segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

La Voisin, a Feiticeira


Catherine Deshayes, conhecida como "La Voisin" (Paris, c. 1640 – Paris, 22 de fevereiro de 1680), foi uma suposta feiticeira francesa, famosa por ser um dos personagens principais do famoso "Caso dos Venenos".

Quiromante, aborteira e promotora de missas negras, envolveu-se no "Caso dos Venenos", possivelmente agindo por influência de Madame de Montespan, antiga amante oficial de Luís XIV. Através do uso de sortilégios, Madame de Montespan pretendia recuperar os favores do rei, que passara a preferir Mademoiselle de Fontanges.

Julgada juntamente com 36 cúmplices, Catherine Deshayes foi condenada à morte e queimada na Praça de Grève. Quanto a Madame de Montespan, esta não foi molestada, graças à proteção do rei, e continuou a frequentar a Corte, apesar de cair em desgraça.

Catherine Deshayes casou-se muito jovem com o sr. Montovoisin com quem teve uma filha, porém rapidamente tornou-se viúva. Então ela se envolveu com leitura de mãos, realização de abortos e na prática de missas negras.

Durante seu trabalho como cartomante começou a vender amuletos e recomendar práticas mágicas de diversos tipos incluindo ingredientes inusitados como ossos de sapos, dentes moles, sangue humano, pó de restos humanos e insetos.

Sua fama como feiticeira aumentava cada vez mais e ela começou a vender afrodisíacos para pessoas apaixonadas não correspondidas e venenos para aqueles que desejavam matar alguém. Missas negras eram realizadas onde seus clientes rezavam para que o diabo realizasse seus desejos, nesses rituais ela usava assistentes e sacerdotes.

La Voisin, como ficou conhecida, possuía muitos clientes na aristocracia e fez fortuna com seu negócio. Cada vez mais ela se interessava pelas ciências ocultas, por isso estudou alquimia e financiou projetos nestas áreas.

A derrocada de La Voisin iniciou quando o vidente Magdelaine de La Grange foi preso por envenenamento e querendo amenizar sua pena, disse possuir informações de vários crimes. Marie Bosse, envenenadora e vidente, foi presa em janeiro de 1679 e então a polícia descobriu uma grande rede de pessoas que trabalhavam com a distribuição de veneno.

Em março de 1679 La Voisin foi presa e uma comissão foi formada para investigar as acusações que apontavam para ela, durante a investigação outros de seus associados foram presos e La Voisin foi submetida a um duro interrogatório onde acabou confessando seus crimes.

Embora existisse autorização para a prática de tortura, aparentemente ela não foi submetida a isto, pois temia-se que ela delatasse pessoas influentes que eram suas clientes, coisa que acabou não ocorrendo.

Durante o interrogatório La Voisin confessou que havia queimado no forno ou enterrado em seu jardim, os corpos de aproximadamente 2.500 bebês prematuros, sendo ele, então, condenada a bruxaria e queimada em praça pública na data de 22 de fevereiro de 1680.

Em julho sua filha revelou a ligação da mãe com Montespan, amante oficial do rei Luiz XIV da França, o que acabou gerando o encerramento das investigações sobre as bruxarias e videntes relacionados a La Voisin.


Fonte: Wikipédia.

O Papa que perseguia Gatos


Gregório IX era um homem conhecido pela bondade. Mas logo ao ser eleito papa, em 1227, mostrou seu outro lado. Ele foi diretamente responsável por uma cruel caçada de hereges na Alemanha e pela criação de uma "central de treinamento" de inquisidores em Roma. E também odiava animais, em especial os gatos.

Embora jamais tenha assumido isso com todas as letras, o papa redigiu um documento oficial, em algum momento da década de 1230, dizendo que os felinos, em particular os gatos pretos, eram encarnações do diabo e tinham a ver com rituais de bruxaria.

Imediatamente após a divulgação do documento, os europeus mergulharam em um frenesi de violência contra os pobres bichos. As declarações do papa, aliadas ao fato de que algumas regiões periféricas da Alemanha e da Inglaterra ainda cultuavam gatos como divindades pagãs, estimularam um dos maiores massacres de animais da história.

Ao longo de décadas, gatos de todas as partes do continente, independente de cor ou procedência, foram brutalmente mortos em fogueiras, espancamentos e enforcamentos públicos. Gregório jamais se pronunciou contra esses atos de violência - possivelmente porque estava satisfeito com eles. E até hoje, quase 800 anos depois, o preconceito contra gatos pretos ainda existe.

A grande vingança felina

A Peste Negra, uma epidemia de peste bubônica causada pela bactéria Yersinia pestis, assolou a Europa ao longo do século 14. Ela começou na Sicília em 1347 e se alastrou principalmente para Itália, França, Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha nos quatro anos seguintes. Estima-se que a Peste tenha matado mais de 100 milhões de pessoas. Uma tragédia quase inimaginável.

A bactéria Y. pestis é comum em roedores, e se espalhou devido à grande quantidade de ratos nas cidades europeias. E os ratos proliferaram porque seus predadores naturais, os gatos, existiam em menor número - já que o papa Gregório 9o, no século anterior, havia induzido a população a acabar com eles.

Aqui se faz, aqui se paga.


Texto de Bruno Mosconi

Guinefort, o Cão Santo

No final do século XII e começo do século XIII, existiu um pequeno castelo na diocese de Lyon (400 km ao sul de Paris). Era uma propriedade modesta, que não tinha vigias - só alguns cães de guarda. Certo dia, o dono do castelo e a esposa precisaram ir até uma cidade vizinha. Deixaram o filho pequeno sozinho por algumas horas. E, bem nessa ausência, algo terrível aconteceu: uma cobra entrou no quarto da criança. Um dos cachorros, um galgo chamado Guinefort, notou o perigo e atacou a serpente com várias mordidas. Matou a cobra, mas a criança e o quarto ficaram todos sujos de sangue.

Algumas horas depois, quando o casal voltou de viagem e se deparou com aquela cena, a mãe entrou em pânico. Ela achou que o sangue era do filho, e que a criança havia sido atacada por Guinefort. Enfurecido, o marido pegou sua espada e, com um movimento rápido, cortou a cabeça do cachorro. Mas o casal logo viu que a criança estava bem, dormindo em paz. E encontrou a cabeça da serpente jogada num canto do quarto. Eles haviam cometido uma atroz injustiça ao matar o pobre cachorro.

O casal se sentiu em débito com Deus pela intercessão milagrosa de Guinefort, e pelo modo como ela foi ignorada. Envergonhado, o senhor do castelo providenciou ao cachorro um enterro com todas as honras possíveis. O casal se mudou algumas semanas depois. A história foi sendo repetida, e aumentada, pela população local. Guinefort caiu na boca do povo, passou a ser adorado como um mártir cristão - e recebeu dos camponeses locais o título de santo. Mulheres de diversas regiões da França passaram a visitar o túmulo do animal, na esperança de alcançarem suas bênçãos e curarem seus filhos doentes.

A Igreja não reconheceu a santidade do cachorro. O frei dominicano Estevão de Bourbon, que trabalhava para a Inquisição medieval, escreveu um relato do caso. Para ele, aquilo era um absurdo, e as adoradoras de Guinefort estavam negligenciando a saúde de seus filhos, já que o animal não era milagroso. Mas, mesmo tendo os poderes da Inquisição ao seu dispor, o frei preferiu não processar as mulheres por heresia. Provavelmente ele percebeu que não existia maldade nas ações dessas mães, que só queriam ver os filhos curados.



Antes do século 13, quando os atos heroicos de Guinefort o transformaram em santo popular, os europeus já acreditavam que os cachorros tinham poderes místicos. Baseados nisso, muitos senhores e cavaleiros medievais empregaram cachorros entre seus trabalhadores, na esperança de que doenças e ferimentos humanos fossem curados com lambidas, e para que os soldados fossem seguramente escoltados pelos animais ao retornarem de batalhas muito violentas. O frei Estevão não mediu esforços para acabar com as superstições em torno de Guinefort, e chegou a exigir a exumação dos restos mortais do cachorro, ordenando a seus subordinados que a ossada fosse queimada e enterrada bem longe de Lyon. Há indícios de que o frei tenha até ameaçado os camponeses com excomunhão e exílio, caso eles insistissem em adorar Guinefort.

Essa pressão provavelmente teve algum resultado, mas não acabou com a veneração ao cachorro. O frei Estevão morreu em 1260, cinco anos depois de concluir seu tratado sobre a fé (no qual dava especial atenção a mitos e superstições). Mas a crença em Guinefort acabou indo muito mais longe. A prática de apelar ao cachorro para a cura de bebês e crianças durou até o século 19, e algumas regiões do interior da França tinham até mapas para orientar quem peregrinava até o túmulo original do cachorro milagroso. Mesmo no século 20, entre as décadas de 1960 e 1970, o heroísmo de Guinefort ainda era celebrado nos arredores de Lyon.


Texto de Bruno Mosconi