A execução de Brigida Bishop |
Intermediárias do Demônio — Uma história incrível passada há 300 anos nos tribunais de Massachusetts — Dezoito mulheres enforcadas e duzentas pessoas levadas ao cárcere — O senado daquele estado norte-americano proclamou, não há muito, a inocência dos mortos e dos martirizados.
O julgamento de Brígida Bishop
Brígida Bishop era uma mulher extraordinariamente formosa. Casada desde muito jovem, enviuvou logo e contraiu novo matrimônio, mas, o segundo marido morreu também, poucos meses depois. A mesma sorte teve o terceiro, anos mais tarde. Para viver, Brígida administrava uma taberna, onde se passavam horas divertidas e se bebia bom vinho.
Aos quarenta anos, Brígida Bishop ainda era muito bonita e se vestia com grande elegância. Gênio folgazão, alma livre. Sentia-se libertada de exageradas exigências. As beatas consideravam uma licenciosidade imperdoável a elegância da formosa mulher, os seus interessantes vestidos. Acusavam-na de ofender o recato das senhoras honestas com seus toletes de cores alegres. Era grave a ofensa às damas de Salem, que se trajavam com decência, de roupas escuras, cinzentas, e quase sempre, de preto.
Ao chegar perante o tribunal e ao ouvir a acusação que lhe faziam a senhora Brígida Bishop ponderou:
— Não sei, ao menos, o que são bruxas...
— Então, não pode a senhora asseverar que não seja uma delas, replicou, triunfante, um dos juízes.
A prova condenatória foi robustecida por William Stacy.
— Essa senhora, — falou ele— deu-me uma moeda em pagamento de certo serviço. Não havia caminhado vinte passos, procurei nos bolsos a moeda e ela havia desaparecido, como por encanto...
É inconcebível acusação mais infantil. Mas, o fato, para o plenário, se apresentava como inconteste. A senhora Bishop tinha por certo, negócios com o Diabo...
Não ficou aí tudo. Foi chamado um tal Samuel Gary. Assegurou ele que há dez anos passados lhe havia aparecido uma bruxa. Dias depois, morria um filho seu, ainda pequenino, enfeitiçado. A bruxa, afirmou, não fora outra senão Brígida Bishop, a qual acabava de reconhecer.
Acusavam-na ainda de ser responsável pela loucura e o suicídio de um seu vizinho, de nome Cristiano Trask.
Outras vítimas — Fim da Era de Terror
Se não estivessem todos os detalhes desta narrativa singular guardados ainda nos arquivos judiciários de Massachusetts, nos Estados Unidos, não seria possível acreditar que tudo assim aconteceu, de tão irreal que parece.
Os demais julgados — falam os autos — não foram diferentes dos que, com minúcias, reproduzimos para ser possível uma ideia completa desses incríveis acontecimentos.
Um caso de maior barbaridade foi aquele de que fizeram vítima o velho Giles Corey, com 80 anos de idade. Para afastar o demônio do seu corpo, o octogenário foi submetido a horrível suplício, em meio do qual faleceu. Fizeram-no deitar-se e sobre ele foram sendo colocadas pesadas pedras, até que desaparecesse sobre elas.
Quando as tiraram de cima do pobre homem, não havia mais nada a fazer senão sepultá-lo. Outro indivíduo, chamado George Jacobs, foi executado porque revoltou-se, publicamente, contra os tribunais. Esse não era bruxo,
Um dos juízes, de nome Stoughton, levantava-se, com frequência, da mesa em que estava e golpeava-se furiosamente com um chicote, nas pernas e nos braços. É que ele temia os bruxados, as bruxas que ia condenar. O meio de espantar os espíritos malignos era seviciar-se.
Antes de iniciado o plenário, constituía-se um grupo de jurados extraordinário que era investido de delicada missão. Os jurados tinham quer ser técnicos no assunto. Cabia a esses jurados o exame corporal dos prisioneiros e a assinalação de marcas que se supunham estigmas de Satã, produzidas pelo seu tridente em fogo. Não poucas vezes aconteceu uma simples cicatriz ser considerada como prova irrefutável do contato com Lúcifer.
As tremendas atrocidades só terminaram quando as pequenas enfeitiçadas da negra Tituba, instigadoras da fúria de morte contra as bruxas, levaram suas denúncias demasiadamente longe. Tiveram a ousadia de acusar a senhora John Hale, esposa de um ministro de Beverly, dama por demais conhecida pela nobreza de seu caráter e bondade. Havia a senhora John Hale externado suas dúvidas sobre a sinceridade das enfeitiçadas. Foi o bastante. Ao mesmo tempo, acusaram ainda de ser bruxa Lady Philips, esposa do próprio procurador de Massachusetts!
Dias depois abriam-se as portas das prisões e eram postas em liberdade duzentas pessoas apontadas como fazedoras de bruxedos. Algumas dessas já haviam também declaradas convictas e estavam sentenciadas a morrer na forca.
Em 1711, o Estado aprovou um crédito de 578 libras esterlinas para indenizar os herdeiros das pessoas que haviam sido executadas e determinou que lhes fossem restituídos os direitos de cidadãos norte-americanos que lhes haviam sido suspenso.
Toda essa história tenebrosa, de 300 anos passados, foi relembrada, já dissemos no começo dessa reportagem, não há muito, quando o Senado de Massachusetts, a requerimento dos descendentes de Ana Pudeator, proclamou a inocência dos mortos e martirizados em Salem, pelos tribunais criados especialmente para julgar e sentenciar as bruxas.
Veja também: Morte às Bruxas - Parte 1 — Morte às Bruxas - Parte 2 — Morte às Bruxas - Parte 3
Fonte: Artigo adaptado e atualizado de “A Noite Ilustrada”, de 30/07/1946.
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