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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Dança das Fadas


Na planície de Lantherthun perto de Boulogne-sur-Mer (cidade francesa), vemos pilhas de pedras de diversos tamanhos, divididos em vários grupos.

Os moradores locais chamam alguns grupos isolados de violinos. Um tamanho maior de rocha é o violino maior ou baixo. Em torno dos três violinistas que tocam estes instrumentos há crianças dançando. Blocos grossos representam o público.

Antigamente, fadas se reuniam nesta planície para dançar. Uma noite, no ardor com que levavam esse prazer, esqueceram o momento em que um poder superior as obrigou a abandonar a planície. Dançarinos, músicos e espectadores se transformaram de repente em rochas.


Fontes: La Danse des Fées

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Drama de Peel

Peer Castle - Isle of Man

No mar da Irlanda, a leste da Ilha do Homem, está situada a pequena ilha rochosa de São Patrick. Ergue-se ali, debruçado sobre um pequenino golfo, o castelo de Peel, obra do século XV, que hoje vive apenas de suas lendas e de seus mitos. 

Atraído por essas alusões, viajou para ali velho amigo meu que queria conhecer o misterioso drama do castelo de Peel. Ao desembarcar na ilha procurou um guia e se dirigiu às vetustas ruínas.

Ao regressar me contou ele: — Ninguém vai à noite ao Castelo porque, segundo os naturais, vagueiam entre as paredes e nos subterrâneos animais encantados, almas penadas, entes sobrenaturais... O certo é que, quando a gente pisa no chão do castelo, um frêmito terrível nos percorre o corpo. Entre todas as assombrações, a mais temível é a do cão infernal: é ele um grande animal preto, cujos olhos projetam fogo nas trevas... Os habitantes da ilha só de lembrá-lo tremem. Sentado sobre enorme pedra, junto á entrada de um dos subterrâneos, foi que ouvi do meu guia a seguinte historia:

«Quando o castelo vivia em seu esplendor e era guarnecido pelas forças lusidas, o cão aparecia frequentemente no corpo da guarda e lentamente, rosnando, percorria o corredor que ligava aquela dependência aos aposentos do comandante da guarnição. Afastada do corpo principal da casa e próximo à guarda achava-se a capela. Às seis horas em ponto as chaves de todas as dependências deviam ser entregues ao comandante da praça. Nenhum soldado se atrevia a passar depois dessa hora pelo corredor mal assombrado.

Aconteceu que, certa vez, não foi possível levar as chaves á hora exata. E John, jovem e destemido recruta, se ofereceu para entregá-las ao oficial, atravessando a passagem terrível. Os companheiros, mais prudentes, procuraram dissuadi-lo. Ele, porem, riu-se da advertência e meteu-se no sinistro corredor. Os outros soldados, apreensivos e ansiosos, ouviam os passos de John ecoando entre as paredes de pedra e o ruído da espada arrastando-se no lajedo. Poucos minutos decorreram. De repente, pesado silêncio envolveu tudo. E, a seguir, gritos pavorosos mesclados de uivos inimitáveis saiam do corredor macabro. Um frêmito de pavor imobilizou os soldados. Nenhum deles se aventurava a socorrer o imprudente. Reuniram-se junto ao fogão, trêmulos e cabisbaixos, sem pronunciar uma palavra. Os uivos diabólicos e os gritos dolorosos não cessavam... Cinco minutos, que pareceram cinco séculos decorreram. E o silêncio voltou. Os guardas entreolharam-se horrorizados.

«Depois de algumas horas encontraram o corpo inerte de John na porta que dava para o corredor fatal. Ele passou desacordado dois dias. Manteve os olhos cerrados e no rosto uma expressão cadavérica. Junto ao seu leito, na enfermaria do castelo, permanecia a linda jovem. Era a noiva do infeliz. Lágrimas de vez em quando lhe corriam pela face linda. E ela, nervosa, acariciava as mãos do doente.

Quando voltou a si, ainda estava apavorado. A expressão cadavérica não desaparecera de seu rosto e, a muito custo, com voz fraca, disse:

— Ao entrar na sala de armas do apartamento do capitão, que estava ausente, vi um enorme cão preto sentado em sua cadeira... Seus olhos demoníacos expeliam faíscas... Vendo-me — que horror! — aproximou-se rapidamente de mim e, rosnando, farejou todo meu corpo... Senti que a vida me abandonava e gritei .. Não me lembro de mais nada...

Calou-se, voltando novamente ao estado de letargia.

Enquanto falara a moça estava inquieta, seus olhos não pousavam em coisa alguma e as lágrimas não cessavam de cair... Fora ela que, secretamente, exigira dele uma grande prova de coragem em troca do seu amor.

Algumas horas depois a morte levou John para seu abismo sem fim... E os médicos não souberam diagnosticar-lhe o mal.

A jovem, diariamente, ao cair da noite, era vista ajoelhada à porta da igreja, orando. E, num anoitecer daqueles, os guardas do castelo, assombrados, viram junto ao corpo desfalecido da moça um grande cão preto de olhos luminosos, a lamber-lhe as mãos muito alvas e longas, caídas no solo, como dois lírios abandonados...


(Orvacio Santamarina)

Fonte: Revista “Careta”, de 21/01/1939.

A Casa Aberta

O encontro de Grace O’Malley com a Rainha Elizabeth I

Existe em Howth, perto de Dublin, um vasto castelo que conhecido pelo nome de “Casa Aberta”. Aberta, a casa não está constantemente. Só durante as horas das refeições as janelas e as portas estão escancaradas e isso há quatro séculos.

A origem desse costume é dos mais curiosos. Há quatrocentos anos, Grace O’Malley, a célebre e temível mulher-pirata irlandesa, apresentou-se diante do castelo exigindo hospitalidade. Os donos do castelo evitaram acolher hóspede tão indesejável. Então Grace O’Malley rouba o filho dos castelões e lhes manda dizer que só restituiria o garoto sob uma condição: a de que para o futuro todas as portas e janelas do castelo, sem exceção, fossem abertas nas horas das refeições. Os proprietários do Howth — os Saint-Lawrence — foram obrigados, então, a aceitar o ultimato.

Desde então cumpriram escrupulosamente sua promessa. E a respeitaram tão bem que após sua morte o ultimo representante direto da família interditou, por testamento, a venda do castelo se o comprador não se conformasse com a tradição, comprometendo-se ainda exigir que a respeitassem seus herdeiros e todos os compradores eventuais.  A lenda pretende que o fantasma de Grace O’Malley aparece no castelo para fiscalizar o pacto.

A propósito do castelo de Howth se conta ainda outra lenda: no parque, próximo ao edifício, achava-se outrora um carvalho magnífico. Uma velha cigana que passou por ali declarou que o carvalho perderia um de seus galhos cada vez que morresse um membro da família  dos Saint-Lawrence. Coincidências? Sem dúvida. Mas a verdade é que a profecia se realizou plenamente. O carvalho mantinha apenas um galho e este tombou em 1898, no dia em que faleceu o ultimo Saint-Lawrence.

O velho tronco ainda existe, mas sem força para lançar novos ramos para o céu...


Fonte: Revista "Careta", de 17/12/1938.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Espectro de Bayreuth


A cidade de Bayreuth, na Alemanha, é conhecida no mundo pelo seu teatro wagneriano. Os alemães, porém, a conhecem também pelo seu castelo mal-assombrado. Segundo a lenda corrente aparece, de tempos em tempos, uma espécie de Dama Branca, que inclusive, andou perturbando o sono dos generais franceses que neste castelo se alojaram por ocasião da ocupação francesa em 1806. 

Durante muitos anos não se falou do espectro de Bayreuth. No começo dos anos 1920, no entanto, voltou à baila, perfeitamente ressuscitado. Nessa época muitos relataram que a Dama Branca se instalava todas as noites no teatro local no lugar do regente da orquestra, agitando uma batuta fantasma...

A Weisse Frau (Dama Branca) ou Espectro de Bayreuth, fez suas aparições também, durante muitos anos, em outros castelos reais alemães, sobretudo nos de Karlsruhe, Berlim, Darmstadt e Neuhaus, na Boêmia. Vestida de branco, era inofensiva, limitando-se a inclinar a cabeça quando se encontrava com alguém.

Num passado mais remoto, corriam rumores entre os Hohenzollerns, a família real da Prússia, de que ela era vista antes da ocorrência de catástrofes e mortes na família. Em Dezembro de 1628, a Dama Branca apareceu no palácio real de Berlim e disse: — Vinde, julgai os rápidos e os mortos! Eu aguardo o meu julgamento.

Uma lenda a identifica com o espírito de uma mulher do século XV, Bertha, ou Perchta, von Rosenberg, de Neuhaus, que de noite visitava os quartos de bebês reais para embalar as crianças enquanto as amas dormiam. Quando certa vez uma ama, aterrorizada, a viu, ela disse: — Eu não sou, como tu, uma estranha entre estas paredes. Eu sou da família, e esta criança descende dos filhos dos meus filhos.

Os Hohenzollerns explicavam a Dama Branca como sendo o fantasma da condessa Agnes de Orlamünde, emparedada viva por ter envenenado os próprios filhos. Era por vezes descrita vestida de preto e branco, as cores da Prússia. A sua aparição foi documentada pela primeira vez em 1486 no Palácio de Bayreuth, e diz-se que foi vista pela última vez no começo dos anos 1920 no teatro da mesma cidade.

A morte de Frederico I, o primeiro rei da Prússia, em 1713 foi precipitada pela sua crença na Dama Branca. A sua segunda mulher, que sofria de uma loucura ligeira, costumava vestir-se de musselina branca. Certa tarde, escapou-se das suas aias e atravessou uma porta de vidro antes de entrar nos aposentos de Frederico. O rei acordou da sua sesta e ficou tão aterrorizado ao ver a aparição vestida de branco com sangue a escorrer pelo vestido que adoeceu. Morreu pouco depois, convencido de que a Weisse Frau o tinha amaldiçoado.


Fontes: Revista da Semana, de 15/09/1923; Lendas arte e literatura gotica.blogspot.com.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Castelo da Megera


"...O povo arremessou-se, cego de ira pelos pátios, as escadarias, os corredores e salas e agarraram, enfim, a condessa que se tinha refugiado na capela: — “Mata! Mata!” — gritavam alucinados; mas não, a morte seria pena demasiado suave para a mulher soberba e encantadora que havia sacrificado tanta mocidade!..."

Nos arredores da República de Florença surgia ainda em 1261, o Castelo de Poppi, que por três séculos confundiu sua história com a da família dos condes Guidi, descendentes de Guido Guerra, o mais poderoso senhor da Toscana, cuja fama de ferocidade valeu-lhe o sobrenome de “Bebe Sangue”, tal era a volúpia de ódio e vingança com a qual lambia o sangue da espada que muitas vezes enterrou no coração de seus inimigos. Aliás, os Guidi foram colocados no “Inferno” por Dante em sua “Divina Comédia”.

As duas famílias, a dos Poppi e a dos Guidi, fundiram-se diversas vezes em núpcias e batizados, de maneira que suas crônicas, aliás, trágicas, misturam-se através do tempo, permanecendo, todavia, mais viva e mais trágica a dos Poppi, com seu formidável castelo medieval reunido por subterrâneos à mansão dos Guidi, que, como esta última, não pôde resistir tão bem à ação dos séculos.

Hoje, quer de um quer de outro castelo, só permanece um torreão quadrado, que os camponeses costumam chamar “A torre do diabo”, pelas lendas que a ela se ligam desde os longínquos tempos dos senhores de Poppi. A viúva de um conde Guidi, chamada Matelda, jovem e magnífica mulher, de olhos verdes e madeixas negras, permanece ainda hoje na memória dos habitantes da região como maldita feiticeira, causadora da morte e do desaparecimento de numerosos rapazes, filhos de famílias modestas, porem honradas, de proprietários rurais e camponeses, que entraram certo dia, ao escurecer, pela grande porta do castelo, tendo atravessado a ponte levadiça, os braços carregados de oferendas campestres, flores e frutos lindos de suas hortas e que nunca mais regressaram para suas fazendas e seus casebres.

Com o tempo, uma lenda atroz veio-se formando no espírito de todos e que devia custar a vida a Matelda. Ela fora a odiosa bruxa de olhos verdes, que nas manhãs luminosas, nas tardes ensolaradas, aparecia, de súbito, sob as vestes de uma camponesa, a trabalhar valentemente ao lado dos camponeses.

Matelda (por Noé Bordignon)
Irresistível sereia sabia seduzir os jovens com palavras mansas, enquanto ajudava a despir a vinha dos cachos de uva roxa, ou amarrar, com tiras de capim seco, os feixes de trigo dourado:

— “Sou a mucama da senhora do castelo. Vim trabalhar hoje porque preciso apanhar sol! Vem ter comigo à noite? Dar-te-ei um amuleto feito com os cachos dela e nunca o teu gado terá a peste! Podes entrar pela porta grande, dizendo que trazes hortaliças e flores para a condessa!”.

O incauto acreditava! Era sempre um dos mais belos e mais robustos rapazes da redondeza e ao cair da noite era ele misteriosamente introduzido no castelo onde sempre chegava carregado de presentes campestres, que lhe eram tolhidos logo ao ultrapassar o limiar do pátio interno da imponente mansão e, olhos vendados, sentia-se guiado, pelo velho guarda que o tinha recebido, por salas e corredores, escadas e terraços, subindo e descendo pelos labirintos da vetusta construção, até um local onde lhe tiravam a venda e ele se via, de súbito, como num conto de fadas, no meio de um quarto luxuosamente mobiliado; tapetes e cortinas, ouros e candelabros, onde os cristais e os adornos de prata se disputavam a glória de jorrar o maior brilho.

Deslumbrado, olhava em redor sem saber o que pensar, quando uma voz melodiosa o fazia estremecer:

— “Não me conheces? Já não te lembras da companheira que te ajudou ontem a amarrar os feixes do trigo?”

— “Mas! eu pensava que vosmecê fosse a criada do castelo?! Eu não sabia! Devo pedir perdão! E voltar!?”

— “Não! Porque agora tu és o meu príncipe e o meu amor!” E, envolvendo o jovem em seus braços de sereia, fazia-o esquecer de tudo o que não fosse aquela sua aventura de “Mil e Uma Noites”!

Tudo, porem, tem um fim e na manhã seguinte a condessa de Poppi despedia com um último beijo o seu jovem amigo:

— “O caminho para saíres do castelo tem todas as portas abertas... Vai!”

— “Até breve?”

— “Adeus!”

O rapaz partia. Conservava ainda nos lábios o sabor dos beijos ardentes e no corpo a lembrança dos violentos abraços. Tinha os membros lassos e a alma como ébria, mas o coração estalava de felicidade e orgulho. O humilde filho de um camponês tinha conseguido selar com seus beijos a boca voluptuosa de uma grande e nobre dama!

As primeiras luzes da alvorada começaram a enrubecer os cimos dos Alpes nevados, trazendo até o vale um vento gélido que fazia estremecer. O guapo rapaz, sangue de povo e músculos de aço, indiferente a qualquer mudança de temperatura, saia da claridade incerta de uma sala, dirigindo-se para a luz de outra sala, atravessando um curto corredor escuro, mas chegando bem no meio do pequeno trânsito, sentia de súbito faltar-lhe o chão sob o peso do corpo e caia num abismo sem fundo!

Quem ouviria o brado de angústia do desgraçado que se afundava nas águas turvas de uma cisterna? E quem poderia imaginar, que nos alegres campos de trigo dourado, que lá em baixo, nas trevas dos calabouços do castelo, uma criatura humana gesticulava numa agonia horrível, procurando agarrar-se a algo que retardasse de uma hora, ou de um minuto, a chegada da morte?

Quem poderia vingar o infeliz rapaz que pagava tão caro preço por uma noite de amor? E a maldição que lhe saía dos lábios no supremo momento perdia-se de encontro à abertura alta do poço, que, de repente, se fechava com o ruído seco de uma mola de aço! A nobre dama saciada, entre seus damascos, ouvindo o longínquo estalar da mola que lhe garantia o desaparecimento eterno de seu cúmplice de amor, que não mais a poderia denunciar ou comprometer, estirava-se nos lençóis com um sorriso de feroz satisfação, enquanto o sol, lá fora, chamava os homens ao trabalho dos campos.

Dias passavam e, de novo, surgia entre os trabalhadores a figura estranha de uma linda jovem, criada da condessa, perscrutando, olhos lânguidos, os jovens que mais lhe agradavam e a nova insídia realizava-se com idêntico epílogo. Muitas foram as vítimas, mas o povo começou a observar e a murmurar. Onde, como desapareciam tantos rapazes? Falava-se do filho de um fazendeiro que nunca mais se ouvira cantar, como de costume, entre os companheiros; de um homem de armas, que não respondeu ao apelo de seus chefes; de um menestrel, que passou como fantasma, atravessando a ponte levadiça do castelo, mas que nunca mais voltou!

A fantasia trabalhava! Nas casas fechadas, à noite, ante a lareira, todos comentavam, discorrendo sobre suspeitos e horrendos casos! Eram tempos cheios de temores e de covardia. Uma palavra, um mote, não podia ressuscitar mortos, mas podia condenar à tortura muitos inventos. Talvez a linda castelã guardasse junto a si, com as suaves e douradas cadeias do amor os favoritos da fortuna? Sim, mas por que nenhum deles dava mais sinal de vida?

De uma feita desapareceu um rapazinho de, apenas, dezoito anos. Trabalhava também nas vinhas de seu pai. Era o benjamim da aldeia. Onde estaria ele? Os pais não se resignaram e grande foi o tumulto, a procura insistente para lograr encontrar o rapaz. Bateram-se campos e florestas, montes e casebres; em vão; ninguém descobrira o menor vestígio da passagem do rapazinho. Nada se encontrara pelas estradas que de Poppi se comunicam pelo mundo fora.

Eis, porém, que alguém deu uma idéia que fez nascer suspeitas:

— “Não teria ele sido chamado para ir ao castelo? E, depois, quem o viu mais sair vivo? Ninguém?

Os ânimos exaltaram-se! Todo o mundo sabia que a senhora de Poppi era perversa e terrível, mas assim não podia continuar, era mister vingar aquele morto, quase uma criança ainda, o benjamim da aldeia!

Muitos camponeses armaram-se. Os sinos tocaram a “reunir”; todo o povoado dos montes e do vale acudiu e num momento encheram-se as ruas, as praças e as estradas de uma multidão hostil e ameaçadora que marchava em silêncio, feições carregadas, rumo ao castelo e suas torres.

Os homens de armas, defensores da vetusta mansão, encerrados em seu nicho de pedra, como fortalezas, não seriam bastante numerosos que pudessem amedrontar aquela “avalanche” humana cheia de ódio e furor e a surpresa do assalto que encerrou logo o castelo como num círculo de ferro, não permitia mais pedir auxílio nem ajuda a ninguém de fora.

A batalha foi áspera entre os poucos armeiros e a multidão que avançava decidida e audaz. Saltaram a torrente que rodeava o castelo e as pesadas portas de carvalho e ferro cederam sob o ímpeto dos machados, das foices e das enxadas. O povo arremessou-se, cego de ira pelos pátios, as escadarias, os corredores e salas e agarraram, enfim, a condessa que se tinha refugiado na capela:

— “Mata! Mata!” — gritavam alucinados; mas não, a morte seria pena demasiado suave para a mulher soberba e encantadora que havia sacrificado tanta mocidade!

— Não matem logo! Esperem! Esperem!”

— “Deve morrer aos poucos!”

— “Que morra de fome!”

— “Sim, morrerá de fome!”

Por cruel ironia a prisioneira foi arrastada e fechada no calabouço da “Torre dos Mantimentos”. Os berros da infeliz, sepultada viva, duraram dias e noites, acabando num gemido surdo e a “Torre dos Mantimentos” foi chamada depois: “A Torre da Fome”.

Assim findou a triste existência de uma criatura linda e sedutora, que poderia ter sido boa, caridosa e humilde, e má na distribuição dos dons que havia recebido de Nosso Pai Celeste.

Surgiram depois artistas e poetas para tirar enredos e lendas, ricos de harmonias e de horrores, assim como peregrinos de todas as partes do mundo, para visitarem o vasto castelo, tão cheio de graça e majestade, que foi, no entanto, quadro e moldura de tão hediondos crimes. Os poetas cantaram em rima e versos livres, as noites de amor de Matelda e os apelos desesperados de suas jovens vítimas enviadas ao Criador com o único “Viático” de um traiçoeiro beijo!

O povo, com o andar do tempo, rebatizou a “Torre do Diabo” e chamou-a “A Torre da Fome”, onde Matelda tinha padecido e morrido à míngua de um pedaço de pão. Ainda hoje, os habitantes daqueles sítios falam de umas aparições que rodeiam a torre nas noites sem lua! É o fantasma de uma mulher perseguida por demônios que a deixam sempre cair do alto da torre em baixo, como a terrível condessa fizera com os seus cúmplices de uma só noite de amor!


Texto de Itala Gomes Vaz de Carvalho 

Fonte: A Noite Illustrada - Supplemento Semanal - 27/06/1944.

domingo, 6 de maio de 2012

Dragão, um dos primeiros mitos

Criaturas presentes na mitologia dos mais diversos povos e civilizações, são representados como animais de grandes dimensões, normalmente semelhantes a imensos lagartos ou serpentes, muitas vezes com asas, plumas, poderes mágicos ou hálito de fogo. A palavra dragão é originária do termo grego drakôn, usado para definir grandes serpentes.

Em vários mitos eles são apresentados literalmente como grandes serpentes, como eram inclusive a maioria dos primeiros dragões mitológicos, e em suas formações quiméricas mais comuns. A variedade de dragões existentes em histórias e mitos é enorme, abrangendo criaturas bem mais diversificadas.

Apesar de serem presença comum no folclore de povos tão distantes como chineses ou europeus, os dragões assumem, em cada cultura, uma função e uma simbologia diferentes, podendo ser fontes sobrenaturais de sabedoria e força, ou simplesmente feras destruidoras.

Muito se discute a respeito do que poderia ter dado origem aos mitos sobre dragões em diversos lugares do mundo. Em geral, acredita-se que possam ter surgido da observação pelos povos antigos de fósseis de dinossauros e outras grandes criaturas, como baleias, crocodilos ou rinocerontes, tomados por eles como ossos de dragões.

Por terem formas relativamente grande, geralmente, é comum que estas criaturas apareçam como adversários mitológicos de heróis lendários ou deuses em grandes épicos que eram contados pelos povos antigos, mas esta não é a situação em todos os mitos onde estão presentes. É comum também que sejam responsáveis por diversas tarefas míticas, como a sustentação do mundo ou o controle de fenômenos climáticos. Em qualquer forma, e em qualquer papel mítico, no entanto, os dragões estão presentes em milhares de culturas ao redor do mundo.


As mais antigas representações mitológicas de criaturas consideradas como dragões são datadas de aproximadamente 40.000 a. C., em pinturas rupestres de aborígines pré-históricos na Austrália. Pelo que se sabe a respeito, comparando com mitos semelhantes de povos mais contemporâneos, já que não há registro escrito a respeito, tais dragões provavelmente eram reverenciados como deuses, responsáveis pela criação do mundo, e eram vistos de forma positiva pelo povo.

A imagem mais conhecida dos dragões é a oriunda das lendas europeias (celta / escandinava / germânica) mas a figura é recorrente em quase todas as civilizações antigas. Talvez o dragão seja um símbolo chave das crenças primitivas, como os fantasmas, zumbis e outras criaturas que são recorrentes em vários mitos de civilizações sem qualquer conexão entre si.

Há a presença de mitos sobre dragões em diversas outras culturas ao redor do planeta, dos dragões com formas de serpentes e crocodilos da Índia até as serpentes emplumadas adoradas como deuses pelos astecas, passando pelos grandes lagartos da Polinésia e por diversos outros, variando enormemente em formas, tamanhos e significados.

O escritor grego Filóstrato, dedicou uma extensa passagem da sua obra Vida de Apolônio de Tiana aos dragões da Índia (livro III, capítulos VI, VII e VIII). Forneceu informações muito detalhadas sobre esses dragões.

Dragões no Oriente

No Médio Oriente os dragões eram vistos geralmente como encarnações do mal. A mitologia persa cita vários dragões como Azi Dahaka que atemorizava os homens, roubava seu gado e destruía florestas. Os dragões da cultura persa, de onde aparentemente se originou a ideia de grandes tesouros guardados por eles e que poderiam ser tomados por aqueles que o derrotassem, hoje tema tão comum em histórias fantásticas.

Na antiga Mesopotâmia também havia essa associação de dragões com o mal e o caos. Os dragões dos mitos sumérios, por exemplo, frequentemente cometiam grandes crimes, e por isso acabavam punidos pelos deuses — como Zu, um deus-dragão sumeriano das tempestades, que em certa ocasião teria roubado as pedras onde estavam escritas as leis do universo, e por tal crime acabou sendo morto pelo deus-sol Ninurta. E no Enuma Elish, épico babilônico que conta a criação do mundo, também há uma forte presença de dragões.

Na China, a presença de dragões na cultura é anterior mesmo à linguagem escrita e persiste até os dias de hoje, quando o dragão é considerado um símbolo nacional chinês. Na cultura chinesa antiga, os dragões possuíam um importante papel na previsão climática, pois eram considerados como os responsáveis pelas chuvas. Assim, era comum associar os dragões com a água e com a fertilidade nos campos, criando uma imagem bastante positiva para eles, mesmo que ainda fossem capazes de causar muita destruição quando enfurecidos, criando grandes tempestades.

Dragões na Bíblia

Os dragões segundo a cultura cristã, são aqueles que mais influenciaram a nossa visão contemporânea dos dragões. Muito da visão dos cristãos a respeito de dragões é herdado das culturas do médio oriente e do ocidente antigo, como uma relação bastante forte entre os conceitos de dragão e serpente (muitos dragões da cultura cristã são vistos como simples serpentes aladas, as vezes também com patas), e a associação dos mesmos com o mal e o caos.

De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, no Antigo Testamento, dragões tipificam os inimigos do povo de Deus, como em Ezequiel 29:3. Ao fazer isso, associa-se a ideia das mitologias de povos próximos, para dar maior entendimento aos israelitas. É por isso que a Septuaginta, na sua narrativa da história de Moisés, traduz "serpente" por "dragão". (Êxodo 7:9-12).

Há ainda, no antigo testamento, no Livro de Jó 41:10-21, a seguinte descrição do Leviatã: 18 Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva; 19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela; 20 Dos seus narizes procede fumaça, como de uma panela que ferve, e de juncos que ardem; 21 O seu hálito faz incender os carvões, e da sua boca sai uma chama.

Em Isaías 30:6, há citado um "áspide ardente voador", junto com outros animais, para ilustrar a terra para onde os israelitas serão levados, pois o contexto do capítulo é sobre a repreensão deles. No Novo Testamento, acha-se apenas no Apocalipse de São João, utilizado como símbolo de satanás.

O Leviatã, a serpente/crocodilo cuspidora de fumaça do livro de Jó, também é considerado um dragão bíblico, embora não seja apresentado como um ser maligno e sim como uma criação de YHWH (Jeová, nome de Deus). Os dragões nas histórias da cristandade acabaram por adotar esta imagem de maldade e crueldade, sendo como representações do mal e da destruição.

O caso do mais célebre dragão cristão é aquele que foi morto por São Jorge, que se banqueteava com jovens virgens até ser derrotado pelo cavaleiro. Esta história também acabou dando origem a outro clássico tema de histórias de fantasia: o nobre cavaleiro que enfrenta um vil dragão para salvar uma princesa.

Dragões na América pre-colombiana

Os dragões aparecem mais raramente nos mitos dos nativos americanos, mas existem registros históricos da crença em criaturas "draconídeas".

Um dos principais deuses das civilizações do golfo do México era Quetzalcoatl, uma serpente alada. Nos mitos da tribo Chincha do Peru, Mama Pacha, a deusa que zelava pela colheita e plantio, era às vezes descrita como um dragão que causava terremotos.

O mítico primeiro chefe da tribo Apache (que, segundo a lenda, chamava-se Apache ele próprio) duelou com um dragão usando arco e flecha. O dragão da lenda usava como arco um enorme pinheiro torcido para disparar árvores jovens como flechas. Disparou quatro flechas contra o jovem, que conseguiu se desviar de todas. Em seguida foi alvejado por quatro flechas de Apache e morreu.

No folclore brasileiro existe o Boitatá, uma cobra gigantesca que cospe fogo e defende as matas daqueles que as incendeiam.

Dragões nas lendas européias

No ocidente, em geral, predomina a idéia de dragão como um ser maligno e caótico, mesmo que não seja necessariamente esta a situação de todos eles. Nos mitos europeus a figura do dragão aparece constantemente, mas na maior parte das vezes é descrito como mera besta irracional, em detrimento do papel divino/demoníaco que recebia no oriente.

A visão negativa de dragões é bem representada na lenda nórdica ou germânica de Siegfried e Fafnir, em que o anão Fafnir acaba se transformando em um dragão justamente por sua ganância e cobiça durante sua batalha final contra o herói Siegfried.

Serpentes marinhas como Jormungand, da mitologia nórdica, era o pesadelo do Vikings; por outro lado, a proa de seus navios eram entalhadas com um dragão para espantá-lo.

Na mitologia grega, também é comum ver os dragões como adversários mitológicos de grandes heróis, como Hércules ou Perseu. De acordo com uma lenda da mitologia grega, o herói Cadmo mata um dragão que havia devorado seus liderados. Em seguida, a deusa Atena apareceu no local e aconselhou Cadmo a extrair e enterrar os dentes do dragão. Os dentes "semeados" deram origem a gigantes, que ajudaram Cadmo a fundar a cidade de Tebas.

Sláine, Cuchulainn e diversos outros heróis celtas enfrentaram dragões nos relatos dos seus povos.

Durante a Idade Média as histórias sobre batalhas contra dragões eram numerosas. A existência dessas criaturas era tida como inquestionável, e seu aspecto e hábitos eram descritos em detalhes nos bestiários da Igreja Católica. Segundo os relatos tradicionais, São Jorge teria matado um dragão.

Fonte: Baeado em texto da Wikipédia.

domingo, 18 de março de 2012

A lenda dos Gremlins

Os Gremlins vão chegar se você não tomar cuidado! (U.S. National Archives - c. 1942-1943)

Um gremlin é uma criatura mitológica de natureza malévola popular na tradição saxã. O nome gremlin provém do inglês antigo grëmian, que significa “irritar” ou “incomodar”. Também está relacionado com grim, “sinistro”, e no termo alemão, grämen, “confusão”.

Os gremlins são populares como criaturas capazes de sabotar qualquer tipo de equipamento. A popularidade dos gremlins veio de uma história contada entre os pilotos da RAF (Força Aérea Britânica) a serviço no Oriente Médio durante a Segunda Guerra Mundial. Esses seres seriam uma forma de explicar os frequentes acidentes que aconteciam durante os vôos, as estranhas quedas que ocorriam na ausência de ataques inimigos.

Foram feitos dois filmes sobre essas criaturas, mostrando todos os seus aspectos críticos: Gremlins (Joe Dante, 1984) e Gremlins 2 (Joe Dante, 1990).

Os gremlins nesses filmes são apresentados em duas fases: a Mogwai, que seria o estágio infantil destes seres, no qual são quase inofensivos, e Gremlins, que são muito perigosos. Diz-se também que existem três coisas que não pode ser feito com um Gremlin ou Mogwai e deve ser evitado a todo custo para que tudo corra bem. A primeira é que a luz não deve ser administrada diretamente a eles, pois a odeiam: não se deve dar a luz do sol, sob o risco de ser morto. A segunda é que eles nunca devem entrar em contato com a água, pois quando isso ocorre com um Mogwai, saem bolas de pelos de suas costas, e assim ele se reproduz, em cópias parecidas, porém, mais travessas. Mas o que jamais se deve fazer a um Mogwai é alimentá-lo depois da meia noite, realizando assim a metamorfose, da fase infantil (Mogwai) para o adulto (Gremlin), encapsulando-se em uma pupa, como uma borboleta.

Eles também tiveram aparições em desenhos animados da Warner Bros, e da mesma no filme "Twilight Zone" , que apresenta uma criatura mais assustadora e letal.

Os gremlins também apareceram na expansão do jogo eletrônico Quake intitulada "Quake:Scourge of Armagon".No jogo,eles podem roubar a arma que o jogador estiver usando no momento e usá-la contra este.

Fonte: Wikipédia.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lenda da Dama Pé-de-Cabra

A Lenda da Dama do Pé-de-Cabra é uma conhecida lenda portuguesa e foi compilada por Alexandre Herculano no livro Lendas e Narrativas. Existe ainda outra versão, escrita em inglês pelo Visconde de Figanière no seu poema em cinco cantos Elva: a story of the dark ages (Londres, 1878).

D. Diogo Lopes, nobre senhor da Biscaia, caçava nos seus domínios, quando foi surpreendido por uma linda mulher que cantava. Ofereceu-lhe o seu coração, as suas terras e os seus vassalos se com ele se casasse. A dama impôs-lhe como única condição a de ele nunca mais se benzer.

Mais tarde, no seu castelo, D. Diogo apercebeu-se que a dama tinha um pé forcado como o de uma cabra. Viveram muitos anos felizes e tiveram dois filhos: Inigo Guerra e Dona Sol.

Um dia, depois de uma boa caçada, D. Diogo premiou o seu grande alão com um grande osso, mas a podenga preta de sua mulher matou o cão para se apoderar do pedaço de javali. Surpreendido com tal violência, D. Diogo benzeu-se. A Dama de Pé de Cabra deu um grito e começou a elevar-se no ar, com a sua filha Dona Sol, saindo ambas por uma janela para nunca mais serem vistas.

A partir daí, foi confessar e o pajem disse que estava excomungado, sua penitencia foi guerrear os mouros por tantos anos quanto vivera em pecado, tendo ficado cativo em Toledo. Sem saber como resgatar o pai, D. Inigo resolveu procurar a mãe que se tornara, segundo uns, numa fada, segundo outros, numa alma penada.

A Dama de Pé de Cabra decidiu ajudar o filho, dando-lhe um onagro, uma espécie de cavalo selvagem, que o transportou a Toledo. Aí, o onagro abriu a porta da cela com um coice e pai e filho cavalgaram em fuga, mas, no caminho, encontraram um cruzeiro de pedra que fez o animal estacar. A voz da Dama de Pé de Cabra instruiu o onagro para evitar a cruz. Ao ouvir aquela voz, depois de tantos anos e sem saber da aliança do filho com a mãe, D. Diogo benzeu-se, o que fez com que o onagro os cuspisse da cela, a terra tremesse e abrisse, deixando ver o fogo do Inferno, que engoliu o animal. Com o susto, pai e filho desmaiaram.

D. Diogo, nos poucos anos que ainda viveu, ia todos os dias à missa e todas as semanas se confessava. D. Inigo nunca mais entrou numa igreja e crê-se que tinha um pacto com o Diabo, pois, a partir de então, não havia batalha que não vencesse.

Outra lenda

Na atual região da beira alta, mais concretamente na aldeia histórica de Marialva vivia há muitos séculos atrás uma donzela muito formosa. Certo dia um nobre encantado com a sua beleza e querendo desposá-la encomendou os serviços de um sapateiro pedindo-lhe que fizesse uns sapatos para a donzela em questão.

Como se tratava de uma surpresa o sapateiro teria de arranjar uma maneira de conseguir fazer um molde dos pés da donzela para acertar no tamanho do pé, certo dia e sem que esta desse por isso espalhou farinha aos pés da cama da donzela para que quando esta se levantasse, deixasse a marca na farinha espalhada no chão, e assim foi. O sapateiro percebeu pela forma deixada no chão que a donzela tinha "pés de cabra", mas mesmo assim fez uns sapatos adequados.

Quando o nobre entrega o presente à donzela, esta com o desgosto de saber que já todos sabiam do seu defeito se atira da torre do castelo. A donzela chamava-se Maria Alva e ainda hoje, mesmo em ruínas podemos ver a torre do castelo.

Fonte: Wikipédia

A dama pé-de-cabra

Certo dia, D. Diogo Lopez saiu para uma caçada e a meio do seu caminho, depara-se com uma mulher muito formosa, que cantava lindamente.

- Quem sois vós, senhora? Quem sois vós que logo me cativastes? - pergunta D. Diogo Lopez.

Ela sorriu e respondeu:

- Sou uma dama tão nobre como tu.

D. Diogo Lopez, rapidamente se apaixonou perdidamente por ela e disse-lhe:

- Senhora, se casares comigo ofereço-te as minhas terras e os meus castelos.

- Guarda as tuas terras, que precisas delas para cavalgar! - respondeu ela.

- Que posso oferecer-te então para que sejas minha?

Ela não disse nenhuma palavra. De repente, estremeceu:

- A única coisa que me interessa não ma podes dar porque foi um legado da tua mãe.

- E se eu te amar mais do que à minha própria mãe?

Esta lhe disse:

- Nesse caso tens de jurar que não tornas a fazer o sinal da cruz que ela te ensinou em pequeno.

Este estranhou o pedido, mas estava tão apaixonado por ela, que exclamou:

- Seja como queres!

Dito isto D. Diogo levou-a para o castelo. Durante longos anos tudo correu bem, embora D. Diogo tenha reparado que a mulher tinha pés de cabra.

Tiveram dois filhos, D. Inigo e D.ª Sol.

Certa noite ao jantar, devido à morte de um dos cães de caça de D. Diogo provocada pela cadela da sua esposa, D. Diogo esqueceu-se do juramento e benzeu-se...

Foi o suficiente, para a sua esposa se desmanchar em urros pavorosos, ficando a sua pele negra. A mulher parecia um animal horrendo, de boca torta e olhos revirados, erguia-se no ar levando debaixo do seu braço a sua filha D.ª Sol.

D. Diogo estava aterrorizado...

- A minha mulher é o diabo! - exclamou.

Dizendo isto, a mulher soltou o último grunhido e desapareceu por uma brecha junto ao teto.

Desde esse dia nunca mais ninguém no castelo, tornou a pôr a vista em cima da mãe, da filha e da cadela. Desapareceram por artes mágicas.

D. Diogo desolado partiu para a guerra.

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Lenda de Portugal

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Castelos assombrados da Escócia

Castelo Glamis

O castelo assombrado mais famoso da Escócia é provavelmente o Castelo Glamis. Desde 1372 o castelo é a residência da familia Bowes-Lyon, os Condes de Strathmore e Kinghorne. A Rainha Mãe nasceu lá, era a filha caçula do 14º Conde, a princesa Margaret também nasceu alí (1930).

O castelo tem uma história repulsiva: no século 11, o rei Malcolm III foi assassinado lá… como o rei Duncan em Macbeth, amaldiçoado na peça de Shakespeare, que se passa alí.

No século 16, a viúva do 6º Senhor de Glamis, Lady Janet Douglas, foi queimada viva na estaca como uma feiticeira, porque tentou matar o Rei James V. Ela assombraria a capela do castelo como uma Dama Cinza.

De acordo com a lenda, o Conde Beardie que foi um hóspede do castelo, jogou cartas com Satã num quarto trancado, assombra o castelo, e ainda há um outro segredo terrível escondido. Algo a ver com uma criatura monstruosa que nasceu em Glamis, e viveu, segundo a lenda, por mais de cem anos… A criatura ainda assombraria o castelo também.

Na verdade, o alegado "monstro" se trata de Thomas Bowes-Lyon, primeiro filho de George Bowes-Lyon e Charlotte Grimstead, trisavós de Lady Elizabeth Bowes-Lyon, a Rainha Mãe. Ele nasceu e morreu em 21 de outubro de 1821.

terça-feira, 15 de março de 2011

A história de Lady Godiva

A bela Lady Godiva teve pena do povo de Coventry, que sofria com os altos impostos do marido. Tanto apelou ao duque, que ele aceitou conceder alterações e reduzir os impostos, mas sob uma condição: que ela cavalgasse nua pelas ruas de Coventry.

Lady Godiva (990? – 1067) foi uma aristocrata anglo-saxônica, esposa de Leofric (968–1057), Duque da Mércia, e que de acordo com a lenda cavalgou nua pelas ruas de Coventry, Inglaterra. Também figura nas Crônicas de Ely, que a descrevem como uma viúva, na ocasião do seu casamento com Leofric.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A rainha morta

Morte de Inês, óleo sobre tela, Columbano Bordalo Pinheiro,1901-1904
O romance de Pedro, futuro rei de Portugal, com a dama de companhia Inês de Castro marcou a história e a cultura portuguesas. Foi um amor proibido, vivido em atmosfera carregada de disputas de poder. A maior parte da narrativa se baseia em registros históricos. Só alguns detalhes pertencem ao campo da lenda, fruto da imaginação popular e do talento de artistas.
Tudo começou em 1320, com o nascimento do infante Pedro. Ele vivia no vale do rio Mondego, em Coimbra, então capital do reino. Das janelas do castelo real, avistava o mosteiro de Santa Clara, do outro lado do rio. Lá estava enterrada sua avó, Isabel de Aragão, então venerada como uma santa, um reflexo do grande fervor místico da Idade Média.

Outro dado do ambiente medieval europeu eram as constantes guerras causadas por disputas entre reinos. No caso, envolvendo tronos da Península Ibérica. Os arranjos políticos, por meio de casamentos entre nobres, eram parte essencial do jogo de poder da época.

Voltando a Pedro, não lhe cabia decidir o próprio futuro político e amoroso em tal conjuntura de manobras e alianças calculadas. Desde jovem, ele estava prometido a Constança Manuel, filha de um descendente de monarcas dos reinos de Aragão, Castela e Leão.

Pedro não queria, mas se submeteu ao casamento. Constança lhe deu um herdeiro e outros dois filhos. Quanto ao amor, o príncipe foi buscá-lo em outra mulher, logo a dama de companhia de sua esposa. O nome dela era Inês de Castro, jovem de grande beleza, descrita como loura e elegante. Por esses atributos, era chamada de “colo de garça”.

A paixão do príncipe foi correspondida. Mas o nada discreto caso de amor incomodou a Corte. “O escândalo tomou tais proporções que a esposa, d. Constança, decidiu chamar Inês para ser a madrinha da criança que estava esperando, já que esse tipo de parentesco espiritual tornava impossível a união que se esboçava, mais intensa a cada dia”, escreveu a historiadora portuguesa Maria Zulmira Furtado Marques, em A tragédia de Pedro e Inês.

Como os amantes seguiam com o romance adúltero, o pai do infante, o rei Afonso IV, ordenou o afastamento de Inês. Ela deixou o país e se exilou em Albuquerque, em Castela. Mesmo separados, Pedro e Inês continuaram a trocar cartas inflamadas.

Em 1345, Constança morreu num parto, e o príncipe se viu liberto das amarras do casamento de conveniência aos 24 anos de idade. Logo trouxe de volta sua amante para Coimbra, instalando-a em um palácio perto do mosteiro de Santa Clara, que podia ser avistado de seu quarto.

Em 1347, Inês deu à luz ao primeiro de quatro filhos com o infante. Mas o povo comentava e condenava o adultério, enquanto a peste negra, considerada sinal da cólera de Deus, chegava à região. Indiferentes a tudo, Pedro e Inês viviam seu grande amor.

Consta que ele a visitava a alguns passos de seu palácio, na Fonte dos Amores. O local ficava ao abrigo do sol e possuía uma parede coberta de hera, aberta em dois arcos, propícia para o romance e a troca de confidências. A famosa fonte continua hoje a jorrar na quinta das Lágrimas, onde funciona um hotel. Assim, historiadores e turistas podem conhecer o local do mítico romance.

O relacionamento amoroso aproximou Pedro de dois irmãos de Inês, Álvaro e Fernando de Castro. Eles viram na situação a oportunidade de obter o apoio de Portugal na luta que travavam contra o rei de Castela. Por isso, ofereceram ao infante o trono do reino vizinho.

A situação irritou d. Afonso IV. A ligação de Pedro com os Castro trazia o risco de aborrecer Castela, o que ameaçava a independência de Portugal. O rei também temia que os Castro agissem contra o herdeiro legítimo do trono, seu neto d. Fernando, filho de Pedro e Constança, para levar ao poder um dos bastardos.

Dom Afonso foi convencido por três de seus conselheiros – Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco – de que somente a morte de Inês poderia afastar tantos riscos políticos. Em 7 de janeiro de 1355, os três asseclas do rei partiram para Coimbra e encontraram Inês sozinha, pois Pedro havia saído para caçar. Eles a degolaram impiedosamente, e seu corpo foi enterrado às pressas na igreja de Santa Clara.

VINGANÇA De volta, Pedro ficou louco de dor e, movido pela raiva, levantou um exército contra seu pai. O rei revidou. O confronto só terminou com a intervenção da rainha-mãe, dona Beatriz, que propôs e conseguiu que ambos aderissem a um tratado de paz em agosto de 1355. Mesmo assim, o príncipe parecia inconsolável.

Dois anos mais tarde, em 1357, d. Afonso IV morreu. Pedro subiu ao trono de Portugal e seu primeiro ato foi mandar procurar os assassinos de Inês de Castro, refugiados em Castela. Conseguiu que aquele reino lhe entregasse dois culpados, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves. Diogo Lopes Pacheco conseguiu fugir. O novo rei escolheu uma morte particularmente cruel para os homens que destruíram seu objeto de amor. Mandou que lhes arrancassem o coração: de um, pelo peito, e do outro, pelas costas.

A paixão de Pedro e a reparação do mal feito à amante tornaram-se obsessões do agora soberano. Em 1360, ele jurou que havia se casado em segredo com Inês de Castro, o que fazia dela rainha, merecedora de todas as honras. Em abril de 1360, o corpo de Inês foi transferido solenemente do convento de Coimbra para o mosteiro Real de Alcobaça, onde eram enterrados os monarcas portugueses.

Eis um depoimento da época: “Dom Pedro mandou que fizessem para ela um mausoléu de pedra branca, inteira e sutilmente trabalhado, representando, sobre a tampa, sua cabeça coroada como se ela houvesse sido rainha; e foi esse mausoléu que ele mandou colocar em Alcobaça [...]. O corpo viajou em um ótimo cortejo para a época, desses em que há grandes cavalos montados por grandes cavaleiros, damas e donzelas e muita gente do clero; e ao longo do caminho havia mais de mil homens com círios nas mãos, dispostos de maneira que seu corpo seguiu durante todo o caminho entre as velas acesas”.

Reza a lenda que Pedro também mandou colocar o corpo de Inês no trono, pôs uma coroa em sua cabeça e obrigou os nobres presentes a beijar a mão do cadáver. Está nessa narrativa a origem da expressão “Agora, Inês é morta”, que quer dizer algo como “tarde demais”.

O episódio inspirou o francês Henry de Montherlant a escrever, em 1942, a peça de teatro A rainha morta. Montherlant foi um entre muitos escritores, poetas e dramaturgos que se inspiraram na história. Luís de Camões a recontou em versos em Os lusíadas. Garcia de Resende publicou, em 1515, suas Trovas à morte de Inês de Castro. Antônio Ferreira tratou do tema na peça Tragédia mui sentida de dona Inês de Castro, também no século XVI.

O rei Pedro I mandou esculpir sua história em detalhes no próprio túmulo. E quando ele morreu, em janeiro de 1367, seu corpo foi enterrado próximo da bem-amada. Os corpos não foram colocados lado a lado, como seria mais natural, mas um de frente para o outro, para que no dia da ressurreição pudessem se levantar e cair nos braços um do outro.

Os suntuosos túmulos de pedra branca dos trágicos amantes podem ser visitados no mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Sobre o de Pedro, está escrito que os dois permanecerão juntos “até o fim do mundo...”.

Fonte: História Viva.