— Eu te salvendo (em vez de "Deus te salve").
— Não é agora, que estou comendo — respondeu o pastor.
— Que estás tu comendo? — perguntou-lhe o diabo.
— Chicarões, aqui a saltar.
— Dás-me deles?
— Eu não, que te podes escaldar.
— Mas eu assopro.
— Só p’ra mór disso não tos hei-de eu dar.
— Sabes que a tua mulher foi à cabrada?
— É porque sabia onde ela estava.
— Ela levou-te um chibou.
— É porque ela na cabrada o achou.
— Ela fez um jantar bom e dele te não guardou.
— É porque ela de mim se não lembrou.
Entretanto o pastor acabou de jantar e foi-se a lavar. Mas as fontes estavam secas porque o diabo as tinha secado todas. Na falta de água, urinou nas mãos e lavou-se.
O diabo, então, muito admirado e irritado, disse:
— Eu t’arrenego, bicho do monte, que ao pé do c... tens a fonte! Já que és tão esperto, diz-me lá, se és capaz, as doze verdades. Diz-me a uma.
O pastor, que estava armado com o sinal da cruz, respondeu com prontidão:
— Digo-te a uma:
— Pro dedo se fez a unha.
— Diz-me as duas.
— Pras mãos se fizeram as luvas.
— Diz-me as três.
— Do pau de pinho se fez o pez.
— Diz-me as quatro.
— Pro pé se fez o sapato.
— Diz-me as cinco.
— Pra cintura se fez o cinto.
— Diz-me as seis.
— Bom vinho bebem os reis.
— Diz-me as sete.
— E mais dura a serpente que o cerne.
— Diz-me as oito.
— Do bom trigo é que se faz o bom biscoito.
— Diz-me as nove.
— Não há cabrinha sem bode.
— Diz-me as dez.
— Não há carneiro sem pés.
— Diz-me as onze.
— Não há metal mais duro có bronze.
— Diz-me as doze.
— As doze não tas digo. Sete raios leva o sol, outros tantos leva a lua, arrebenta diabo, que esta alma não é tua.
O diabo deu um berro e desapareceu..
por José da Rocha
(Em Brandão, Téo. Seis contos populares do Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Folclore; Maceió, Universidade Federal de Alagoas, 1982, p.15-16).
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