Ângela julgava-se a mais infeliz das mortais. No espaço de 5 anos havia perdido três das pessoas as quais mais amava: o pai, a mãe e o marido. Não ficara sozinha no mundo, entretanto, possuía uma grande família, que sempre fora unida e, o mais importante, tinha três filhos que seriam o orgulho para qualquer mãe. No entanto, ela preferia as lembranças, vivendo uma espécie de passado permanente, chorando seus mortos.
Ela implorava às almas de seus entes queridos para que não a abandonassem. Maldizia anjos e santos por terem tirado tão cedo de sua presença pessoas que lhe faziam tanta falta.
Certa noite, um vento zuniu mais forte e um clarão iluminou o quarto de Ângela. Lá estava seu pai, sua mãe, seu marido, decompostos , os ossos à mostra, tentando abraça-la, confortá-la. Seu amado não tinha mais olhos, apenas buracos no rosto. Sua mãe, ainda lembrava muito do que fora, mas o corpo estava coberto de manchas coloridas, sua pele enrugada e o cheiro insuportável.
Ângela mal podia respirar, aquele odor nauseabundo ocupando cada espaço nos seus pulmões. Ela gritou para que fossem embora, mas eles ficaram encarando-a com uma ternura resignada. Ela implorou, suplicou, mas as carcaças desfiguradas não se mexiam; elas simplesmente não poderiam mais ir embora.
O desespero de Ângela havia chamado a atenção de forças poderosas. Aquelas almas sem descanso a acompanhariam por onde fosse, até o fim da sua vida.
Escrito por: Zé do Caixão
Nenhum comentário:
Postar um comentário