sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Jack da Lanterna era Nabo


O costume de se usar abóboras no Dia das Bruxas, surgiu com os imigrantes irlandeses, que chegavam em grande quantidade nos Estados Unidos nos idos do século XIX. Usavam nabos em sua terra natal e se deram mal na terrinha do Tio Sam: os nabos eram raros! Que fazer? .... Esse povo de origem celta os substituiu por abóboras ...

Dizia a lenda que um homem chamado Jack, após a morte, foi proibido de entrar no paraíso porque enquanto esteve na terra foi pão-duro. Já as portas do inferno foram fechadas porque fez o diabo de bobo, escavando, no interior do tronco de uma árvore, uma cruz. O demônio ficou aprisionado lá dentro até jurar que nunca mais iria provocá-lo com tentações.

Sem ter para onde ir Jack foi condenado a andar na escuridão até o juízo final. Então, ele implorou a Satã que acendesse brasas para iluminar seu caminho. O diabo deu-lhe um pequeno pedaço de carvão incandescente. Para proteger a luz, o irlandês colocou o carvão dentro do buraco de um nabo. Surgiu assim o jack o’lantern (Jack da Lanterna) como é conhecida a lenda.

A ideia de usar um nabo surgiu com os Celtas, povo que se espalhou pela Europa entre 2.000 e 100 a.C. Um dos símbolos do seu folclore era um grande nabo com uma vela espetada.

Quando os irlandeses chegaram aos Estados Unidos, encontraram pouquíssimos nabos nos campos. Mas havia abóboras em abundância. Os imigrantes fizeram a substituição. Cultura (in)útil é com o Gato Peleque talvez celta (peleque = vira-lata). Um boa noite para vocês!


Fontes: Superinteressante; Wikipédia.

Os Ritos de Proteção


Certos morcegos da América do Sul atingem um tamanho superior a oitenta centímetros. Precipita-se sobre a vítima e, com o bico sugador fixado na jugular provoca-lhe uma espécie de anestesia que evita a dor. Estes vampiros Spectrum, nome dado pelos naturalistas, fazem autênticas devastações na Argentina, como se prova através desta informação citada por R. Ambelain: «No decorrer do ano de 1958, perto de vinte e cinco mil cabeças de gado morreram de doença causada pelas sucções dos animais em questão. »

O poder de anestesia de que falam os pesquisadores, assemelha-se ao beijo do vampiro se a vítima não oferecer resistência e se se abandonar à mordedura sem terror.

Os morcegos da América do Sul segregam um líquido especial que adormece a rede nervosa da veia jugular. A pessoa que adormece terá simplesmente a impressão de estar com um sonho estranho, uma sensação de dissolução agradável... enquanto o animal noturno lhe vai sugando o sangue.

O elo mágico entre o morto-vivo e o morcego é referido em todos os documentos religiosos da Idade Média.

A visionária Anne Catherine Emmerich afirmava ter visto Jesus Cristo, descrevendo-O detalhadamente. Confidenciou as visões que tivera ao poeta Clemens Brentano, que as redigiu intitulando-as de Vie de Jésus Crist, d'apres les visions de Anne Catherine Emmerich.

Numa passagem do seu livro, ela descreve Asach, na Palestina, infestada de morcegos-demônios. As pessoas desta terra têm feito caça aos repelentes animais malhados, de asas membranosas com as quais voam céleres. São estes os morcegos-demônios que sugam o sangue às pessoas e ao gado enquanto estes dormem. Vêm de densos pântanos impenetráveis e causam os maiores prejuízos...

Para os videntes cristãos, o vampiro depressa foi considerado inimigo de Deus, uma farsa monstruosa à luz divina, o candelabro tombado de que falam os praticantes de magia negra.

Na iconografia cristã, o pelicano tem uma certa analogia com a figura luminosa de Jesus Cristo, pelo fato de também aquele dar o seu sangue e a vida para proteger e alimentar os filhos. Um poema de Alfredo de Musset, evoca o sacrifício do pelicano, arrancando com o bico as entranhas para assim alimentar a sua ninhada.

No outro ponto oposto, o vampiro aparece como antítese do pelicano porque, para assegurar a sua existência, tira a vida ao homem sugando-lhe o sangue.

O Rei David, no Salmos implora a proteção de Deus contra os vampiros:

Livrai-me do que pratica o mal, salvai-me do homem sanguinário.
Regressam pela tarde, ladrando como cães e percorrem a cidade... (58-3.7)

Os seus lábios são como espadas... vagueiam à busca de alimento, 
e se não se saciam rondam a noite... (58-16)

Tal como se dissipa completamente o fumo, e ao contato com o fogo 
se derrete a cera, assim se dissipam o ímpios na presença do Senhor. (67-3)

A oração e a fé surgiam como as mais eficazes proteções contra os seres noctívagos. Homens e mulheres vampiros, outros sugadores de sangue e ladrões de almas.

À noite, durante o ofício das "Completas" e antes de recolher às celas os frades recitam os seguintes Salmos:

Tu não temerás o terror da noite
Nem a flecha que voa durante o dia
Nem a peste que alastra nas trevas
É que Ele deu ordens aos seus anjos
Para te protegerem em todos os caminhos

Tomar-te-ão nas palmas das mãos, não aconteça ferires
Nas pedras os teus pés;
Poderás caminhar por cima de serpentes e víboras.
Calcar aos pés leões e dragões
No teu leito, medita, paz e silêncio

Nos mosteiros ortodoxos, enquanto o Santíssimo está alumiado os sugadores de sangue não conseguem entrar porque a luz brilha nas trevas. As luzes votivas têm a mesma função. E como se cada átomo de obscuridade se purificasse pela real presença de Deus.

Os anais do Museu Guimet publicaram um excelente trabalho sobre armas de magia, punhais, espadas, o pentágono estrelado, que serviam, algumas delas, para combater os vampiros da Europa Central.

Na lâmina de uma espada, uma frase grega diz-nos: A mão direita de Cristo te persegue. Esta mão de vingança divina estendia a sua proteção pelos mosteiros, as aldeias, os cemitérios... por todo o lado onde o homem temesse o despertar dos mortos sob a forma de vampiros.

Numa outra lâmina de punhal, encontram-se inscrições cabalísticas em forma de contrações hebraicas: AgIa que não é mais que a contração das quatro iniciais da fórmula Atha Gibor Leolam Adonaï, ou seja, «Cristo é grande na Eternidade». A contração é uma oração que, comprimida como uma mola, pode a todo o momento aumentar a sua força.

Makaba, gravada sobre uma medalha, traduz o poder de Deus face aos seres da noite. Makaba é a contração do versículo hebraico Mi Komoi'kou Boelim Adonai... isto é: Quem de entre os deuses é semelhante a Ti, Senhor? (Êxodo XV, 11)

Pode encontrar-se nos Anais do Museu Guimet outras espadas cunhadas com a Cruz de Cristo, contendo inscrições latinas: Ego Sund et Genus David, Stella Splendida et Matutina... seguida da fórmula lapidar: Vade Retro Satanás. Em França, no princípio deste século, deitava-se fogo aos morcegos que se deixassem apanhar, apesar da utilidade dos seus serviços como insetívoros. Este exorcismo instintivo e espontâneo é um reflexo de superstição que nada tem a ver com o combate espiritual. E por causa deste medo se mandavam queimar os místicos, os visionários, porque eles não falavam a língua deste mundo, opondo-se ao entenebrecer da sua época.

Para além das superstições, existe o exorcismo real da alma, que não precisa recorrer a espadas mágicas, punhais, ou pentágonos de estrela para combate aos vampiros. Nos mosteiros da Europa Central, a grande proteção residia na oração, no implorar constantemente a Deus, vivo no homem e em todos os mundos tal como a luz do Santíssimo que invade a obscuridade sem que fique espaço para trevas.

Nos mosteiros do Monte Athos, a presença dos vampiros não é uma simples superstição. Terrível é aí o poder do diabo, porque o de Deus também o é. À noite, as celas dos monges são palco das mais duras lutas, agitação, alucinações, despertar violento, suores, pesadelos... gritos rasgam o silêncio, como o rir dos chacais risos que sacodem as abóbadas do velho mosteiro. Os monges escutam... benzem-se e rezam.

Jean Bies conta a sua viagem ao Monte Athos, à Montanha Sagrada, que é também local de pelejas espirituais: «Os demônios dançam no ar. Diz-se que são mais que os mosquitos em noite de Verão. Aqueles que os sentem à sua volta, começam logo a rezar. Nada mais estranho que o fechar cuidadosamente as pesadas portas, à noite, para evitar a entrada dos demônios! Toda a gente terá de entrar até ao pôr do Sol, I senão não se lhe abrirá a porta.

O mais poderoso dos exorcismos é ainda a Oração do Coração aprendida segundo os ensinamentos dos Hésychastes ortodoxos que será repetir o nome de Jesus constantemente, ao ritmo da respiração, acompanhada de um profundo sentimento de adoração, de presença.

Nos Atos dos Apóstolos se declara: «Todo aquele que invocar o nome do Senhor está salvo! » E S. Paulo, «Orai sempre...»

S. João Clímaco, um dos pais da Ortodoxia, propõe: a repetição do nome de Jesus como arma suprema contra os demônios noturnos: «Fulmina o teu inimigo com o nome de Jesus. Não existe nos céus nem na terra arma tão poderosa. Shiva e Krishn, repetindo os mantras, os nomes sagrados, afastam as tentações da noite e purificam o sono.


Fonte: Os Vampiros - Jean-Paul Bourre - Publicações Europa-América (1986)

Condessa Bathory


A família dos Dráculas estende as suas horríveis ramificações por toda a Europa. Irmãos, primos e primas, formam todos uma espécie de teia de aranha venenosa cuja mordedura matará; é como que uma poluição oculta que se infiltra por todo o lado e se espalha como um veneno.

Decadência e obsessão reinam em pleno nas almas pervertidas dos Drácula como prova a história da condessa Bathory.

Esta familiar do príncipe Vlad Drakul, senhor da Valáquia, domina a nobreza austro-húngara pela sua crueldade e luxúria. Ela vivia, «sem luz e sem cruz» – diz-nos Valentina Penrose.

«O seu espírito era desleal e supersticioso. Erzsébet Bathory experimentou várias crises de possessão. Nunca podia prever-se quando tal aconteceria. De repente surgiam violentas dores na cabeça e nos olhos. As criadas traziam feixes de plantas frescas e narcotizantes, enquanto sobre o lume se preparavam drogas soporíferas onde se iriam embeber esponjas para se passarem a seguir pelas narinas da paciente. » (Penrose).

Um dia a condessa, irritada, bateu em uma das serviçais. Logo o sangue jorrou e caiu sobre o seu braço. Tudo se precipita para fazer desaparecer o sangue, mas, entretanto, ele coalhara. Quando por fim se conseguiu limpar a mancha, a condessa contemplou a mão, surpreendida. «No sítio onde o sangue estagnara por alguns minutos, ela viu que a carne tinha um brilho translúcido, como o de uma vela iluminada por outra vela. »

Estamos na fortaleza dos Bathory, sobre a fronteira austro-húngara, no fim do século XV. Um mundo fechado, feito de solidão, neve e altas muralhas.

Nesta região secreta, desenvolvem-se as mais surpreendentes mitologias, mas se se tentar aprofundar um pouco mais para além do mito a realidade é por vezes bem mais aterradora que a própria lenda em si.

Na Hungria, o vampirismo é um título de nobreza como outro qualquer, com a única diferença que doseia o horror e a veneração de uma forma que cada pessoa sente a magia do sangue ainda que a aristocracia construísse os seus castelos no inferno.

Para o mundo de hoje, o vampiro húngaro veste uma camisa de peitilho arrendado, uma capa de cetim negro com dupla face vermelha, à moda dos poetas românticos. Mas quando o coração já não responde a paixões humanas e as mulheres o deixam insensível, a única beldade que lhe diz algo é a do sangue, e vive na angústia da estaca aguçada que trespassará o seu peito. Mas no cinema o vampiro é um modo de exorcizar a verdade, de esconder o verdadeiro rosto dos Drácula, que nada tem de comum com o fantasma da ópera...

No século XV, os vampiros não existem para manter o comércio de imagens de Epinal, mas para a crueldade e perversão que matem ou endoideçam.

Como se viu, a atribuição do nome de Drácula ao arquétipo do vampirismo junta-se à ideia base de a serpente ou de o dragão (Drakul, Drak = dragão) guardarem o segredo do sangue. O brasão dos Bathory tem a enfeitá-lo o motivo de um fantástico dragão.

Nas campanhas húngaras, amedrontado, o homem reconhece as virtudes do sangue. Não é mais nem menos que essa «água de rejuvenescimento» que os poetas tanto cantaram... mas existe o medo, a maldição, a infelicidade para quem tente violar os segredos do sangue eterno, pois que como revela o Levítico: A alma da carne está no sangue.

Desde muito cedo que Erzsébet Bathory contactou com «o leite venenoso dos sonhos». As lendas que embalaram a sua infância foram povoadas de homens e mulheres vampiros à procura da bebida encarnada que imortaliza.

Casada desde os 15 anos, a sua residência é no castelo de Csejthe, a nordeste da Hungria. O marido, valoroso guerreiro, é alcunhado de «herói negro», combatente valoroso, frequentemente em guerra com turcos e habsbourgos.

Com 20 anos, idade em que normalmente se frequentam bailes e recepções na aristocracia húngara, a prima do príncipe Drácula vive numa quase total reclusão. Amantiza-se com o intendente Thorbes, que a inicia em feitiçaria e que, tendo-a casado com Satanás, lhe transmite os ritos secretos da seita de «Ave negra» – sociedade secreta à qual ele pertence – tais como este:

«Agarrai uma galinha negra, e batei-lhe com uma bengala branca até ela morrer. Recolhei o sangue com que tocareis o vosso inimigo, que perecerá de esgotamento ou acidente. Se não for possível tocar-lhe diretamente, colocai um pouco do sangue sobre as suas roupagens. »

A Ordem da Ave Negra mantém estreitas e subterrâneas relações com a Ordem do Dragão de Segismundo da Hungria. Erzsébet participava nas reuniões de magia com Thorbes, com a sua ama, as duas criadas e o mordomo Johannès Ujvary.

Logo que enviuvou, dispensou a companhia de sua sogra e dos subordinados do marido, para se entregar tranquilamente aos ritos mágicos ensinados por Thorbes.

Uma certa manhã, quando uma das criadas a penteava e acidentalmente lhe arrepelou um pouco os cabelos, logo a esbofeteou. Fê-lo com tal violência que a pobre da moça começou a sangrar do nariz. Algumas gotas caíram então numa das mãos da condessa. Afastando as serviçais mandou chamar duas almas danadas, Thorbes e Ujvary, e informou-os em tom excitado:

«O sítio onde o sangue desta mulher me atingiu deixou a minha pele firme, voltou a ter um aspecto de juventude. » E foi desta forma que a condessa Bathory por um simples acaso, reconheceu quanto o sangue era eficaz. A angústia do envelhecer, o aparecimento das rugas, o perder da juventude e beleza como que encontrava de repente uma paragem, um remédio, porque o sangue poderia enfim conservá-la nova e bonita. Neste seu delírio ela já admitia que banhos de sangue poderiam resultar na flexibilidade do corpo e no não envelhecimento. Então, durante dez anos, Erzsébet Bathory ordenou que fossem degoladas uma centena de jovens camponesas, com a cumplicidade de terceiros, mandadas sob diversos pretextos para Csejthe.

Em novembro de 1610, uma das vítimas conseguiu fugir antes de ser condenada à morte. O rei Mathias II, conhecedor do caso, encarregou o conde Thurzo de investigar as estranhas práticas da condessa. A 30 de Dezembro de 1610 o conde forçou a vedação do castelo de Csejthe. Na sala grande da torre de mensagem, descobriu horrorizado um cadáver em cujo corpo não havia gota de sangue, vasos cheios de sangue ainda não coagulado, e um moribundo barbaramente torturado. Submetido a interrogatório, o mordomo Ujvary confessou ter participado em trinta e sete assassinatos rituais. Uma tesoura, manejada por Erzsébet Bathory, substituía o punhal sacrifical. Os servos desta estranha missa do sangue recolhiam-no para depois prepararem os banhos de juventude de Erzébeth cuja aparência jovem, comentavam os juízes, «não podia ser senão de origem diabólica».

A condessa confessou arrogante e friamente os seus crimes. Os dois necromantes foram condenados à morte. Arrancaram-lhe as unhas, cortaram-lhes a língua, espetaram-lhe os olhos e por fim queimaram-nos em fogo lento.

Erzsébet foi condenada a confessar a sua culpa e a ser decapitada. A sentença foi comutada, tendo em vista a sua origem e posição, para prisão perpétua «a pão e água». Veio a morrer em 1614, passados anos, encerrada entre as paredes de uma das salas do seu castelo.

Esta triste história desenrolou-se há muito tempo numa região onde reinava a superstição e o terror. Aos sacerdotes ortodoxos foi bastante difícil desenraizar as antigas práticas, o culto do sangue, os pactos das possessões diabólicas. Embora os tempos tivessem mudado as coisas, a verdade é que o fascínio mórbido do sangue perturba sempre os cérebros fracos.


Fonte: Os Vampiros - Jean-Paul Bourre - Publicações Europa-América (1986)

O Vale dos Imortais


No seu romance Drácula, Bram Stoker garante ter encontrado, em 1880, um professor Arminius, da universidade de Bucareste que lhe entregou um dossiê «respeitante a V1ad V, filho de V1ad, o Diabo» atestando que depois da morte brutal, da sua inumação na ilha de Snagov, seguido do famoso cataclismo que arrasou a ilha, Drácula reapareceu como «vampiro».

«Pedi ao meu amigo que pusesse em ordem o seu dossiê. Todas as fontes de informação levam a pensar que Drácula foi um voïvode que ganhou o seu apelido ao combater os turcos no grande rio, sobre a fronteira da terra turca. Sendo assim, não se trata de um homem vulgar, porque no tempo dele e nos séculos seguintes foi considerado o mais inteligente, o mais ardiloso e valente entre todos os que existiam para além das florestas (Transilvânia), levou para o túmulo esse poderoso cérebro e um caráter de ferro que ‘utiliza agora contra nós’. Os Drácula, diz-nos Arminius, foram uma grande e nobre raça, ainda que certos descendentes seus (segundo os contemporâneos) tivessem pacto com o diabo. Aprenderam o segredo de Satanás no Scholmance, entre montanhas, sobre o lago Hermanstadt, onde o demônio se reclama, por direito, o décimo erudito.

»No manuscrito encontram-se palavras como estrgoica (feiticeira), Ordog (Satanás), polok (inferno), e ainda se diz neste momento que Drácula, era wampir».

Nos contrafortes dos Cárpatos, nos vales da Transilvânia, as aldeias fazem a época histórica dos Drácula. De longe em longe distinguem-se granjas de madeira, para onde o camponês conduz o seu atrelado. O caminho é escarpado, todo exposto ao sol ao longo das encostas íngremes que levam a cumes solitários. Umas vezes aparece uma cabana de caçadores, um calvário... meio engolido pela vegetação. Outras vezes surge alguma ruína imponente coroando a colina, os muros de uma antiga fortaleza colocada de sentinela à entrada de uma garganta profunda, ao fundo da qual brilham como um espelho as águas de uma ribeira.

E fácil compreender por que este território inacessível foi noutros tempos a pátria dos dácios, «o vale dos imortais», que os antigos gregos veneraram.

Num livro misterioso, chamado L’Icosameron Giacomo Casanova – gentil-homem veneziano, libertino, filósofo e mágico – conta-nos de um povo que vivia no subsolo da Transilvânia, os Mégamicres, bebendo sangue para se tornarem imortais:

«Que belo alimento era o leite dos Mégamicres!... Pensamos que nada de fabuloso nos ensinara a mitologia, que estávamos no verdadeiro domicílio dos imortais e que o leite sugado por nós representava o néctar, a ambrósia, que iria sem dúvida dar-nos a imortalidade de que todos deviam desfrutar... esta refeição durou uma hora e penso que teríamos ainda continuado não fora verificarmos com pavor algumas gotas que caíram dos seus mamilos para o nosso peito. Pela cor percebemos que era sangue.

»Intermináveis corredores ligam o mundo subterrâneo dos Mégamicres à região do lago Zirchnitz, na Transilvânia, que Casanova descreve como um ‘reino de grutas e de trevas’. »

Quais são os deuses venerados pelos Mégamicres, em Icosameron? Lendo a descrição que Giacomo Casanova nos faz, pensamos nos vampiros que povoam a tradição de Europa central:

«.... Os deuses dos Mégamicres são répteis. Têm a cabeça muito parecida com a nossa, mas sem cabelo. Nada é tão doce e sedutor como o seu olhar, quando se fixa. De dentes são brancos e bicudos, mas nunca se vêem por eles terem sempre os beiços fechados. A voz é apenas um horrível silvo que faz ranger os dentes e gelar o coração. O povo dos Mégamicres dedica-lhe um culto religioso.

»A vida e a morte de Casanova continuam misteriosas. Foi preso em Veneza, pela Inquisição, acusado de magia e fechado nos esgotos do Palácio ducal, donde conseguiu fugir e correr a Europa. Manuzzi – espião dos inquiridores de Veneza, conseguiu apoderar-se de livros e documentos manuscritos em sua casa, tais como as Clavicules de Salomon, as obras de d’Agripa, e o Livre d’Abramelin le mage (publicado em Veneza).

No seu L’Icosameron, Casanova revela que os Mégamicres são os inimigos do envelhecimento, e que nunca envelhecem:

«O sono profundo», escreve ele, «uma tão perigosa languidez, que é visível que nos faz envelhecer e acelera o ritmo das nossas vidas...»

Sabe-se que Drácula foi enterrado na ilha de Snagov, à entrada da igreja do mosteiro, e procedeu-se as várias buscas em vão. O túmulo está vazio, acontecendo o mesmo com o de Giacomo Casanova, enterrado no parque do castelo de Dux, na Boêmia, sob uma pedra tumular rodeada por um gradeamento. Depois foi transladado para poucos metros de distância, perto da entrada da pequena igreja de Santo Eustáquio, na margem de um pequeno lago...

Hoje não existem nem as lajes sepulcrais nem gradeamento! Que coincidência tão estranha até à morte... Drácula e Casanova! ... Coincidências ou conjugações de forças secretas para lá da nossa compreensão? ... Os imortais bebedores de sangue de Giacomo Casanova viveram em tempos longínquos na Transilvânia, perto do lago Zirchnitz, numa região de «grutas e trevas».

A Transilvânia foi a pátria dos dácios muito antes da era cristã. Os gregos acreditavam que este enclave de montanhas era o «Vale dos imortais».

A antiga terra dos dácios era pagã. «Aí existiam, governados pela misteriosa deusa Mielliki, as forças dos bosques, enquanto a oeste a montanha de Nadas tinha o vento como único habitante. Havia um deus único, mas nos Cárpatos supersticiosos havia sobretudo o diabo Ordog, servido por feiticeiras que, por sua vez, tinham ao seu serviço cães e gatos pretos. E tudo vinha dos elementos da natureza e de suas fadas.... No meio das árvores sagradas, de carvalhos, de nogueiras fecundas, celebravam-se secretamente os cultos do Sol e da Lua, da aurora e do cavalo preto da noite. »

Testemunhas da Grécia antiga recordam ter visto legiões de dácios em pé de guerra, armados de escudos, trazendo a efígie do dragão nas armas de guerra.

Para os raros viajantes da Antiguidade, este povo selvagem corresponderia aos Hiperboreanos da mitologia, os homens-deuses que venceram a morte e reinaram na ilha de Thulé (Os filósofos gregos e pessoas que em viagem citam a Dácia hiperboreana).

Os dácios consideravam-se imortais. Tinham – acreditavam eles – o dom de se transformar em lobo ou em morcego, de voar, de dialogar com os deuses no alto das montanhas. Os lugares escolhidos para os rituais eram sobre os picos rochosos, no interior de grutas inacessíveis. E sobre estes cumes que os grandes senhores – Drácula, Garal, Cillei – construíam seus ninhos de águias.

A suprema autoridade religiosa dos dácios, aquele que detinha os segredos da vida e da morte, viveu, ma das florestas da Transilvânia, no cimo de uma montanha agreste na qual construíram um templo. Supõe-se hoje que tivesse sido o monte Cugu, que se eleva a três mil metros de altitude nos confins de Banat e da Transilvânia.
Para os «padres» dácios, a divindade suprema chama-se Zalmonix. E ela que preside à iniciação.

Entre Zalmonix e os sacerdotes de Transilvânia existem outros seres que servem de intermediários entre os homens e a divindade suprema. Estes seres seriam eventualmente os vampiros ou mortos-vivos, isto é, aqueles que venceram a morte e que têm o poder de voltar ao meio dos homens, segundo a sua vontade.

O príncipe romeno Bursan-Ghica, exilado em Paris desde os anos 50, recorda ainda as velhas lendas da Transilvânia:

«Para comunicar com Zalmonix, os dácios têm de recorrer a mensageiros. Escolhem por isso os irmãos mais avançados em magia, aqueles que ultrapassaram o limiar da iniciação. Estes eleitos são os sacrificados. Os dácios trespassam-nos com as pontas das suas lanças. Mas sete dias depois, os corpos trespassados saem do túmulo e juntam-se aos outros. Tornaram-se imortais e farão de elo entre os Dácios e Zalmonix. Naturalmente que as lanças foram substituídas por agudas estacas que se plantavam na terra. Compreendem agora a realidade secreta da estaca dentro do vampirismo, e a razão por que o Drácula foi alcunhado de Vlad, o empalador? ...

Para certos ocultistas, fanáticos do vampirismo, o príncipe Drácula não seria um guerreiro sanguinário ao empalar as suas vítimas para seu prazer... antes cumpria as práticas da magia antiga e dos Dácios, seus antepassados, os imortais da Transilvânia.

Em 1462, Vlad Drakul foi preso na Hungria, na torre de Salomão, palácio de Visegrad. Segundo Kurytsint um diplomata russo, Drácula mantinha excelentes relações com os guardas. Fez-lhes um pedido que não deixa de ser curioso! Desejava que lhe arranjassem ratazanas, ratinhos, pássaros e outros animais pequenos.

Que razões secretas o levariam a tal? Kurytsint que estudou Drácula narra que ele empalava estes animalejos e os dispunha em redondo ou em cepa, espetados em raminhos afiados sobre o chão da sua cela. Os cronistas referem as distrações atrozes, de um sadismo monstruoso. As obras recentes acerca do personagem histórico Vlad Drakul (entre eles o livro do historiador Romeno Florescu) são bem o testemunho da opinião do autor quanto a tratar-se de perversões psicopatológicas. Apenas os ocultistas e os adeptos do vampirismo viram nelas o ressurgimento da antiga magia Dácia oferenda oculta único vínculo possível com Zalmonix deus dos vivos e dos mortos nas antigas crenças da Transilvânia.


Fonte: Os Vampiros - Jean-Paul Bourre - Publicações Europa-América (1986)