segunda-feira, 4 de abril de 2016

Escrita Canalizada e Automática




A ampulheta fora virada três vezes, e os grãos estavam pela metade, e o pássaro ainda pulava dentro da gaiola. Acho que a ampulheta já vinha sendo virada há anos, corretamente zerada a cada vez, e o pássaro vivera alguns deles cantando e outros lamentando. A boca da lareira bocejou sonolenta … — Patience Worth

Definição: A canalização (algumas vezes chamada de transe canalizado) é o processo pelo qual um espírito supostamente fala por intermédio de uma pessoa viva, conhecida como canalizador. A escrita automática é o processo pelo qual um espírito, durante a canalização, escreve uma prosa ou uma música que o canalizador então transcreve.

Algumas vezes a canalização e a escrita automática são consideradas produtos do subconsciente de alguém, mais uma ferramenta psicológica do que uma técnica paranormal. No entanto, a definição mais popular e amplamente aceita do termo em geral refere-se à canalização do espírito.

O que os crentes dizem: Os canalizadores são médiuns talentosos que usam sua consciência como um "receptor" para entidades espirituais transmitirem informações e sabedoria. Os canalizadores que trabalham com a escrita automática ou a composição recebem verdadeiras manifestações de arte de espíritos no além. Aqueles que canalizam grandes almas, como a de Mozart ou Shakespeare, deveriam ser valorizados, uma vez que o mundo está lucrando com manifestações artísticas até então desconhecidas desses grandes mestres.

O que os céticos dizem: Espíritos do além não se comunicam com ninguém. Toda e qualquer "sabedoria" supostamente canalizada nada mais é do que os pensamentos (ou, no caso da escrita automática, a prosa e a música) dos próprios canalizadores.

Qualidade das provas existentes: Inconclusiva.

Probabilidade de o fenômeno ser paranormal: Inconclusiva.

Notícia: Kevin Ryerson é um canalizador. Um dos espíritos que ele canaliza é de um amigo de Jesus chamado João. Um dos clientes de Ryerson é a atriz e escritora Shirley MacLaine. Segundo Ryerson, João lhe disse que Shirley criou o universo em parceria com Deus. Aparentemente, ela acredita que isso seja verdade.

Notícia: Em 1913, em St. Louis, no Missouri, uma entediada dona de casa de 30 anos chamada Pearl Curran começou a receber comunicações por meio de um tabuleiro Ouija de uma mulher chamada Patience Worth. Patience contou a Pearl que vivera no século XVII em uma fazenda em Dorsetshire, na Inglaterra, até imigrar para os Estados Unidos, onde posteriormente fora assassinada por índios. Não demorou muito para que a mulher britânica falecida há séculos começasse a ditar para Pearl Curran.

Por 25 anos, Patience supostamente ditou para Pearl mais de 400 mil palavras de ficção e poesia, inclusive cinco mil poemas, vários romances e uma peça. Grande parte deste trabalho foi publicada, e Patience Worth, escrevendo através de Pearl, tornou-se uma autora muito bem-sucedida. Seus romances históricos, principalmente "Telka" e "The Sorry Tale", foram aclamados pela crítica na época, e, na verdade, amplamente aceitos como trabalhos canalizados, até porque ninguém acreditava que a sra. Curran tivesse a inteligência, a educação ou o talento para produzir por conta própria tamanha quantidade de obras em estilos variados.

Hoje em dia, o trabalho de Worth não pode ser encontrado no mercado, embora ainda existam exemplares de edições esgotadas, mas estes são caros. Ela, porém, não possui mérito literário algum e, se ainda desperta interesse, é pela curiosidade em se ler algo que supostamente foi escrito por um espírito se comunicando com os vivos.

Notícia: Ludwig van Beethoven compôs nove sinfonias, hoje em dia universalmente consideradas o epítome do modelo sinfônico. No entanto, segundo a canalizadora britânica Rosemary Brown, Ludwig na verdade compôs um total de 11 sinfonias. O grande compositor ditou as sinfonias 10 e 11 para a sra. Brown depois de morto. Além de Beethoven, Rosemary diz ter recebido também composições originais de Brahms, Bach, Rachmaninov, Schubert, Grieg, Debussy, Chopin e Liszt, assim como de vários outros compositores.

Durante décadas de comunicações com esses grandes músicos, a sra. Brown recebeu mais de 400 obras, e, em sua maioria, elas acabaram sendo consideradas bastante similares ao estilo dos compositores a quem eram atribuídas, além de denotarem, segundo os especialistas, um nível de habilidade e inspiração muito superior às limitadas capacidades da sra. Brown.

Importante… ou imaginado?

Será que Rosemary Brown recebeu mesmo novas peças de compositores mortos?

Será que Pearl Curran recebeu de verdade romances e poesias de Patience Worth?

Ou será que Brown e Curran eram simplesmente mulheres cultas cujos subconscientes foram capazes de evocar habilidades normalmente inacessíveis a elas?

Acreditar ou não em canalização ou em escrita automática depende de uma pergunta chave que devemos fazer a nós mesmos: você acredita que a consciência sobrevive à morte?

Se a resposta for "não", então toda essa conversa de canalização e de receber mensagens e manifestações artísticas de pessoas mortas nada mais é do que pura fantasia ou delírio. O processo em si é chamado de automatismo, que significa a "suspensão da consciência em prol da expressão de ideias e sentimentos subconscientes".

Se, no entanto, a resposta for "sim", então a porta encontra-se escancarada, e filmes como "Ghost — Do outro lado da vida" e "O Sexto Sentido" são considerados representações ficcionais de fatos inacreditáveis, muito mais do que fantasias divertidas totalmente inverossímeis. Grandes poderes do além e possivelmente seres de outros planetas ou dimensões tornam-se os "autores" de sábias inspirações e de obras artísticas originais.

A ideia de a humanidade ser capaz de receber obras artísticas de grandes escritores e compositores mortos é excitante. E, aparentemente, algumas das músicas enviadas para Rosemary Brown por compositores mortos seguem o estilo original. Mas, a menos que algum manuscrito há muito perdido de alguém como Beethoven ou Bach seja desenterrado de algum arquivo poeirento, os cânones de um compositor falecido há tempos permanecem inalterados, não obstante todos os trabalhos canalizados.

Se refletirmos, o mais sábio é acreditar no último caso.


Fonte: Os 100 Maiores Mistérios do Mundo - Stephen J. Spugnesi - Difel 2004

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