A prática do hipnotismo é tão antiga como a própria Humanidade, segundo comprovam achados arqueológicos e indícios psicológicos da Pré-História. Considerado algo misterioso e ligado a superstições e praticado por feiticeiros, bruxos, xamãs e outros místicos, foi utilizado na Babilônia, Grécia e Roma antigas.
No Egito, os chamados “Templos dos Sonhos” recebiam “pacientes” em que se aplicavam sugestões terapêuticas enquanto estavam adormecidos. Consta que, num papiro de aproximadamente 4.000 anos, há instruções técnicas de hipnose muito semelhantes às dos métodos contemporâneos com gravuras que mostram sacerdotes-médicos colocando pessoas em transe hipnótico.
Mais tarde, sábios se dedicaram a essas práticas como Paracelso (1493-1541), Richard Middletown (Idade Média), chegando, enfim, a Franz Anton Mesmer (1734-1815) que lhes deu certo caráter científico. Pelo menos, tirou a responsabilidade do Demônio pelas enfermidades e a colocou nos astros. Mesmer trocou a religião pela medicina, porém seus métodos não foram bem aceitos nos círculos médicos de Viena.
Perseguido pela medicina ortodoxa, faleceu completamente debilitado e no ostracismo. Seu discípulo, o marquês de Puységur, daria continuação aos seus métodos, aplicando passes e sugestões. Modificando-os, posteriormente, incluiu os primeiros critérios psicologicamente corretos de hipnose. Ele conseguiu observar fenômenos telepáticos e clarividentes em muitos de seus pacientes. A seguir, o padre português José Custódio de Faria, conhecido como abade Faria e amigo de Puységur, de quem seguiu os passos,porém adiantando-se cientificamente ao mestre. Lançou a doutrina da sugestão e abandonou qualquer tendência mística.
Por um longo período, a indução hipnótica foi realizada por meio da fascinação ocular, ou melhor cansaço visual. O dr. James Braid descobriu que a indução ao transe poderia ser apenas verbal, uma vez que ele conseguia hipnotizar pessoas cegas e em ambientes obscurecidos. Historicamente, Braid é considerado o “Pai do Hipnotismo”. Até então, o objetivo principal dessa prática era o tratamento de doenças físicas e dos distúrbios emocionais e psicológicos do indivíduo apenas na vida atual.
No século XIX, com o interesse crescente dos europeus e norte-americanos pela reencarnação, os pesquisadores, entre as opções de investigação, voltaram-se para regressão hipnótica, ou regressão de memória, que, todavia, levou algum tempo para obter credibilidade no meio científico, embora ainda timidamente. À mesma época, Allan Kardec lançava, na França, a Codificação Espírita em cujos princípos básicos se incluía a reencarnação.
Em 1882, estudiosos britânicos fundaram, em Londres, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas destinada a tratar de fenômenos não acolhidos pela intelectualidade da época, como telepatia, vidência, mediunidade e hipnotismo. A partir da II Guerra Mundial, o interesse pela técnica, pelo estudo e aplicação da hipnose tomou novo impulso.
Já no século XX, Joseph Banks Rhine (1895-1980) fez alguns experimentos hipnóticos com seus alunos, mas desistiu por saber que eles estavam hipnotizando uns aos outros fora da sala de aula. Assim procedem os investigadores dessa área:
“Para realizar uma sessão de regressão hipnótica, um profissional não precisa de nada além de sua voz rítmica e monótona para induzir um estado de transe, no qual a concentração do indivíduo aumenta, enquanto se reduz a consciência periférica ou a possibilidade de distração. Não é preciso nenhum poder extraordinário para induzir a hipnose. Em geral, basta que o paciente queira e que confie no hipnotizador. Costuma-se dizer que cerca de 10% das pessoas estão imunes à hipnose, 80% podem entrar num transe superficial e outros – a elite dos pacientes de hipnose – caem em transe profundo. Entre os que conseguem transe profundo, podem ocorrer efeitos notáveis. Por exemplo: pacientes de cirurgia conseguem dispensar a anestesia e os hemofílicos reduzem, de forma substancial, sua tendência à hemorragia.” (In:Mistérios do Desconhecido-Viagens Psíquicas, Ed. Time-Life (USA), p. 112)
Muitos psicólogos e psiquiatras têm adotado a hipnose na prática de terapia de vidas passadas e obtido êxito no tratamento de fobias, vícios, perturbações psíquicas e emocionais entre outros sintomas que se manifestam na vida atual sem nenhuma explicação. A psicóloga Helen Wambach, da Califórnia (EEUU), curou uma senhora que sofria de ataque de vertigens. Ao fazê-la regredir a vidas passadas, encontrou a causa de seu mal. Morrera tragicamente ao ser empurrada por alguém de um precipício.
Eis alguns registros na bibliografia pertinente de experiências com regressão de memória com ocorrências inesperadas:
Em 1956, um jornal britânico promoveu um concurso para obter provas da reencarnação. O hipnotizador Henry Blythe foi um dos concorrentes. Sob o olhar atento dos repórteres, ele hipnotizou uma senhora forte de 32 anos chamada Naomi Henry. Segundo ele, ela vivera uma vida passada com o nome de Mary Cohen. Solicitou, então, que a paciente regredisse à vida passada em diversas idades. Os presentes notaram que sua voz e atitudes assumiam, progressivamente, a aparência de uma mulher mais velha. Blythe pediu que ela se colocasse na idade de 70 anos. No processo, Naomi empalideceu, parou de responder às perguntas, sua respiração ficou difícil. Todos os presentes, horrorizados, viram seu pulso parar. Assustado, Blythe lançou comandos, sugerindo que ela estava bem. Naomi voltou a respirar e se restabeleceu. Revelou que Maria Cohen morrera aos 66 anos. Blythe foi punido pela quase trágica consequência desse episódio e o jornal cancelou o concurso.
À mesma época, o professor de natação Graham Huxtable (Gales do Sul, Swansea) aceitou se submeter à regressão de vidas passadas com o hipnotizador galês Arnall Bloxham. A experiência foi gravada em fita.Em encarnação anterior, ele tinha sido mestre-de-armas de uma fragata britânica do século XVII. Huxtable respondeu às perguntas iniciais do pesquisador. Subitamente, ignorou o pesquisador, assumiu o comando e passou a agir como se estivesse em meio a uma batalha naval. Sua voz se transformou; tornou-se alta e rouca, num sotaque da época e linguajar pesado. Em certo momento, gritou: “-Muito bom, rapazes, vamos acabar com eles!” E, logo depois, uivou: “-Minha maldita perna! Minha perna! Minha perna!”.(Id.ibid., p.114) Concluindo, foi dificílimo para o pesquisador tirar Huxtable do estado de transe. Ao acordar, o professor se queixou de uma terrível dor na perna.
Todos as personalidades desencarnadas que protagonizaram esses casos foram investigadas posteriormente e muitos fatos comprovados. Alguns detalhes não foram confirmados.
Para estudar a reencarnação, o investigador, através da sugestão, faz com que o indivíduo regrida à infância, atinja a fase uterina (muitas vezes tomando a forma fetal), ultrapasse o vácuo e chegue à vida anterior à atual. Em todas as etapas, os fatos vivenciados são apresentados de forma intensa e detalhada. A maioria dos pacientes não se recorda do que relatou em transe.
Embora apresente extrema dificuldade em sua aplicação, na regressão hipnótica para fins de pesquisa da reencarnação, o benefício da técnica terapêutica é importante, pois recupera indivíduos atingidos por experiências traumáticas que, muitas vezes, os incapacitam para a vida atual. Entretanto, advertências devem ser feitas. Não é qualquer pessoa que se pode arvorar a tratar alguém por hipnose regressiva. Trata-se de um trabalho delicado que exige extrema cautela por parte do pesquisador, não apenas o conhecimento da técnica mas, também, da personalidade do indivíduo e das influências espirituais que poderão estar agindo sobre o paciente e podem interferir no processo e alterar o resultado. É aconselhável, portanto, um trabalho de preparação do indivíduo nos campos psicológico e espiritual antes que se realize a regressão de memória.
Como demonstrado anteriormente, os resultados da terapêutica baseada em regressão de vidas passadas podem ser benéficos ou, algumas vezes, assustadores. Tudo vai depender não só do conhecimento e da perícia do pesquisador como das condições em que foram realizadas as investigações. Vale ressaltar que é imprescindível que o pesquisador conheça e aceite a existência do Espírito, sua imortalidade, sua interferência no plano físico e suas vidas sucessivas através da reencarnação. É o óbvio.
Se assim não for, como explicar a repercussão de traumas das vidas passadas em nossas vidas futuras?
Por Lúcia Loureiro
Fonte: IAKEE - Hipnotismo e Regressão de Memória
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