domingo, 10 de junho de 2018

Sala de Espera


A SALA DE ESPERA do consultório, João olhou para as revistas sobre celebridades que estavam à sua disposição. Não precisou pensar para escolher e pegou a primeira da pilha. Abriu e passou os olhos por algumas fotos; deteve particular atenção em um casal de idade próxima à sua, que passava as férias numa praia do Mediterrâneo.

A porta do recinto se abriu, e um ser de mais de dois metros entrou. Examinou o ambiente com o par de olhos pretos e pequenos, que ficavam na extremidade de uma cabeça retangular e recoberta de escamas. Enquanto ele decidia onde sentar, densas gotas verdes caíam de sua boca e se aglutinavam no chão. Deu dois passos lentos e desengonçados e se alojou no sofá.

A um metro e meio dali, João seguia entretido com a revista. Essas estrelas têm o dom de não se preocupar, não veem nada à sua volta. É uma vida divina. Andam sempre com o nariz para cima, sequer olham para o lado. O mundo não existe. Também, olha essa boca, que dentes perfeitos! Quem teria problemas com um sorriso assim?

No sofá ao lado de João, a criatura mostrava enormes dentes incisivos e mexia os maxilares como quem se exercita para atacar uma presa. Num gesto rápido, colocou a língua para fora e capturou um inseto que repousava na janela. Tudo que eu queria, essa vida de estrela. Passar o dia na piscina, em praias paradisíacas, na beira do mar. Mulheres lindas, muito dinheiro. E o principal: sempre gente interessada em mim. Seria a realização máxima: saber que as pessoas procuram as revistas para ler sobre o que faço, com quem estou; que isso é mais importante que suas próprias vidas.

A coisa, agora, olhava com atenção para João; erguia suas poderosas garras cortantes e as movia devagar na direção do homem. Das mãos escamosas, pingavam mais gotas verdes, que faziam um som pastoso ao tocar o solo. Acho impressionante como eles não têm medo. São só vida, aventura. Pulam de para-quedas como quem vai ao mercado. São bravos. Eu, se fosse rico, teria que aprender a não ter medo. Ah, como eu queria deixar de lado essa vida comum, essa monotonia.

O ser ergueu-se do sofá, e o corpo descomunal fez João parecer ainda menor. Deu um passo lento, com as garras erguidas, a boca espumando e o olhar determinado. Um som no guichê, no entanto, o fez parar. A recepcionista retornava com uma folha de papel na mão. Limpou a garganta e chamou: “Sr. Smith?”.

A criatura olhou mais uma vez para João, deu meia-volta e caminhou sem pressa até a bancada de madeira que o separava da mulher. Ela lixava as unhas, concentrada: “Pode passar na primeira porta à esquerda, Sr. Smith”. A coisa fez expressão de agradecimento e seguiu na direção indicada.

O som do abrir e fechar da porta precedeu o silêncio que restou na sala de espera.

por Rodrigo Rosp


Ficção de Polpa - Volume 2 - Organizado por Samir Machado de Machado - 2012.

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