sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Bruxas Voadoras
Durante uma caça às bruxas no Pays de Labourd, França, em 1609, o investigador Pierre de Lancre obrigou uma jovem a fazer uma confissão extraordinária. Sob tortura, Marie Dindarte, de 17 anos, disse que na noite de 27 de setembro se tinha untado com um unguento e depois voado. O unguento não podia ser examinado porque o Diabo o tinha escondido.
Muitas pessoas da Idade Média pensavam que algumas mulheres cavalgavam «durante a noite com Diana, deusa dos pagãos ... montadas sobre certos animais ... e cobrindo distâncias imensas». Durante séculos, a Igreja deplorou esta crença e impôs penitência. Mais tarde, porém, mudou de opinião. No século XIII, o papa Alexandre IV determinou que a bruxaria implicava heresia, e, no século XVI, quem negasse a existência de bruxas que voavam de noite podia ser queimado como bruxo!
A deusa das bruxas tinha vários nomes, mas os textos eruditos se lhe referem vulgarmente pelo nome de Diana, ou Ártemis, deusa da Lua. O seu templo em Éfeso, na atual Turquia, era um centro religioso do mundo antigo. Os Sicilianos acreditavam que nas noites de quinta-feira as seguidoras de Diana deixavam os seus corpos deitados junto aos maridos e voavam na escuridão para dançarem e festejarem com as almas dos mortos. Traziam fertilidade e abundância às casas bem tratadas e consumiam as ofertas que os seus habitantes lhes deixavam.
Estas viagens em sonhos eram abominações demoníacas aos olhos da Igreja. Nos séculos XVI e XVII, muitas mulheres confessavam ter voado com o Demónio para assistir ao sabbat (assembleia de bruxas). Na Suíça, as bruxas montavam muitas vezes em lobos, mas também em grandes gatos pretos e cabras. Gradualmente, os meios de transporte viriam a incluir objetos como cadeiras, pás, paus e sobretudo vassouras untadas com unguentos mágicos feitos de beladona, acônito, cicuta e outras plantas venenosas. Dizia-se que o óleo dos unguentos provinha de gordura fervida de bebês por batizar ou de crianças roubadas de casa ou desenterradas das suas sepulturas. Os investigadores atuais afirmam que estes voos fantásticos deviam ser fruto de ilusões e imaginações excitadas induzidas por drogas.
Em l558, o alquimista Gianbatista Porta viu uma bruxa se untando com um unguento e entrar em transe. Ao acordar, afirmou ter estado a voar, embora Porta não a tivesse visto mexer-se. Outras testemunhas foram mais afortunadas. Em 1527, Avellaneda, outro inquisidor da região basca, levou homens armados até uma estalagem, a fim de torturar uma vítima à hora das bruxas – imediatamente antes da meia-noite de sexta-feira. A mulher foi levada para «um quarto interior; untou-se da forma habitual com um unguento venenoso, que também se usa para matar pessoas, e dirigiu-se a uma janela alta ... Depois, chamou o Diabo, pedindo-lhe ajuda, e ele apareceu, como era seu costume, pegando nela e levando-a quase até ao solo». Quando um dos soldados, aterrado, invocou o nome de Cristo, a bruxa e o Diabo desapareceram. A mulher foi apanhada passados alguns dias noutra cidade. O Diabo, segundo se presume, continua à solta.
Fontes: Bruxaria; Dictionnaire Infernal. Paris: E. Plon, 1863.
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