quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O Político


Ele era um político de sucesso. Sua energia e disposição fizera com que, cargo a cargo, atingisse tal poder que decidia sobre destinos como se escolhesse a cor da camisa que usaria.

Na sua subida, corrompeu-se de tal forma que já não recusava qualquer trato. Desviava verbas, favorecia hipócritas e demagogos, cercava-se de abutres. O poder o cegava.

Afinal, havia chegado o dia de realizar o negócio de sua vida. Havia tanto envolvido, que sua força seria inigualável. Poderia comprar tudo e todos, nada mais o deteria. Chegaria ao topo, nada mais poderia detê-lo.

Havia escondido de todos aquele negócio. Não poderia confiar tamanho segredo a ninguém. Foi, então, sozinho, ao encontro decisivo. Estranho encontro aquele, à noite, num cemitério. Mas como ele mesmo dizia, as paredes tinham ouvidos. Seus parceiros tinham razão.

Não encontrou, porém, as pessoas que esperava.

Logo, corpos, cadáveres, zumbis, o rodeavam. E um deles falou, até onde permitia a boca, já carcomida pelos vermes.

Aquela gente havia morrido de fome, pela comida que não viera, morrido de frio, pelo agasalho trocado por ouro. Havia morrido por doenças que simples remédios curariam.

De todas aquelas mortes ele era acusado.

O político então notou, em cima de uma tumba, uma urna. Seria uma eleição onde os mortos votariam o seu destino. A última eleição.


Fonte: "Crônicas de terror de Zé do caixão" - Editora Associação Beneficente e Cultural Zé do Caixão, SP, Brasil, 1993.

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