sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Histeria da Caça às Bruxas


Desde meados do século XV e durante um período de cerca de 250 anos que, calcula-se, 150 000 a 200 000 pessoas na Europa terão sido condenadas à morte por bruxaria. Algumas foram queimadas vivas, outras, enforcadas, outras ainda, estranguladas e depois queimadas.

A reputação e a condição social conferiam pouca proteção. Em 1590, Frau Rebekka Lémp foi uma das 32 mulheres respeitáveis queimadas por bruxaria na cidade alemã de Nördlingen. Os homens condenados por bruxaria eram muito menos, mas em 1628 o burgomestre de Bamberg foi executado por acusações forjadas contra ele pelos seus rivais políticos.

A histeria da caça às bruxas teve origem num conceito de bruxaria que surgiu de uma mistura de feitiçaria campesina, magia, heresia e satanismo. Todas as sociedades acreditavam nos feiticeiros das zonas rurais, que curavam ou faziam mal por meios ocultos. A magia branca, uma combinação de psicologia e farmacologia, podia proteger pessoas, colheitas e gado; garantir a reprodução; descobrir e influenciar amantes; encontrar pessoas e bens perdidos e tesouros escondidos, e contrariar a magia negra. A magia negra, ou maleficium, podia provocar a doença e a morte e gerar tempestades ou pragas de insetos para destruir colheitas.

Os primeiros «cientistas», como Cornelius Agrippa, na Alemanha, e Roger Bacon e John Dee, na Inglaterra, eram considerados magos pelos clérigos conservadores por acreditarem que os demônios podiam ser coagidos a servir os seres humanos. Os cristãos que se opusessem à visão dominante da Igreja eram acusados de crimes como heresia, assassínio, sacrifício de crianças, canibalismo e desvios sexuais. Uma pequena minoria adorava o demônio cristão, cuja importância cresceu rapidamente no fim da Idade Média, até que finalmente o satanismo se transformou num elemento essencial do conceito de bruxa do século XVI.

Pactos com o Demônio: A partir do século XIII, clérigos como Tomás de Aquino e Alberto Magno negaram a existência de um mundo de magia separado do mundo da Natureza ou do sobrenatural, e a Igreja declarou que a utilização de magia sem a sua autoridade seria obra do Diabo. Assim, quem exercesse poderes mágicos fora da Igreja é porque tinha feito um pacto com o Diabo. Dezenas de milhares de mulheres idosas e de outras pessoas da Europa que praticavam feitiçaria campesina passaram cada vez mais a serem consideradas instrumentos do Demônio, que teria reuniões regulares com os seus seguidores, fornecendo-lhes assistentes demoníacos, conhecidos por familiares.

Os métodos utilizados na luta contra esta ameaça divergiam. Penitências leves dadas por tribunais eclesiásticos ou multas moderadas impostas por jurisdições seculares deram lugar a castigos mais duros no fim do século XV. Em certas partes da França, na Alemanha e Escócia; o suposto pacto com o Demônio era considerado pelos católicos como a rejeição do baptismo e pelos calvinistas a quebra do contrato com Deus. O castigo era morrer na fogueira. Noutras regiões, como na Inglaterra ou Dinamarca, a pena, que dependia do resultado do maleficium, era a forca.

A elite política, ansiosa por que a Igreja e o Estado escapassem à responsabilidade das desgraças nas comunidades, encontrou um bode expiatório no Demónio e seus seguidores. Certos indivíduos eram mais vulneráveis: os idosos e os doentes e as viúvas e as solteiras. O ódio contra as mulheres e a necessidade de as controlar foram também fatores importantes em muitas perseguições.

Controle do Estado: Em certas situações, a cobiça ou a ambição política levavam as pessoas a acusar outras de bruxaria. Os Estados fortes, porém, conseguiam controlar a caça às bruxas. A ocupação sueca da Alemanha na década de 1630 e a ocupação inglesa da Escócia na década de l650 puseram fim a tal atividade, que, no entanto, recomeçaria mal os exércitos estrangeiros se retiraram.

No início do século XVIII, a caça às bruxas tinha praticamente acabado (um dos últimos grandes surtos ocorreu na América, em Salem, Massachusetts, em 1692 e 1693). O impacto de explicações racionais e científicas deu origem a que as pessoas cultas já não acreditassem em bruxas, o que passou a refletir-se nas decisões dos juízes. A bruxaria deixou de ser um crime. A burocracia governamental, forte e eficaz, afastou a necessidade de bodes expiatórios como meio de controle, e o medo da população e das mulheres atenuou-se. As crenças no maleficium passaram a ocorrer apenas ao nível de camponeses ignorantes.

Os bruxos neopagãos, que têm vindo a aumentar desde a década de 50, nada tem a ver com o conceito medieval de bruxaria. Não creem no Demônio nem renunciam às religiões convencionais, antes consideram-se curandeiros que trabalham para o bem da comunidade.


Fontes: Bruxaria; Dictionnaire Infernal. Paris: E. Plon, 1863.

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