quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Engano


Cíntia andava rapidamente. Já ia entardecendo e não havia sinal de pessoas as quais pudesse pedir por socorro. Ouvia o barulho das folhas secas sendo pisadas, como se estivesse sendo seguida. Receosa, começa a correr, ao que os passos também se apressam. O pânico toma conta da moça, que corre desorientada.

À sua frente, surgindo de trás de uma árvore, um homem. Assemelhava-se a um zumbi, a pele escura e enrugada, os olhos sem vida, um verdadeiro cadáver ambulante. Ela retorna, em fuga, mas de todas as direções aquelas figuras vão aparecendo, cercando-a. Parecia um filme de terror, como dezenas que já havia assistido. Os mortos se levantavam e iriam levá-la.

Paralisada, Cíntia olha aqueles seres que se aproximam. As roupas em retalhos, lábios, orelhas e narizes meio comidos pelos vermes. Pedaços de carne pendurados àqueles corpos, imensas crateras nos rostos, eles a queriam.

Apontam para ela, mas, estranhamente, não pareciam inamistosos. Mantêm distância, como que respeitando seu pavor. Ela percebe, então, que eles têm algo a dizer.

Somente então ela percebe. Há sangue em sua roupa.

Tomada por repentina consciência, leva as mãos à cabeça: seu crânio, estourado, deixava escapar um líquido viscoso, que vazava do seu cérebro. Ela havia sofrido um acidente, seu carro caíra num barranco.

Aqueles cadáveres não iriam fazer-lhe mal. Ao contrário, davam-lhe as boas-vindas ao reino dos mortos.


Fonte: "Crônicas de terror de Zé do caixão" - Editora Associação Beneficiente e Cultural Zé do Caixão, SP, Brasil, 1993.

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