sexta-feira, 26 de abril de 2013

O canibal alemão

Armin Meiwes
Reportagem de TV deixa a Alemanha pasma: caso de canibalismo parece não ser fato isolado. Justiça investiga várias denúncias. Testemunhas relatam cenas chocantes. A realidade não estaria longe das atrocidades do filme "Silêncio dos Inocentes"

Durante dois anos, o jornalista Rainer Fromm pesquisou quase 20 casos de crimes com sinais de rituais macabros, em que as vítimas teriam sido violentadas, assassinadas e/ou devoradas. A descoberta pela Polícia, quase por acaso, do ato de canibalismo do especialista em computadores Armin Meiwes, 41 anos, em Rotenburg do Fulda, chocou a Alemanha. Para Fromm, indicou estar numa pista quente.

Após a exibição de sua reportagem na emissora pública ZDF, não se pode mais ignorar o "fenômeno" e acreditar que Armin é um caso isolado. "Notícias assim têm de ser levadas a sério", reagiu a ministra da Justiça, Brigitte Zypries, que vê a internet como meio relativamente fértil para crimes do tipo. Para o procurador Horst Roos, do Ministério Público de Trier, desde o episódio de Rotenburg, não pode mais haver tabu nesta questão.

Fromm levou às telinhas os depoimentos de três testemunhas. Duas mulheres e uma menina relatam assassinatos cruéis em rituais de magia negra. A menina conta, numa sessão de psicoterapia, ter visto matarem uma criança e comerem pedaços dela "até os ossos". Uma vítima narra ter presenciado pessoas ainda vivas, sob gritos insuportáveis, terem seus dedos cortados e depois seus corpos trinchados.

Outras revelações partiram de uma mulher de 34 anos, que teria participado de um grupo satanista. Seus depoimentos são base de uma investigação promovida desde maio passado pelo Ministério Público de Trier. Vários suspeitos "de práticas sexuais com fundo ocultista" estão sendo investigados. Os casos apresentados na tevê ocorreram nos últimos 15 anos na Alemanha e na Bélgica.

Chefe da Procuradoria de Trier, Georg Jüngling ficou chocado com a reportagem. "São coisas ruins, quase inimagináveis, que foram apresentadas", declarou o procurador. Segundo ele, o trabalho de Fromm trouxe "alguns poucos novos conhecimentos" para o inquérito, sobre cujo andamento e abrangência Jüngling se recusa a dar informações. O repórter da ZDF prometeu repassar para o Ministério Público tudo o que apurou.

O professor Rudolg Egg, da Central de Criminalística de Wiesbaden, não só reconhece a existência de canibais na Alemanha, como estima em várias centenas o número de pessoas que participam, ao menos passivamente, de práticas ocultistas bizarras no país.

Nosso "amiguinho" diz ter se decepcionado com vítima

Armin Meiwes, um técnico de computação de 42 anos, se declarou "decepcionado" com sua vítima, um engenheiro que ele conheceu pela Internet. "Ele exigiu que eu o esquartejasse imediatamente. E eu queria conhecê-lo melhor primeiro", disse.

O acusado admitiu ter matado o berlinense Bernd Jürgen B. com diversas facadas no pescoço, depois de "anestesiá-lo" com bebidas alcóolicas e remédio para dormir. "Bernd mentiu sobre sua idade. Ele disse que tinha 36 anos, mas na verdade tinha 42", reclamou Meiwes.

Meiwes declarou que voltou a entrar em contato pela Internet com uma pessoa que queria ser comida por ele, depois do crime. Ao justificar o segundo contato com uma vítima em potencial, Meiwes afirmou que a carne da primeira vítima "acabou rapidamente".

O acusado disse que comeu cerca de 20 quilos de carne do cadáver de Bernd Jürgen B. durante suas refeições regulares. "O ato de comer os restos mortais deu sentido à morte, já que o corpo não foi jogado fora", disse o alemão.

A Justiça alemã deve apresentar hoje trechos do vídeo em que Armin Meiwes filmou a morte e o esquartejamento da vítima. O juiz decidiu proibir o acesso do público a essa parte do processo.

A promotoria do tribunal de Kassel, na região central da Alemanha, acusa Armin Meiwes de ter cometido assassinato por razões sexuais, já que ele declarou que o esquartejamento o "excitou". Ele não está sendo julgado por canibalismo, que oficialmente não é um delito na Alemanha.

"Se eu tivesse ido a um psiquiatra há alguns anos, provavelmente não teria feito o que fiz", declarou Meiwes.

Fontes: DW.DE; Notícias Terra (08/12/2003)

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