terça-feira, 10 de abril de 2018

Aproveita que o Sinal está Amarelo!


Os acidentes de trânsito revelaram-se eventos tão cheios de possibilidades e variações que chega a ser difícil escolher o melhor tipo e o mais funcional. Afinal quase todos me garantem um serviço rápido e sem complicações. Mas se há um tipo que me diverte, confesso, são aquelas cacetadas nas quais vocês dizem, pouco antes de virarem parte das ferragens, a fatal frase “Aproveita que o sinal está amarelo!”, mais um clássico moderno das últimas palavras.


Este tipo de acidente nasceu do maquiavelismo inerente ao ser humano. E por “maquiavelismo inerente” entendam “filha-da-putice da grossa”. Porque o que poucos de vocês sabem é que antigamente os semáforos tinham apenas duas fases, o verde e o vermelho. No verde o motorista avançava, no vermelho ele freava. Nada mais simples do que isso. Funcionava muito bem e o número de acidentes era baixíssimo. Eu tinha tão pouco serviço em acidentes de trânsito nessa época que investia o meu tempo em outras áreas, como Guerras Mundiais, por exemplo.

Ocorreu que a indústria automobilística entrou em crise em determinado período dos anos 20. Os motivos principais eram a durabilidade dos carros e a satisfação dos consumidores em ter apenas um veículo para a vida toda. Desesperada, e precisando aumentar suas vendas de qualquer maneira, a indústria teve a brilhante idéia de fazer os consumidores estragarem seus veículos de forma mais rápida chocando-os uns contra os outros. As grandes montadoras fizeram então um acordo com as prefeituras das cidades, que logo mobilizaram seus engenheiros de tráfego, e criaram o nefasto sinal AMARELO. O que era certeza, então, tornou-se dúvida .

Sim, é para isso que o sinal amarelo serve: deixá-los em dúvida. A frase “Aproveita que o sinal está amarelo!” é fruto da titubeada de alguém, normalmente um braço-duro dos infernos que jamais deveria conduzir um carro (89% de vocês, em média). Ela tanto pode ser dita por quem está ao lado do motorista, apressando alguém meio lerdo, como apenas atravessar rapidamente os pensamentos de quem está ao volante. Em ambos os casos, ela é a última coisa a passar pela cabeça da pessoa. Ou a penúltima, caso o carro não tenha air-bag.

Mas não vejam isso como uma crítica à indústria automotiva, porque, pessoalmente, sou muito grato a ela. Devo à invenção do automóvel os melhores momentos da minha vida profissional no século XX. Assim que Ford inaugurou a primeira linha de montagem em série da história, eu inaugurei a primeira linha de desmontagem em série de vocês. A indústria automobilística, por mais que se considere uma transformadora de matéria-prima em produtos, no fundo não passa de uma mera fornecedora de matéria-prima para mim. Não tenho do que reclamar. Já vocês, me desculpem a sinceridade, não passa de uns manés nas mãos dessa gente.

Portanto quando alguém disser a você as palavras “Aproveita que o sinal está amarelo!” freie caso queira continuar vivendo. Nunca ache que vai dar tempo, porque não dá. Quando acontece de funcionar é porque vocês me pegaram muito ocupado com alguma outra questão em Gaza, ou no Afeganistão, ou em outro lugar assim, e por isso deixei passar batido. Mas se eu estiver perto, perdoem o trocadilho, não deixo passar a batida.

Ao avançarem um semáforo com a luz central acesa saibam que a única coisa amarela certa nesta história será o sorriso de vocês quando me encontrarem. Já eu me aproximarei com o meu mais alvo arreganhar de dentes e direi, como sempre, “BEM FEITO!”.

Diário da Foice, 08 de junho de 2010


Fonte: Diário da Foice - WordPress

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