"No ano de 1783, um místico chamado Dr. Caligari, perambulava pelas cidades do norte da Itália com um sonâmbulo de nome Cesare, apresentando-se nas quermeces. E, durante meses, manteve uma cidade após a outra em pânico, com assassinatos que sempre ocorriam sob as mesmas circunstâncias, nas quais ele levava o sonâmbulo, que estava sob seu inteiro controle, a executar seus planos aventureiros. Colocando um boneco no lugar de Cesare, quando este não estava em seu caixão, o Dr. Caligari conseguia afastar qualquer suspeita de culpa do sonâmbulo."
Este é o pequeno prefácio que dá início ao filme O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett von Dr. Caligari, ALE, 1919), um dos maiores clássicos do horror. Dirigido por Robert Wiene, esta obra-prima do cinema mudo, forma, ao lado de Nosferatu (1922) e Fausto (1926) a "santíssima trindade" do cinema de terror expressionista alemão; e incorporam o que há de mais sombrio e expressivo na arte cinematográfica.
São filmes que pertencem a tradição do pessimismo pós-guerra, uma vez que foram realizados numa das fases mais conturbadas da história alemã: o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). E como tal, voltam-se para um horizonte negativo, onde o domínio da sombra é quase que absoluto. Em O Gabinete do Dr. Caligari (o filme que deu origem ao expressionismo cinematográfico alemão), o contraste luz e sombra é aterrador quando analisado em sua essência.
Foi o filme que estabeleceu os padrões gerais para o expressionismo, usando e abusando do jogo de luz e sombra, ângulos imprevistos, movimentos rápidos e retilíneos, cenários tortuosos e desfigurados, tudo envolto numa atmosfera sobrenatural que surpreende os desavisados até hoje. Por estes e outros elementos, que Wiene soube explorar até a exaustão, este filme é considerado a primeira obra-prima do cinema de horror.
E com todos os méritos, pois foi, certamente, um dos primeiros também, a incorporar o horror ao suspense; a fonte que alimentou e serviu de referência para os filmes posteriores, com situações inusitadas e personagens que vivem em um mundo sombrio, onde nada é espontâneo ou natural, mas sim fruto do desespero e da demência.
Como legítimo exemplo do expressionismo, este filme foi todo rodado em estúdio (Nosferatu foi o único a abdicar esta tradição ambientando-se ao ar livre) e os cenários, na maioria feitos de papelão e madeira, são completamente desfigurados e encaixados sem nenhum padrão ou norma pré-estabelecida, o que o torna mais sombrio e reflete-se como um hórrido pesadelo.
Robert Wiene (inspiradíssimo!) orquestrou uma sequência arrasadora de imagens insólitas e sufocantes, num verdadeiro show de demência. É impressionante a criatividade de Wiene, pois o diretor não só conseguiu, logo no início da história do cinema, relatar uma história de horror, temperada com um requintado suspense, como criar uma das mais originais sequências do cinema mudo; as imagens mostram que não é necessário o uso de diálogos para relatar a aflição e a neurose humana.
Inclusive Alfred Hitchcock (o maior mestre do suspense, conhecidíssimo por seu filme Psicose - 1960) certamente "bebeu" em O Gabinete do Dr. Caligari para elaborar a sequência de imagens de seus principais filmes, notadamente os contrastes de luz e sombra, sempre sugerindo as cenas e nunca as evidenciando, uma das características básicas do gênero. (por E. R. Corrêa)
Ficha Técnica
O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett von Dr. Caligari / The Cabinet of Dr. Caligari), Alemanha, 1919) - Preto & Branco, mudo, 52 minutos, em vídeo VHS pela Continental (fora de catálogo). Direção de Robert Wiene. Produção de Erich Pommer. Roteiro de Carl Mayer e Hans Janowitz. Fotografia de Willy Hameister. Direção de Arte de Herman Warm, Walter Rohring e Walter Reimann. Vestuário de Walter Reimann.
Este é o pequeno prefácio que dá início ao filme O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett von Dr. Caligari, ALE, 1919), um dos maiores clássicos do horror. Dirigido por Robert Wiene, esta obra-prima do cinema mudo, forma, ao lado de Nosferatu (1922) e Fausto (1926) a "santíssima trindade" do cinema de terror expressionista alemão; e incorporam o que há de mais sombrio e expressivo na arte cinematográfica.
São filmes que pertencem a tradição do pessimismo pós-guerra, uma vez que foram realizados numa das fases mais conturbadas da história alemã: o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). E como tal, voltam-se para um horizonte negativo, onde o domínio da sombra é quase que absoluto. Em O Gabinete do Dr. Caligari (o filme que deu origem ao expressionismo cinematográfico alemão), o contraste luz e sombra é aterrador quando analisado em sua essência.
Foi o filme que estabeleceu os padrões gerais para o expressionismo, usando e abusando do jogo de luz e sombra, ângulos imprevistos, movimentos rápidos e retilíneos, cenários tortuosos e desfigurados, tudo envolto numa atmosfera sobrenatural que surpreende os desavisados até hoje. Por estes e outros elementos, que Wiene soube explorar até a exaustão, este filme é considerado a primeira obra-prima do cinema de horror.
E com todos os méritos, pois foi, certamente, um dos primeiros também, a incorporar o horror ao suspense; a fonte que alimentou e serviu de referência para os filmes posteriores, com situações inusitadas e personagens que vivem em um mundo sombrio, onde nada é espontâneo ou natural, mas sim fruto do desespero e da demência.
Como legítimo exemplo do expressionismo, este filme foi todo rodado em estúdio (Nosferatu foi o único a abdicar esta tradição ambientando-se ao ar livre) e os cenários, na maioria feitos de papelão e madeira, são completamente desfigurados e encaixados sem nenhum padrão ou norma pré-estabelecida, o que o torna mais sombrio e reflete-se como um hórrido pesadelo.
Robert Wiene (inspiradíssimo!) orquestrou uma sequência arrasadora de imagens insólitas e sufocantes, num verdadeiro show de demência. É impressionante a criatividade de Wiene, pois o diretor não só conseguiu, logo no início da história do cinema, relatar uma história de horror, temperada com um requintado suspense, como criar uma das mais originais sequências do cinema mudo; as imagens mostram que não é necessário o uso de diálogos para relatar a aflição e a neurose humana.
Inclusive Alfred Hitchcock (o maior mestre do suspense, conhecidíssimo por seu filme Psicose - 1960) certamente "bebeu" em O Gabinete do Dr. Caligari para elaborar a sequência de imagens de seus principais filmes, notadamente os contrastes de luz e sombra, sempre sugerindo as cenas e nunca as evidenciando, uma das características básicas do gênero. (por E. R. Corrêa)
Ficha Técnica
O Gabinete do Dr. Caligari (Das Kabinett von Dr. Caligari / The Cabinet of Dr. Caligari), Alemanha, 1919) - Preto & Branco, mudo, 52 minutos, em vídeo VHS pela Continental (fora de catálogo). Direção de Robert Wiene. Produção de Erich Pommer. Roteiro de Carl Mayer e Hans Janowitz. Fotografia de Willy Hameister. Direção de Arte de Herman Warm, Walter Rohring e Walter Reimann. Vestuário de Walter Reimann.
Elenco
Werner Krauß...Dr. Caligari
Conrad Veidt...Cesare
Friedrich Feher...Francis
Lil Dagover...Jane
Hans H.Twardowski...Alan
Rudolf Lettinger...Dr. Olson
Rudolf Klein-Rogge...A Criminal
Sinopse
Um clássico do filme de terror, realizado no tempo em que o cinema ainda não falava. Mas as belíssimas imagens (que criam um tom meio surrealista) valem mais que mil palavras. O malvado Dr. Caligari hipnotiza um jovem e o induz a matar várias pessoas. Tudo se complica quando ele se recusa a assassinar uma bela jovem. Num toque de mestre, realiza um filme sob a ótica de um louco: daí as distorções e deformações das ruas, casas e pessoas.
Fontes: gabinete; O Gabinete do Dr. Caligari
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