas suas proximidades atalho algum jamais fora trilhado, e, para chegarmos ao nosso lar, não precisávamos afastar, com força, a folhagem de milhares de árvores, nem esmagar milhões de fragrantes flores. Assim vivíamos nós sozinhos, nada sabendo do mundo para além do vale ? eu, minha prima e sua mãe.

Das obscuras regiões de além dos montes, no extremo superior de nossos domínios, descia um estreito e profundo rio, que excedia em brilho e limpidez tudo menos os claros olhos de Leonor; e, serpenteando furtivamente em intrincados meandros, embrenhava-se por fim através de uma sombria garganta, por entre montes ainda mais negros do que aqueles de que brotara. Denominávamo-lo o "Rio do Silêncio", pois as suas águas pareciam ter a faculdade de tudo emudecer. Do seu leito nenhum murmúrio se erguia, e tão de mansinho ia desfiando seu curso que os diáfanos seixinhos que esmaltavam o fundo e que nós tanto gostávamos de contemplar, permaneciam absolutamente imóveis, refulgindo eternamente no lugar onde um dia se quedaram.

A margem do rio e de muitos cintilantes riachos que, por tortuosos rodeios, a ele afluíam, bem como os espaços que as margens desciam até o leito de seixos do fundo das águas ? todos estes lugares, não menos de que toda a superfície do vale, desde o rio até as montanhas que o circundavam, eram tapetados por uma relva verde, macia, espessa, curta, perfeitamente lisa e perfumada, mas tão profusamente matizada com botões de ouro, margaridas, violetas e asfódelos que a sua extraordinária beleza dilatava nossos corações com eloquência e paixão, do amor e da glória de Deus.

E, aqui e além, em maciços que se diriam antes matas de sonhos, brotavam fantásticas árvores, cujos altos e esguios troncos se não erguiam a prumo, mas, torcendo-se, inclinavam-se para a luz que ao meio-dia irrompia pelo centro do vale. A sua casca apresentava ao mesmo tempo o esplendor do marfim e da prata, e seria mais suave do que tudo não fosse a suave face de Leonor; de sorte que, se não fora o verde brilhante das enormes folhas que das suas copas se alastravam em linhas compridas e trêmulas, embaladas pelos zéfiros, poderia alguém imaginá-las gigantescas serpentes da Síria, prestando homenagem ao seu soberano, o Sol.

De mãos dadas, durante 15 anos, vaguei com Leonor por este vale, antes de o Amor penetrar em nossos corações. Era uma tarde, ao cerrar-se o terceiro lustro da sua vida e o quarto da minha: estávamos sentados, abraçados, debaixo das árvores-serpentes e contemplávamos as nossas imagens refletidas no espelho das águas do rio. Nem mais uma palavra pronunciamos durante o resto daquele doce dia, e na manhã seguinte ainda as nossas palavras eram trêmulas e raras.

Do fundo das águas havíamos tirado o deus Eros, e agora sentíamos que havíamos ateado dentro de nós as almas ardorosas dos nossos maiores. As paixões que durante séculos haviam caracterizado a nossa raça acudiam agora de tropel com as fantasias que os haviam igualmente distinguido e bafejavam venturas e bênçãos sobre o vale de Many-Coloured Crass.

Tudo como por encanto mudou. Sobre as árvores onde jamais se conhecera uma flor desabrocharam agora estranhas flores em forma de estrela. Tornaram-se mais carregados os tons das alfombras de verdura; e quando uma a uma murcharam as brancas margaridas, surgiram em seus lugares, dez a dez, os asfóidelos da cor dos rubis. E a vida brotava em nossos atalhos; pois o alto flamingo, até aqui nunca visto, com todas as álacres e variegadas aves, ostentava ante nós a sua plumagem escarlate. Peixes de ouro e de prata acorriam agora ao rio, de cujo seio se erguia, de mansinho, um murmúrio que, por fim, foi engrossando até se transformar numa suave melodia mais divina de que a da harpa de Éolo, mais doce do que tudo, não fosse a voz de Leonor. E agora, também uma enorme nuvem, que por muito tempo dominara as regiões do Hesper, avançara num deslumbramento carmesim e ouro e viera pairar serenamente sobre nós, descendo dia a dia até pousar sobre os cumes dos montes, transfigurando-os com o seu glorioso esplendor e encerrando-nos, como que para sempre, dentro duma mágica prisão de magnificência e glória.

O encanto de Leonor era o de um Serafim, mas ela era uma adolescente ingênua e simples como a curta vida que vivera entre as flores. Nenhum artifício mascarava o amor que lhe estuava no coração, e ela examinava comigo os seus mais íntimos recessos, quando passeávamos no vale de Many-Coloured e conversávamos sobre as notáveis transformações que nele ultimamente se haviam operado.

Um dia, finalmente, tendo falado, banhada em pranto da triste e derradeira transformação que a Humanidade deve sofrer, nunca mais deixou de discutir este doloroso assunto, intercalando-o em todas as nossas conversas, como nos cantos do bardo de Schiraz estão constantemente ocorrendo as mesmas imagens, a cada passo repetidas em cada impressionante variação de frase.

Ela tinha visto que o dedo da morte se lhe cravara no seio ? que, como o efêmero, ela fora feita perfeita em encanto e beleza somente para morrer; mas para ela os terrores do túmulo apenas consistiam numa apreensão, que uma tarde, ao crepúsculo, ela me revelou, passeando comigo pelas margens do Rio do Silêncio. O que a penalizava era pensar que, após havê-la sepultado no vale de Many-Coloured, eu abandonaria para sempre aquelas ditosas paragens, transferindo o amor, que só dela tão apaixonadamente agora era, para alguma jovem do mundo exterior e banal. E, então, ao ouvir-lhe expressar este pesar, atirei-me aos pés de Leonor e jurei que nunca me ligaria pelo casamento a filha alguma da Terra ? que jamais eu, fosse de que maneira fosse, trairia a sua querida recordação. Invoquei o Onipotente Senhor como testemunha da pia solenidade do meu juramento. E a maldição de que Deus e dela impetrei, no caso de eu atraiçoar meu juramento, envolvia uma pena cujo extraordinário horror me não permite referi-la aqui.

Os olhos de Leonor se tornaram mais claros, quando eu assim exprimi o carinho que a prendia à minha vida; como se do peito arrancassem um peso mortal; tremeu e chorou amargamente; mas (que era ela senão uma criança?) aceitou o juramento, que lhe tornava mais suave o leito de morte. E disse-me, não muitos dias depois, finando-se tranqüilamente, que, em vista do que eu fizera para alívio e consolo do seu espírito, velaria sempre por mim depois de morta, e se tal lhe fosse permitido, voltaria visivelmente a visitar-me nas vigílias da noite; se, porém, isto ultrapassasse o que às almas no Paraíso é permitido, dar-me-ia, pelo menos, freqüentes indicações de sua presença, suspirando sobre mim nos ventos da tarde ou enchendo o ar que eu respirasse com o perfume dos turíbulos dos anjos. E, com estas palavras, exalou a sua inocente vida, ponto termo à primeira época da minha.

Até aqui é fiel o relato que fiz. Mas, quando transponho a barreira formada pela morte de minha amada e penetro na segunda era da minha existência, sinto uma sombra empolgar-me o cérebro e não confio na perfeita sanidade das minhas palavras. Mas, prossigamos.

Os anos foram-se arrastando pesadamente e eu continuei habitando no vale ? mas uma segunda transformação se operara em todas as coisas. As flores em forma de estrela secaram nas árvores e não mais reapareceram. Apagaram-se os matizes do verde tapete de relva; e, um a um, murcharam os rubros asfódelos e, em seu lugar, surgiram, dez a dez, escuras violetas sempre carregadas de orvalho.

A vida desapareceu dos nossos atalhos; o alto flamingo já não exibia ante nós a sua plumagem escarlate, mas tristemente fugiu do vale para os montes com todas as álacres aves multicores que em sua companhia tinham vindo. Os peixes de ouro e prata nunca mais esmaltaram o nosso doce rio. A suave melodia que encantara mais do que a harpa e Éolo e fora mais divina do que tudo menos a voz de Leonor, foi-se pouco a pouco extinguindo, sumindo-se em murmúrios cada vez mais débeis, até que, por fim, o rio voltou à solenidade do seu primitivo silêncio. E então ergueu-se de novo a enorme nuvem e, abandonando os píncaros dos montes à sua antiga tristeza, recuou para as regiões de Hesper, e consigo levou o áureo esplendor e todas as magnificências que por alguns anos transfiguraram o vale de Many-Coloured Crass.

Todavia, as promessas de Leonor não ficaram no olvido; pois eu ouvia os sons do balouçar dos turíbulos dos anjos; correntes dum sagrado perfume flutuavam permanentemente sobre o vale; nas horas ermas, quando meu coração palpitava pesadamente, os ventos que me refrescavam a fronte vinham carregados de brandos suspiros; indistintos murmúrios ? oh, mas só uma vez! fui desperto de um sono, que se me afigurava o sono da morte, pela pressão de uns lábios espirituais sobre os meus.

Mas o vácuo dentro do meu coração recusava-se, ainda assim, a ser preenchido. Tinha saudades do amor que o enchera a transbordar. Por fim o vale fazia-me sofrer pelas recordações, e abandonei-o então para sempre, trocando-o pelas vaidades e pelos turbulentos triunfos do mundo.

Encontrei-me dentro duma estranha cidade, onde todas as coisas podiam ter servido para me apagaram da lembrança os doces sonhos que por tanto tempo sonhara no vale. O luxo e a pompa de uma corte majestosa, o doido clangor das armas e a radiosa beleza das mulheres desvairaram-me e embriagaram-me o cérebro. Até aqui, porém, ainda a minha alma permanecera fiel aos seus juramentos, e nas horas silentes da noite ainda até mim chegavam as revelações da presença de Leonor.

De súbito, cessaram estas manifestações; mundo escureceu de todo ante os meus olhos, e quedei-me espavorido ante o escaldante pensamento que me possuía ? ante as terríveis tentações que me empolgavam; pois de muito longe, de uma terra distante e ignota, viera para a alegre corte do rei que eu servia, uma donzela a cuja beleza todo o meu perjuro coração imediatamente se rendeu ? a cujos pés me curvei sem uma luta, no mais ardente, no mais abjeto culto de amor.

Que era, na verdade, a minha paixão pela adolescente do vale comparada com o fervor e o delírio, o alucinado êxtase de adoração com que eu depunha toda a minha alma em pranto aos pés da etérea Hermengarda? ? Oh, que deslumbrante era a angélica Hermengarda! E na minha alma para ninguém mais havia lugar. ? Oh, que divina era a celestial Hermengarda! E quando eu sondava as profundezas dos olhos inolvidáveis, só neles pensava ? só neles e nela!

Casei; não me arreceei da maldição que invocara; nem senti o amargor de haver infringido um juramento solene.

Mas uma vez, no silêncio da noite, chegaram até mim, através das minhas persianas, os brandos suspiros que havia muito eu já não ouvia e, numa voz familiar e doce, percebi estas palavras que jamais esquecerei:

- Dorme em paz! ? pois o Espírito do Amor reina e governa e, acolhendo no teu apaixonado coração aquela que se chama Hermengarda, tu és absolvido, por motivos que só no céu serão explicados, dos juramentos que fizeste a Leonor! "


por Edgar Allan Poe

A Virgem do Poço


Havia no Japão Feudal do século XVII uma bela jovem de nome Okiko. Essa jovem era serva de um Grande Senhor de Terras e Exércitos, seu nome era Oyama Tessan. Okiko que era de uma família humilde, sofria assédios diários de seu Mestre, mas sempre conseguia se manter longe de seus braços.

Cansado de tantas recusas, Tessan arquitetou um plano sórdido para que Okiko se entregasse à ele.

Certo dia, Tessan entregou aos cuidados de Okiko uma sacola com 9 moedas de ouro holandesas -mas dizendo que havia 10 moedas- para que as guardasse por um tempo. Passado alguns dias, Tessan pediu que a jovem devolvesse as "10" moedas.

A donzela, ao constatar que só havia 9 moedas, ficou desesperada e contou as moedas várias vezes para ver se não havia algum engano. Tessan se mostrou furioso com o "sumiço" de uma de suas moedas, mas disse que se ela o aceitasse como marido, o erro seria esquecido.

Okiko pensou a respeito e decidiu que seria melhor morrer do que casar com seu Mestre. Tessan furioso com tal repúdio, agarrou a jovem e a jogou no poço de seu propriedade. Okiko morreu na hora.

Depois do ocorrido, todas as noites, o espectro de Okiko aparecia no poço com ar de tristeza, pegava a sacola de moedas e as contava... quando chegava até a nona moeda, o espectro suspirava e desaparecia. Tessan assistia aquela melancólica cena todas as noites, e torturado pelo remorso, pediu ajuda à um amigo para dar um fim àquela maldição.

Na noite seguinte, escondido entre os arbustos perto do poço, o amigo de Tessan esperou a jovem aparecer para dar fim ao sofrimento de sua alma. Quando o fantasma contou as moedas até o 9, o rapaz escondido gritou: ...10!!! O fantasma deu um suspiro de alívio e nunca mais apareceu.

Essa Lenda do século XVIII, é uma das mais famosas do folclore japonês. A gravura ao lado, do século XIX, representa exatamente a Lenda da Virgem do Poço.

Fonte: Mistérios na Web - A Virgem do Poço

O Soldado de Galípoli


As montanhas da península de Gelibolu, ou Galípoli, na Turquia, ainda estava escalavradas pelas trincheiras individuais da Primeira Guerra Mundial quando Leon Weeks chegou lá, no começo da década de 50.

O arqueólogo norte-americano esperava encontrar relíquias da desastrosa campanha aliada de 1915-16... mas encontrou muito mais.

Uma noite, fumando um cigarro em frente à barraca, viu um homem descendo o morro vizinho. O vulto puxava um burro, cujo fardo desajeitado bem parecia um corpo. Weeks foi atrás, chamando o homem em voz alta, mas eles desapareceram na rochas antes que pudesse alcançá-los.

Na noite seguinte, o arqueólogo viu-os de novo, de modo mais claro, e pôde até distinguir o brilho das botas de couro no fardo que o burro levava, o homem que puxava estava vestido como um soldado.

Essas imagens estavam deixando Weeks muito confuso, pois tal situação não fazia sentido. Noite após noite os dois apareciam, mas Weeks nunca conseguia alcançá-los. Teve que deixar a região sem resolver o mistério.

Em 1968, por acaso Weeks teve a oportunidade de ver a coleção de selos de um amigo britânico. Ali, entre os selos comemorativos australianos, topou com uma cena familiar.

Um homem puxando um burro que levava um ferido. O selo, explicou o amigo, fora lançado em 1965 em homenagem ao heroísmo do soldado raso John Simpson Kirkpatrick, um soldado inglês que servira como padioleiro na campanha de Galíopi.

John e seu burro eram figuras conhecidas entre os soldados e oficiais, pois haviam salvado centenas de feridos em Galíopi, até ser morto por estilhaços, em maio de 1915. Os registros mostram que fora enterrado entre as rochas de Galíopi.

Fonte: Mistérios na Web - O Soldado de Galípoli

Os Rostos de Belmez


Ao entrar em sua modesta cozinha em uma abafada tarde de agosto de 1971, Maria Gomez Pereira, uma dona de casa espanhola, espantou-se com o que lhe pareceu um rosto pintado no chão de cimento. Estaria ela sonhando, ou com alucinações?

Não, a estranha imagem que manchava o chão parecia de fato o esboço de uma pintura, um retrato. Com o decorrer dos dias a imagem foi ganhando detalhes e a notícia do rosto misterioso espalhou-se com rapidez pela pequena aldeia de Belmez, perto de Cordoba, no sul da Espanha.

Alarmados pela imagem inexplicável e incomodados com o crescente número de curiosos, os Pereira decidiram destruir o rosto; seis dias depois que este apareceu, o filho de Maria, Miguel, quebrou o chão a marretadas. Fizeram novo cimento e a vida dos Pereira voltou ao normal.

Mas não por muito tempo. Em uma semana, um novo rosto começou a se formar, no mesmo lugar do primeiro. Esse rosto, aparentemente de um homem de meia idade, era ainda mais detalhado. Primeiro apareceram os olhos, depois o nariz, os lábios e o queixo. Já não havia como manter os curiosos a distância.

Centenas de pessoas faziam fila fora da casa todos os dias, clamando para ver a “Casa dos Rostos”. Chamaram a policia para controlar as multidões. Quando a notícia se espalhou, resolveu-se preservar a imagem. Os Pereira recortaram cuidadosamente o retrato e puseram em uma moldura, protegida com vidro, pendurando-o então ao lado da lareira.

Antes de consertar o chão os pesquisadores cavaram o local e acharam inúmeros ossos humanos, a quase três metros de profundidade. Acreditou-se que os rostos retratados no chão seriam dos mortos ali enterrados. Mas muitas pessoas não aceitaram essa explicação, pois a maior das casas da rua fora construída sobre um antigo cemitério, mas só a casa dos Pereira estava sendo afetada pelos rostos misteriosos.

Duas semanas depois que o chão da cozinha foi cimentado pela segunda vez, outra imagem apareceu. Um quarto rosto (de mulher) veio duas semanas depois. Em volta deste último apareceram vários rostos menores; os observadores contaram de nove a dezoito imagens. Ao longo dos anos os rostos mudaram de formato, alguns foram se apagando. E então, no início dos anos oitenta, começaram a aparecer outros.

O que, ou quem criou os rostos fantasmagóricos no chão daquela humilde casa? Pelo menos um dos pesquisadores sugeriu que as imagens seriam obra de algum membro da família Pereira. Mas alguns químicos que examinaram o cimento declararam-se perplexos com o fenômeno. Cientistas, professores universitários, parapsicólogos, a polícia, sacerdotes e outros analisaram minuciosamente a imagem no chão da cozinha de Maria Gomes Pereira, mas nada concluiram que explicasse a origem dos retratos.

Fonte: A Casa dos Rostos - A Outra Realidade

O Pássaro Aziago


Sir James Oxebham, de Devon, estava alegríssimo - assim começa a história - e tinha bons motivos. No dia seguinte, seria celebrado o casamento de sua única filha, sua bela Margaret.

Seria um dia perfeito. Margaret amava seu marido, um rapaz culto, de boa família e com dinheiro. Sir James adora também o rapaz e as duas famílias estavam muito satisfeitas e ansiosas para verem seus primogênitos embarcarem numa vaga de felicidade.

No dia anterior ao do casamento, em uma recepção em sua casa, Sir James fazia um discurso expansivo, agradecendo aos hóspedes por terem aparecido quando, de repente, empalideceu. gaguejou e parou. Os convidados ficaram alarmados, porém ele acabou recobrando a presença de espírito. Prosseguiu, mas sem a jovialidade do início,concluindo rapidamente a fala.

Depois do banquete, Sir James confidenciou a um antigo serviçal o motivo de seu desespero. Contou ele, que enquanto falava, viu aparecer do nada, um pássaro fantasmagórico de peito branco, dar várias várias voltas sobre a cabeça de Margaret antes de desaparecer novamente com um flash.

O criado ficou mudo e lívido, pois sabia que maldição acompanhava a família Oxebham desde o século XVI. Sempre que um Oxebham se encontrava na iminência da morte, esse ser aparecia sobre a cabeça do condenado. Há gerações, esse pássaro era o Arauto da Morte na família. Apesar de não ter dito palavra com seu patrão, o serviçal podia ver os olhos de angústia e tristeza nele.

Os temores do criado não eram infundados. No dia seguinte, assim que a cerimônia de casamento começou, um homem com uma adaga na mão, saído de trás de uma das tapeçarias do altar, investiu sobre a pobre Margaret e a matou com um golpe no coração.

A moça caiu morta, com o vestido de noiva sujo de sangue aos pés do horrorizado noivo. O assassino, um pretendente recusado, matou-se em seguida com a mesma adaga ensangüentada.

Contos de Terror

Fenômenos Estranhos em Textos Antigos

Em 13 de outubro de 1917, na cidade de Fátima, Portugal, 70.000 pessoas presenciaram o milagre do sol. Estava chovendo quando o sol apareceu através das nuvens. Parecia um disco achatado, com um contorno nitidamente definido. Tinha o brilho mutante e, de repente, começou a fazer uma manobra e a rodar com crescente velocidade. Começou a cair e logo 'aquilo', avermelhando-se, manobrou e desapareceu nas nuvens.

No ano de 1200, também foi vista uma cruz no céu sobre Jerusalém.

Em 312 d.C., surgiu uma cruz no céu quando o imperador Constantino aceitou o Cristianismo, no Império Romano.

Em 1528, no cerco de Utrech, foi vista uma cruz de Borgonha, de cor amarela, no céu da Holanda.

Nos anais de Tutmés III, cerca de 1504 a 1450 a.C., escribas viram no céu círculos de fogo que, em seguida, subiram mais alto e dirigiram-se para o sul.

Em 163 a.C., em Concius, um homem foi queimado por um raio que veio de um espelho no céu.

Em 436 d.C., em Bizâncio, após fortes tremores de terra, uma criança sobe ao céu e volta, fenômeno presenciado por muitas pessoas.

No ano de 776, os franceses, dentro do castelo de Sigibut, estavam sitiados pelos saxões. No entanto, foram salvos quando surgiram sobre a igreja da fortaleza dois escudos vermelhos no céu. E assim os saxões fugiram. (Annales Laurissenses).

Crônicas do ano 1120, do monge Mateus de Paris, nos falam de uma cruz voadora sobre o Santo Sepulcro. (Hist. Anglorum).

Em 1463, Catarina de Bolonha, na Itália, viu o Senhor sentado num trono resplandecente.

Em 214 a.C., em Hédria, no Golfo de Veneza, houve um estranho espetáculo. Surgiu um homem vestido de branco sobre um altar no céu. (Julius Obsequens e Tito Livius em história romana - Liv. 21- Cap. 62).

Fonte: Inexplicável - Textos Curiosos

A Mensageira da Morte


Dizem que nas ruínas do Castelo de Berry Pomeroy, no sul da Inglaterra, existem vários fantasmas, entre eles o de uma bela jovem, condenada por sua própria crueldade. Chamava-se Margaret, filha de um dos primeiros Barões de Pomeroy.

A jovem ficou grávida do próprio pai e estrangulou a criança ao nascer. Depois de morta, alega-se que seu fantasma pressagiava a morte de um Pomeroy ou de criados da casa.

Entre os muitos que dizem tê-la visto está Sir. Walter Farquhar, um eminente médico do final do século XVIII. Estava ele no Castelo cuidando da mulher enferma do administrador da família, quando viu de repente uma jovem belíssima parada á sua frente. Ela se virou e sumiu pelo corredor, em direção à escada. Ele a viu claramente, iluminada pela luz que vinha de um vitral, antes que desaparecesse num dos aposentos do andar superior.

No dia seguinte, Sir. Walter perguntou ao administrador quem era a bela jovem que havia visto. Para imensa surpresa do médico, o homem se pôs a chorar, dizendo que a visita signifocava que sua mulher estava à morte.

Aí contou que Margaret assassinara seu bebê no cômodo logo acima e que desde sua morte começara a anunciar as mortes no Castelo; ela já anunciara a do filho do administrador. O médico garantiu-lhe que sua mulher estava se recuperando e que não fazia sentido tal história. O homem ficou muito nervoso e mesmo com a certeza do médico de que ela estava fora de perigo, ela calmamente morreu na manhã seguinte. Este texto é baseado no folclore da região citada.

Fonte: http://members.fortunecity.com/lipeag/contomacabro.html