O
nosso folclore é muito pitoresco e variado, em qualquer parte do
Estado, no campo ou na cidade, vive muito saudável na alma de nossa
gente, em prosa, verso ou canção, diz o Prof. Joaquim Ribeiro Magalhães,
e prossegue: “Teresina possui muito dessa maravilhosa e ingênua criação
popular, impregnada de um misticismo salutar de cuja moral parte um
grito de alerta aos incautos para que não duvidem de que as coisas
há”... O “Cabeça de Cuia”, “A Porca do Dente de Ouro” e a “Não se Pode”,
são as maiores fontes inspiradoras.
Desta última conta-se que, certa
jovem sempre percorria nas horas caladas da noite, as ruas de Teresina,
de preferência do Alto da Moderação à Praça Saraiva. Muito alta, sempre
caminhando a passos lentos, ninguém conseguia acompanhá-la Muitos foram
aqueles a quem hoje chamaríamos de “paqueras”, que, inutilmente
tentaram interceptá-la, pois sempre desaparecia como que por encanto.
Certa vez, já noite alta, um
boêmio que tantas vezes tentara conquistá-la, conseguiu que parasse na
Praça Saraiva e pondo o braço na cintura daquela enorme mulher,
pediu-lhe beijos, perguntou seu nome, onde morava e outras coisas. Ela
respondia estas palavras: ‘não se pode’. O contumaz conquistador deu-lhe
um cigarro que ela logo levou aos lábios. O seu corpo já agigantado
começou a crescer mais ainda até chegar à altura do poste em cujo
lampião de gás tocou o cigarro. Após soltar uma longa baforada, sua boca
transformou-se em um enorme bico que veio roçar o rosto do rapaz. Com
voz rouca e desafinada, falou: “me dá um beijo”.
O moço, apavorado, disparou a
correr, mas a mulher estava sempre ao seu lado, soprando em suas faces
um bafo de mau odor. O canto de um galo cortou o silêncio da noite. “Foi
tua salvação” — disse a estranha figura, desaparecendo.
Do escritor Bugyja Brito, temos
noticia de “Maria não se Pode” no Jornal “O COMETA”, de março de 1976.
Afirma ele que essa estória já era conhecida desde 1845, em Oeiras.
A crendice popular é de fértil
imaginação. Há quem afirme ter visto “Maria não se Pode” a poucos
passos, de frente. É descrita como uma mulher alta e fina, uma espécie
de vara pau. Traja vestido branco e longo, tão longo que arrasta pelo
chão, de voz cavernosa que perambula nos lugares soturnos como os ermos
das matas e que fala pedindo cigarros aos que andam nas caladas das
noites.
Vários boêmios atestam que
chegaram a manter conversação com a “Não se pode”, nestes ermos ou
pontos da cidade, estrada do Carcará, Praça da Matriz, Rua do Tanguitá,
Alto do Rosário e Ponte Grande. Aqueles que, vencendo o medo fazem--lhe
perguntas recebem como resposta “não se pode”.
Fonte: "Folclore Piauiense tem Lendas Fantásticas" - Angela Delouche - Jornal Universitário, Recife, abril 1977.
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