terça-feira, 15 de março de 2011

Fênix

A fênix era um pássaro sagrado do fogo na mitologia greco-romana, provavelmente inspirada pelo pássaro Bennu, garça divina da mitologia egípcia. A palavra "fênix" também tem sido usada como tradução de nomes de aves lendárias mais ou menos similares de outras culturas, tais como o pássaro de fogo das lendas russas, a fenghuang chinesa, a hou-ou japonesa e a simurgh da mitologia persa e sufi, à qual também foi atribuída a característica de incendiar-se e renascer.

Os árabes mencionavam ainda a ave cinomolgus, provavelmente derivada da fênix, que construía seus ninhos de canela no alto das árvores. Contava-se que pessoas tentavam jogar pedras ou lançar flechas para derrubar o ninho e apoderar-se da valiosa canela.

Uma lenda também relacionada à fênix é a da ave avalerion, supostamente existente na Índia, da qual haveria um só casal que produziria dois ovos a cada 60 anos. Quando os ovos chocavam, os pais se afogavam voluntariamente.


Originalmente a fênix foi identificada pelos egípcios como uma cegonha ou garça chamada bennu, conhecida de muitos textos egípcios como um dos símbolos sagrados de Heliópolis (cidade chamada Iunu pelos egípcios e On pelos gregos e na Bíblia), associado com a cheia do Nilo, o Sol nascente e o deus solar Ra e considerado como a “alma” dos deuses Atum, Ra ou Osíris.

No Livro dos Mortos, o Bennu diz: “Eu sou o pássaro Bennu, o coração-alma de Ra, o guia dos deuses para o Tuat.”. Por representar criação e renovação, estava relacionado ao calendário egípcio e o Templo de Bennu era bem conhecido por seus equipamentos para medir e registrar o tempo.

Alguns dos títulos de Bennu são “Ele que veio a ser por si mesmo,” “O Ascendente,” e “Senhor dos Jubileus Reais”. O nome está relacionado com o verbo weben, que significa “subir brilhando,” or “resplandecer.” Foi também considerado uma manifestação de Osíris ressuscitado e representado empoleirado em um salgueiro, árvore consagrada a esse deus. O planeta Vênus era chamado "estrela do navio de Bennu-Asar" (Asar é o nome egípcio de Osíris).

Segundo o mito egípcio, a Bennu criou a si mesmo de um fogo que queimou em uma árvore sagrada dentro dos limites sagrados do templo de Ra. Outras versões dizem que o pássaro Bennu surgiu das chamas do coração de Osíris. Supunha-se que Bennu descansara em um pilar sagrado que era conhecido como a pedra benben. Os sacerdotes egípcios mostravam esse pilar aos visitantes e o consideravam o lugar mais sagrado da Terra.

O Bennu geralmente era representado como uma garça cinzenta, púrpura, azul ou branca com um bico longo e uma crista formada de duas penas, freqüentemente usando uma coroa atef ou um disco solar sobre a cabeça. Ocasionalmente, era também representada como uma alvéola-dourada, ou como uma águia com penas vermelhas e douradas. Em alguns poucos casos, Bennu era representado como um homem com a cabeça de uma garça, usando um envoltório branco ou azul de múmia, sob um longo casaco transparente.

A imagem original do Bennu pode ter sido modelado na garça cinzenta (Ardea cinera), de até 1 metro de altura, ou na garça golias (Ardea goliath) que, com até 1,5 metro de altura e 2 metros de envergadura, é a maior garça hoje existente e vive na costa do Mar Vermelho.

Encontrou-se ainda os restos de uma garça ainda maior, chamada cientificamente Ardea bennuides (literalmente, Garça Benu) que viveu na região do Golfo Pérsico até cerca de 3000 a.C. e tinha cerca de 1,8 metro de altura e 2,5 metros ou mais de envergadura. Há alguma especulação criptozoológica sobre a possibilidade de essa ave ter sido vista por viajantes egípcios e difundido a lenda de uma enorme garça vista no Egito uma vez a cada 500 anos.

Sugeriu-se também que a inspiração para a fênix egípcia seria o flamingo da África oriental (Phoenicopterus minor), com até 1,05 metro de altura. Essas aves brancas ou rosadas fazem seus ninhos em baixios salgados que são quentes demais para seus ovos ou filhotes sobreviverem; por isso, constroem monte altos e largos o suficiente para suportarem seu ovos em um ambiente um pouco mais fresco. As correntes de convecção em torno desses montes assemelham-se à distância à turbulência de uma chama. Os zoólogos classificam os flamingos na família Phoenicopteridae, a partir do nome genérico Phoenicopterus, ou seja, "asa de fênix".
A Fênix como eclipse solar Editar a secção A Fênix como eclipse solarEditar

Outra possibilidade é que a imagem da fênix tenha sido sugerida pela figura semelhante a um pássaro que a coroa solar pode tomar durante um eclipse total.

Em 1883, o astrônomo britânico Edward Walter Maunder sugeriu que a origem de Bennu, do "Pássaro do Sol" e de outras aves gigantescas e solares das mitologias egípcia, persa, árabe, indiana e judaica (Hórus, Roca, Garuda, Suparna, Simurgh, Ziz etc.), assim como o olho alado e o disco alado representados na arte egípcia, mesopotâmica e hitita, seria a configuração da coroa solar durante certos eclipses totais do sol, formando um "anel com asas".

O evento é impressionante mesmo para astrônomos modernos, que comparam o "efeito de anel de diamante" dos eclipses totais do sol a clarões de relâmpagos.

A hipótese se baseia na afirmação de historiadores gregos como Heródoto e Diodoro da Sicília, segundo os quais os antigos sacerdotes egípcios tentavam calcular matematicamente a época em que Bennu retornaria. Os conhecimentos astronômicos e astrológicos de mesopotâmicos e egípcios os tornavam capazes de prever os eclipses desde muitos séculos antes de Cristo, de acordo com o ciclo chamado Saros, de 223 meses sinódicos ou 18 anos, 11 dias e 8 horas. Eclipses totais voltam a ser visíveis em uma determinada região a cada 370 anos, em média, extensão de tempo que é comparável com a duração lendária da vida da fênix.

O pássaro original foi provavelmente o disco solar alado e cornudo semelhante a representações egípcias, mas que ganha aparência mais similar a uma ave na iconografia mesopotâmica. Era o sol que voava no céu com suas asas e constantemente era imolado e renascia das cinzas do pôr-do-sol e no nascero do sol. A fênix egípcia foi às vezes identificada com o pássaro bennu, uma garça sagrada a Osíris, que simbolizava tanto a alma humana quanto o ciclo de renascimento ou ressurreição do deus.

O "pássaro solar coronal", como um dos principais avatares do deus-sol, poderia ter também influenciado as crenças religiosas de várias outras civilizações, inclusive as civilizações mesoamericanas, andinas e mississipianas, originando mitos como o do Corvo e o do Pássaro do Trovão (Thunderbird). Também os inuits (esquimós), que também têm mitos sobre um pássaro do Sol.

As "fênices" chinesa (Feng-huang) e japonesa (Hou-ou) também poderiam estar relacionadas a esse "pássaro solar" que pode surgir nos céus durante a espetacular "morte" e "renascimento" do sol durante um eclipse solar.

Várias divindades foram associadas pela arte com um disco solar alado, incluindo o deus supremo dos assírios, Ashur.

A imagem retomada pela religião zoroastrista da Pérsia para representar Ahura Mazda, no símbolo conhecido como farohar ou faravahar, que representa o espírito humano que existiu antes do nascimento e continuará a existir após a morte.

Também o ankh egípcio e a coroa atef (usada por Osíris e baseada na coroa hedjet, símbolo do Alto Egito, acrescida de plumas de avestruz), poderiam ser sugeridas por certas configurações da coroa solar, como a representada na "Astronomia Popular" de Camille Flammarion.

A hipótese foi desenvolvida em detalhes em um site não mais existente, mantido por Robin Edgar de 2001 a 2005.

Os gregos adaptaram a palavra bennu (e seu significado egípcio associado de "tamareira") e a identificaram com sua palavra φοίνιξ, phoinix, "vermelho-púrpura" ou "carmim". Gregos e romanos a representaram semelhante a um pavão ou águia. Segundo Plínio, o Velho, era do tamanho de uma águia, com plumagem dourada em torno do pescoço, corpo vermelho e cauda azul. Tinha uma barbela na garganta e um tufo de penas na cabeça.

Segundo os gregos, a fênix vivia na Fenícia, perto de uma nascente. De manhã, ela tomava banho na água da nascente e o deus-sol, Hélios ou Apolo, detinha seu carro para ouvir sua canção. Tinha uma bela plumagem vermelha e dourada e no final de seu ciclo de vida (geralmente descrito como de 500 anos, às vezes 540, 1.000, 1.460 o mesmo 12.994 anos) fazia para si mesmo um ninho de canela ou outras plantas aromáticas e o acende. Tanto o ninho quanto a ave queimavam rapidamente e eram reduzidos a cinzas, das quais nascia uma nova fênix, que viveria tanto quanto a antiga.

Em algumas versões, a nova fênix embalsama as cinzas da velha em um ovo feito de mirra e o deposita na cidade egípcia de Heliópolis. Diz-se também que a ave regenera-se quando ferida por um inimigo, sendo portanto quase imortal e invencível - um símbolo de fogo e divindade.

Em Heródoto: "Existe outro pássaro sagrado, também, cujo nome é fênix. Eu mesmo nunca o vi, apenas figuras dele. O pássaro raramente vem ao Egito, uma vez a cada cinco séculos, segundo povo de Heliópolis. É dito que a fênix vem quando seu pai morre. Se o retrato mostra verdadeiramente seu tamanho e aparência, sua plumagem é em parte dourada e em parte vermelha. É parecido com uma águia em sua forma e tamanho. O que dizem que este pássaro é capaz de fazer é incrível para mim. Voa da Árabia para o templo de Hélios, dizem, ele encerra seu pai em um ovo de mirra e enterra-o no templo de Hélios. Isto é como dizem: primeiramente molda um ovo de mirra tão pesado quanto pode carregar, então abre cavidades no ovo e coloca os restos de seu pai nele, selando o ovo. E dizem, ele encerra o ovo no templo do Sol no Egito".

Para Apolônio de Tiana: "A fênix é o pássaro que visita o Egito a cada cinco séculos, mas no resto do tempo ela voa até a Índia; e lá podem ser visto os raios de luz solar que brilham como ouro. Em tamanho e aparência assemelha-se a uma águia; e senta-se em um ninho; que é feito por ele nas primaveras do Nilo. A história do Egito sobre ele é testificada pelos indianos também, mas os últimos acrescentam que a fênix, enquanto é consumida pelo fogo em seu ninho, canta para si canções fúnebres".

Segundo Ovídio: "Estas criaturas (outras raças de pássaros) todas descendem de seus primeiros, de outros de seu tipo. Mas um sozinho, um pássaro, renova e renasce dele mesmo - a Fénix da Assíria, que se alimenta não de sementes ou folhas verdes mas de óleos de bálsamo e gotas de olíbano. Este pássaro, quando os cinco longos séculos de vida já se passaram, cria um ninho em uma palmeira elevada; e as linhas do ninho com cássia, mirra dourados e pedaços de canela, estabelecida lá, inflama-se, rodeada de perfumes, termina a extensão de sua vida. Então do corpo de seu pai renasce uma pequena Fénix, como se diz, para viver os mesmos longos anos. Quando o tempo reconstrói sua força ao poder de suportar seu próprio peso, levanta o ninho - o ninho que é berço seu e túmulo de seu pai - como imposição do amor e do dever, dessa palma alta e carrega-o através dos céus até alcançar a grande cidade do Sol (Heliópolis, no Egito), e perante as portas do sagrado templo do Sol, sepulta-o".

A ressurreição periódica da fênix de suas cinzas foi freqüentemente citada por autoridades da Igreja como prova da ressurreição geral dos mortos. Em 386 d.C., Cirilo de Jerusalém afirmou que Deus criou a fênix para ajudar os homens a acreditar na ressurreição de Cristo. Antigos autores cristãos justificaram o uso da fênix em sua simbologia pelo Salmo 92: "Os justos florescerão como a palmeira (fênix, na Septuaginta, tradução para o grego), crescerão como o cedro no Líbano. Estão plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus (...)"

Embora o texto se refira, na verdade, à palmeira ou tamareira (Phoenix dactylifera). Já o versículo de Jó 29:18 que gerou muitas interpretações judaico-cristãs no século XVII, usa a palavra hebraica chol que, conforme a tradução, foi interpretada como "fênix", "palmeira" (na Vulgata) ou "areia" (na versão do Rei James, provavelmente mais correta neste ponto): "Eu dizia: Morrerei em meu ninho, meus dias serão tão numerosos quanto os da fênix (chol)".

O sentido usual de chol (חול) em hebraico é "areia". A interpretação como "fênix" (que, na tradição judaica, vive mil anos) deve-se a uma tradição repetida pelo rabino francês Shelomo Yitzhaki, do século XI, provavelmente influenciada pela presença da palavra "ninho". A outra tradução deve-se à ambigüidade da palavra grega phoinix, que significa tanto "palmeira quanto "fênix": segundo a tradição, a fênix fazia seu ninho na palmeira.

O cosmógrafo Al-Qaswini, em sua obra Maravilhas da Criação, afirmou que o Simorg Anka vive por 1.700 anos e que, quando seu filho chega à idade adulta, o pai queima a si mesmo em uma pira funerária. Essa imagem do simurgh foi claramente influenciada pela fênix e é a ela que se refere o poeta persa sufi Farid ad-Din Attar, em A Conferência dos Pássaros, de 1177:

"Na Índia vive um pássaro que é único: a encantadora fênix tem um bico extraordinariamente longo e muito duro, perfurado com uma centena de orifícios, como uma flauta. Não tem fêmea, vive isolada e seu reinado é absoluto. Cada abertura em seu bico produz um som diferente, e cada um desses sons revela um segredo particular, sutil e profundo. Quando ela faz ouvir essas notas plangentes, os pássaros e os peixes agitam-se, as bestas mais ferozes entram em êxtase; depois todos silenciam. Foi desse canto que um sábio aprendeu a ciência da música.

A fênix vive cerca de mil anos e conhece de antemão a hora de sua morte. Quando ela sente aproximar-se o momento de retirar o seu coração do mundo, e todos os indícios lhe confirmam que deve partir, constrói uma pira reunindo ao redor de si lenha e folhas de palmeira. Em meio a essas folhas entoa tristes melodias, e cada nota lamentosa que emite é uma evidência de sua alma imaculada. Enquanto canta, a amarga dor da morte penetra seu íntimo e ela treme como uma folha. Todos os pássaros e animais são atraídos por seu canto, que soa agora como as trombetas do Último Dia; todos aproximam-se para assistir o espetáculo de sua morte, e, por seu exemplo, cada um deles determina-se a deixar o mundo para trás e resigna-se a morrer.

De fato, nesse dia um grande número de animais morre com o coração ensanguentado diante da fênix, por causa da tristeza de que a veem presa. É um dia extraordinário: alguns soluçam em simpatia, outros perdem os sentidos, outros ainda morrem ao ouvir seu lamento apaixonado. Quando lhe resta apenas um sopro de vida, a fênix bate suas asas e agita suas plumas, e deste movimento produz-se um fogo que transforma seu estado. Este fogo espalha-se rapidamente para folhagens e madeira, que ardem agradavelmente. Breve, madeira e pássaro tornam-se brasas vivas, e então cinzas. Porém, quando a pira foi consumida e a última centelha se extingue, uma pequena fênix desperta do leito de cinzas.

Aconteceu alguma vez a alguém deste mundo renascer depois da morte? Mesmo que te fosse concedida uma vida tão longa quanto a da fênix, terias de morrer quando a medida de tua vida fosse preenchida. A fênix permaneceu por mil anos completamente só, no lamento e na dor, sem companheira nem progenitora. Não contraiu laços com ninguém neste mundo, nenhuma criança alegrou sua idade e, ao final de sua vida, quando teve de deixar de existir, lançou suas cinzas ao vento, a fim de que saibas que ninguém pode escapar à morte, não importa que astúcia empregue. Em todo o mundo não há ninguém que não morra. Sabe, pelo milagre da fênix, que ninguém tem abrigo contra a morte. Ainda que a morte seja dura e tirânica, é preciso conviver com ela, e embora muitas provações caiam sobre nós, a morte permanece a mais dura prova que o Caminho nos exigirá".

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