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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Marquês de Sade

Retrato de Sade em 1761
Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, (Paris, Île-de-France, Reino da França, 02/07/1740 — Saint-Maurice, Île-de-France, Reino da França, 02/12/1814), aristocrata francês e escritor libertino, teve muitas de suas obras escritas enquanto estava na Prisão da Bastilha, encarcerado diversas vezes, inclusive por Napoleão Bonaparte. De seu nome surge o termo médico sadismo, que define a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou parceiros. Foi perseguido tanto pela monarquia (Antigo Regime) como pelos revolucionários vitoriosos de 1789 e depois por Napoleão.

Além de escritor e dramaturgo, foi também filósofo de idéias originais, baseadas no materialismo do século das luzes e dos enciclopedistas. Lido enquanto teoria filosófica, "o romance de Sade oferece um sistema de pensamento que desafia a concepção de mundo proposta pelos dois principais campos filosóficos no contexto da França pré-republicana: o religioso e o racionalista".

Sade era adepto do ateísmo e era caracterizado por fazer apologia ao crime (já que enfrentar a religião na época era um crime) e a afrontas à religião dominante, sendo, por isso, um dos principais autores libertinos - na concepção moderna do termo. Em suas obras, Sade, como livre pensador, usava-se do grotesco para tecer suas críticas morais à sociedade urbana.

Evidenciava, ao contrário de várias obras acerca da moralidade - como por exemplo o "Princípios da Moral e Legislação" de Jeremy Bentham- uma moralidade baseada em princípios contrários ao que os "bons costumes" da época aceitavam; moralidade essa que mostrava homens que sentiam prazer na dor dos demais e outras cenas, por vezes bizarras, que não estavam distantes da realidade. Em seu romance "120 Dias de Sodoma", por exemplo, nobres devassos abusam de crianças raptadas encerrados num castelo de luxo, num clima de crescente violência, com coprofagia, mutilações e assassinatos - verdadeiro mergulho nos infernos.

Duas personagens criadas por Sade foram suas idéias fixas durante décadas: Justine (que se materializou em várias versões de romance, ocupando muitos volumes), a ingênua defensora do bem, que sempre acaba sendo envolvida em crimes e depravações, terminando seus dias fulminada por um raio que a rompe da boca ao ânus quando ia à missa, e Juliette, sua irmã, que encarna o triunfo do mal, fazendo uma sucessão de coisas abjetas, como matar uma de suas melhores amigas lançando-a na cratera de um vulcão ou obrigar o próprio papa a fazer um discurso em defesa do crime para poder tê-la em sua cama.

As orgias com o papa Pio VI em plena Igreja de São Pedro, no Vaticano, fazem parte da trama sacrílega e ultrajante do romance Juliette, com a fala do pontífice transformada em agressivo panfleto político: "A Dissertação do Papa sobre o Crime". Sade tinha o costume de inserir panfletos político-filosóficos em suas obras. O panfleto "Franceses, mais um Esforço se Quiserdes Ser Republicanos", que prega a total ruptura com o cristianismo, foi por ele encampado ao romance "A Filosofia na Alcova" (Preceptores Morais), no qual um casal de irmãos e um amigo libertino "educam" a jovem Euginè para uma vida de libertinagem, mostrando-lhe aversão aos dogmas religiosos e costumes da época

Tanto o surrealismo como a psicanálise encamparam a visão da crueldade egoísta que a obra de Sade expõe despudoradamente. Um exemplo de influência do Marquês de Sade na arte do século 20 é o cineasta espanhol Luis Buñuel, que em vários filmes faz referências explícitas a Sade: em "A Idade do Ouro, por exemplo, retrata a saída de Cristo e dos libertinos do castelo das orgias de Os 120 dias de Sodoma". A influência de Sade pode ser notada também em autores como o dramaturgo francês Jean Genet, homossexual, ladrão e presidiário, que retoma muitos dos temas do marquês, também desenvolvidos em ambientes carcerários franceses.

A questão da suposta homossexualidade de Sade ("Terá sido Sade um pederasta?") foi formulada pela escritora francesa Simone de Beauvoir no clássico ensaio 'É preciso Queimar Sade? - Privilégios'. A autora conclui pela heterossexualidade de Sade, que sempre amou mulheres tolerantes a suas aventuras, embora tivesse um comportamento sexual atípico, defendendo o coito anal e chegando a pagar criados para sodomizá-lo publicamente em suas orgias, das quais a primeira mulher, Renné de Sade, teria participado.


Atualmente, estudiosos da cultura e da literatura, como o sociólogo Ottaviano de Fiore, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), compartilham a opinião de Simone de Beauvoir, creditando o comportamento e a imaginação literária do autor de  “120 Dias de Sodoma” a neuroses relacionadas a parafilias, como o gosto pelo lixo e pela sujeira, que na ficção sadeana desembocam na apologia do crime e na erotização da fealdade e das mais atrozes torpezas.

Na velhice, já separado de Renné, sua primeira mulher, mas, como sempre, preso por causa de suas idéias e de seu comportamento libertino, foi amparado pela atriz Marie-Quesnet, que se mudou com ele para o Hospício de Charenton. Nessa época, sob o olhar tolerante de Marie-Quesnet, enamorou-se da filha de uma carcereira que tinha 14 anos quando o conheceu. Todos esses fatos estão rigorosamente documentados por Gilbert Lely, o mais importante biógrafo de Sade, compilador de suas cartas e autor do clássico 'Vida do Marquês de Sade'.

Sade morreu aos 74 anos, amado por duas mulheres, com quem planejava produzir peças teatrais pornográficas quando um dia saísse do hospício.

Algumas obras

Justine
Juliette de Sade
Zoloe e suas Amantes
O Estratagema do Amor
Os Crimes do Amor
A Filosofia na Alcova
Contos Libertinos
Diálogo entre um Padre e um Moribundo
Os 120 Dias de Sodoma
A Crueldade Fraternal
Os Infortúnios da Virtude


Cronologia

1740 - Nasce em Paris em 2 de junho. Vive dos quatro aos dez anos de idade no Comtat-Venaissim.

1750 - Estuda no Collège Louis-le-Grand e também com preceptor particular.

1754 - É admitido na Escola da Cavalaria Ligeira.

1755 - Torna-se subtenente do regimento de infantaria do rei.

1757 - É promovido a oficial. Tem início a Guerra dos Sete Anos.

1759 - Torna-se capitão do regimento de cavalaria de Bourgogne.

1763 - É desmobilizado e casa-se com Reneé-Pélagie de Montreuil. Passa quinze dias na prisão de Vincennes por "extrema libertinagem".

1764 - É recebido pelo parlamento de Bourgogne no cargo de lugar-tenente geral das províncias de Bresse, Bugey, Valromey e Gex.

1765/1766 - Mantém relacionamentos públicos com atrizes e dançarinas.

1767 - Falece o conde de Sade, seu pai, e nasce o seu primeiro filho, Louis Marie de Sade.

1768 - Primeiro grande escândalo: a mendiga Rose Keller processa o Marquês por maus tratos, em Arcueil. Sade é detido em Saumur por quinze dias, e depois em Pierre-Encise, perto de Lyon, por sete meses. Festas e bailes sucedem-se em seu castelo de La Coste, na Provence.

1769 - Nasce seu segundo filho, Donatien Claude Armand de Sade.

1771 - Nasce sua filha, Madeleine Laure de Sade.

1772 - Segundo grande escândalo: em Marselha, quatro prostitutas processam Sade e seu criado Latour por flagelações, sodomia e ingestão forçada de uma grande quantidade de cantárida (pó de asas de besouros africanos, capaz de provocar estado de excitação sexual no homem e na mulher) afrodisíaco. É condenado à morte por sodomia. Foge para a Itália. Na cidade de Aix-en Provence, a 12 de setembro, é executado junto com Latour em efígie (isto é, bonecos simbolizando Sade e seu criado foram publicamente executados, na ausência dos verdadeiros réus). Detido em Chambéry, é encarcerado em Miolans, na Savoie.

1773 - Foge em Miolans. Sua sogra, madame de Montreul, obtém licença do rei para prendê-lo e confiscar seus documentos, mas sem resultado.

1774 - Isola-se em seu castelo em La Coste.

1775 - Organiza diversas orgias em seu castelo. Risco de novo escândalo. Foge novamente para a Itália.

1776 - Volta à França.

1777 - Falece sua mãe, madame de Sade. É capturado em Paris e encarcerado em Vincennes.

1782 - Finaliza o "Dialogue entre un prêtte et un moribond".

1784 - É transferido para a Bastilha.

1785 - Conclui "Les Cent vingt journées de Sodome".

1787 - Redige contos e pequenas histórias.

1788 - Escreve "Eugénie de Franval" e "Justine, Les infortunes de la ventu". Organiza um catálogo de suas obras.

1789 - Provavelmente neste ano, conclui "Aline Et Valcour". É transferido precipitadamente para Charenton, na noite de 3 de julho para 4 de julho. Com a tomada da Bastilha, são pilhados seus documentos e bens pessoais.

1790 - É libertado de Charenton. Inicia sua ligação com Marie-Contance Quesnet, que não mais o abandonará.

1791 - Publica clandestinamente "Justine" ou "Les malheurs de la vertu". Escreve seu primeiro texto político. É também o ano da primeira montagem de "Oxtiern".

1792 - O castelo de La Coste é pilhado. 'Le Suborneur' é levado à cena, sem sucesso.

1793 - Redige novos textos políticos. É mais uma vez acusado e detido.

1794 - Prisioneiro em Carmes, Saint-Lazane, na casa de saúde de Picpus. É condenado à pena de morte e posteriormente liberado.

1795 - Publica clandestinamente "La philosophie dans le boudoir" e, oficialmente, "Aline et Valcour".

1796 - "Oxtiern" é levado novamente à cena, agora em Versalhes, onde seu autor vive de forma muito modesta. A ele cabe o papel de Fabrice.

1800 - Publica oficialmente "Oxtiern" e "Crimes de l'amour", e, clandestinamente, "La nouvelle Justine".

1801 - É detido na editora Massé, que publica suas obras, onde também ocorre a apreensão da edição ilustrada em dez volumes de "La nouvelle Justine" e também de "Juliette". Permanece preso em Saint-Pálagie e depois em Bicêtre.

1803 - A família obtém suas transferência para Charenton, onde ele passa a organizar espetáculos com os "loucos", que se tornam atração para visitas da aristocracia parisiense.

1807 - Escreve "Journées de Florbelle". Os manuscritos desse livro, apreendidos em seu quarto, seriam queimados em praça pública por seu próprio filho, depois de sua morte.

1813 - Publica oficialmente "La Marquise de Gange".

1814 - Morre em 2 de dezembro, em Charenton.

Fonte: Wikipédia.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Simões Lopes Neto

A obra do escritor Simões Lopes Neto retrata as tradições campestres gaúchas. Seu talento maior reside no uso que faz da linguagem popular local, o que faz de sua prosa uma das mais sugestivas da literatura brasileira.

João Simões Lopes Neto nasceu em Pelotas RS, em 9 de março de 1865. Passou a infância no campo e fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro RJ, onde mais tarde cursou a faculdade de medicina, que abandonou no terceiro ano. Voltou à cidade natal em 1882 e exerceu profissões diversas, em constante instabilidade financeira.

Em 1895, passou a trabalhar na imprensa local. Escreveu peças de teatro e poemas, mas destacou-se principalmente com Contos gauchescos (1912) e Lendas do sul (1913), coletâneas de histórias regionalistas.

Em 1914, tornou-se diretor do Correio Mercantil, em que publicou as histórias de um caçador mentiroso, reunidas postumamente na coletânea Casos do Romualdo (1952).

Simões Lopes Neto morreu em Pelotas, em 14 de junho de 1916. Após um período de esquecimento, sua obra foi reabilitada graças, sobretudo, aos estudos críticos que lhe dedicaram Lúcia Miguel-Pereira, Augusto Meyer e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Em 1955, surgiu o volume Terra gaúcha.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Washington Irving

Com uma obra às vezes satírica, às vezes onírica, Washington Irving foi o primeiro escritor americano a ganhar fama internacional. 

Washington Irving nasceu em Nova York, em 3 de abril de 1783. Estudou direito e viajou pela Europa. Iniciou a carreira literária com Salmagundi (1807-1808), coletânea de sátiras sobre a sociedade nova-iorquina, e History of New York from the Beginning of the World to the End of the Dutch Dinasty by Diedrich Knickerbocker (1809; História de Nova York do começo do mundo até o fim da dinastia holandesa por Diedrich Knickerbocker), sátira aos colonos holandeses.

Em 1815 viajou novamente à Europa, onde morou 17 anos, e escreveu o livro que o tornou famoso: The Sketch Book of Geoffrey Crayon  (1819-1820; O livro de esboços de Geoffrey Crayon), fruto de sua amizade com Sir Walter Scott. Alguns contos dessa obra se tornaram populares, entre eles "Rip Van Winkle".

Escreveu A Chronicle of the Conquest of Granada (1829; Crônica da conquista de Granada) e The Alhambra (1832; Contos da Alhambra), inspirados na pitoresca tradição árabe da Andaluzia, que conheceu quando viveu na Espanha como embaixador. Vieram depois Columbus (1828) e The Companions of Columbus (1831; Os companheiros de Colombo).

Depois de 17 anos de ausência, em 1832 voltou aos Estados Unidos, onde foi recebido com entusiasmo. Viajou então pelo país e escreveu A Tour of the Prairies (1835; Um passeio pelas pradarias), Astoria (1836) e The Adventures of Captain Bonneville (1837; As aventuras do capitão Bonneville).

Irving morreu em sua propriedade de Sunnyside, na cidade de Tarrytown, Nova York, em 28 de novembro de 1859.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Guy de Maupassant

Henry René Albert Guy de Maupassant foi escritor, poeta e um dos maiores contistas de todos os tempos. Sua obra é conhecida por retratar situações psicológicas e fazer crítica social com técnica naturalista.

Maupassant teve uma infância e uma juventude aparentemente felizes no campo, em companhia da mãe, uma mulher culta e depressiva, que foi abandonada pelo marido.

Na década de 1870, ele se dirigiu a Paris, onde se firmou como contista e teve contato com os grandes escritores realistas e naturalistas da época: Zola, Flaubert e o russo Turguêniev.

Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, muitas das quais algumas se tornaram mundialmente conhecidas, como Bola de Sebo, O Colar, Uma Aventura Parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett e O Horla.

Maupassant talvez tenha sido, nos últimos anos do século XIX, o escritor mais lido no mundo.

Rico e famoso, ele teve muitos casos amorosos, mas a sífilis o atormentou por mais de uma década, ocasionando-lhe pesadelos, angústia e de alucinações.

Em 1892, Guy de Maupassant tentou o suicídio. Morreu no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.

fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u759.jhtm

terça-feira, 12 de julho de 2011

Contos e escritores







GABRIEL GARCÍA MARQUEZ ( Assombrações de agosto ) / GASTON LEROUX ( Uma história horripilante ) / GÉRARD DE NERVAL  / GIOVANNI BOCACCIO



ILEANA SCHNITZLER ( O Diabo ) / IRMÃOS GRIMM




NATHANIEL HAWTHORNE  /  NORMAN B. PEACE ( Feitiço cigano )





THOMAS LOPES ( O defunto )

VILLIERS DE L'ISLE-ADAM ( O segredo da guilhotina ) / VIRIATO PADILHA ( A vingança do morto / O Diabo no corpo )

W. W. JACOBS ( A pata do macaco )

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.

Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo; averiguou-se, porém, ter sido na casa do avô materno, Severo Mota.

Em 1833, em companhia dos pais, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 40, ingressou no colégio Stoll, onde consta ter sido excelente aluno. Em 44, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II.

Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano.

Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses.

O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar.

Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe.

Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das "repúblicas" e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde.

Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição.

Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título "Se eu morresse amanhã", que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo.

Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado.

As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas.

Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a Lira dos vinte anos é a única obra de Álvares de Azevedo cuja edição foi preparada pelo poeta. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos.

Fonte: Academia Brasileira de Letras www.academia.org.br

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

J. R. R. Tolkien

A trilogia épica de J. R. R. Tolkien, ambientada num passado mítico, narra as lutas entre vários reinos bons e maus pela posse do anel mágico que podia alterar o equilíbrio de poder no mundo.

A obra tornou-se verdadeiro fenômeno sociocultural na década de 1960, pela atração que exerceu sobre os jovens.

John Ronald Reuel Tolkien nasceu em Bloemfontein, África do Sul, em 3 de janeiro de 1892. Levado para a Inglaterra aos quatro anos de idade, serviu na primeira guerra mundial e graduou-se em Oxford em 1919.

Professor de inglês e literatura inglesa, publicou em 1925 seu primeiro livro, Sir Gawain and the Green Knight (Sir Gawain e o cavaleiro verde), a que se seguiu Beowulf: The Monsters and the Critics (1936; Beowulf: os monstros e os críticos).

Em 1937, quando já trabalhava na trilogia, escreveu para seus filhos The Hobbit, que serviria de introdução à série.

A trilogia The Lord of the Rings (1954-1955; O senhor dos anéis), consta de The Fellowship of the Ring (A irmandade do anel), The Two Towers (As duas torres) e The Return of the King (O retorno do rei).

John Ronald Reuel Tolkien morreu em Bournemouth, Hampshire, Inglaterra, em 2 de setembro de 1973.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Charles Perrault

Famoso pela compilação em linguagem simples de antigos contos folclóricos europeus, Perrault também se celebrizou por questionar a superioridade dos autores da antiguidade sobre os modernos, um dos dogmas do classicismo no século XVII.

Charles Perrault nasceu em Paris, França, em 12 de janeiro de 1628. Advogado, começou sua vida literária com obras de natureza bem diferente daquelas que o imortalizaram, como uma paródia do livro VI da Eneida e poemas de amor. Em 1670 tornou-se membro da Academia Francesa.

No dia 27 de janeiro de 1687, com o intuito de comemorar a convalescença do rei, leu, em sessão da academia, um poema intitulado "Le Siècle de Louis le Grand" ("O século de Luís o Grande"), em que colocava escritores modernos como Molière e François de Malherbe acima de autores clássicos gregos e romanos. Assim surgiu a "querela dos antigos e modernos", polêmica que durou vários anos.

Perrault sustentava que a literatura acompanha o progresso da civilização e que, portanto, a obra literária antiga seria inevitavelmente mais grosseira do que a moderna. Em oposição a essas idéias, levantou-se o grande teórico da época, Nicolas Boileau-Despréaux, cuja posição prevaleceu sobre a de seu adversário, mas pela primeira vez fora questionado o dogma sobre o qual se fundava a estética do classicismo.

Em 1697 Perrault publicou seus contos da carochinha (Contes de ma mère l'Oye), escritos para divertir seus filhos. O grande mérito do autor foi o de fixar, em forma simples e elegante, contos tradicionais e anônimos da memória popular, como "A Bela Adormecida no bosque", "O Chapeuzinho Vermelho", "A Gata Borralheira", "Pele de Asno", "O Barba Azul", "O Pequeno Polegar" e muitos outros.

Neles, como reflexo das concepções romanescas do século XVII, o real e o maravilhoso harmonizam-se de maneira a criar um novo gênero literário, no qual poucos autores chegaram a atingir tal perfeição e qualidade.

Charles Perrault morreu em Paris, em 16 de maio de 1703.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Lima Barreto

Chamado "o romancista da primeira república", Lima Barreto foi um crítico virulento da vida carioca nesse período histórico. Não se limitou a estigmatizar o farisaísmo e a mediocridade arrogante da burguesia nascente, mas recriou também o panorama social da existência miserável e triste dos subúrbios, com seu rebuliço e sua áspera luta pela vida.

Entre o realismo psicológico machadiano e a explosão modernista, foi esteticamente um solitário, que se orientou pela linha inovadora de um realismo crítico de cunho popular e rebelde.

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 13 de maio de 1881. Mulato, de família muito pobre, perdeu a mãe aos sete anos. Estudou no Colégio Paula Freitas, onde também se preparou para a Escola Politécnica, em cujo vestibular foi aprovado em 1896. Em 1902, seu pai enlouqueceu e, no ano seguinte, o escritor abandonou o curso de engenharia para trabalhar na Diretoria de Expediente da Secretaria da Guerra. Em 1904, Lima Barreto começou a escrever a primeira versão de Clara dos Anjos.

O escritor foi rejeitado pela maioria dos escritores de seu tempo, não propriamente por sua origem de classe e de raça, mas por não ter abdicado dessa condição na consciência e na prática, já que sempre rejeitou as receitas éticas e estéticas impostas de cima para baixo, o falso refinamento e a gramática da intelligentsia ainda submissa aos padrões estrangeiros.

Ao erigir uma obra em estilo brasileiro, impregnada de tipicidades do linguajar carioca e voltada para a crítica social, foi um dos primeiros a romper com o complexo colonial da literatura brasileira. Boicotado por críticos, jornais e editores, enfrentou muitas dificuldades para publicar seus livros. O primeiro a aparecer foi Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), itinerário de um anti-herói negro, em tom autobiográfico.

Angustiado, presa do álcool e da vida boêmia, o escritor teve em 1914 sua primeira internação no Hospício Nacional, para onde voltaria cinco anos depois. Em 1915 editou O triste fim de Policarpo Quaresma, sua obra-prima, que traça o destino tragicômico de um homem tomado pelo patriotismo ingênuo, em quixotesca luta contra a corrupção dos políticos.

Em Numa e a ninfa (1915), criou uma galeria grotesca de figurões da República Velha, recheados de vícios e de apetite pelo dinheiro. Particularmente interessante é o retrato do deputado Numa Pompílio de Castro, paradigma do bom-mocismo cínico e da estupidez atarefada. Em 1918, divulgou no semanário ABC seu manifesto de apoio à revolução russa.

No ano seguinte, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, mas recebeu apenas dois votos. Sua verve satírica reservou um lugar especial para a diplomacia brasileira em Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), onde a principal personagem é a cidade do Rio de Janeiro, poucas vezes tão bem retratada. Em 1920, publicou Histórias e sonhos, livro de contos.

Muitas obras de Lima Barreto foram publicadas postumamente. Merecem referência especial os romances Clara dos Anjos, inacabado, e Cemitério dos vivos, de que o escritor deixou apenas fragmentos. No primeiro, retomou o tema do preconceito racial na vida de uma moça de subúrbio, seduzida e abandonada por um conquistador de camada social superior.

A fragilidade do argumento revela um Lima Barreto decadente e minado pela doença. Apesar disso, nos dois únicos capítulos de Cemitério dos Vivos, onde predomina a atmosfera do hospício, percebe-se o quanto ainda poderia realizar o talento do romancista se contasse com melhores condições materiais e de saúde.

O descaso crítico e editorial com relação à obra do autor foi amplamente compensado com a organização das Obras de Lima Barreto, publicadas em 1956 em 17 volumes. A coleção reúne não só as obras citadas, como também as coletâneas de crônicas e artigos Bagatelas, Feiras e mafuás, Vida urbana e Marginália, as sátiras Os Bruzundangas e Coisas do reino do Jambon, o livro de crítica literária Impressões de leitura, além do Diário íntimo e de dois tomos de Correspondência.

Lima Barreto morreu no Rio de Janeiro em 1º de novembro de 1922.

Fonte: ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Jonathan Swift


Ao recorrer à sátira para ridicularizar os desmandos da vida política e social da Inglaterra do século XVIII e, por extensão, para expor as fraquezas de todo o gênero humano, Swift realizou uma obra que repercutiu na própria época e se projetou muito além. Ao mesmo tempo, impôs-se, com sua prosa rigorosamente clássica, como o satirista mais ferino e brilhante dos muitos que ainda iriam surgir na língua inglesa.

Jonathan Swift nasceu em Dublin, Irlanda, em 30 de novembro de 1667. Órfão de pai, passou a infância sob a dependência de tios, de cuja incompreensão guardou lembranças amargas. Em 1682 ingressou no Trinity College de Dublin, onde foi mau aluno mas conseguiu se formar, "por favor especial", em 1686. Em meio às convulsões políticas de 1688, viajou para a Inglaterra: em Moor Park, Surrey, tornou-se secretário de Sir William Temple.

Amadureceu intelectualmente entre os livros de Temple e conheceu Esther Johnson (Stella), uma de suas duas paixões irrealizadas. Em 1692 graduou-se na Universidade de Oxford e em 1695 foi ordenado pela igreja anglicana. Depois de desempenhar uma série de funções menores, em 1713 tornou-se deão da catedral de Saint Patrick em Dublin. A essa altura já participava ativamente da vida política da Inglaterra, de início a favor dos whigs (liberais), depois dos tories (conservadores).

Admirado e odiado por seus panfletos satíricos, como A Tale of a Tub (1704; História de um tonel), em meio às muitas viagens que fez a Londres conheceu em 1710 sua segunda grande paixão, Esther Vanhomrigh, a Vanessa do poema Cadenus and Vanessa (1726). Swift permaneceu sempre indeciso entre as duas mulheres, que morreram na época da publicação de suas obras principais: Vanessa em 1723, Stella em 1728.


A obra-prima de Swift, Gulliver's Travels (1726; As viagens de Gulliver), que fez sucesso imediato, é um dos livros mais famosos e inteligentes da literatura universal. Da sátira aos whigs, recriados nos anões de Lilliput, à invectiva contra a humanidade em geral, o autor recompôs o mundo de acordo com sua fantasia mordaz. O grotesco é explorado sob todos os ângulos: na pequenez desprezível dos lilliputianos; na ampliação escatológica da miséria física dos gigantes de Brobdingnag; nas diatribes contra os juristas e a arte militar; na idiotice dos intelectuais de Laputa; e na superioridade do cavalo sobre o ser humano no reino dos Houyhnhnms. Expurgado das verdades e sátiras, esse livro se transformou num clássico da literatura infantil.

Ao nível prático e histórico, a intenção mais elevada dos panfletos de Swift era lutar pelos interesses da Irlanda contra a corte e a aristocracia inglesas. Um exemplo claro é a também famosa Modest Proposal for Preventing the Children of Poor People from Being a Burden to their Parents or the Country (1729; Modesta proposta para impedir que as crianças pobres se tornem um peso para seus pais ou o país). Trata-se de sátira trágica, de um humor devastador, que propunha que as crianças pobres da Irlanda servissem para abastecer como comida o mercado inglês.

Além de várias outras obras em prosa, o criador de Gulliver também escreveu poesia. Após anos de um progressivo declínio, agravado em 1742 por um derrame que o deixou paralítico, Swift morreu em Dublin em 19 de outubro de 1745.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Nathaniel Hawthorne


A ficção de Nathaniel Hawthorne, cuja sólida construção estilística fez dele o primeiro grande romancista dos Estados Unidos, apresenta os dilemas morais de personagens que, cerceados por uma sociedade puritana, buscam afirmar o direito à liberdade afetiva.

Nathaniel Hawthorne nasceu em 4 de julho de 1804 em Salem, Massachusetts, numa tradicional família puritana. Órfão de pai aos quatro anos, foi criado pela mãe em ambiente soturno, propício à angústia e à imaginação. Enclausurou-se na casa materna por cerca de 12 anos, dedicado a ler e a escrever.

Em 1836, deixou a reclusão em Salem e transferiu-se para Boston, como funcionário da alfândega. Nessa época lançou Twice-Told Tales (1837; Histórias contadas duas vezes). Em 1853, foi nomeado cônsul em Liverpool, na Inglaterra. Viveu na Europa até 1860.

Hawthorne voltou-se sobre si mesmo, sobre seus semelhantes e o passado com tão agudo interesse psicológico que realizou uma obra realista com a própria matéria-prima irracional dos labirintos teológicos e oníricos.

Introspectivo, torturado pelos resíduos de uma ética protestante sombria e provinciana, conseguiu revivê-la na paisagem da Nova Inglaterra do período colonial, no cenário exterior austero e triste e no fundo nebuloso e recalcado do psiquismo de seus personagens.

Hawthorne desce aos segredos do subconsciente reprimido, à tensão dos impulsos contraditórios, à angústia que transita da inocência à perversidade. É um moralista da ambigüidade, estilista que se expõe em recortes autobiográficos profundos.

Sua obra-prima, The Scarlet Letter (1850; A letra escarlate), é um romance histórico, ambientado nos Estados Unidos do século XVII. Em The House of the Seven Gables (1851; A casa das sete torres), aborda problemas de consciência, na história da maldição que persegue uma família. São ainda conflitos morais que desencadeiam a tragédia de The Marble Faun (1860; O fauno de mármore), romance repleto de intenções simbólicas.

Hawthorne morreu em 10 de maio de 1864, em Plymouth, New Hampshire.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Bram Stoker


Mundialmente conhecido como o autor do livro Drácula, Abraham "Bram" Stoker nasceu Dublin, Irlanda, em 1847. Aos 16 anos ele ingressou no Trinity College da Universidade de Dublin e filiou-se na Sociedade Filosófica, onde escreveu seu primeiro ensaio, "Sensationalism in Fiction and Society".

Tornou-se, mais tarde, presidente desta sociedade e auditor da Sociedade Histórica. Graduou-se em bacharel, com honras, em 1870, indo trabalhar, assim como seu pai havia feito, como funcionário público no Castelo de Dublin, mas continuou estudando meio-período para desenvolver seu mestrado, defendido em 1875.

Stoker era fascinado pelo mundo do teatro (ele ficou impressionado com o ator Henry Irving, que futuramente seria uma figura decisiva na sua vida) e ofereceu-se, sem remuneração, para ser crítico de teatro do jornal Dublin Evening Mail. Suas críticas começaram a aparecer em vários jornais, fazendo com que Stoker fosse bem-recebido nos círculos sociais de Dublin (ele chegaria a conhecer os pais de Oscar Wilde).

Em 1873 foi oferecido a ele a editoração do novo jornal Irish Echo, mais tarde rebatizado como Halfpenny Press, por meio-período e sem remuneração. O fracasso comercial deste jornal o faria pedir demissão em 1874 e, então, ele mergulharia no mundo do teatro, começando a escrever suas primeiras peças de ficção, contos e seriados, que eram publicados nos jornais locais. Seu primeiro texto na linha do terror foi "The Chain of Destiny", apresentado como seriado no periódico Shamrock, em 1875.

Neste momento, a figura de Henry Irving entra definitivamente na vida de Stoker. Irving assumiu a direção do Lyceum, em Londres, e convidou Stoker para ser o gerente do teatro. Muitos estudiosos acreditam que a forte figura de Irving, praticamente "sugando" tudo de Stoker, pode ter sido a inspiração para a criação da imagem forte e dominadora do personagem Drácula. A amizade/sociedade entre Stoker e Irving duraria até a morte deste último, em 1905.

Outra figura que pode ter inspirado diretamente o texto de Drácula foi sua esposa, Florence Stoker. Ela era uma das mais lindas e disputadas mulheres de Dublin, tendo sido, inclusive, prometida pelos seus pais para ser a esposa de Oscar Wilde.

Florence escolheu Stoker por causa da segurança do emprego público dele, situação que se alteraria quando ele foi para Londres dirigir o Lyceum. A bela e dominante Florence estava longe de ser a típica esposa dos padrões ingleses da época, ou seja, submissa ao marido: ela se impunha na relação, situação que deixava Stoker constrangido. O domínio de Drácula sobre as mulheres era uma crítica à sua própria vida doméstica.

Durante seus primeiros anos em Londres, Stoker escreveu seu primeiro livro de ficção, uma coletânea de histórias para crianças (Under the Sunset), publicada em 1882. Seu trabalho no Lyceum o obrigava a escrever, sendo que seu primeiro romance publicado, The People, em 1889, nasceu como um seriado para o teatro e foi transformado em livro em 1890.

Os estudiosos não chegaram a uma conclusão das reais razões de Bram Stoker escrever uma obra como Drácula. Podemos notar uma mudança de estilo e temáticas a partir de 1890, pois seus textos ficaram mais ricos e o sobrenatural e o terror ganharam um espaço maior, em particular no conto "The Squaw".


Aparentemente, Stoker tomou sua decisão de escrever sobre vampirismo depois de um pesadelo na qual ele viu um vampiro se levantando do túmulo. Ele tinha referências literárias, pois tinha lido Carmilla (1872), de Sheridan Le Fanu, e o conto "The Vampyre" (1819), de John Polidori, além de tomar conhecimento de discussões sobre o sobrenatural, discussões estas comuns no final do século XIX na Inglaterra.

Mas a inspiração final surgiu nas suas pesquisas sobre um nobre do século XV que viveu na região da Transilvânia, localizada na Romênia, que impediu a penetração dos turcos na Europa, conhecido como Vlad, o Empalador (ou Vlad Tepes), pois este empalava (perfurava com uma madeira pontuda) seus inimigos. O nome Drácula foi tirado do pai deste nobre, chamado Vlad Dracul (este último termo significava diabo ou dragão). E a forma de contar a história através de personagens diferentes em diferentes documentos (diários, cartas, recortes de jornal, etc.) foi inspirada no livro The Moonstone, de Wilkie Collins.

Muitas características da vida de Stoker e da Inglaterra do final do século XIX foram retratadas em Drácula. Já citamos a forte presença de Henry Irving e as dificuldades de Stoker em conviver com Florence - Drácula tinha uma presença poderosa e dominava as mulheres; a presença de um grande número de estrangeiros na Inglaterra, resultado da imigração que ocorreu no período, assustava o homem inglês - não coincidentemente Drácula era estrangeiro, trazendo doenças e desgraças para a "limpa" vida inglesa; sexo e sangue são temas presentes no livro - as doenças venéreas eram o grande temor do homem inglês da época, pois tanto a gonorréia quanto a sifílis eram contraídas através de relações sexuais e contato com sangue, além de não existir cura para ambas; a ciência era fascinante na época - e o confronto entre o sobrenatural Drácula e o mundo científico de Van Helsing deu a vitória a este último.

Publicado em 1897, Drácula recebeu uma acolhida dividida entre a crítica da época, com alguns elogiando a obra como uma poderosa peça de fascinação lúgubre e outros criticando-a pela estranheza da temática e de certa crueza na abordagem. A mãe de Stoker elogiou a obra vigorosamente, comparando-a ao livro de Mary Shelley, Frankenstein. Na época do lançamento do livro, Stoker realizou uma leitura do texto em quatro horas no Lyceum, sendo que o evento foi apresentado completo, inclusive com anúncios, como Dracula, ou The Un-Dead, para proteger a trama e o diálogo de furto literário. Foi a única apresentação dramática de Drácula durante a vida de Stoker.

Nunca mais Stoker escreveria uma obra tão importante como Drácula. Aliás, sua carreira literária entraria em decadência, apesar de ter produzido um grande número de textos na virada dos séculos XIX e XX. Um incêndio no Lyceum destruiu a maior parte do guarda-roupa, adereços e equipamentos, deixando as condições do teatro precárias. A saúde de Henry Irving, já em declínio, piorou. O teatro seria transferido para um sindicato, fechando de vez em 1902.

Irving morreria em 1905. A partir daí, Stoker teria grandes dificuldades para escrever, pois sua saúde também piorara: ainda em 1905 ele teve um derrame e, em seguida, contraiu a doença de Bright, que afeta os rins. Sua saúde foi declinando cada vez mais até sua morte, em sua casa, ocorrida em 12 de abril de 1912.

Florence Stoker herdou os copyrights do marido e deu permissão para o teatrólogo Hamilton Deane transformar Drácula em peça de teatro, o que daria grande fama ao texto de Stoker, precedendo seu futuro sucesso nas telas do cinema - meio este que transformou Drácula num dos mais famosos e conhecidos personagens do século XX.

Por: Orivaldo Leme Biagi, Doutor em História pela UNICAMP, Professor das Faculdades Atibaia (FAAT) e Membro da Academia Literária Atibaiense (ALA).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Oscar Wilde


Quer em seus hábitos, quer em seus textos, Wilde assumiu de início a atitude de um dândi, ligado, com um comportamento extravagante, ao esteticismo da arte pela arte. Seu talento superou no entanto essa fase superficial, para florescer com pujança em obras-primas maduras, depois de sua carreira ser cortada pelo escandaloso processo por homossexualismo que o levou à prisão.

Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin, Irlanda, em 16 de outubro de 1854. De pais sofisticados e ricos, estudou em Oxford onde, sob a influência de Matthew Arnold, John Ruskin e Walter Pater, liderou um movimento que combatia os filisteus da cultura e propunha um hedonismo extremado. Brilhou na sociedade londrina com seu talento verbal. Os trocadilhos e pilhérias que o tornaram famoso, não obstante, criticavam muitas vezes o próprio modo vitoriano de vida, marcado pelo apego às convenções.

Nos diversos gêneros que abordou, Wilde criou obras inesquecíveis, como The Happy Prince and Other Tales (1888; O príncipe feliz e outras histórias) e The Picture of Dorian Gray (1891; O retrato de Dorian Gray), este seu único romance e um de seus livros mais lidos. A poesia contida em Poems (1881; Poemas) apresenta alguns poemas isolados de força sugestiva e patética. Entretanto, não foi muito estimada pela crítica do século XX, que sempre lhe reprovou o sentimentalismo excessivo.

É opinião unânime que Wilde se expressou com maior desenvoltura como autor teatral, renovando a dramaturgia vitoriana com sua verve e seus paradoxos, cintilantes de agudeza e de concisão verbal. Um pouco à maneira das comédias do período da restauração, suas peças principais foram armas brandidas contra as convenções da "boa sociedade", expondo-lhe sem piedade a hipocrisia.

Entre essas peças estão Lady Windermere's Fan (1893; O leque de Lady Windermere), A Woman of No Importance (1893; Uma mulher sem importância) e An Ideal Husband (1895; Um marido ideal). Bem mais conhecida e ainda muito encenada é The Importance of Being Earnest (1895; A importância de ser sério), considerada sua obra-prima no gênero e cujo título original encerra um jogo de palavras entre earnest (sério) e Ernest (Ernesto).


Como ensaísta, Wilde publicou Intentions (1895; Intenções). Em francês, escreveu o drama poético Salomé (1893), transformado por Richard Strauss em ópera (1905). De seus dias de prisão brotaram The Ballad of the Reading Gaol (1898; A balada do cárcere de Reading) e o depoimento em prosa De profundis (1905), longa carta de recriminações a Lord Alfred Douglas, seu ex-amante e causa de toda sua desgraça.

Oscar Wilde, libertado em 1897, deixou para sempre a Inglaterra e, em extrema pobreza, morreu em Paris em 30 de novembro de 1900.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Horace Walpole

Dois fatos justificam a presença de Walpole na história da literatura inglesa: sua correspondência volumosa, que se tornou um clássico do gênero, e o livro The Castle of Otranto, que deu início à voga dos romances góticos, ou com temas de horror ambientados, a princípio, em tempos medievais.

Horace Walpole, filho do primeiro-ministro Robert Walpole e quarto conde de Orford, nasceu em Londres em 24 de setembro de 1717. Foi educado em Eton e Cambridge. Com o poeta Thomas Gray, viajou pela Itália e a França.

De 1741 a 1768 foi membro do Parlamento, mas não se destacou na vida política. A partir de 1747, fez de Strawberry Hill, sua residência em Twickenham, onde colecionou obras de arte, um ativo centro da revivescência gótica inglesa. Aí instalou também uma impressora, em que imprimiu seus escritos e os dos amigos mais íntimos.

Além de The Castle of Otranto (1765; O castelo de Otranto), escreveu livros sobre história política e sobre história da arte. Sua correspondência completa, com mais de três mil cartas, foi publicada em 42 volumes entre 1937 e 1980.

Horace Walpole morreu em Londres, em 2 de março de 1797.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Hans Christian Andersen


Com seu extraordinário talento para criar encantadores contos infantis, Andersen conquistou reconhecimento mundial e estimulou a imaginação de um sem-número de crianças e adultos.

Hans Christian Andersen nasceu em Odense, Dinamarca em 2 de abril de 1805, filho de um sapateiro e uma lavadeira. Menino sensível, preferia entreter-se sozinho e inventar histórias a brincar com outras crianças. Quando tinha 11 anos, seu pai morreu.

As dificuldades financeiras forçaram-no a tentar um ofício, mas sua índole introspectiva e delicada tornava-o alvo de zombaria entre os colegas. Aos 14 anos foi para Copenhague, disposto a fazer carreira no teatro, como cantor, dançarino ou ator. Conseguiu um lugar como extra, mas a inaptidão para essas artes levou-o a ser dispensado pouco depois. Nesse meio tempo obtivera a estima de alguns escritores e compositores, que o protegeram nas grandes privações materiais e forneceram-lhe meios, em 1828, de entrar para a universidade e completar os estudos.

Escreveu poemas, peças e romances, que não foram bem recebidos, embora conseguisse publicar dois livros. A situação material mais folgada permitiu-lhe viajar pela Europa e, em 1833, uma ida à Itália proporcionou-lhe a inspiração para Improvisatoren (O improvisador), primeiro romance de sucesso. Escreveu então suas primeiras quatro histórias para crianças, publicadas em 1835 em Eventyr og historier (Contos de fadas e histórias). Até 1872 continuou a publicar contos infantis (um total de 168 em cinco séries), que seriam traduzidos para mais de oitenta línguas e lhe trariam imensa fama.



Com estilo vivo e ágil, recriou em seus contos o folclore da Dinamarca e dos países que visitou. Os elementos fantásticos predominam, mesclados às vezes a um toque de amargura. Se algumas histórias revelam crença otimista na vitória da bondade e da beleza, outras são de profundo pessimismo. Não faltam também o humor e a sátira às fraquezas humanas. O componente autobiográfico apresenta-se na maior delas, como em "O patinho feio" e "O soldadinho de chumbo", embora todas sejam sobre problemas humanos universais.

Com toda razão Andersen deu a uma de suas duas autobiografias o título de Mit lyvs eventyr (O conto de fadas de minha vida). Do período inicial com enormes dificuldades à posição de escritor mundialmente reconhecido e estimado, a trajetória de sua vida lembra suas histórias de meninos pobres e humilhados que se transformam em príncipes. Andersen morreu em Copenhague em 4 de agosto de 1875.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Gérard de Nerval

Contemporâneo de Victor Hugo, Musset e Lamartine, Nerval nada tem em comum com esses românticos franceses: como Edgar Allan Poe, cresceu de olhos postos na Alemanha de Hoffmann e foi um precursor do simbolismo, de Baudelaire e do surrealismo.

Gérard Labrunie, que adotou o pseudônimo Gérard de Nerval, nasceu em Paris em 22 de maio de 1808. Filho de um médico militar, perdeu a mãe aos dois anos e passou a infância junto ao avô, na região do Valois. Em 1822 foi estudar em Paris, onde freqüentou os círculos artísticos e dissipou a fortuna na boêmia. Aos vinte anos publicou uma tradução do Faust, de Goethe, que fascinou o autor.

Em 1934 Nerval viajou à Itália e, de volta, apaixonou-se pela atriz Jenny Colon, que se transformaria em imagem mítica das futuras obras do poeta. Nerval também viajou pela Alemanha e pelo Oriente Médio.

Na criação de Nerval, a sonoridade da linguagem acentua a magia de seu significado, em que se misturam influências cristãs e gregas, cabalísticas e orientais, sobretudo nos sonetos de Les Chimères (As quimeras), coletânea acrescida aos contos de Les Filles du feu (1854; As filhas do fogo), que incluem Sylvie, evocação transcendente do mundo de beleza e inocência da infância no Valois.

Ainda mais significativo, para muitos, é o romance Aurélia ou Le Rêve et la vie (1855; Aurélia ou O sonho e a vida), em que imagens da amada e da Virgem Maria se mesclam oniricamente. O melhor de sua obra foi realizado nos últimos anos, em que sofreu graves crises mentais e foi várias vezes internado, acabando por enforcar-se em Paris, em 26 de janeiro de 1855.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Irmãos Grimm


Os contos populares recolhidos pelos irmãos Grimm, como "João e Maria", "Branca de Neve e os sete anões" e "Os músicos de Bremen", têm encantado leitores de todas as idades e épocas. As duas coletâneas que prepararam constituem o marco inicial do estudo rigoroso do folclore.

Jacob Ludwig Carl e Wilhelm Carl Grimm nasceram em Hanau, Alemanha, em 4 de janeiro de 1785 e 24 de fevereiro de 1786, respectivamente. Estudaram direito na Universidade de Marburg mas notabilizaram-se como pesquisadores e filólogos.

Infuenciados pelo romantismo, reuniram cerca de 200 contos e lendas populares que publicaram sob o título de Kinder-und Hausmärchen (1812-1815; Contos de fadas para crianças). A obra, que incluía um importante aparato crítico, alcançou grande êxito no mundo todo e foi seguida de um trabalho de características semelhantes, Deutsche Sagen (1816-1818; Lendas alemãs).

Em 1819, Jacob Grimm deu início a uma obra de grande envergadura, a Deutsche Grammatik (1819-1837; Gramática alemã), na qual enunciou a "lei de Grimm", que estabelece o princípio da regularidade das leis fonéticas.


As pesquisas dos irmãos Grimm levaram ainda à descoberta da metafonia (história da palatização das vogais) e da apofonia (explicação das estruturas verbais a partir das variações vocálicas). Pode-se dizer que toda a germanística moderna deriva de sua obra.

Em 1829, os irmãos foram nomeados professores e bibliotecários da Universidade de Göttingen. Ali Jacob escreveu o tratado Deutsche Mythologie (1835; Mitologia alemã).

Em 1837 foram destituídos de seus cargos por terem assinado o protesto dos "sete de Göttingen", dirigido contra o rei de Hannover, por haver ele suprimido a constituição.

Depois de viverem três anos em Kassel, os irmãos Grimm mudaram-se para Berlim, onde iniciaram seu trabalho mais ambicioso: o Deutsches Wörterbuch (Dicionário alemão). A obra, cujo primeiro fascículo apareceu em 1852, não pôde ser terminada por eles.

Wilhelm Grimm morreu em Berlim, em 16 de dezembro de 1859. Jacob morreu na mesma cidade, em 20 de setembro de 1863.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

domingo, 30 de novembro de 2008

Franz Kafka

A desesperança e a alienação do homem moderno, imerso num mundo que não consegue compreender, estão magistralmente descritas na obra de Kafka, escritor tcheco de expressão alemã.

Franz Kafka nasceu em Praga, então pertencente ao império austro-húngaro, em 3 de julho de 1883, de família judia remediada. Sua infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai, comerciante próspero, para quem apenas o sucesso material contava.

Na obra de Kafka, a figura paterna está freqüentemente associada à opressão ou aniquilação da vontade humana, especialmente na célebre Brief an den Vater (1919; Carta a meu pai).
Na formação intelectual de Kafka tiveram peso especial a leitura de Heinrich von Kleist, Flaubert, Pascal e Kierkgaard e o ambiente de Praga, cidade medieval gótica dotada de elementos eslavos, alemães e de barroco sombrio.

De 1901 a 1906, estudou direito na Universidade de Praga, onde conheceu seu grande amigo (e posterior biógrafo) Max Brod. Começou então a freqüentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade judaico-alemã, na qual circulavam idéias e atitudes críticas e inconformistas, com que Kafka se identificava. Concluído o curso, empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho.

Apesar da competência profissional e da consideração que lhe dispensavam os colegas de trabalho, Kafka sempre se sentiu insatisfeito, pois o emprego o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. Também a vida emocional foi conturbada, com noivados e amores infelizes.

Tais circunstâncias acentuaram o sentimento de solidão e desamparo que nunca o abandonaria e que ele próprio manifestou nos fragmentos publicados em 1909 sob o título Beschreibung eines Kampfes (Descrição de uma luta) e publicado na íntegra em 1936. Nessa inquietante e perturbadora narração, que passou quase despercebida, o mundo dos sonhos, tema constante na produção do autor, adquiria uma desconcertante e persistente lógica no mundo da realidade.

Em 1912 Kafka escreveu a maior parte do romance Amerika, que permaneceu inacabado e foi publicado postumamente em 1927. Em vida, publicou apenas Die Verwandlung (1915; A metamorfose), em que o personagem acorda certo dia transformado num imenso e repugnante inseto; Das Urteil (1916; A sentença); In der Strafkolonie (1919; Na colônia penal), que narra as torturas a que são submetidos presidiários que desconhecem a natureza dos crimes que cometeram; e Ein Landarzt (1919; Um médico rural), coletânea de contos.

Suas obras-primas, Der Prozess (1925; O processo) e Das Schloss (1926; O castelo), só foram publicadas postumamente por Max Brod. Nesses romances, a ambigüidade onírica do peculiar universo kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. No primeiro, o bancário Joseph K., por razões que nunca chega a descobrir, é preso, julgado e condenado por um misterioso tribunal. A desolada poesia de sua obra, em estilo sóbrio e realista, não nascia, porém, da resignação, mas do desejo de encontrar um fundamento espiritual capaz de explicar a contradição entre o desejo humano e a realidade cotidiana.

Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se, a partir de 1917, a longos períodos de repouso. Em 1922 deixou definitivamente o emprego e, excetuadas breves temporadas em Praga e Berlim, passou o resto da vida em sanatórios e balneários.

Morreu em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena. Contra o desejo expresso do escritor, que queria que seus inéditos fossem queimados após sua morte, Max Brod publicou romances, textos em prosa, correspondência pessoal e diários de Kafka. Sua obra teve profunda influência sobre movimentos artísticos como o surrealismo, o existencialismo e o teatro do absurdo.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Edith Wharton

A escritora americana Edith Wharton ganhou fama por seus romances e contos que descrevem os costumes de uma elite hipócrita e convencional, na qual ela nasceu e viveu.

Edith Newbold Jones nasceu em 24 de janeiro de 1862 na cidade de Nova York. Educada em casa e na Europa, em 1885 casou com Edward Wharton, banqueiro de Boston.

Suas primeiras obras de ficção foram contos, aos quais se seguiu o sucesso do primeiro romance, The Valley of Decision (1902; O vale da decisão). Consolidou sua fama com a publicação do romance seguinte, The House of Mirth (1905; A casa da alegria).

Nas décadas de 1920 e 1930 publicou outros romances, além de livros de contos e estética literária.

As melhores obras de Edith Wharton são Madame de Treymes (1907), que mostra a influência de Henry James; o popular Ethan Frome (1911), único sobre a classe média, atualmente exaltado pela crítica; The Reef (1912; O recife) e The Custom of the Country (1913; O costume do país), em que trata da falsidade dos ricos; e Age of Innocence (1920; Era da inocência), que lhe garantiu o Prêmio Pulitzer e foi duas vezes adaptado para o cinema, em 1924 e 1994.

Das coletâneas de contos, a melhor é Xingu and Other Stories (1916; Xingu e outros contos).

Edith Wharton faleceu em Saint-Brice-sous-Forêt, França, em 11 de agosto de 1937.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

sábado, 29 de novembro de 2008

Eça de Queiroz

Artesão exímio, iniciador do realismo na literatura de língua portuguesa, capaz de domínio inigualável da palavra escrita, Eça de Queiroz (ou Queirós) dissecou a burguesia do Portugal de seu tempo em romances de fascínio permanente.

José Maria de Eça de Queiroz nasceu em Póvoa de Varzim, em 25 de novembro de 1845. Filho ilegítimo de um magistrado, passou a infância longe dos pais, no Aveiro, e formou-se em direito pela Universidade de Coimbra (1866).

Nessa época tomou parte na Questão Coimbra, ao lado de Antero de Quental e Teófilo Braga, em defesa do realismo na literatura. Estreou então como escritor, na Gazeta de Portugal, com o folhetim de Notas marginais, mais tarde parte das Prosas bárbaras (1905). Em 1867 lançou o Distrito de Évora, jornal que dirigiu.

Admitido por concurso na carreira diplomática em 1870, foi cônsul em Cuba, no Reino Unido e finalmente em Paris, onde permaneceu até a morte. Com Ramalho Ortigão, lançou em 1871 As Farpas, publicação mensal para a qual escreveu artigos de crítica político-social demolidora, mais tarde reunidos em Uma campanha alegre (1890): em estilo irônico e contundente, o livro é uma mostra de jornalismo participante e pioneiramente moderno.

Com Ramalho também escrevera uma novela policial, O mistério da estrada de Sintra (1870). Seu conto Singularidades de uma rapariga loira (1874), além de uma obra-prima, é o primeiro de cunho realista em português. Essa atitude seria elevada a alta eficiência expressiva nos romances que publicou em seguida.

Eça se casou (1886) com Emília de Castro Pamplona, irmã de um amigo e companheiro de viagens, o conde de Resende. De 1889 em diante o consulado de Paris, que muito ambicionara, não lhe alterou a produtividade; fundou a Revista de Portugal (1889-1892) e continuou a colaborar em jornais portugueses e brasileiros, enviando cartas, ecos, "bilhetes" lidos e relidos com avidez.

Romancista

Eça de Queirós é um dos maiores ficcionistas da literatura de língua portuguesa. Dotado de senso estético invulgar, desde o início impressiona pela riqueza e flexibilidade estilística. Escreve o português mais vivo de seu tempo, sem pruridos puristas e impregnado de verdade concreta, capaz de recriar e criticar todos os seres e coisas com originalidade e volúpia.

Humorista irreverente, no romance O crime do padre Amaro (1875) essa característica se alia a um realismo severo, feroz e espirituoso ao mesmo tempo, que satiriza a corrupção do clero e reconstitui seus costumes com extrema vivacidade. Mais densa é a escrita de O primo Basílio (1878), primorosamente construído, com as personagens como que aprisionadas, em seus impulsos e alternativas, pela circunstância social que as limita e condiciona.

Mais voltado para a dinâmica das relações do que para a psicologia dita profunda, Eça tempera o psicólogo social com o amante da natureza, que a registra com frescor e embevecimento. Na sociedade inquieta, entre fútil e amarga às portas da revolução republicana, a usura e a beatice pequeno-burguesa encontram um caricaturista minucioso e às vezes cruel em A relíquia (1887), em que a aventura do humor não se esquiva às máscaras do grotesco.

"Porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do Eclesiastes, em desilusão e poeira." Antes da obra-prima que é o romance Os Maias (1888), e de suas implicações, o autor talvez não fizesse essa anotação. Obra maior da maturidade, esse vasto panorama de uma família burguesa, de seu prazer e sua dor, sua sensualidade e seu cerco de convenções, realiza até o mais alto grau o gênio de Eça de Queirós. A captação de cada passo, cada ranhura ou eco da paixão incestuosa leva o escritor a beirar a noção do inconsciente e a dar um sentido existencial às marcas do desengano.

Outro livro admirável é A ilustre casa de Ramires (1900), em que a observação e a fina ironia focalizam a pequena nobreza decadente, entre seus últimos bens e os males que a corroem. Sobressaem neste caso, junto às outras saborosas peculiaridades do mestre, a ampla visão sociológica, em que avulta o amor pela terra portuguesa, e o empenho metaliterário que faz do protagonista autor de um árduo romance.

Essa agudeza não se acha menos presente em A cidade e as serras (1901), deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.

Perfeccionista obsessivo, Eça estigmatiza a escravidão ao ouro ou a qualquer acúmulo improdutivo, mesmo que de requintes, de livros. Uma sábia alegoria do problema suscitou na novela O mandarim (1880) algumas de suas páginas mais fecundas. O tema, no fundo, se depura ainda no esplendor austero das vidas de três santos, reunidas em últimas páginas (1912).

Eça foi escritor de uma auto-exigência quase impiedosa. Além de deixar inacabados e inéditos vários trabalhos que não o satisfizeram, desprezou a primeira versão de Os Maias, publicada em 1980 com o título de A tragédia da rua das Flores.

Outras faces

De realismo menos estrito e quase mágico nos Contos (1902), Eça deixou sua crítica dispersa em periódicos e cartas que se publicaram aos poucos -- a autobiográfica Correspondência de Fradique Mendes (1900), as Cartas de Inglaterra (1903), os Ecos de Paris (1905) e as Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907).

Em Notas contemporâneas (1909) o crítico se envolve com os principais temas e debates de seu tempo e se faz presente também em O Egito (1926), sobre a viagem ao Oriente. Na ficção que ficara inédita, há ainda seduções, e fortes, em A capital, O conde de Abranhos, Alves & Cia., os três impressos em 1925. Por fim, a encantadora tradução de As minas do rei Salomão (1891), de Riger Haggard, é um divertimento inesquecível.

Criador de tipos que ficaram proverbiais, como o conselheiro Acácio ou Jacinto de Tormes, nem sempre os fez, como estes, algo esquemáticos e caricaturais. Maria Eduarda, entre outras criaturas, é de verdade profunda e de presença inefável.

É questão de sentir e entender ao mesmo tempo. Como lembrou Moniz Barreto, "a paixão e a fantasia ocupam um lugar importante em sua obra, ao lado da observação e da análise". Eça de Queirós morreu em Paris em 16 de agosto de 1900.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.