Aleister Crowley |
Aleister Crowley
(12 de Outubro de 1875 — 1 de Dezembro de 1947) foi sem sombra de dúvida
o maior mago do século XX. Suas explorações no campo das drogas e do
sexo são enfatizadas em demasia por quase todas as pessoas que se põe a
falar sobre ele. Essa sua faceta poderia ser explicada (talvez até possa
ser justificada) como uma fuga genial da pútrida sociedade
ultrapuritana em que foi criado.
O protestantismo vitoriano foi
uma das manifestações mais repressoras de que já se teve notícia e
Crowley, juntamente com alguns artistas de vanguarda de sua época teve a
ousadia de se colocar contra todo esse sistema de valores e criar um
sistema próprio, que por pior que fosse era melhor do que o sistema
estabelecido.
A mente de Crowley, um misto de
Nietzsche e Rabelais, com uma estética egípcia e um negro senso de
humor, era, de certa forma, inescrutável. Apesar de freudianamente seus
complexos serem óbvios, lendo Crowley nunca se tem certeza do que ele
realmente quis dizer. Ele brincava com o leitor, geralmente o
superestimando (principalmente nos primeiros livros, cheios de
referências obscuras imprecindíveis para a compreenção da obra). Apesar
disto escreveu excelentes poesia e prosa, mas que de forma alguma
superaram o interesse do mundo na história de sua vida, atribulada,
trágica e cheia de aventuras como foi, por si só uma obra de arte.
Crowley nasceu em 1875, filho de
um pastor de uma seita fundamentalista protestante, que também era dono
de uma fábrica de cerveja. Seu pai morreu cedo, deixando boas
lembranças no menino, mas sua mãe, segundo ele, era uma "estúpida
criatura", e as brigas da adolescência logo fizeram com que sua mãe o
chamasse de "Besta", apelido que adotou posteriormente e que lhe trouxe
boa parte da fama.
Na escola se mostrou brilhante e
obediente, até que foi culpado injustamente de um pequeno delito e foi
posto de castigo, a pão e água, o que piorou sua já fraca saúde (tempos
depois lhe receitariam heroína para a asma, substância que usou até os
72 anos de idade, quando morreu de parada cardíaca). Crowley nunca
esqueceu desse tratamento, e desde menino começou a achar que havia algo
de errado com o "senso comum" da época. Decidiu ser um homem santo, e
cometer o maior pecado, como em uma lenda dos Plymouth Brothers (culto
de seu pai) que afirmava que o maior santo cometeria o maior pecado.
Na universidade Crowley
finalmente se encontrou. Com muito dinheiro (da herança de seu pai) e
livre da repressão da família, exerceu todas as atividades pelas quais
ficou conhecido: alpinismo, poesia, enxadrismo, sexo e magia, e, dizem,
foi excepcional em cada uma delas. Crowley travou contato com a Golden
Dawn, uma ordem pseudo-maçônica de prática ritualística e iniciatória
que esteve em seu auge no fim do século passado, quando Crowley a
frequentou. Subiu rapidamente pelos graus da ordem, mas foi barrado por
um grupo de pessoas que chegaram a afirmar que a "ordem não era um
reformatório". Crowley era desconsiderado pelos intelectuais e
desprezado pela burguesia, fato que o pode ter levado a suas inúmeras
viagens e expedições de alpinismo.
Crowley
pode parecer extremamente arrogante e narcisista em seus escritos, mas
isso não parece ser verdade, se examinamos sua vida a fundo. Ele sempre
buscou o reconhecimento e aprovação das pessoas, e quando notou que isso
não era possível, mantendo sua crítica atroz aos absurdos do
puritanismo inglês, ele resoleu aparecer fazendo escândalos, reais ou
falsificados, ao estilo do esteriótipo "falem mal, mas falem". Mesmo
assim em sua autobiografia ("Confessions of Aleister Crowley") ele se
mostrou extremamente magoado quando a imprensa marrom inglesa
(conhecidíssima até hoje e abominada pela família real inglesa)
inventava alguma coisa absurda e terrível ao seu respeito, como em uma
ocasião em que o acusaram de comer carne humana na expedição ao monte
K2.
A Golden Dawn recusou iniciação a
Crowley, mas seu chefe, McGreggor Mathers não. Talvez interessado no
dinheiro do jovem Aleister Crowley ele o iniciou, e logo se tornou um
mestre para Crowley.
Seus trabalhos mágicos e estudos
místicos o levaram as mais diversas partes do mundo, experimentando com
todas as formas de catarse e intoxicaçõo, que considerava como bases da
religião. Mas pouco a pouco se distanciava de Mathers, que a essa
altura já havia se proclamado em contato direto com os "mestres" que
regem a terra, e com isso seu autoritarismo se tornou insuportável.
Crowley foi o único a defendê-lo até o final, quando percebeu que tudo
não passava de uma farsa.
A crença de que existe um grupo
de iniciados secretos que carregam o conhecimento humano e são os
verdadeiros "chefes" da terra é compartilhada no sentido estritamente
literal por muitas pessoas e seitas. Crowley aceitou essa idéia de uma
forma ou de outra até o fim da vida, mas empregou diversas
interpretações para estas entidades, algumas baseadas na psicologia
(recém estabelecida como uma ciência por Freud, na mesma época).
Mas, desiludido com a Golden Dawn, passou alguns meses afastado da magia, e pouco a pouco se reaproximou, trabalhando sozinho.
Então numa viagem ao Cairo em
1904, recém-casado, sua esposa começou a falar algumas coisas estranhas
das quais ela não poderia ter conhecimento. Ela o mandou invocar o deus
Hórus.
Dessa invocação surgiu um texto
pequeno, de três capítulos, intenso e esquisito, ditado por um dos
"ministros" da forma de Hórus conhecida por "Hoor-Paar-Kraat",
Harpócrates, Hórus, a criança. Aiwass era o nome dessa entidade, depois
reconhecida como o Sagrado Anjo Guardião do próprio Crowley. Com isso
três coisas estão subentendidas: Aiwass era um dos "mestres" que regiam o
presente Éon, dedicado ao Deus Hórus, seu mentor; era também uma
entidade não totalmente separada de Crowley, embora devesse ser tratado
como tal, alguns poderiam dizer que ele era o self junguiano de Crowley
(mesmo ele reconheceu isso), outros, maldosamente, que era sua Sombra
(termo que em psicologia junguiana designa a parte de nós que reprimimos
e que contém aquilo que temos medo de admitir); Crowley demorou cerca
de 5 anos para acatar o que o texto dizia. Uma das profecias previa a
morte de seu filho, que acabou por morrer mesmo, de doença desconhecida.
Quando finalmente aceitou o Livro da Lei
estava em contato com um corpo germânico de iniciados, que em outro
livro dele ("The Book of Lies") encontraram um segredo de magia sexual
que pensavam ter o monopólio no ocidente. Nem Crowley havia entedido o
que tinha escrito, mas aceitou mesmo assim um alta posição hierárquica
na Ordem. Era a Ordo Templi Orientis, que até hoje detém os direitos
sobre os textos de Crowley posteriores a 1910.
A O.T.O. existe até hoje (ou
melhor existem, visto que houveram cisões e brigas e etc, que somando
com os charlatães, devem somar mais de 30 O.T.Os., por alto. A maioria
clama legitimidade).
Crowley perdeu muito dinheiro
publicando seus próprios livros e os vendendo a preço de banana. E a
incompetência de um tesoureiro da O.T.O., que perdeu um galpão cheio de
livros num lance mal entendido até hoje, acabou causando sua bancarrota
final.
Além da O.T.O. que tinha bases
massônicas, Crowley criou um corpo próprio, designado como A.:.A.:..,
esse corpo, muito mais velado, deveria servir como que "escola de
treinamento" para os possíveis "mestres" da humanidade.
Crowley sobreviveu de doações e
venda de livros até o fim da vida. E morreu em relativa miséria, ainda
viciado em heroína, pouco tempo depois de terminar seu último trabalho,
um livro sobre o Tarô que Lady Frieda Harris havia pintado com suas
indicações. Um baralho magnífico.
Bibliografia:
"Confessions of Aleister Crowley", A. Crowley, Penguin
"The Eye in the Triangle", Israel Regardie, New Falcon Publications
"The Legacy of the Beast", Gerald Suster, Weiser.
Fonte: http://www.culturabrasil.org/
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