terça-feira, 12 de julho de 2011

Nosferatu

Nosferatu, do eslavo antigo Nosufur-atu,
do grego Nosophoros, Portador de Pragas
Quando o irlandês Bram Stoker publicou em 1897 seu livro "Drácula", talvez não pudesse imaginar o tamanho em proporções que sua obra iria adquirir no futuro com a invenção do cinema. Foram feitas mais de cem versões sobre o vampiro mais cruel de que se tem registro, com a imagem medonha de um ser malígno que alimenta-se de sangue humano, levanta-se de seu insalubre sepulcro ao cair as trevas no céu pesadamente, e depois retorna ao mesmo local ao ouvir o cantar do galo, como indício de que o dia vai nascer.

Dentre estes filmes sobre vampiros, Nosferatu é o primeiro (1922), destacando-se dos outros por arrepiantes cenas rodadas em branco e preto, dando à obra um caráter fantasmagórico e de pesadelo, onde o vampiro Conde Orlok surge da escuridão em um visual agressivo e bizarro como o protótipo ser anti-social, com seu semblante sinistro que lembra uma medonha figura que traz a própria morte encarnada em si mesmo.

Pestilento e doentio, Nosferatu tem os dentes em forma de duas pontas juntas como a de um rato roedor, usa um casaco preto como um gótico moderno de vida noturna, além de unhas pontiagudas e cabeça sem um só fio de cabelo. Magro e alto, esta figura horrível traz o horror encarnado assustando até o mais cético mortal.

O filme invoca em suas imagens trêmulas, as exóticas paisagens da Alemanha que muito aproxima-se em beleza exuberante das regiões desconhecidas da Romênia, a antiga Transilvânia onde viveu na Idade Média o Drácula histórico Vlad Tepes Dracul.

Neste pitoresco cenário, o diretor F. W. Murnau encontrou todos os ingredientes básicos que invocam o vampirismo, montanhas, florestas densas, riachos, pontes, capelas, castelos em ruínas, aldeões ciganos, lobos, carruagens e, é claro, o talento de Max Schreck, que faz o papel do vampiro Nosferatu. E desta forma, a primeira versão para o cinema da obra de Bram Stoker revive todas aquelas imagens do horror de Drácula contidas nas páginas do livro.

Quem for assistir Nosferatu na esperança de ver cenas fortes de violência e sangue num exagero aloprado e até ridículo, caracterizado pela idiotice da ideologia americana, vai com certeza ficar decepcionado, afinal Nosferatu é uma obra do expressionismo alemão e assim o caráter do horror dá-se num clima de sonhos maus e pesadelos, culminando numa peste malígna que arrasta todos para uma grande mortandade, e tudo envolto numa atmosfera gótica e nevoenta, onde é o inconsciente quem vai ser despertado para uma realidade mais subjetiva que objetiva.

O enredo do filme é simples, baseado no livro Drácula, com algumas modificações de nomes e locais apenas, e isso devido talvez por não terem pagos os direitos autorais à viúva de Bram Stoker, que teria entrado com um recurso na justiça para a destruição das cópias do filme caso não fossem pagos os direitos autorais.

Para a nossa sorte, algumas cópias do filme sobreviveram a esta polêmica e hoje podemos mergulhar dentro destas imagens e captar o verdadeiro horror que "Nosferatu" causa no espectador.

Nosferatu é o "não morto", o morto vivo, um vampiro que nada tem de galã e sedutor pois é corcunda e de aspecto decadente. Ele penetra na civilização do Homem como uma maldição, vindo de longe, navegando em uma escuna, um velho barco onde os tripulantes são todos mortos. Nosferatu bebe o sangue deles e transmite a peste negra a todos. A maioria dos marinheiros morrem de febre alta em delírio!

Milhares de ratos acompanham o vampiro, fazendo uma alusão também à maior mancha de horror ocorrida na Idade Média na Europa: a peste negra...


No decorrer do filme, o amor, aleijão da humanidade, entra em cena e o vampiro é atingido não com uma estaca no coração mas com a imagem ideal de uma mulher jovem e bela, aquela que ele havia visto o retrato no camafeu do corretor de imóveis que ele fez prisioneiro em seu castelo.

Esta imagem ideal, fruto de uma visão de poeta, é para o vampiro um martírio que atormenta-o, e ele deixa-se prender em seus braços macios de seda... A bela mulher convence-o a ficar com ela desfrutando os "beijos de fogo" da volúpia e do sangue. Assim, o dia vai clareando, despontam os primeiros raios do sol, a aurora segue a aurora, canta o galo mensageiro de Apollo e Nosferatu embriagado com o sabor do sangue doce da bela jovem, impregnado de uma luxúria sexual, ele esquece que tem que voltar para o sepulcro...

Então, logo ele é destruído pela luz do sol convertendo-se em um monte de poeira. Enganado e seduzido por uma "mulher ideal", encontrou seu aniquilamento! Assim a peste também acaba e os habitantes libertam-se do mal! Vale a pena ver "Nosferatu" e rever o clássico expressionista do cinema de horror, e desta forma mergulhar acordado em um dos mais medonhos pesadelos da criação humana. Confiram! (N.E.: Esse artigo foi publicado originalmente no fanzine "Juvenatrix" # 49 de Fevereiro de 2001).


Sinopse

Hutter (Gustav von Wangenheim), agente imobiliário, viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo no Mar Báltico cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock (Max Schreck), que na verdade é um milenar vampiro que, buscando poder, se muda para Bremen, Alemanha, espalhando o terror na região. Curiosamente quem pode reverter esta situação é Ellen (Greta Schröder), a esposa de Hutter, pois Orlock está atraído por ela.

Ficha Técnica

Título: Nosferatu (Nosferatu - Eine Symphonie des Grauens)
País: Alemanha
Ano: 1922, mudo, preto e Branco, 72 minutos
Direção: F. W. Murnau
Roteiro: Henrik Galeen, baseado no romance "Dracula", de Bram Stoker (não-creditado)
Produção: Enrico Dieckmann; Albin Grau
Música: Hans Erdmann
Fotografia: Fritz Arno Wagner e Gunther Krampf
Direção de Arte: Albin Grau
Figurino: Albin Grau
Lançado em vídeo no Brasil pela Continental.

Elenco

Max Schreck (Conde Orlok / Nosferatu)
Greta Schröder (Ellen Hutter)
Karl Etlinger (Matrose)
John Gottowt (Professor Bulwer)
Ruth Landshoff (Lucy Westrenka)
Gustav von Wangenheim (Thomas Hutter)
Gustav Botz (Dr. Sievers)

Trailer


Fontes: http://www.adorocinema.com/filmes/nosferatu; Nosferatu - Boca do Inferno.

4 comentários:

Anônimo disse...

nossa o triler ta na cara que é alguem fantasiado ta na cara q é maquiagem igual noite do trror no playcenter kkkk.
eu sou nevangélica entao eu e meus pai nao acreditamos nessas coisas.

Unknown disse...

Nossa, adorei o blog! Já estou seguindo =D Amo essas coisas sombrias e horripilantes.

Anônimo disse...

Você não esperava que o cara parecesse com o voldemort sendo que esse filme é da década de 20 não é?

Shirley disse...

Adoro o cinema expressionista alemão, ou, o pouco que vi dele, Tartufo, Caligari,Fausto e a figura triste, solitária e digna de compaixão de Nosferatu. Parabéns pelo blog.