A escrava Tituba mostra às meninas de Salem, bem ao vivo, os ritos do bruxedo |
Intermediárias do Demônio — Uma história incrível passada há 300 anos nos tribunais de Massachusetts — Dezoito mulheres enforcadas e duzentas pessoas levadas ao cárcere — O senado daquele estado norte-americano proclamou, não há muito, a inocência dos mortos e dos martirizados.
Todos esses fantásticos acontecimentos tiveram início pouco tempo depois de ter chegado a Salem, em 1691, o reverendo Samuel Parris, com dois negros escravos das Índias Ocidentais. Eram estes John Indian e sua mulher de nome Tituba.
Ao calor do fogão, na cozinha de Parris, Tituba costumava contar histórias singulares a certo grupo de meninas. Falava-lhes dos ritos das tribos do seu país; descrevia feitiços e encantamentos, e, assim, encheu de loucas idéias o débil cérebro de suas ouvintes.
Uma destas era a menina Abigail Williams, de 11 anos de idade, sobrinha do reverendo. Pequena astuta, mas meio desequilibrada, com megalomania. A outra era Ana Putnam, de 12 anos, epiléptica, filha de Thomas Putnam, criado do padre. As demais, contando de 17 a 20 anos, eram mocinhas da vizinhança, que procuravam a amizade da sobrinha de Parris e de Ana.
As histórias de Tituba produziram o efeito que era de esperar num bando de adolescentes criadas sob o terror do Demônio, dos pecados, do Inferno, semi-histéricas, preparadas dessa maneira para acreditar também em sortilégios, em bruxarias. E durante o inverno daquele sombrio ano de 1691, as meninas começaram a prender a atenção dos parentes, vizinhos e amigos, em face das grotescas posturas a que se entregavam, gestos e gritos esquisitos, expressões ridículas, conversas incoerentes.
O médico do povoado, consultado, a respeito do que lhes estava acontecendo, só pode fazer um diagnóstico: Estão enfeitiçadas!
As jovens em questão, elas próprias, acreditaram nisso; o povoado inteiro acreditou também. As enfeitiçadas passaram, em seguida, a admitir que eram possuidoras de infalível faculdade, um dom sobrenatural, e capazes de acusar a presença de espíritos malignos, influências dos anjos maus, no corpo de qualquer desprevenida criatura.
As coisas tomaram proporções nunca vistas. Eram acusados de serem bruxos todos aqueles cujos hábitos e aspecto físico pudessem se prestar, na falta de outros argumentos e provas, para a tremenda acusação.
Uma das três primeiras mulheres acusadas foi a própria escrava Tituba. Mas, Tituba, mais esperta que as suas acusadoras, apressou-se a afirmar que ela também estava enfeitiçada...
Confiram o capítulo anterior: Morte às Bruxas - Parte 1
Fonte: Artigo adaptado e atualizado de “A Noite Ilustrada”, de 30/07/1946.
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