Marcelo corria, perseguido por um enorme monstro, uma estranha criatura que iria devorá-lo, se o alcançasse. Seu braço sangrava, havia ali um ferimento profundo. Marcelo tropeça e cai, a fera avança contra ele, que grita e… acorda.
Havia sido um sonho, estava na cama com a namorada, que, assustada, dizia ter tido ele um pesadelo. Para acalma-lo ela o beija com ardor. Ele logo se excita, começando uma troca de carícias cada vez mais íntimas. Vai esquecendo o pesadelo, imerso em beijos. Fecha os olhos, em êxtase, mas ao abri-los, uma horrenda bruxa, o corpo flácido e enrugado, o semblante maligno, a risada estridente. Ele grita, sentindo o braço ferido pela serva de satã.
A mãe o sacode. Não há bruxa,havia sido outro pesadelo. Marcelo vê que os pais e irmãos, atraídos pelos gritos, estão no seu quarto. Ele chora. A mãe, carinhosamente, o abraça. Sob o lençol, centenas de vermes. Sua família se transforma em cadáveres decompostos. O pai não mais possui olhos, a língua do irmão mais velho cai da boca, enquanto todos procuram abraçá-lo. No seu próprio braço ele vê um buraco, uma enorme ferida, e grita com toda a força dos seus pulmões.
Marcelo acorda, mas está no nada. Está num pesadelo dentro de um pesadelo,numa seqüência que não sabe aonde acaba. Agora só há uma névoa, e ele, um filete de sangue escorrendo do braço.
Então ele se recorda. Lembra da sua tentativa de fugir da realidade, desinteressante, tediosa, e entrar no mundo dos sonhos. Queria “entrar na onda”, como diziam os colegas. Lembra-se da droga,da seringa,da picada… Talvez fosse uma overdose, não havia como saber. Talvez estivesse entre a vida e a morte.
Certeza mesmo, restava apenas uma: da névoa a sua frente surgiria o próximo monstro, o próximo grito, o próximo acordar, o próximo pesadelo, talvez por toda a eternidade.
Escrito por: Zé do Caixão
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